O CONTO DE TRYNDADE
- Bem, eu também me lembro de inúmeras histórias de minha infância. Algumas eu creio que vá mudando conforme as gerações se passam. A que vou contar para vocês hoje, aconteceu com meu irmão mais velho e meu saudoso pai; meu pai era alcóolatra, e nos contava diversos contos, que podíamos até pôr em dúvida, porém essa história, meu irmão estava junto e até hoje ele nos conta como foi, e nos garante a veracidade. Nunca duvidamos do meu irmão, nem quando aconteceu, nem agora.
" Éramos bastante irmãos, como vocês já sabem, e quando pequenos, vivíamos implorando a nosso pai que nos levasse com ele ao bar. Ele sempre encontrava os amigos à noite em um boteco após escurecer - E lá ficava até o boteco fechar. Não entendo até hoje o motivo de querermos tanto ir com ele ao bar.
" Talvez seja porque ele nos comprasse o quiséssemos - Continuou Tryndade, empolgado na sua narrativa da infância - "Gostávamos de guardar um pedaço do doce ou confeito que ele nos comprava para nos exibir quando chegasse em casa para os outros que não fôra o escolhido para acompanhar o pai naquele dia, crianças são tão inocentes, mas às vezes cruéis. Tanto, que por vezes pedi á ele que me comprasse suspiro, sempre odiei suspiro porque era duro e me fazia os dentes rangerem, mas como era o maior doce na vitrine, durava mais e eu podia exibir aos meus irmãos o quanto afortunado eu fui.”
" O boteco era um lugar lúgubre onde só existiam bêbados á jogar conversas fora, a falar mal de suas esposas que os esperava desde a manhã quando saíram para o trabalho, ou que também haviam chegado do próprio trabalho e estavam agora às voltas com seus afazeres domésticos e com suas proles enquanto seu marido parava para se embebedar e gastar o parco salário com os amigos noite afora.”
" Não havia nada que uma criança pudesse se entreter ali, exceto uma tv de tubo, com o som pobre, em canais aleatórios a concorrer com o barulho do jogo de sinuca que rolava, com as alterações de vozes de algum infeliz, fraco para bebida, que sempre arrumava confusão. Mas todos os dias, era sagrado que ficássemos de plantão esperando que meu pai, que não trabalhava e já era aposentado desde de pouco antes dos quarenta anos, nos levasse com ele. Ele havia conseguido burlar as leis, que naquela época, era fácil de se conseguir e se aposentar cedo. De uma forma que ele adorava contar aos filhos, como se isso fosse um bom exemplo, ele ria dizendo que havia enganado o governo e iria mamar em suas tetas até a morte… e realmente isso aconteceu, só não me lembro o esquema que ele usou, sei que foi algo como utilizar um produto natural esfregando nos braços até que lhe dava uma suadeira e na hora da perícia, seu coração acelerava e o levava quase ao desmaio, descontrolando também, assustadoramente sua pressão arterial. Isso lhe rendeu uma aposentadoria por incapacidade de trabalhar. Aposentadoria essa que ele gastava toda no bar, todas as noites da semana.”
- Na verdade era raro ele levar algum dos filhos com ele, pelo menos isso né ? - Continuava Tryndade . - Em um desses dias, ele levou meu irmão mais velho, que deveria ter uns sete anos. Como eu já disse, ele só saía do boteco após seu fechamento, que se dava sempre após à meia noite. E nesse dia em específico, meu irmão estava com ele e seguiram para casa, que não dava mais de quinze minutos atravessando uma avenida asfaltada e entrando em nosso bairro, que naquela época não tinha energia elétrica ou asfalto.
" Meu irmão conta, também meu pai o fazia quando estava vivo, que em um dado momento, em uma rua deserta, que sempre tinha cachorros latindo e os acompanhando, o silêncio reinava. Meu pai ia meio cambaleante apoiando-se ao filho, quando perceberam à frente uma imagem que não condizia com a realidade. Não se dava para ver muito bem, pois estava há uns dez metros de distância, mas via-se apesar de contarem apenas com a luz da lua, que era um homem. Porém não podia ser um homem ou ser humano, tamanho era sua estatura.”
" Meu irmão enrijeceu ao lado de nosso pai, e travou as pernas. Meu pai também havia percebido e hesitou uns passos para depois apertar mais ainda os braços de meu irmão e ordenar: "Shhh, não fale nem faça nada.”
"A rua agora era ainda mais silenciosa, excetuando os passos de meu pai e meu irmão que agora tremia incontrolavelmente. Meu pai despertou de sua nuvem de álcool e ficou sóbrio em instantes, mas continuaram a caminhar em frente. O estranho continuou vindo em direção a eles igualmente. Quanto mais ele se aproximava, mais a dupla em choque confirmava que não era possível que houvesse um ser tão gigantesco andando por ali. Ele se avolumava conforme se achegava, e meu pai e irmão não queria o encarar. Continuaram andando de cabeça baixa na medida que suas pernas suportavam, devido a tremedeira. Ao chegar a três passos deles, meu pai sem levantar a cabeça, lhe disse “Boa noite” e continuaram a seguir. O homem, que não respondeu ao cumprimento, deveria ter, como disse meu pai e meu irmão, pelo menos três metros de altura. Ele não podia ser real, mas estava ali, e quando passou pela dupla, eles sentiram o vento que se sente quando alguém passa por nós. Seus passos eram enormes, se comparados aos de meu pai e irmão, e apesar do medo dos dois, eles se viraram para trás, talvez antecedendo algum ataque, ou se preparando para se defenderem, como se tivessem alguma chance, mas não havia ninguém ali.”
- A cidade onde morávamos era minúscula, e todos saberiam se tivesse uma mutação como aquela andando pela cidade. Meu pai tirava o sarro do meu irmão, por anos a fio, dizendo o quão assustado ele ficou, sendo que ele também quase se borrou nas calças, mas quem éramos nós para o contradizer? Nunca mais pedimos a nosso pai que nos levasse ao bar. Ele continuou, é claro, porém nunca mais viu o tal homem e após contar para quem quisesse ouvir no boteco, a senhora, esposa do dono do bar, lhe disse que esse ser, não fazia mal à ninguém, ele só andava à noite, mas morava no cemitério da cidade. Disse ela ainda, que sua mãe já o havia visto quando era criança, e não só ela ,mas dezenas de moradores. Sua mãe havia falecido há mais de trinta anos, e faleceu já idosa, visto que a senhora que contara á meu pai, já era de idade avançada. Depois meu pai confirmou que ele parecia apressado, indo em direção ao cemitério - Finalizou Tryndade.
Hoje penso que foram legais aquelas histórias e contos. Nos entretinha no elevador e nos fazia ficar pensando nelas durante o dia. Mas podíamos ter parado enquanto era tempo, enquanto eram só histórias e lendas contadas, antigas e que eram só para nos distrair… mas não, não paramos, ao contrário, cada dia surgiam mais e mais lembranças a serem partilhadas no nosso cantinho, nosso refúgio...
O CONTO DE WEV:- Nossa, em minha família há muitas histórias - Começou Wev, nosso garoto especial, todo sorridente, como sempre, com seus fones de ouvidos caídos no pescoço e seu chiclete esquecido - Essa que vou contar, não é nada sobrenatural, como a de vocês, mas ficou gravada em minha cabeça:" Por onde começar? Ah sim, vou contar de quando minha irmã mais velha ficou presa - Começou o garoto, ele e Kayla eram, sem dúvida os mais animados do nosso grupo e nos fazia dar boas risadas todos os dias. - Lá, ela conheceu muitas mulheres e muitas histórias… Nossa, mas deixe primeiro eu falar de minha irmã e sua rebeldia, motivo esse que a levou a ser presa. Ela sempre foi a ovelha negra da família e, apesar dos apelos de minha mãe, e
" Quando a carcereira passou, por volta das vinte horas , batendo com o cassetete nas barras, ela ficou rígida. A carcereira avisou que a luz se apagaria em meia hora, e que não queria barulhos ou bagunça após as luzes terem se apagado.”“ Uns dez minutos antes que as luzes fossem apagadas, a obesa olhou pra ela sorrindo e avisou:- Magrelinha, quando as luzes se apagarem, todas vocês vão me chupar, ok? Uma por uma até eu gozar, se eu já tiver gozado antes do rodízio ficar completo, não parem até que eu tenha gozado novamente. Fui clara? - Continuava Wev." Todas chacoalharam a cabeça em concordância, resignadas. Á Luccy não passou despercebido que isso acontecia todos os dias, e que elas já se h
O CONTO DE KEYLAKeyla era alegre e tagarela. Falava rápido e por vezes tínhamos que a interromper para que repetisse o que dissera, pois quanto mais empolgada ou nervosa ficasse, mais rápido ela falava.Seu conto também era uma história que aconteceu à ela mesma quando era uma garotinha do segundo ano escolar. Ela dizia que odiava quando ouvia pessoas tirarem sarro sobre a lenda da loira do banheiro, porque ela havia passado por uma situação na infância que a havia traumatizado até hoje. Quando a questionamos se ela havia visto a tal loira, ela começou sua história:- Não, eu nunca vi a loira, porém tenho certeza de que ela esteve sim naquele banheiro de minha escola quando eu era criança. E vou lhes explicar o porqu&eci
" Eu não tinha medo como a maioria das meninas, apesar de meio cética, confesso que não ia ao banheiro sozinha,vai que né?”" Pois bem, em um dia como outro qualquer, lá estava eu sentada no pátio da escola. Aquele dia, tinham servido biscoitos de água e sal e uma caneca de leite com chocolate. Eu degustava tranquila, quando percebi um par de pés à minha frente. Sandálias brancas de marca, branquinha sem nem um arranhado. Levantei os olhos e me deparei com Letty a me observar; ela estava apreensiva, tinha um meio sorriso nos lábios e percebi que estava desinquieta, ela passava uma perna na outra, no típico movimento de vontade fazer xixi.”"Continuei mastigando e levantei uma sobrancelha em sinal de interrogação á ela, que me perguntou:
- Ela resolveu enfrentar seu medo sozinha para fazer sua necessidade antes de voltar para a classe. Eu, em minha arrogância juvenil, a deixei ir sozinha por pura pirraça ou maldade mesmo. Todos fomos entrevistados pelo diretor e em seguida pela própria Polícia, incansavelmente, e por vários dias. A Policial que me entrevistou era meiga e gentil. E eu queria mais do que ela saber o que havia acontecido naquele banheiro. Ela sorria e dizia que não podia dar informações da investigação em curso, e me crivava de perguntas. Não sei porque eu nunca consegui dizer que Letty havia me pedido para acompanhá-la… não era medo, isso eu sei. Creio que eu negando para todos, me sentisse menos culpada e passasse a também acreditar que a culpa não era minha. A única coisa que consegui tirar da investigadora, foi que a encontraram sozinha na
O CONTO DE ANGEL- Bem gente, como vocês, eu tenho inúmeras histórias para contar- Começou Angel, que por incrível que pareça, tem o corpo, o rosto e os cabelos de um anjo, além da voz angelical. Sempre zoamos seu modo delicado de ser, parecia uma bonequinha delicada ao falar. Sua educação sempre foi admirável .Muitas vezes, nós saíamos da pose de pessoas equilibradas e começávamos a falar um por cima do outro, interrompendo um ao outro, mas nunca Angel. Ela era de uma paciência admirável. Seus cabelos eram claros e todo cheio de cachos, o que lembrava mesmo um anjo. Sua estatura era diminuta perto de nós todos, e por vezes a chamávamos de nosso chaveirinho, ou dizíamos que ela era café com leite, o que a irritava muito, e hoje não consigo evitar um sorriso quando me lemb
“ O mais estranho, era que ele estava alheio a todas as pessoas que estavam ali por ele. Ele com suas pernas cruzadas chacoalhando-as, conversava com uma pessoa. Gesticulava, às vezes ria, mas parece que o assunto estava interessante. Fiquei o fitando por alguns minutos, e como se soubesse que estava sendo observado, ele me olhou e seu sorriso se iluminou.”" Eu era apenas uma criança, mas pude perceber que ele estava feliz e aliviado. Ele chegou a fazer um gesto com a mão, como a me chamar para juntar se á ele e á seu ou sua parceira de conversa, que eu não me lembro quem ou como era."" Minha mãe me segurava pela mão, e tentei me desvencilhar dela para ir até ele ver o que ele queria, porém ela apertou com mais força minha mão em sinal de que não era para eu
" Me debrucei sobre sua cadeira, abracei suas pernas finas que não sentiam toque e implorava a Deus que lhe desse uma chance."“ Meu irmão mais velho me arrastou dali, me sentou no sofá e pediu para eu parar com aquilo, pois estava assustando minha mãe e o próprio doente. Mas eu estava ensandecida, não conseguia me controlar.”- Ele vai morrer, vocês não se deram conta? Vocês são idiotas?! De nada adiantará a emergência o levar - Eu dizia tudo isso aos berros, as lágrimas escorriam em abundância e minha mãe arregalou os olhos e caiu de joelhos, dizendo que eu estava louca. Eu repetia agora só em um lamento, que ele já estava morrendo." Meu irmão doente, pediu que meu irmão mai