Cris
À noite...
Chego no meu apartamento pouco mais das oito da noite e cansado, largo a minha pasta em cima do divã ao pé da minha cama, e deixo o capacete ao lado. Começo a me desfazer das roupas largando-as dentro de um cesto e ligo o chuveiro. Contudo, antes de mergulhar de cabeça na água verifico a sua temperatura.
Esse é o pior momento da minha existência e chego a acreditar que sou um tanto masoquista, porque é nesse momento que passo horas debaixo d'água, voltando para um passado que eu deveria apagar de uma vez da minha vida. Ainda consigo sentir o seu gosto no meu paladar e os seus gemidos de prazer preenchem os meus ouvidos.
Por que eu faço isso comigo mesmo? Me pergunto, fechando os meus olhos projetando o seu lindo sorriso na minha frente.
Linda, gostosa e perfeita, mas ela não é minha e nunca será. Respiro fundo. Pensar que ela me usou me deixa consternado.
Longos minutos se passaram e finalmente desligo o chuveiro, envolvendo a minha cintura com uma toalha. Os meus planos para hoje essa noite? Comer algo e apagar na minha cama. Amanhã estarei de folga e será como todos os outros dias de folga. A porra de um martírio. Resmungo mentalmente, entrando no meu quarto iluminado apenas por dois abajures no canto da parede. Então percebo o meu celular piscando em cima da minha cama. Seguro o objeto, puxando uma respiração pesada ao ver que é uma ligação de Renê, um dos meus colegas de faculdade e de trabalho.
Suspiro porque eu sei o que vem por aí.
— Fala, safadão! — ralho tentando mesclar o meu humor e escuto o som da sua risada do outro lado da linha.
— Onde você está, Cris? Estamos todos te esperando aqui no Pub, cara.
— Hoje não, cara. Eu estou muito cansado...
— Nem vem com essa, Ávila! — Ele me corta rudemente. — É sexta e está de noite. Você não vai ficar trancado nessa porra de apartamento, não é? — bufo em resposta. — Você vem, ou eu vou ter que ir te buscar? — Faço silêncio por alguns segundos.
— Pedindo assim com jeitinho! — retruco irônico. — Vou pôr uma roupa e chego aí em vinte minutos.
— É assim que se fala, Ávila! — Ele comemora e a ligação é encerrada. Imediatamente vou para dentro do closet.
Talvez seja melhor um pouco de álcool e de diversão. Quem sabe assim mantenho a minha mente ocupada?
💗
Meia hora depois...
— Olha você! — Renê fala animado assim que me aproximo da mesa, onde já tem uma galera reunida.
— Que bom que veio, doutor Ávila! — Uma enfermeira sibila deslizando uma mão pela lateral do meu braço. Apenas aceno para ela me afastando um pouco. A garota parece perceber o meu incomodo e me lança um sorriso sem graça.
— Um uísque por favor! — peço erguendo um dedo em riste para o homem atrás do balcão e me viro para passar os olhos de um canto a outro do lugar movimentado de médicos e residentes do hospital onde trabalho. A final, aqui é o ponto de encontro de todos após uma semana inteira puxada de trabalho.
— Sua bebida, Senhor! — O barman avisa e no mesmo instante bebo um gole. A música alta faz o chão debaixo dos meus pés estremecer e eu continuo com a minha inspeção. Uma garota no meio da pista de dança me chama a atenção.
Baixinha, magrinha e usando um vestido negro colado ao seu corpo. O jeito como ela se mexe não me passa despercebido. Uma mão sua desliza pelo seu corpo, enquanto a outra segura os fios longos dos seus cabelos. Os seus olhos estão fechados e ela parece flutuar pelas ondas sonoras da música agitada.
— Ela é muito gata não acha, Cris? — Adam fala sentando-se do meu lado e desperto, acompanhando o seu olhar. O meu coração para uma batida quando ela se vira de frente e percebo ser a minha residente dançando ali. No entanto, ela sai animada da pista, pega um copo, bebe algo e ri enquanto conversa com outra garota. — Eu vou te contar, essa garota fora do uniforme de hospital é uma perdição. — Ele sibila me fazendo apertar o meu copo entre os meus dedos.
Mas ele não está errado. Jennifer Reinhold é realmente um desastre ambulante, mas ela é sexy também. Meus olhos passeiam ávidos pela porra do tubinho negro de alcinhas que tem o cumprimento na altura dos seus joelhos e a droga do tecido escuro desenha cada uma das suas curvas, que deixa pouco para a imaginação masculina.
Melhor dizer, não deixa nada para imaginação.
— Se ela me desse um pouquinho de atenção, juro que a pregaria de jeito. — Ele continua, dessa vez cheio de malícia e eu entorno a minha bebida de uma vez.
— Outro, por favor! — peço para o garçom. — Ela é minha residente — falo. Ele apenas me olha assentindo.
— Era. — Agora sou eu quem o encara.
— Como assim, era? — Ele dá de ombros.
— John disse que você a solicitou por trinta dias e semana que vem ela ficará com a doutora Corona. Ou seja, estará na minha equipe e eu vou poder investir mais nela.
Nem fodendo! Grito internamente.
— Eu preciso pegar uma garrafa — aviso, levantando-me do banco.
— Vai com calma, doutor! — Ele ralha, porém, me afasto sem lhe dar explicações.
Eu não preciso ouvir as suas asneiras.
Sem noção!
Após mais dois copos, assistindo a minha residente sensualizar em sua dança na companhia de outra morena, resolvo ir para casa. No entanto, paro no meio do caminho no exato momento que ela desce o seu corpo de uma forma...
Porra, ela quer foder com a minha cabeça, é isso?
Observo as suas mãos deslizarem pelas laterais do corpo esguio, enquanto ela sobe e desce lentamente, seguindo o ritmo da música. Seus olhos permanecem fechados, provavelmente apreciando o ritmo e a sua boca... droga, ela está entreaberta. Observo alguns homens ao redor praticamente a devorarem com os olhos e me pego fechando as mãos em punho.
Que merda! Rosno enfurecido e saio da danceteria pisando duro.
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No dia seguinte...
— Ah, merda! — resmungo quando sinto que a minha cabeça vai explodir a qualquer momento. Entretanto, me viro na cama, contorcendo-me com o incomodo.
Cacete, como pude exagerar dessa maneira com a bebida?
A claridade invade o meu quarto e eu forço os meus olhos a se abrirem. Com uma respiração profunda dou de cara com o teto branco do meu quarto e me sento no colchão, esfregando o meu rosto. O lençol desliza do meu corpo e se aninha na minha cintura. Me pergunto como cheguei até aqui? Sério, não me lembro de porra nenhuma e para a minha surpresa estou usando apenas uma cueca boxe branca.
Que merda você fez dessa vez Christopher Ávila?
Forço a memória, mas não. Não lembro sequer de ter saído do Pub, tão pouco de como cheguei em minha casa, ou até mesmo de ter tirado a minha roupa. Isso é muito fodido. Contudo, um gemido feminino do meu lado chama a minha atenção e a garota se mexe na minha cama. O lençol branco se arrasta pela pele bronzeada quando ela se espreguiça e... puta que pariu!
Cris— COMO DIABOS VOCÊ VEIO PARAR AQUI?! — berro praticamente saltando para fora da cama e sentindo o meu coração saindo pela boca. Jennifer solta um grito agudo na sequência, se sacudindo toda e no ato, ela se desequilibra e cai da cama. Rolo os olhos.Penso que não podia ser diferente percebendo que até acordando essa garota é um desastre.— Do-doutor Christopher?! — Ela gagueja um tanto exasperada, franzindo em uma perfeita confusão. E para piorar, a porra do desastre está vestindo apenas calcinha e sutiã. Um conjunto sensual e rendado, branca que contrasta perfeitamente com o seu tom de pele.Meu Deus, o que aconteceu na noite passada? Tomo o fôlego e tento me acalmar.— Reinhold, você está bem? — Procuro saber, deixando de lado esse meu jeito grosseiro de ser e a ajudo a levantar-se do chão.— Por Deus, acho que ainda estou viva! O Senhor quer me matar do coração? — A criatura ralha com uma respiração alterada, levando uma mão no peito.— Só... me conte. O... o que aconteceu aqu
CrisCris— Eu acredito desacreditando — Ela diz me deixando confuso.— Como é isso, Reinhold? Ou você acredita, ou não acredita. — Jennifer se acomoda na banqueta e dá de ombros.— Só sei que é assim. — Rio e me sento de frente para ela.— Esse negócio de amor à primeira vista não existe, Tempestade e isso é um fato. — Ela sorrir.— Tempestade? — Faço um gesto desdenhoso.— É o que você é, uma tempestade.— Eu acredito porque quero que aconteça comigo, mas desacredito porque isso nunca aconteceu definitivamente.— Você nunca se apaixonou antes? — Ela balbucia.— Sim! Não! — Reinhold sacode a cabeça e eu seguro o riso. — Quer dizer, eu não sei ao certo.— Não sabe? Você é confusa sabia? E dá um nó cabeça de qualquer um — ralho. Ela volta a sorrir.— Eu estou esperando uma explosão de emoções igual dos livros de romances, sabe? — confessa um tanto sonhadora. — Sabe aquela sensação de calor e de suor frio. Aquela tremedeira, as borboletas no estômago, o coração acelerado...— Isso não m
CrisCris— Não! — Respiro fundo. — Ela não está preparada e você sabe como a doutora Corona é perfeccionista. Aquela mulher vai engolir a garota em menos de meio minuto.— E não é assim que eles aprendem? — questiona.— John, ela não está pronta. Veio totalmente despreparada de outro hospital. Eu preciso de mais tempo com ela. — Ele me encara em silêncio por alguns minutos.— Tem certeza de que não existe nada entre vocês? — bufo em resposta.— Tenho. É só trabalho mesmo.— Quanto tempo? — inquire.— Eu aviso quando ela estiver pronta — rebato firme e saio da sala sem esperar a sua resposta.Minutos depois estou de volta ao meu setor e o tal assistente foi dispensado por mim. Então eu volto a me concentrar no meu trabalho. Ponho o gel em uma bandeja ao lado da mesa, ligo o aparelho de ultrassom, ponho o papel toalha ao lado do gel e ligo o computador. Logo escuto a porta do consultório se abrir e uma Jennifer esbaforida, e assanhada passa pela ela. — Estava correndo em uma maratona?
JennyTundum! Tundum! Tundum!O meu coração bate descompassado assim que fecho os meus olhos para sentir o seu hálito quente aquecer a minha pele, provocando alguns arrepios pelo meu corpo. Sua mão grande, quente e firme aperta a minha cintura, enquanto a outra segura com uma firmeza agradável nos meus cabelos. Ele é um devorador e toma a minha boca com um desespero que eu não sei de onde vem. A sua língua invade a minha boca e logo sinto o seu sabor direto no meu paladar. Então solto um gemido de puro prazer. Um gemido dengoso e manhoso como se eu fosse uma gatinha que recebe o carinho do seu dono. Portanto, me contorço inteira desejando ainda mais.— Ah, doutor Ávila! — gemo o seu nome baixinho, quase como uma súplica. Porque sim, eu quero mais, preciso de mais desse homem.— Ou, Jen, acorda, garota! Escuto a voz de Amber do meu lado e em seguida sinto o meu corpo ser sacudido. Me forço a abrir os olhos e vejo que ainda estou na cama do dormitório do hospital. Pior, estou sozinha
Jenny— Você está ridícula nesse biquíni, Jen. — Ela diz entrando no meu quarto. — Será que não consegue ver? Você é um pouquinho gorda e para piorar tem algumas celulites. O biquíni não vai cair bem. Sem falar que os homens vão rir de você, Patinho Feio. Se eu fosse você não ia para essa festa na piscina. — Ashley joga as palavras cheias de veneno e sai do meu quarto, mas não antes de me mandar aquele sorrisinho escroto que diz que ela tem tudo o que eu não tenho. Suspiro e volto a me olhar no espelho. Imediatamente me sinto desanimada e penso que ela tem razão. Está ridículo!— Eu sou a porra de um Patinho Feio — resmungo baixinho e suspiro. — A quem eu quero enganar? — questiono-me e me levanto do beliche, mas no processo bato a minha cabeça na cama de cima e solto um gemido dolorido, e saio do quarto alisando o local da pancada.A essa hora os médicos já trocaram os seus plantões, e o doutor Ávila já deve ter saído do hospital. Melhor assim.— Ah, você está ai! — A médica chefe d
JennyHoras depois... — Hum! — Solto um gemido baixo, abrindo os meus olhos preguiçosos e no ato, me espreguiço em cima do colchão. Contudo, percebo que não tive sonhos dessa vez. — Obrigada, meu Deus! — resmungo e olho pela janela.Reviro os olhos.— Sério, Jen? Você apagou por um dia inteiro? Droga! — retruco saindo da cama e vou para o banheiro. Tomo uma ducha demorada e vou para a cozinha. Na geladeira e encontro um resto de lasanha do dia anterior, meia garrafa de vinho e duas fatias de torta de avelã. — Isso está perfeito! — Sorrio tirando tudo e levo para cima do balcão e após esquentar tudo, começo a me servir, mas suspiro desanimada quando olho para o outro lado da mesa e encontro a cadeira da minha amiga vazia.Eu odeio ficar sozinha! Odeio ter que voltar para casa e ficar com os meus malditos pensamentos. Odeio ainda mais os finais de semana! Contudo, diferentes das outras vezes em que me perdi no meu passado insignificante, dessa vez fui surpreendida pelas lembranças do d
Jenny— Reinhold?— Ãh? — Desperto e noto a taça de vinho estendida na minha direção.— Você está aluada hoje, ou é só impressão minha? — A pergunta tem um tom de brincadeira que me faz abrir outro meio sorriso.— Só... pensando em algumas coisas — digo.Se ele soubesse.O sinal do micro-ondas avisa que a comida está pronta e o doutor Christopher vai até o aparelho, pega a travessa e a deposita bem no centro do balcão. Depois, ele vai até um móvel alto e tira dois pratos de lá, e por fim, pega os talheres dentro de uma gaveta. Não tem como não observar os músculos se contraindo com cada movimento seu. E abdômen? Chapado e cheio de gominhos. Suspiro quando os meus olhos trilham pelos negros que vão do peitoral até debaixo do umbigo, escondendo-se no elástico da calça de moletom. Extasiada, bebo um gole grande da minha bebida e respiro bem devagar. O vinho vai me deixar mais descontraída e mais leve, e isso me ajudará a me livrar dessa maldita tensão. O observo servir uma porção da lasa
JennyUma briga interna começa dentro de mim. A lógica X meu coração, e as vontades do meu corpo que quer partir para cima dele.Sinto que vou pirar.— Doutor Ávila? — sussurro.— Sim? — Ele sussurra a um milímetro da minha boca e olha nos meus olhos.Ok, agora estou literalmente me derretendo, me desfazendo em água. Isso é tão... intenso e céus, eu preciso disso, mas não sei se devemos fazer. Quer dizer, não sei se consigo fazer.— Você quer tanto quanto eu, Jennifer — Ele incentiva com esse rouco e firme, contradizendo os meus pensamentos mais contraditórios.— Sim, eu... quero. — Concordo. Então acontece. Finalmente acontece. Um beijo devorador, faminto, avassalador e...— Reinhold? Reinhold, você está bem? — Ouço a voz do doutor Ávila, porém, me nego a abrir os meus olhos.Estou mortificada de vergonha.— Reinhold abra os seus olhos! — Ele ordena.— Eu não posso! — digo levando as mãos para o meu rosto que nesse momento deve estar pra lá em de vermelho. Se é que existe um tom ma