Jenny
— Você não vem? — Escuto a voz do meu instrutor e percebo que ainda estou parada bem perto da porta do elevador. Com um suspiro baixo, engulo em seco e percebo o olha especulativo do homem em cima de mim.
Put's!
Tem como pagar mais micos em tão poucos minutos? Melhor nem perguntar, certo? A final o dia está só começando. Solto outro suspiro e me forço a sair do meu lugar. Doutor Ávila volta me dar as costas e eu volto a segui-lo, entrando em outro corredor. Esse mais longo e todo branco, até entramos em uma sala onde tem uma Senhora descabelada, com a pele um tanto vermelha, deitada em uma cama estreita e em um estado de gravidez avançada. Ela respira fundo, prendendo a respiração e faz uma careta de dor. No ato, eu repito o seu gesto e não consigo respirar.
— Bom dia, Ada! — Doutor Ávila fala cordialmente, abrindo aquele sorriso provocante outra vez.
— Bom dia, doutor Cris! — A paciente rosna com um som estrangulado, entre uma respiração pesada e outra.
— Como estamos indo?
— Nossa, está doendo muito! — Ela ralha dolorosamente.
— Isso é bom, certo? Ada, essa é a doutora Reinhold. Ela vai fazer um exame de toque e depois vamos ver o nosso próximo passo, ok? — A mulher assente fazendo outra careta e em seguida ela solta um gemido.
Exame de toque? Me pergunto. Como eu faço isso?
Ele me olha rapidamente e lá está aquele sorriso arrasador de novo. Devo dizer que me perdi nele e me peguei suspirando em seguida. Ávila faz um gesto com o olhar e eu arqueio as sobrancelhas em uma pergunta muda.
— O exame, Reinhold! — Ele cobra e eu desperto do meu estado de torpor.
— Ah o exame, claro!
Merda, você precisa se concentrar no seu trabalho, Jennifer Reinhold! Não ponha tudo a perder de novo, sua maluca.
Suspiro e vou até uma bandeja prata. Pego um par de luvas, as ponho e me dirijo para uma cadeira na ponta da cama. A senhora Ada permanece deitada, porém, as suas pernas estão apoiadas em um suporte agora. Nervosa, afasto o lençol que cobre as suas pernas e o que vejo é impactante. Chego a gira a cabeça mudando o ângulo de um lado para o outro e tento entender o que é aquilo bem na minha frente. A vagina da mulher está totalmente aberta para mim e é horrível, porque tem um negócio preto e redondo saindo de lá.
Ai meu Deus! Ai meu Deus! Isso é uma... cabeça?!
Apavorada, encaro o médico bonitão que está sorrindo e conversando com a sua paciente. No entanto, ele percebe o meu espanto e fica sério.
— Está tudo bem aí, Reinhold? — inquire com o seu tom profissional. Contudo, volto a engolir em seco, depois encaro a vagina-monstro e depois o rosto lindo do meu chefe. — Reinhold? — Ele insiste
— É que... eu não.... doutor Ávila, será que eu posso falar com o Senhor um minuto? — peço um tanto trêmula. Ele faz uma cara preocupada e faz um sim discreto com a cabeça, se aproximando em seguida. Faço um gesto de dedo pedindo para ele se aproximar mais e ele faz. — É que... tem alguma coisa errada bem... ali. — Cochicho, apontando para a intimidade da paciente.
— E o que é? — questiona-me no mesmo tom. Em resposta, ergo o pano que cobre a vagina-monstro, porém, ele a fita com naturalidade e depois olha para mim. — Tem algo ali dentro... e ele quer sair. — Continuo. Ávila faz uma cara linda de espanto para mim, depois ele une as sobrancelhas grossas e perfeitas.
— Você tem certeza de que está estudando para medicina pediátrica e obstetrícia? — indaga baixo, porém, incrédulo. Eu assinto sem entender o motivo dessa sua pergunta. — Em que ano você está, Reinhold? — questiona ainda mais espantado.
— No terceiro período, doutor.
— Terceiro? — Assinto outra vez. — E não sabe que o bebê já está nascendo? — indaga me fazendo arregalar os olhos ainda mais e o meu queixo quase vai ao chão.
— Então... não é uma vagina-monstro? — questiono. Ávila parece ainda mais espantado agora. — Ah, é claro que não! — sibilo completamente sem jeito agora. Então a mulher começa a gritar, fazendo-me sobressaltar em cima da cadeira e eu caio de bunda no chão no mesmo instante. Doutor Cris me olha com reprovação e abana a cabeça, fazendo um não lento e desapontado para mim.
Droga, sinto que não estou indo nada bem para o meu primeiro dia! Penso consternada.
— Vamos lá, Ada! — Ele diz se afastando e eu respiro fundo. — Está na hora do seu bebê vir ao mundo. — Em seguida o médico começa a dar algumas instruções, uma atrás da outra. Até que o neném nasce e a mãe fica estabilizada. Uma equipe começa a tomar conta deles. — Reinhold, venha comigo... agora! — Doutor Ávila ordena com um tom seco e sai da sala em seguida.
Vou ser expulsa, eu sei que vou! Penso enquanto sigo bem atrás dele. Como não identifiquei um bebê nascendo? Como eu fui cometer um erro desses?
Ávila para em frente a uma porta e a abre me dando passagem. Em silêncio, ele entra e se acomoda em uma cadeira atrás de uma mesa grande e aponta para a cadeira a sua frente.
— Sente-se! — Ele volta a ordenar e eu faço. — De onde você veio, Reinhold? — pergunta me encarando com seus olhos negros lindos que parecem me enfeitiçar.
— Eu... sou de Nova Jersey, doutor. Na verdade, eu nasci em uma cidadezinha lá perto, mas me criei em Nova Jersey e só sai de lá para vir para a... — Respiro fundo. — Você não me perguntou isso, não é? — indago totalmente sem graça e ele faz um não com a cabeça. Respiro fundo outra vez agora sentindo o meu rosto pegar fogo. Provavelmente estou mais vermelha do que um tomate maduro. — Ok! Ah, eu vim do hospital Central.
— E está no terceiro ano?
— Estou.
— E nunca participou de um parto antes?
— Ah, sim! Quer dizer, não. Só por vídeo, mas sim...
— Por vídeo?
— Sim.
— Estranho, porque no terceiro ano você já pode assistir a um parto ao vivo e participar dos pequenos procedimentos dele. — Ele me encara e eu disparo a falar.
— Ok, eu vou ser sincera. Eles não me deixavam participar porque eu sou meio descuidada. Destrambelhada na verdade. Quer dizer, eu tropeço nas coisas, então... — Enquanto falo feito uma taquara descontrolada, o médico está parado e me encarando sem dizer uma palavra. O que eu posso fazer, estou nervosa e isso me faz falar mais e mais. — Eu sei que fiz muita coisa errada, doutor Christopher, mas eu só estou nervosa. É o meu primeiro dia aqui então se puder me dar uma nova chance? Eu sou muito esforçada, sabe? Sou muito esforçada mesmo e...
— Você não para de falar nunca?! — Ele ruge me interrompendo e eu engulo as minhas palavras, tomando o fôlego em seguida.
— Me desculpe!
— Ok, Reinhold, vamos fazer da seguinte forma. Eu vou pedir para o John que a deixe comigo por duas semanas.
O quê?! Meu cérebro grita, fazendo os meus ouvidos zunirem.
Fodeu, fodeu tudo!
— Eu vou treiná-la pessoalmente e depois te deixo fazer o freelancer com os outros médicos. — Abro um sorriso tímido, mas por dentro ele parece partir o meu rosto ao meio.
— Então... eu não estou fora do projeto?
— Ainda não, Reinhold, mas quero que preste mais atenção. Não tropece... em nada! — Ele ordena. Embasbacada, eu estou completamente embasbacada. — Reinhold?
— Ah... não, Senhor!
— Estude bastante. Não quero ouvir novamente essa besteira de vagina-monstro, entendeu? — Meneio a cabeça. — Entendeu, Reinhold?
— Não Senhor... quer dizer, sim Senhor!
— E principalmente, não se atrase nunca mais. Um minuto faz toda diferença no nascimento de uma criança.
— Não vou me atrasar, Senhor!
— Chris.
— Como?
— Me chame apenas de Chris.
— Sim Senhor... quer dizer, Chris!
— Ótimo! Agora vá para o berçário e veja o prontuário do bebê que você me ajudou a trazer a esse mundo.
Eu o quê?
Então minha ficha cai.
— Eu o ajudei? Oh meu Deus, eu ajudei a trazer um bebê ao mundo! — digo segurando um grito de puro êxtase. — Eu ajudei no nascimento de um bebê! — Repito dando alguns pulinhos no meio da sala.
— Reinhold, se recomponha! — Ele me repreende, mas não consigo segurar o meu sorriso de felicidade.
— Ah, me desculpe, doutor! — Respiro fundo e tento engolir essa droga de sorriso que não quer me largar. — Eu estou indo. — Aponto para a porta e dou alguns passos na sua direção, sem lhe dar as costas. — E... obrigada por me dar mais uma chance! — peço e saio exultante.
Porra, eu estava certa de que estaria fora, mas ao invés disso ele me deu outra chance. Outra chance! Eu não acredito nisso!
A Amber vai pirar!
JennyDoze horas. Doze malditas horas seguidas de trabalho árduo e confesso que estou um caco. Portanto, assim que tudo fica mais calmo respiro fundo e me sento em um dos sofás brancos do corredor.— Oi, eu sou o Adam! — Um rapaz usando um jaleco azul diz sentando-se do meu lado. Provavelmente ele é um residente como eu.— Ah oi, Adam! Eu sou a Jenny... quer dizer, eu sou a Jeniffer — falo um tanto desanimada.— Cansada? — indaga com curiosidade.— Morta, praticamente. Eu preciso ir para casa. Ah, que saudades da minha cama quentinha e macia! — resmungo fechando os meus olhos à medida que encosto a minha cabeça na parede atrás de mim e escuto o som do seu riso baixo em seguida.— Devia ir dormir um pouco, Jenny Jennifer. — Ele ralha com humor.— Acredite, esse é o meu plano — rebato fazendo menção de me levantar. Contudo, ele segura no meu antebraço.— Não, eu quero dizer antes de ir para sua casa.— Ah, sério? Eu não posso dormir aqui nesse sofá! — protesto, mas ele volta a rir do me
JennyChego em casa perto das oito da noite e assim que entro no apartamento encontro a minha amiga na cozinha fazendo algo. É estranho porque ela deveria estar trabalhando agora. Assim que adentro a sala, largo os meus materiais em um sofá e me jogo no outro. Ela ergue a cabeça e sorrir, pega um pano de prato, seca as mãos e vem sentar-se do meu lado.— E aí, me conta como foi?— Você não devia estar trabalhando? — questiono ignorando a sua pergunta animada.— Devia, mas liguei para o hospital e dei uma desculpa porque precisava saber como você se saiu.— Sério, foi uma grande merda! Aquele povo é doente por trabalho. Acredita que os residentes trabalham como loucos lá dentro?— Detalhes, Jen, por favor!— Eu fui um fracasso como sempre, mas juro que me esforcei. Não sei por que não me botaram para correr de lá ainda.— O que você fez?— Para começar? Não soube identificar um bebê nascendo e ainda dei uma de idiota na frente do meu instrutor. — Suspiro quando a sua imagem aparece nít
CrisUm mês depois...— Bom dia, Senhora Smith! Como está se sentindo essa manhã? — Escuto a minha assistente dizer para uma paciente após o operatório. — É inevitável não a observar entretida com alguns exames nas mãos. Ela é bonitinha, mas é todinha atrapalhada e devo admitir que esse seu jeito dá um certo charme para a garota. — Os seus exames já estão prontos e o médico virá vê-la em alguns minutos. — Ela informa de um jeito bem profissional.Jennifer passou o mês inteiro aprendendo como fazer os exames de toque e posso dizer que estou aliviado quanto aos resultados das suas observações analíticas. Ela também aprendeu a verificar a pressão e até fez um ultrassom. Me pergunto como uma aluna aplicada como ela chegou a esse período sem verificar uma simples pressão arterial?— Obrigada, querida! — A paciente diz mais animada e me pego sorrindo para esse ato.A minha assistente tem estudado bastante como lhe pedi. Tenho percebido isso na maneira com ela se comporta durante seus atos e
CrisÀ noite...Chego no meu apartamento pouco mais das oito da noite e cansado, largo a minha pasta em cima do divã ao pé da minha cama, e deixo o capacete ao lado. Começo a me desfazer das roupas largando-as dentro de um cesto e ligo o chuveiro. Contudo, antes de mergulhar de cabeça na água verifico a sua temperatura.Esse é o pior momento da minha existência e chego a acreditar que sou um tanto masoquista, porque é nesse momento que passo horas debaixo d'água, voltando para um passado que eu deveria apagar de uma vez da minha vida. Ainda consigo sentir o seu gosto no meu paladar e os seus gemidos de prazer preenchem os meus ouvidos. Por que eu faço isso comigo mesmo? Me pergunto, fechando os meus olhos projetando o seu lindo sorriso na minha frente.Linda, gostosa e perfeita, mas ela não é minha e nunca será. Respiro fundo. Pensar que ela me usou me deixa consternado.Longos minutos se passaram e finalmente desligo o chuveiro, envolvendo a minha cintura com uma toalha. Os meus pla
Cris— COMO DIABOS VOCÊ VEIO PARAR AQUI?! — berro praticamente saltando para fora da cama e sentindo o meu coração saindo pela boca. Jennifer solta um grito agudo na sequência, se sacudindo toda e no ato, ela se desequilibra e cai da cama. Rolo os olhos.Penso que não podia ser diferente percebendo que até acordando essa garota é um desastre.— Do-doutor Christopher?! — Ela gagueja um tanto exasperada, franzindo em uma perfeita confusão. E para piorar, a porra do desastre está vestindo apenas calcinha e sutiã. Um conjunto sensual e rendado, branca que contrasta perfeitamente com o seu tom de pele.Meu Deus, o que aconteceu na noite passada? Tomo o fôlego e tento me acalmar.— Reinhold, você está bem? — Procuro saber, deixando de lado esse meu jeito grosseiro de ser e a ajudo a levantar-se do chão.— Por Deus, acho que ainda estou viva! O Senhor quer me matar do coração? — A criatura ralha com uma respiração alterada, levando uma mão no peito.— Só... me conte. O... o que aconteceu aqu
CrisCris— Eu acredito desacreditando — Ela diz me deixando confuso.— Como é isso, Reinhold? Ou você acredita, ou não acredita. — Jennifer se acomoda na banqueta e dá de ombros.— Só sei que é assim. — Rio e me sento de frente para ela.— Esse negócio de amor à primeira vista não existe, Tempestade e isso é um fato. — Ela sorrir.— Tempestade? — Faço um gesto desdenhoso.— É o que você é, uma tempestade.— Eu acredito porque quero que aconteça comigo, mas desacredito porque isso nunca aconteceu definitivamente.— Você nunca se apaixonou antes? — Ela balbucia.— Sim! Não! — Reinhold sacode a cabeça e eu seguro o riso. — Quer dizer, eu não sei ao certo.— Não sabe? Você é confusa sabia? E dá um nó cabeça de qualquer um — ralho. Ela volta a sorrir.— Eu estou esperando uma explosão de emoções igual dos livros de romances, sabe? — confessa um tanto sonhadora. — Sabe aquela sensação de calor e de suor frio. Aquela tremedeira, as borboletas no estômago, o coração acelerado...— Isso não m
CrisCris— Não! — Respiro fundo. — Ela não está preparada e você sabe como a doutora Corona é perfeccionista. Aquela mulher vai engolir a garota em menos de meio minuto.— E não é assim que eles aprendem? — questiona.— John, ela não está pronta. Veio totalmente despreparada de outro hospital. Eu preciso de mais tempo com ela. — Ele me encara em silêncio por alguns minutos.— Tem certeza de que não existe nada entre vocês? — bufo em resposta.— Tenho. É só trabalho mesmo.— Quanto tempo? — inquire.— Eu aviso quando ela estiver pronta — rebato firme e saio da sala sem esperar a sua resposta.Minutos depois estou de volta ao meu setor e o tal assistente foi dispensado por mim. Então eu volto a me concentrar no meu trabalho. Ponho o gel em uma bandeja ao lado da mesa, ligo o aparelho de ultrassom, ponho o papel toalha ao lado do gel e ligo o computador. Logo escuto a porta do consultório se abrir e uma Jennifer esbaforida, e assanhada passa pela ela. — Estava correndo em uma maratona?
JennyTundum! Tundum! Tundum!O meu coração bate descompassado assim que fecho os meus olhos para sentir o seu hálito quente aquecer a minha pele, provocando alguns arrepios pelo meu corpo. Sua mão grande, quente e firme aperta a minha cintura, enquanto a outra segura com uma firmeza agradável nos meus cabelos. Ele é um devorador e toma a minha boca com um desespero que eu não sei de onde vem. A sua língua invade a minha boca e logo sinto o seu sabor direto no meu paladar. Então solto um gemido de puro prazer. Um gemido dengoso e manhoso como se eu fosse uma gatinha que recebe o carinho do seu dono. Portanto, me contorço inteira desejando ainda mais.— Ah, doutor Ávila! — gemo o seu nome baixinho, quase como uma súplica. Porque sim, eu quero mais, preciso de mais desse homem.— Ou, Jen, acorda, garota! Escuto a voz de Amber do meu lado e em seguida sinto o meu corpo ser sacudido. Me forço a abrir os olhos e vejo que ainda estou na cama do dormitório do hospital. Pior, estou sozinha