Ao lado da palavra "atrasada" em um dicionário, sem dúvida alguma, deveria ter uma foto de Cristiane. Ela era a personificação da falta de pontualidade. Nem era por maldade, realmente se esforçava em chegar no horário marcado, mas jamais conseguia. O mundo parecia conspirar contra a sua pontualidade. Cris, como era chamada pelos amigos, já estava desistindo de lutar contra o que o destino havia preparado para ela. Mas algo estava a seu favor. Ela morava na quarta maior metrópole do mundo: São Paulo. A cidade é um emaranhado de carros e semáforos, um ir e vir constante de pessoas, transporte público, andarilhos e tudo mais que puderem imaginar. Cris se permitia usar o trânsito louco a seu favor e justificava seu atraso sempre da mesma forma. Seus amigos já não se importavam mais ou sempre marcavam com ela um horário diferente para o encontro. Claro que sempre uma ou duas horas antes que os demais e por incrível que pareça, quase sempre ela conseguia chegar depois que todos já estavam acomodados.
Seus dedos tamborilavam de forma frenética no volante do carro. Já havia recebido quatro ligações e na última dissera a verdade. Estava mesmo a caminho, mas como da última vez, perderia o começo do filme. Viu a luz verde à sua frente e acelerou cortando os carros que teimavam em desfilar da forma mais lenta e irritante possível. Era como se o mundo automobilístico conspirasse contra seu desejo de assistir a um filme em uma sexta-feira à noite, com suas amigas. Ela estava ansiosa há dias. Esperou pela pré-estreia como uma criança espera pela noite de Natal. Havia literalmente berrado com uma senhora de meia idade na fila para comprar os ingressos um mês antes. A atendente anunciou que aqueles eram os últimos dez lugares livres e a mulher disse querer os dez. Cris nunca havia lutado com tanta força e empenho por algo, como lutou por aqueles três ingressos que desejava. Nada iria separá-la de Grey, nem mesmo aquela mulher de meia idade e cabelos roxos a sua frente. Ela que fosse se masturbar com as amigas idosas no asilo. O Grey era de Cris.
Seu sorriso, com a lembrança da gritaria e da briga na fila do cinema no mês anterior, se ampliou em seus lábios. Quando se deu conta, Cris ria alto e sozinha no carro lembrando-se da cara de desespero da mulher quando sem pensar, Cris avançou sobre ela puxando os últimos ingressos de suas mãos. Sentiu-se orgulhosa quando deixou o shopping descabelada, amassada, com a costura de sua blusa preferida esgarçada, mas com os três ingressos em sua mão. Esperou três semanas para o grande dia. Tomou um banho demorado. Colocou uma calça jeans escura que realçava as curvas de seu corpo, uma blusa branca de mangas compridas, que ela amava e ficava folgadinha, mas os três botões de cima abertos, davam um ar sensual. Soltou os longos cabelos pretos, que caiam até sua cintura em ondas perfeitas. A maquiagem marcada nos olhos e os lábios levemente molhados de gloss a deixava simples e impossível de não ser notada. Sabia que era bobeira, aliás o seu racional sabia que era uma bobeira se arrumar daquela forma para assistir um filme com as duas amigas. Claro que entendia que o ator de uma de suas trilogias preferidas, não pularia da tela a sua frente e a foderia de quatro sobre as cadeiras do cinema na frente de todos. Mas ela não era nada racional quando o assunto era Grey.
Cristiane era uma mulher normal. Não era loira, linda, alta, de olhos azuis e um corpo fenomenal. Sua pele clara e macia, contrastava com o cabelo preto comprido. Seus olhos castanhos claros estavam sempre destacados em uma maquiagem bem-marcada, chamando a atenção. Os lábios jamais tinham cor, somente um leve molhado de um gloss ou hidratante labial e nada mais. Não era alta, 1,68 no máximo e de salto alto. Sem eles não passava de 1,63. Ela gostava disso, seu corpo não havia sido definido em uma academia, mas a harmonia entre os seios, quadril e coxas a fazia feliz. Claro que como todas ao seu redor, ela também era marcada por algumas celulites e estrias, mas nada que a fizesse se trancar em uma calça de moletom em um dia quente.
Era uma mulher independente. Trabalhava há cinco anos em uma empresa que organizava eventos dos mais variados. De aniversário em grande estilo de uma celebridade em ascensão à uma despedida de solteiro regada a muita bebida e putaria da mais alta classe. Infelizmente a empresa estava dividida em setores e cada um deles cuidava de um determinado segmento. Para a frustração de Cris a sua área não era a da putaria. Ela cuidava de festa infantil. Não que não gostasse, ao contrário, amava o universo das crianças. Estava sempre cercada de heróis consagrados e desenhos que grudavam em sua mente com suas músicas educacionais. A alegria nos olhos dos pais, com a realização de um sonho. A comemoração de mais um ano de vida do seu bem mais precioso, que deixava Cris em êxtase ao final de um evento realizado. Mas como em tudo na vida, existia um pró e um contra. Sua vida era corrida, pois a área com mais eventos era a dela. Cris vivia uma vida pessoal frustrada, traumas do passado a cercavam, acontecimentos que fez questão de jogar para o fundo de uma gaveta e trancafiar no lado mais escuro de sua memória, e seu refúgio era a imensa estante de livros que ocupava duas paredes completas de seu apartamento. Foi em uma dessas aventuras que ela conheceu o "seu" Grey. O senhor perfeitamente fodido de uma trilogia quente que a levava a loucura com a descrição detalhada de tudo o que ela gostaria de viver. Jamais havia experimentado pessoalmente, mas em sua mente, em sua pequena cabeça, Cris já havia gozado com ele inúmeras vezes.
— Foco Cris!
Exigiu de si enquanto procurava uma vaga para estacionar o carro. Assim que se aproximou da imensa fila de mulheres histéricas que faziam caras e bocas tirando fotos com o banner do ator. Ela avistou as duas amigas que acenavam loucamente para ela. Cris sorriu e apressou os passos enquanto sacudia no ar os ingressos.
— Poxa Cris, mas nem hoje??? - Amélia perguntou batendo o pé no chão e as mãos na cintura. Amélia era uma morena linda, com olhos verdes que causavam inveja. O cabelo bem cacheado moldava de forma linda o seu rosto. Era uma mulher alta, quase nunca usava salto por achar que se destacaria demais. Cris sorria se desculpando puxando a amiga para um abraço. Sentia-se sempre uma criança perto de Amélia, não somente por seu tamanho, mas pela forma que a amiga lhe dava broncas infinitas por seus atrasos. Ao lado das duas, Eduarda revirava os olhos para a cena.
— Não entendo como Lia ainda se espanta com seus atrasos. Cinco anos juntas e jamais te vi chegar no horário. - Eduarda sorria para a amiga enquanto recebia um abraço igualmente apertado.
Era fácil demais conviver com elas. Eduarda era leve e bem-humorada, mesmo quando queria fazer o estilo fatal, parecia uma boneca de porcelana. Loira, com os cabelos lisos, cortados em um chanel de bico. Olhos incrivelmente pretos. Sua estatura era mediana e estava sempre sorrindo, pronta para todas as loucuras que o mundo pudesse lhe oferecer, mesmo em seus momentos de fúria, onde o temperamento e a falta de controle, despertava o medo das pessoas ao redor. Eram amigas desde o dia em que foram entrevistadas na Eventos & Estilo e contratadas para a mesma área. Passaram juntos os piores momentos da vida de Cris e a pedido da amiga, assim como ela, fizeram questão de esquecer o acontecido.
— Vamos meninas. - Cris se virou quando a fila começou a andar - Meu amado me espera.
— Você precisa é ser comida de verdade para poder sair dessa sua neura com esses caras desses livros Cris - Resmungou Eduarda em seu ouvido - Está precisando gozar de forma escandalosa e dar um descanso ao seu vibrador.
Cris bufou derrotada, sabia que Duda tinha razão. Somente não sabia como fazer com que aquelas palavras se tornassem reais em sua vida. Sentaram-se uma ao lado da outra, de frente para a grande tela. Amélia abriu a bolsa e retirou saquinhos incontáveis de balas e amendoins, entregando as amigas que a olhavam incrédulas.
— O que foi? Comprei antes de chegar aqui ué. - Deu de ombros - Vamos, peguem o que gostam e vamos nos deliciar, afinal, o mocinho fodido do filme será só o começo da nossa noite meninas.
Cris se ajeitou com o saquinho de amendoins coloridos em suas mãos e suspirou mais alto do que gostaria. Tudo o que desejava era não terminar a sua noite sozinha em sua cama, tendo o vibrador lilás como companhia.
Após algum tempo de filme, Cris já estava apertando as pernas e contraindo a musculatura do quadril. Ela estava louca de tesão e a calcinha molhada, não conseguia conter seu desejo. Há meses não transava com alguém que não fosse seu vibrador e as cenas protagonizadas a sua frente lhe causavam desespero.— Se não parar de se esfregar assim, vai acabar ficando com câimbra na boceta Cris. – Duda sussurrou no ouvido da amiga que se sobressaltou com o comentário.— Deixa de ser boba Duda, não é nada disso.— Sei, estou vendo que realmente não é. Você precisa ser fodida com força menina. Essa sua vida vai acabar te matando.— Podemos resolver isso depois do filme. – Amélia se envolveu na conversa, deixando Cris, que estava entre as duas, muito desconfortável.— Não vamos resolv
Assim que as portas se abriram, de alguma forma, Cris achou que estava no paraíso. O salão não era tão grande quanto os dois primeiros. Não havia quartos, somente grandes sofás em veludo vermelho espalhados. Em alguns pontos havia grandes almofadas redondas, forradas em veludo vinho. As pessoas estavam em sua grande maioria nuas ou quase nuas. Pouco mais de dez pessoas ainda se encontravam com todas as peças de suas roupas, mas não parecia que ficariam assim por muito mais tempo. Elas continuaram andando, sempre juntas. Amélia e Eduarda se olhavam enquanto notavam a reação de Cris diante das cenas à sua frente.Cris estava absorta em seus pensamentos. Via em cada canto a cena de um de seus sonhos sendo realizado por outras pessoas. Sem nem ao menos notar, foi levada mais à frente onde um casal trepava em um dos sofás. A mulher estava de joelhos sobre o assento, com o corpo leveme
Ela não quis esperar por resposta, algo naquela situação a incomodava muito. Mesmo sob a água quente, a sensação de ciúmes ainda atormentava Cris. Sabia que era racionalmente estupido sentir ciúmes de um desconhecido, mas seu lado racional estava desligado. Demorou um bom tempo no banho. Muito mais do que precisava. Não queria sair do chuveiro e ver que ele havia atendido o seu pedido e não iria mais conversar com ela naquela noite.— Isso é o cumulo da carência Cristiane! Não seja ridícula.Após a bronca mental, Cris não se deu ao trabalho de se enxugar ou se vestir. Passou pela sala, ainda nua, somente para arrumar a pequena bagunça do seu dia de preguiça no sofá. Pegou o celular e o carregador que estava jogado em um canto, indo direito para o quarto. Iria somente colocar o aparelho para carregar, ler um livro e se permitir dormir
Seus olhos se abriram devagar e o sorriso tomou seus lábios. Há tempos Cris não dormia uma noite inteira e de forma tão tranquila e profunda. Não sonhou, não se afundou em amargura, não se sentiu sozinha e em momento algum, pensou em mudar toda a sua vida. Simplesmente fechou os olhos e dormiu. Espreguiçou-se sobre a cama, tendo a consciência de seu corpo nu. Somente nesse momento lembrou-se do exato motivo de seu bem-estar. Quase em desespero, correu as mãos entre o lençol e os travesseiros, achando o aparelho sem bateria, jogado na cama. Cris rapidamente buscou o carregador e amaldiçoou todos os deuses por saber o quanto o aparelho demoraria para ligar. Sabendo que não conseguiria ficar ali deitada somente esperando, levantou-se indo direto para chuveiro. As sensações da noite passada invadiam a sua mente e a explosão de prazer que experimentou a fez gemer sem nem ao meno
Claro que Cris recebeu mais de dez mensagens, mas não leu nenhuma. Poderia ter bloqueado o número, mas por alguma razão, que ela sabia muito bem, não conseguiu. Os dias seguiram da pior forma possível. Cris praticamente se arrastava dentro da empresa. Mesmo com uma grande festa de aniversário de um ano de um famoso cantor sertanejo se aproximando e tomando quase todo o seu tempo, ainda assim, sentia-se consumida pela ausência dele. O celular ainda vibrava uma vez ou outra e em todas, ela visualizava na barra de notificações, mas jamais abria a caixa da conversa com ele.— Você precisa parar de suspirar Cris... É sério, está quase arrastando correntes. O que aconteceu com você? – Amélia estava sentada ao lado da amiga e a olhava com carinho – Sabe que pode contar comigo, não sabe?— Sim, eu sei... – Respondeu baixo – Só
Após um banho demorado, estava com seus cabelos lavados e maquiagem feita. Escolheu um vestido vermelho tomara que caia, com um decote que contornava os fartos seios e descia colado ressaltando curvas de seu corpo. Sentada no banco de trás do carro de Eduarda, não sabia para onde estava indo, mas havia prometido que iria sair daquela situação. Deixou o celular em casa, não se importando em carregar o aparelho que há dias estava sem bateria.— Poderiam ao menos me falar para onde estamos indo? – Disse para as amigas, pelo que pareceu ser a decima vez.— Isso realmente importa Cris? Qualquer lugar é melhor do que ficar trancada dentro de casa. – Amélia escolhia as palavras e o tom de voz certo para responder.— Sem contar que estava apodrecendo Cris... Entendo a depressão, essa sua loucura virtual aí... mas ficar sem banho? – Eduarda ainda não ha
Ela sorriu largamente, como há algum tempo não fazia. De alguma forma, dançar havia liberado a tensão que estava vivendo nos últimos dias. Fernando aproximou-se um pouco mais e tão levemente que pareceu não ter acontecido, acariciou o rosto dela.— Você é linda. – Disse baixinho.— Você já disse. – Respondeu no mesmo tom. – Você também é.— E ainda tenho covinhas – Ele respondeu se aproximando um pouco mais.— Sim.... Ainda tem covinhas....Ela sabia o que iria acontecer, estava claro. Ele já estava próximo demais e seu corpo se inclinava sobre o dela, anunciando o beijo. Claro que ela poderia dar um passo para trás e recusar. Poderia sorrir e agradecer educadamente o interesse, mas não havia um único motivo real para que agisse dessa forma. Fernando era um homem lindo e at
O som alto da porta da frente batendo a assustou, Cris riu ainda com os lábios tomados pelos lábios de Fernando, que a beijava como se sua sobrevivência dependesse daquele contato. Agora em pé e tão próxima, ela via o quanto era pequena perto dele. O seu corpo estava totalmente envolvido por ele. Seus braços a puxavam para si, tomando posse dela deliciosamente. Cris gemia sentindo o corpo reagir aos toques dele. Ele gemia nos lábios dela, arqueando seu corpo, pressionando seu quadril, querendo penetrá-la novamente. Caminharam pelo corredor em meio a beijos e peças de roupas sendo arrancadas em desespero, deixadas pelo chão. Outra porta se abriu revelando o quarto de Fernando, mas não estavam prestando atenção ao ambiente.— Nossa Cris.Fernando se afastou o suficiente para olhar o corpo nu de Cris. Seus olhos revelavam não somente o desejo ardente que estava n&