Capítulo III

Assim que as portas se abriram, de alguma forma, Cris achou que estava no paraíso. O salão não era tão grande quanto os dois primeiros. Não havia quartos, somente grandes sofás em veludo vermelho espalhados. Em alguns pontos havia grandes almofadas redondas, forradas em veludo vinho. As pessoas estavam em sua grande maioria nuas ou quase nuas. Pouco mais de dez pessoas ainda se encontravam com todas as peças de suas roupas, mas não parecia que ficariam assim por muito mais tempo. Elas continuaram andando, sempre juntas. Amélia e Eduarda se olhavam enquanto notavam a reação de Cris diante das cenas à sua frente.

Cris estava absorta em seus pensamentos. Via em cada canto a cena de um de seus sonhos sendo realizado por outras pessoas. Sem nem ao menos notar, foi levada mais à frente onde um casal trepava em um dos sofás. A mulher estava de joelhos sobre o assento, com o corpo levemente dobrado no encosto. O homem atrás dela estava em pé e metia sem pressa, cada estocada era lenta enquanto ela rebolava devagar. Os gemidos dos dois era muito baixo e a forma como ele mordia o lábio inferior deixava tudo muito mais excitante. Ao redor, algumas pessoas deslizavam as mãos sobre eles. Tocavam os seios da mulher, beliscando e apertando os mamilos rígidos, a fazendo gemer ainda mais. Cris estava deliciosamente molhada e presa na forma como o casal a sua frente transava. Não se deu conta quando um homem alto parou atrás dela. Assustou-se sentindo braços fortes a envolverem. A princípio tentou se afastar, mas ele a prendeu e a puxou para perto de seu corpo fazendo-a sentir a potente ereção roçando em sua bunda. Ela soltou um gemido fechando os olhos. Deixou envolver-se por ele e sentiu seu peitoral musculoso servindo como apoio para o seu pequeno corpo. Ele tinha mãos grandes e quentes que deslizavam sobre o corpo de Cris. Levantou a blusa e tocando em sua pele buscou os seios, apertando-os sem cuidado algum, arrancando um gemido um pouco mais alto. Ela já havia se esquecido completamente onde estava. Sem uma única objeção, viu o tecido fino de sua camisa ser jogado ao chão. Cris gemia, seu corpo se contorcia sob o cuidado das mãos do completo estranho atrás dela. Mãos que a desvendava abrindo o botão e o zíper da calça que ela vestia. Delicadamente deslizou os dedos sobre a renda da calcinha que ela usava. Naquele momento mais nada importava ou fazia sentido algum. Ela virou o rosto para o rapaz e onde sua boca conseguia tocar, Cris beijou, mordeu e brincou com a língua. Suas mãos encontraram o quadril dele e o puxou mais para o seu corpo. Ela queria sentir sua ereção, queria sentir ele dentro dela. Sentiu dois dedos acariciando sua intimidade, tocando levemente seu nervo sensível. Ele colocou uma das pernas entre as pernas dela, as separando um pouco. Introduziu os dois dedos dentro da boceta de Cris, que arqueou o corpo, pressionando a bunda contra ele.

— Nossa... molhadinha.

Ouviu a voz rouca em seu ouvido fazendo seu corpo se arrepiar completamente. Ela o queria. Não se lembrava mais onde estava ou se estava cercada de pessoas que agora a olhavam. Desejando participar da brincadeira, uma morena linda que estava se deliciando com e cena, aproximou-se. Tocou os seios de Cris os libertando do sutiã. Nem mesmo os lábios quentes da mulher, que agora brincava com o mamilo entre os dentes, conseguiu tirar Cris da luxuria que ela vivia. Foi a voz alta e em choque de Eduarda que trouxe Cris de volta a realidade. Quando ouviu a amiga gritar, ela abriu os olhos e se viu nua na parte de cima, com uma mulher chupando seus seios e um homem a fodendo com os dedos. O susto foi tamanho que Cris gritou ainda mais alto, afastando os dois ao mesmo tempo. Seus olhos percorreram o salão e a vergonha do que encontraram a deixou ainda mais constrangida. Ela se abaixou pegando a camisa e a sutiã de qualquer jeito. Sem se preocupar em cobrir sua nudez, correu procurando a saída, tendo Eduarda e Amélia logo atrás dela.

— Calma Cris, quer fugir, vá pelo menos para o lado certo.

Eduarda tomava a amiga pela mão e a puxava em direção a saída. Esperaram o motorista trazer o carro e sem dizer uma palavra, seguiram para o apartamento de Cris. Assim que abriu a porta, Cris agradeceu às amigas e se despediu sob os protestos de ambas. Não queriam ir embora e deixar a amiga sozinha, mas nada que disseram fez Cris mudar de opinião. Indo para o banheiro, foi deixando a roupa pelo curto caminho. Abriu o chuveiro e deixou com que a água quente levasse para o ralo a sensação de sujeira que sentia naquele momento. Deitou-se na cama sem se preocupar em enxugar o corpo ou o cabelo. Ainda nua se cobriu e chorou. Derramou suas lágrimas por ter se permitido ir àquele lugar. Por deixar com que tocassem o seu corpo. Por ter se exposto daquela forma e o que mais lhe doía, era o prazer que o corpo sentia quando as imagens invadiam a sua mente.

Cris levantou-se na manhã seguinte disposta a esquecer completamente aquela experiência. Tomou outro banho.  Prendeu os longos cabelos em um alto rabo de cavalo. Colocou um shorts, regata e tênis e decidiu passar sua manhã em qualquer parque. Agradeceu por ser ainda cedo e não ter muita gente. Iria passar horas procurando um lugar para estacionar se tivesse acordado um pouco mais tarde. Tirou a bolsa do banco de trás e caminhou sem pressa. Não queria pensar, nem projetar sonhos ou metas. Queria somente andar e ter a mente vazia, sem imagem alguma. O dia estava lindo. O sol estava forte e não havia uma nuvem no céu. Cris escolheu uma árvore com tronco grande e copa bem cheia de folhas verdes. Tirou um tecido colorido de dentro da bolsa, esticando-o no chão e sentando-se. Tirou o livro que há tempos queria ler, mas que a correria não estava permitindo. Apoiando-se na árvore, deixou seus olhos correrem por cada linha se entregando à leitura. Estava mergulhada nas palavras quando ouviu o bip de seu celular. Sim ela amava os livros, mas amava na mesma proporção a tecnologia e toda a facilidade que o século XXI oferecia. Apertou o botão na lateral e o visor revelou que havia uma nova mensagem no aplicativo. Estava ignorando as amigas desde que acordou. Viu mais de cinquenta mensagens perguntando se estava bem e o que sentiu no clube na noite anterior. Todas elas devidamente visualizadas e esquecidas em seguida, mas a curiosidade surgiu quando Cris notou que a mensagem recebida era de um número de telefone desconhecido:

“Te encontro às 20 hr?”

Cris olhava para o aparelho em sua mão e não reconhecia o número. Não se lembrava de ter marcado algo com alguém. Clicou na foto do perfil, vendo a imagem de um homem de costas, de frente para o mar e um lindo pôr do sol de fundo. Foto digna para emoldurar. Ela aproximou o celular um pouco mais, tentando notar os detalhes. Em seguida respondeu de forma sucinta.

“Deve ter se enganado com o envio da mensagem”

Recebeu em seguida.

“Você tem razão, desculpe o transtorno”

“Não precisa se desculpar, essas coisas acontecem”

“Retiro meu pedido de desculpa então rs”

Ela sorriu.

“Pode deixar sua desculpa aqui mesmo, tenho certeza de que não te fará falta”

Não deu tempo de pensar na situação, a resposta veio rápido demais.

“Claro que me fará falta, não sabe o quanto sou apegado ao que me pertence e outra, você a rejeitou”

“Jamais”

“Saiba que magoou meu coração. Agora preciso saber o seu nome...”

Cris estava gostando da brincadeira. O humor leve das mensagens estava deixando sua manhã mais interessante. Ela fechou o livro, guardando dentro da bolsa e se ajeitou com o celular na mão.

“Um pedido de desculpa é suficiente?”

“Ele virá acompanhado de seu nome?”

“Irá acompanhado de sinceridade, ajuda?”

“Sinceridade é sempre bem-vinda... Mas quero nomear aquela que machucou meu coração.”

Com a última mensagem, Cris riu alto, chamando a atenção de algumas pessoas que faziam caminhada ali perto

“Vou aproveitar que seu coração já tem uma opinião ruim ao meu respeito e negar o pedido”

“Você é má”

“Sou um pouquinho”

“Meu coração se lembrará disso”

“Bom encontro as 20 horas”

Com a última mensagem enviada, Cris jogou o celular dentro da bolsa, levantou arrumando suas coisas para ir embora. Ainda sorria voltando para casa, lembrando das mensagens trocadas. Jogou a bolsa no sofá e foi para a cozinha preparar um lanche, estava faminta. O dia passou rápido e sem se dar conta, a lua já estava clareando a noite. Cris havia passado o restante do dia largada no sofá em uma maratona de sua serie favorita. Tirando o lanche que comeu antes do meio-dia, passou as últimas horas se alimentando de salgadinhos e chocolate branco. Estava decidida a passar o sábado à noite exatamente da mesma forma. Cris estava quase dormindo no sofá quando o som insistente de seu celular a despertou por completo. Desde que saiu do parque, esquecera totalmente do aparelho jogado dentro da bolsa. Claro que estava quase explodindo de mensagens de suas amigas e ligações não atendidas. Cris sentou-se, disposta a responder tudo de uma vez.  Foram as mensagens de um certo número desconhecido que prendeu totalmente sua atenção. Foi impossível impedir o sorriso tomar conta de seus lábios quando se deparou com a primeira mensagem:

11:50

“Agradeço. Mas acho que ainda prefiro mesmo é saber o seu nome.”

12:45

“Esquecido depois de ser desprezado e magoado por uma estranha.”

16:22

“Estou correndo um sério risco de vida, se meu coração não aguentar ser ignorado dessa forma, minha morte será culpa sua.”

19:11

“Ok eu desisto. Fala seu nome e endereço, cancelo meu encontro e vou te ver, chega de drama mulher.

20:52

“Deve ser complicado estar em um encontro e sua atenção estar voltada para o celular, esperando uma resposta de alguém que não conheço. Me acha estranho?”

— Dramático.

O sorriso não deixava mais os lábios de Cris. Estava se deliciando com aquela inusitada situação. Olhou para o celular e rapidamente salvou o número. Demorou alguns segundos para nomear o desconhecido: “quem é você?”. Ajeitou-se no sofá, deixando de lado o controle da televisão.

21:29

“Primeiro, me desculpe a demora em responder, joguei o celular dentro da bolsa e após um longo período de sofá, besteiras e serie, resolvi ver como estava o meu “mundo virtual”. Segundo, alguém já lhe disse o quanto é dramático? Senti sua dor e as lagrimas em seu coração aqui de casa rs. Terceiro, larga esse celular e vai dar atenção a pessoa que está na sua frente é falta de educação isso que está fazendo rs”

Ela jogou o celular sobre o sofá, sabendo que ele não iria mais responder, mesmo querendo muito estar enganada. Não teria o porquê alguém estar em um encontro e perder tempo conversando com uma estranha por mensagem. A surpresa do bip minutos após ela ter enviado a mensagem, a fez correr de volta para sala e como uma adolescente se jogou no sofá com o aparelho nas mãos.

21:33

“Está desculpada, não conseguiria ficar magoado muito tempo com você mesmo. Besteiras e series? Que tipo de besteira e qual seria está assistindo? Não é drama, isso se chama “carinho ao próximo” – sim, acabei de inventar isso. Estou tentando, mas uma desconhecida me chamou, enviando um texto imenso, aproveitando-se do meu vício, sabendo que não conseguiria me conter”

21:40

“Agradeço. Salgadinhos e chocolate, não sei se já ouviu falar, mas é uma serie médica, um hospital, mostrando a rotina não só de uma pronto socorro, mas também dos médicos, residentes, enfim, acho que não conhece. Carinho ao próximo? Conheço isso por outro nome, carência rs. Então deixe essa estranha de lado e volte sua atenção para quem você realmente quer passar sua noite, vou tomar um banho e me deitar, aproveite bem o seu sábado “quem é você?” Bom sonhos”

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