Capítulo 4

Era sábado, dia de organizar o apartamento. Se eu não fizesse isso, ninguém fazia. Helena aproveitava o dia para ficar com Daniel e Samantha para hibernar até a noite. Lavei minhas roupas, varri e lavei o chão e organizei tudo que estava fora do lugar. Acabei nem vendo o lindo dia de sol que estava na rua. Quando acabei já era final de tarde e Helena já estava de volta, se preparando para sair novamente.

- Iremos ao bar da esquina. – disse ela. – Vamos?

- Estou cansada. Acho que vou ler um livro e depois dormir.

- Ari, você sabia que existe vida lá fora? = ela me perguntou.

- Além do mais não falei com Therry.

- Therry não está em casa.

- Como você sabe?

- Nenhum movimento por lá.

- Acho que não pega bem eu sair sem ele... Talvez ele fique chateado. Ele sempre convida para ir com ele e eu sempre dou uma desculpa...

- Assim como faz comigo quando a convido.

- Helena, eu...

- Não aceito não como resposta. Sairemos as 20 h e você deverá estar pronta e bem linda.

Eu suspirei baixinho e fui para o meu quarto. Samantha estava acordando.

- Vai dormir? – perguntou ela quando eu deitei.

- Não... Só descansar um pouco.

- Eu vou comer algo e me arrumar porque hoje é sábado. – disse ela saindo cantarolando com a toalha de banho na mão.

Eu realmente não gostava de sair para bares, mas Helena tinha razão. Eu quase nunca saía, ficava só em casa. Talvez fosse bom variar um pouco e me divertir. Ela e Daniel eram alegres e talvez fosse bom fazer algo diferente no sábado à noite e não esperar pela diversão somente no domingo, quando havia reunião e churrasco na piscina.

Perto das 20 h coloquei um jeans e uma camiseta branca de lurex, com um leve brilho. Um sapato alto com salto confortável e um gloss para realçar meus lábios. Olhei-me no espelho. Eu estava um pouco magra, talvez as preocupações excessivas com o trabalho e a situação financeira do país bem como o futuro. Depois que cortei meus cabelos castanhos na altura dos ombros nunca mais deixei crescer, devido à praticidade. Eu raramente prendia ou fazia algo diferente neles. Nem tinta eles tinham. Não eram completamente lisos, nem crespos, mas tinham certo volume. Meus olhos eram castanhos, mas algumas pessoas insistiam em dizer que eram verdes. Eu tinha lábios carnudos, uma das poucas coisas que eu gostava em mim, e dentes alinhados e claros, sem nunca ter precisado usar aparelho. Minha pele era bem cuidada e não trazia nenhuma marca nem rugas. A pele morena contribuía para isso, acredito. Eu não me considerava feia, mas comparando com minhas amigas eu não era nada atraente. Não gostava muito de maquiagens chamativas ou roupas justas e decotadas. Aquela no espelho era eu: simples, confortável e satisfeita.

Quando saí Helena estava pronta.

- Uau! – elogiei. Não havia como não falar nada para ela.

Helena durante a semana se vestia bem discreta, geralmente usando calça, camisa e sapatos baixos. Mas durante as festas à noite ela usava e abusava da sua elegância e sensualidade. Ela tinha formas arredondadas, seios fartos e bumbum empinado. Os olhos eram escuros e bem amendoados e a boca grande, devido à sua origem latina. A maioria dos familiares dela morava no México. Ela havia nascido no Brasil. Ela tinha uma família carinhosa e preocupada. Os pais dela eram muito carismáticos e na casa dela sempre tinha festas e comida boa. Acho que a mãe dela ligava todos os dias para ela. Olhei a saia preta e a blusa branca transparente, que caíram muito bem nela.

- Fiquei bem? – perguntou ela dando uma volta.

- Perfeita.

- Você também. – ela disse.

Eu ri. Em nada eu me parecia com a ela, mas cada uma com seu estilo.

- Samantha também vai?

- Claro que não. Já deve ter saído. Ela disse que como Jonathan estava lá ontem certamente não irá hoje.

- Onde ela foi?

- Deve estar atrás dele. – ela riu. – Mal sabe ela que ele irá ao bar hoje de novo.

- Sério que você não contou? – eu critiquei.

- Me deixa ter amor próprio por ela.

As duas saíram. As luzes dos apartamentos estavam apagadas. Pelo visto ninguém em casa naquela noite de sábado. Percebi que eu era a única que costumava ficar nos finais de semana em casa à noite.

Quando chegamos ao bar, Daniel estava sentado numa mesa com Jonathan. Acompanhei Helena, mas fiquei um pouco receosa de ficarmos somente nos quatro a noite inteira ali. Certamente eu iria inventar uma desculpa para logo ir embora. Achei errado Helena não ter dito para Samantha que Jonathan estaria ali. Fiquei pensando onde ela estaria àquela hora, procurando por ele.

Sentei e cumprimentei todos. Daniel e Helena deram um longo beijo apaixonado. Jonathan me olhou e eu abaixei o olhar na mesma hora, sentindo uma sensação estranha. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta branca gola V. E ainda assim ele estava lindo, não havia como negar. Às vezes eu até entendia os lamentos de Samantha por ter perdido ele. Talvez se um dia eu tivesse um homem lindo como aquele comigo e depois perdesse eu também tentaria correr atrás do tempo perdido.

A música estava alta e Jonathan disse bem alto:

- Conseguiram convencê-la a deixar o casulo?

- Sim. – eu disse. – Mas vou ficar pouco tempo.

- Sério? Você chegou há... Cinco minutos e já quer ir embora? – ele disse rindo.

Eu não o escutava muito bem e quando vi ele trocou de lugar e sentou ao meu lado. Sem saber ao certo o motivo eu me encolhi um pouco, a fim de não tocar nele de forma alguma.

- Dança? – perguntou ele.

- De forma alguma. – respondi.

- Bebe alguma coisa?

- Água. – eu disse quase rindo. Ele deve estar pensando que não sou deste mundo.

Ele saiu e em seguida voltou com uma cerveja e uma água para mim.

- Obrigada... Não precisava. – eu disse.

Ele não disse nada. Helena e Daniel conversavam como se nós dois nem estivéssemos ali. Fiquei um pouco braba por Helena ter me levado para aquele lugar. Pensei que a situação poderia não ficar pior, mas ela e Daniel foram dançar. Então eu fiquei ali, sozinha com Jonathan.

- Você está bem? – ele perguntou.

- Sim... Por quê?

- Você está com uma cara péssima.

Eu suspirei. Realmente deveria estar.

- Minha cara é assim mesmo. – eu disse tentando sorrir.

Ele olhou nos meus olhos e perguntou:

- O que você tem contra mim?

Eu poderia mentir ou inventar qualquer coisa, mas preferi dizer a verdade:

- Você traiu minha amiga... Eu deveria ter algo a favor?

Ele ficou quieto. Não sei se estava digerindo minha frase ou o quê. Mas fiquei esperando por uma resposta que não veio, infelizmente. Pelo visto ele não tinha como se defender. Depois de um longo tempo, quase uma cerveja, que ele tomava sem sequer olhar para mim, ele disse:

- Eu não costumo fazer o que eu fiz para Samantha.

- Quer que eu acredite nisto? – eu perguntei.

- Se é para ser sincero, sim.

Eu fiquei quieta. Pensei no comentário de Helena sobre ele olhar para mim algumas vezes e depois daquela frase fiquei um pouco confusa. Olhei para ele novamente, que me olhava sem desviar o olhar. O que aquele homem queria de mim ou comigo? Eu não era o tipo de mulher dele. Talvez quisesse um brinquedinho diferente para passar o tempo. Ou talvez ele nem quisesse nada comigo e eu que estava ficando louca. Desviei meu olhar. Claro que eu não era capaz de ficar encarando ele lado a lado.

- Consegue pegar uma bebida para mim, por favor? – pedi.

- Claro. O que você quer? – perguntou ele levantando.

Quando ele levantou acabou virando a água do copo sobre mim. A água literalmente congelou meus seios e minha barriga. Eu comecei a rir.

Ele não riu. Imediatamente pegou um punhado de guardanapos e começou a passar pelos meios seios e barriga. Talvez ele não tenha percebido, mas eu me arrepiei ao toque dele e senti um frio na barriga que não sentia há não sei exatamente quantos anos... Talvez tenha sentido pela última vez na minha adolescência. Aquela sensação me deixava desconfortável, mas ao mesmo tempo viva. Não lembro qual foi a última vez que senti desejo com o toque de um homem.

Eu retirei as mãos dele e disse:

- Está tudo bem. Não foi nada.

- Eu sou muito desastrado. Desculpe-me.

- Eu já estava mesmo louca para ir embora. – confessei.

- De forma alguma. Vou pegar sua bebida agora. Se você for embora sem beber eu vou ficar muito mal, acredite.

- Jonathan, tudo bem. Estamos a alguns minutos de casa.

- Você troca de roupa e volta então?

- Claro.

- Então eu vou esperar você com sua bebida. O que quer?

- Pode ser... Um Martini.

Eu saí rapidamente e dando graças pelo acidente. Óbvio que eu não voltaria. Em minutos cheguei em casa, tirei aquela roupa, coloquei meu pijama e fui para cama. Dormir? Eu sabia que não conseguiria de jeito algum. Não sei se conseguiria dormir novamente em toda minha vida. Sentir um frio na barriga com o toque do ex-namorado da sua melhor amiga não é uma coisa que acontece todo dia.

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