Meu celular tocou e eu vi o nome de Therry. Fiquei um pouco nervosa, mas atendi.- Ari?- Oi, Therry.- Quero que você venha até o meu apartamento. Precisamos conversar.Eu fiquei pasma com o autoritarismo dele e a forma de falar. Respirei fundo e disse:- Acho que não temos mais nada para conversar, Therry.- Tem certeza?- Sim, eu tenho. E quero que você não me ligue mais.- Você pensa que eu sou otário, Ariane? Não, eu não sou. Eu vi você no clube domingo.- Pois saiba que eu também o vi. E creio que este seja o motivo que ficamos há dias sem nos falar não é mesmo? Achei que o que vimos, bastasse. Para nós dois.Ele ficou calado um tempo depois disse, em tom mais calmo:- Me viu?- Sim, vi você muito bem acompanhado. Nosso namoro não ia bem há tempos e você sabe disso, Therry. Acabou. Sei que não é legal fazermos isso por telefone, mas já que só nos falamos assim, não há porque retomarmos este assunto.- Você acha que eu sou o tipo de homem que leva fora por telefone, Ariane?- E v
Eu não conseguia parar de olhar atentamente todo o carro por dentro. Eu senti que ainda tremia minhas pernas, acho que por causa da situação com Therry, que realmente tinha mexido com meu emocional. Pela primeira vez eu tive medo dele. E me senti indefesa quando ele agarrou meu braço com força. Eu poderia tentar esquecer Therry, Samantha e tudo mais... Mas eu sabia que não conseguiria. Embora meu coração batesse descompassadamente ao ver Jonathan tão arrumado e perfeito dirigindo aquele carro de luxo, eu sabia que aquele homem não me pertenceria jamais. Na minha concepção era como se eu tivesse cometendo um crime em estar com ele ali, naquele momento.- Quer falar sobre o que aconteceu com Therry?Eu olhei para ele, que me olhou rapidamente enquanto guiava o carro com habilidade.- Eu acho que não. Mas eu já terminei com ele. Parece-me que ele não aceitou muito bem.- Não justifica o fato de segurar você pelo braço daquela forma agressiva.- Eu sei.- Tome cuidado, Ariane. Therry não
- Por que você não me disse isso antes? – eu perguntei sem evitar que meus olhos se enchessem de lágrimas.- Você nunca me deu uma chance... Parece que sempre fugiu de mim.- De alguma forma você sempre mexeu comigo... Sempre me deixou nervosa. – confessei.- Isso fazia com que eu pensasse que você não sentia nada por mim, pelo contrário, me repudiava.Eu abaixei meus olhos. Ele continuou:- Quando eu beijei você no clube e fui correspondido, eu percebi que talvez você sentisse algo por mim sim. Por mais que você não me diga, eu não acredito que não haja nenhum tipo de sentimento em você. Nem que seja atração física, eu sinto que de alguma forma você me corresponde. Sei que provavelmente o que você sente não é tão profundo quanto o que eu sinto... Mas eu não tenho pressa. Estou disposto a esperar o tempo que for preciso. E a conquistá-la, custe o que custar. Porque eu decidi que você é a mulher que eu quero passar o resto da minha vida. E eu não decidi isso hoje, ou ontem... Eu decidi
Nós começamos a observar uma barraca onde um menino e sua mãe tentavam atirar nos bonecos. Era visível a frustração do garoto com a mãe que não conseguia acertar o que ele queria. Jonathan foi até lá e ofereceu-se para ajudar. Em pouco tempo ele acertou no alvo e o menino saiu feliz com seu boneco de pelúcia.- Ele ficou feliz. – observei quando o menino agradeceu e saiu sorridente.- Eu adoro crianças.- Não conhecia este seu lado paterno. – eu disse.- Confesso que eu realmente não tinha. E não o mostro a qualquer pessoa.Eu sorri. Será que ele percebia o quanto eu estava encantada em conhecer aquele Jonathan que eu não conhecia?- E você, tem instinto materno de vez em quando? –ele perguntou. – Se vê montando uma família no futuro?- Às vezes sim, às vezes não. Acho que tenho muita coisa para fazer antes de tomar a decisão de ser mãe. Eu gosto da minha escolha de profissão, mas não gosto do lugar onde trabalho. Sinto que preciso progredir nisto.Jonathan pegou uma ficha e atirou no
Quando entrei em casa Helena já estava trancada em seu quarto. Eu nem sei ao certo se queria falar com ela. Quando entrei no meu quarto com o enorme urso de pelúcia, Samantha disse:- Nossa, que coisa mais fofa este urso. Onde você conseguiu?- Eu... Ganhei de um cliente. – eu menti mais uma vez para ela.Nos últimos dias tudo que eu fazia era mentir para todos, inclusive para mim mesma.Ela levantou da cama, de pijama e ainda maquiada. Abraçou o urso enorme que eu larguei na minha cama.- Ele é muito fofo, olhe só. – ela o apertou ainda mais.- Sim.- Me deixa dormir com ele hoje? Não suporto mais dormir sozinha tanto tempo.- Pode. – eu disse um pouco enciumada.Quando olhei que ela deitou na cama abraçada ao urso eu senti inicialmente ciúme. Depois culpa. Acabei me dando conta de que talvez ele não pertencesse a mim e sim a ela. Se minha amiga já havia ficado enlouquecida pelo urso, imagine se soubesse de onde ele havia vindo: de seu amado Jonathan. Eu era uma péssima amiga e estav
Dois dias se passaram. Foram calmos para mim, sem nada de novidade. Trabalho, casa e nada além disso. Naquele final de tarde quando cheguei ao apartamento Samantha já havia chegado também, mas Helena não. Fui tomar um banho enquanto Samantha lia um livro deitada no sofá. Coloquei uma roupa confortável e sentei com ela.- Como Helena está demorando nos últimos dias. – observei. – Nem consigo falar com ela.- Sim. – ela falou concentrada demais no livro para me dar atenção.- Talvez não esteja na escola ainda e sim saído com Daniel. Ela poderia pelo menos mandar uma mensagem. – eu disse.Ela nem levantou os olhos para falar comigo. A campainha tocou e eu fui atender, pois Samantha permaneceu imóvel. Fiquei um pouco acuada quando vi Therry na porta.- Esperava quem? Jonathan? – ele perguntou em voz alta e clara.Percebi quando Samantha olhou por cima do livro. Vi uma expressão estranha nos olhos dela.- Não me convida para entrar? – perguntou ele.- Não. Não vou convidar. – eu disse.Ma
Não saí no final de semana para o almoço de domingo. Eu estava péssima, com hematomas nos braços e não queria ver Jonathan, pois não estava preparada ainda para isso. Na segunda fui para o trabalho com uma camisa de mangas para não ter que justificar nada. Optei por não denunciar a agressão de Therry. Samanta e Helena, embora não concordassem, aceitaram minha decisão. Claro que eu não me sentia confortável em ficar com medo dele, mas também não achava que ele fosse fazer algo contra mim novamente. Não o vi desde o ocorrido. Também não fiquei andando pelo Dreamworld, então não sei se ele estava ou não por lá.Na segunda-feira fui contar à Gisa o que havia acontecido.- Vou pedir que ele deixe o Dreamworld, Ari. Não se preocupe. Não quero este tipo de gente aqui. Você sabe o quanto eu seleciono os moradores e o quanto vivemos em harmonia e amizade neste lugar. Isso não pode acontecer.- Obrigada pela compreensão, Gisa. Eu não esperava atitude diferente de você.- Hoje mesmo vou resolver
No final da tarde arrumei minhas unhas que estavam horríveis. Enquanto tirava os borrados de esmalte, meu telefone tocou. Era minha mãe, ou talvez meu pai.- Filha, sou eu, Cândida.- Oi, mãe... – eu ri. – Eu sei que é você...- Como está?- Bem, mamãe. E vocês? Fazia tempo que não ligava.- Eu e seu pai estamos bem. Quando virá nos visitar?- Assim que der, eu prometo. Estou trabalhando na empresa ainda... Longe de tirar férias por enquanto. Mas eu não perdi o endereço de vocês. Estou com saudade.- Este lugar é maravilhoso, minha filha. Um pedaço do paraíso na terra. À noite não ouvimos nada... Somente o silêncio da mata. Seu pai mandou fazer um açude enorme. E iniciamos uma plantação de milho. Seu pai acha que vamos vender este ano.- Que ótimo, mãe. Fico feliz em saber que vocês estão bem e vivendo a vida que sempre desejaram. Prometo que assim que tiver tempo, vou aí ver vocês.- Para nossa felicidade ficar completa, só falta você. Estamos com muita saudade.- Eu também. Mas logo