Capítulo 6

Saí dali e fui me juntar a Gisa, Fábio, Samantha e Mari. Fábio estava excepcionalmente amoroso com Gisa naquele dia, não largando ela sozinha um minuto. Ela parecia bem feliz. Gisa gostava dele, eu tinha certeza. E eu tentava de alguma forma gostar dele e aceitá-lo, pois era o namorado dela.

- E Therry, por que não veio? – perguntou Mari.

- Foi visitar o pai... Disse que ele não estava passando bem.

- O pai? Que pai? Therry não tem pai vivo. – falou Mari confusa.

Mari e Therry eram bem chegados. Talvez até amigos. Então se ela dizia aquilo, não havia dúvidas de que ele havia mentido para mim.

- Como assim? – perguntei interessada.

- Bem... – ela ficou um pouco sem jeito e pensativa. – Ele morreu... Tenho quase certeza.

- Quase? – perguntei, certa de que ela tentava encobrir Therry ao perceber que havia falado demais.

- Bem, tenho certeza. – ela confirmou.

Eu fiquei ali, atônita com a coragem de Therry em mentir para mim daquela forma. Eu sabia que não tínhamos nada muito sério, apenas um namoro e minha intenção era inclusive acabar... Mas me senti traída. Ele não tinha o direito de fazer isso comigo. Se quisesse sair no domingo com outras pessoas, outra mulher, que me falasse, que fosse sincero. Eu também não estava sendo sincera com ele quando mantinha o namoro não sentindo nada por ele. Então, não havia nenhum motivo para ficarmos juntos. E o desinteresse era das duas partes.

Olhei para Fábio que me olhava de forma irônica. Talvez ele também não gostasse muito de mim. Percebi que alguns prestavam atenção na conversa, outros não. Então não ia ficar preocupada com a opinião alheia. Sim, eu estava com meu orgulho ferido, mas não estava sofrendo pela mentira.

Samantha percebeu que eu fiquei mais calada e sentou ao meu lado:

- Não fique assim, Ari. – disse ela alisando meu braço.

- Não ficar assim? Por que ele mentiu? Você sabe quanto tempo eu estou tentando acabar o namoro e não faço isso por pena dele. E agora olha o que ele fez? Porque não saiu sem me dar aquele telefonema estúpido com mentiras? Eu nem sentiria falta dele aqui, como não sinto agora. O que me incomoda é a mentira. Não me importo com o que ele esteja fazendo neste momento.

- Talvez aconteceu alguma coisa... Quem sabe ele tem uma explicação. – tentou Gisa ouvindo a conversa.

- Therry não merece uma mulher como você, Ariane. – disse Mari.

- Bem, isso eu sei, Mari. – falei sorrindo. – Agora vamos aproveitar nosso domingo que este assunto para mim já está resolvido.

- Então se Ariane não está preocupada, não somos nós que ficaremos, não é mesmo? – disse Mari levantando o copo de cerveja e piscando o olho para mim.

No mesmo momento Mari, Gisa e Fábio começaram a conversar sobre outro assunto.

- Eu gostaria de ser você às vezes. – confessou Samantha para mim em voz baixa.

- Por que quereria ser eu?

- Você tem uma facilidade para sair de assuntos desagradáveis... Sempre calma, cautelosa... Você é incrível, minha amiga. – disse ela sorrindo.

- Quem dera fosse, Samantha. Tenho muitos defeitos e você sabe disso.

- Você costuma escondê-los muito bem.

- Como se houvesse alguém perfeito. – eu ri.

- Acho que você foi uma das pessoas que chegou mais perto. – brincou ela.

- Samantha, você é uma querida sempre. Obrigada.

- Sou sua fã... E muito grata por ter você como amiga. – disse ela carinhosamente.

- E o que seria de mim sem vocês? – abracei ela e pulei na piscina.

Samantha pulou atrás. Jogamos água uma na outra e observei Helena de longe, olhando para nós.

- Será que Helena sente falta de quando era solteira? – perguntou Samantha parecendo adivinhar meus pensamentos.

- Teoricamente ela ainda é, pois não casou.

- Ainda assim ela não é mais livre para fazer o que quiser. Parece que ela gostaria de estar aqui conosco.

- Eu não tenho dúvidas de que ela ama Daniel, mas acho que futuramente ela vai sentir falta das coisas que fazemos e fazíamos juntas antes... Quem de nós não sentirá, não é mesmo? – me questionei.

- Verdade. Se eu fosse Helena não casaria. Aproveitaria mais o tempo com as amigas. O que vivemos juntas neste lugar é maravilhoso e mágico. O sonho de toda mulher.

- Nem com Jonathan você casaria? – perguntei de repente, sem querer.

- Nem com Jonathan. – confirmou ela.

Eu fiquei pensativa. Samantha era confusa e mudava de ideia o tempo todo. Por isso eu nunca tinha certeza se ela realmente gostava de Jonathan ou simplesmente era uma questão de honra tê-lo de volta.

Eu saí da piscina, coloquei meu óculos de sol e deitei na cadeira para me secar e descansar. Acho que logo o almoço seria servido.

- Me acompanha até o clube? – abri meus olhos e vi Jonathan sem camisa tapando o meu sol.

- Por quê? O que você vai fazer no clube esta hora? – perguntei confusa.

- Acabou a cerveja. Os mercados próximos estão fechados hoje. Então só encontraremos no clube.

Pensei que eu realmente tinha que conversar com ele, então não deixava de ser uma boa oportunidade. Levantei e coloquei minha blusa por cima do biquíni.

- Vamos lá. – eu disse.

Quando saímos pelo portão, vi que ele tinha uma chave de carro na mão.

- Vamos no seu carro? – perguntei.

- Não... No de Fábio. – ele disse.

Olhei um enorme carro parado na frente do Dreamworld. Vidros escuros, novíssimos e de marca importada... Devia custar mais que uma vida do meu trabalho.

- E o seu carro? – perguntei para ele.

- Na oficina.

Respirei fundo e entrei no automóvel que por dentro parecia mais novo ainda.

- Medo de andar comigo? – perguntou ele percebendo minha preocupação.

- Na verdade não. Medo de sairmos daqui com este carro que deve valer quase o preço do Dreamworld. – observei.

Ele deu a partida no carro e foi devagar:

- Não pensei que você tivesse medo de algo. – observou ele olhando para mim.

- Por que acha isso? Sim, eu tenho meus medos. – confessei. – Como qualquer pessoa normal.

- Nunca deixa transparecer. Sempre segura, inabalável. – disse ele.

Então era isso que ele pensava de mim? Eu fiquei feliz com a impressão que causava nele.

- Sim, sou bem segura: do que quero, do que preciso e do que é melhor para mim. E na maioria das vezes sou inabalável... Por fora, pelo menos. – confessei.

- Você nunca perde a calma e a tranquilidade?

- Bem, às vezes perco a calma quando me derrubam bebida nos bares. – eu disse rindo.

Ele riu também:

- Nunca fui tão desastrado, confesso.

- Desculpe por eu ter saído daquela forma. Realmente ontem eu não estava num bom dia.

- Eu fiquei bem chateado quando voltei com sua bebida e vi que você não estava e não voltaria. Mas preciso confessar que gostei do Martini. Fazia tempos que eu não tomava.

Eu ri:

- Desculpe novamente. Eu deveria ter avisado.

- Tudo bem. Está perdoada.

- Jonathan, eu acho que precisamos conversar. – eu disse.

- Precisamos? – ele perguntou arqueando a sobrancelha curioso.

- Sim.

- Sobre?

- Samantha.

Ele comprimiu os lábios e suspirou. Percebi que ele apertou a direção com força.

- Eu não gostaria de conversar com você sobre este assunto, Ariane.

- Por que foge disto?

- Fugir? Eu não fujo deste assunto. Eu só não quero falar sobre isso com você. Deveria falar sobre isso com ela e não comigo. Samantha não me deixa em paz, me persegue por todos os lugares. Eu não gosto dela. Eu não vou ficar com ela. E nada do que você falar vai mudar isso.

- Por que ficou com ela tanto tempo? Por que a enganou desta forma?

- Eu nunca enganei ela, Ariane. Desde o início ela praticamente se jogou em cima de mim. Ela é uma mulher bonita e tudo que aconteceu entre nós foi só físico. Não houve sentimento, acho que nem da parte dela.

- Como pode dizer que foi atração física também da parte dela? Eu vejo minha amiga se lamentando por você todos os dias.

- Foi atração física, pura e simplesmente corporal. – reafirmou ele. – E eu não quero mais isso na minha vida. Há um tempo atrás isso me bastava, confesso, mas hoje não procuro uma mulher bonita e que me satisfaça sexualmente. Quero mais que isso.

Eu fiquei confusa com a resposta tão sincera dele. Um homem como Jonathan estava cansada de mulheres bonitas e sexo? Havia ele tido uma overdose disso? Mas também me comoveu o fato de ele querer mais que isso. Era a primeira vez que conversávamos sobre algo mais sério, ou sobre nós mesmos e era interessante saber o que ele pensava.

- E Samantha não pode ser incluída nos seus planos futuros? – me vi perguntando insistentemente, mesmo sem querer falar aquilo. – Ela além de bonita é inteligente e...

- Não, ela não pode ser incluída. – falou ele nem deixando eu terminar de falar. – Eu não gosto dela. Eu não sou capaz de amar ela um dia.

- Nunca ouviu dizer que a convivência pode se transformar em amor?

Ele parou o carro e olhou para mim. Depois chegou bem perto e passou o braço pela minha perna... Pegando dinheiro no console da minha porta. Eu senti o cheiro do perfume dele e acho que fiquei vermelha.

- Você gostaria que eu enganasse sua amiga deste jeito? – perguntou ele olhando para mim.

- Não. – foi a única coisa que eu consegui responder.

Estávamos parados na frente do clube, mas ele não saiu do carro e eu comecei a ficar incomodada com a proximidade dele. E eu nem sabia o motivo.

- Eu estou disposto a fazer qualquer coisa para ajudar Samantha. – ele disse. – Pensa que gosto de ver ela em todos os lugares que eu vou atrás de mim? Mas eu não vejo isso como amor. Ela só está obcecada por mim. Nós nos dávamos bem na cama... Muito bem. Mas era só isso. Nem lembro de uma conversa séria que tenhamos tido no tempo que ela achava que estava namorando comigo. Digo que ela achava, pois eu nunca enganei ela... Sempre deixei claro que não era namoro. Sei inclusive que ela também teve outros homens enquanto estava se relacionando comigo. E não critico, pois era assim mesmo... Ficávamos juntos quando nos víamos, mas cada um levava sua vida.

Eu e Samantha somos completamente diferentes.

- Ela mudaria por você se fosse preciso.

- E você acha certo ela mudar por mim? – ele perguntou. – Deixar de ser quem ela é por outra pessoa?

Eu fiquei calada novamente. Por que eu estava insistindo naquele assunto. Estava bem claro que ele não queria Samantha de forma alguma e uma volta entre eles era praticamente impossível.

Ele desceu do carro e eu fiz o mesmo.

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