Capítulo 3

Marina Salazar.

Estou devastada mais ainda, além de tudo o que aqueles dois me fizeram, agora meu nome está estampado no boletim de negligência médica. Isso pode acabar com a minha carreira, mas como pode? Tenho certeza de que não aconteceu nada. Não pode ser verdade, meu sonho de médica não pode terminar dessa maneira, ser acusada da morte de um paciente por erro médico é grave demais.

Estou sentada há algum tempo aqui no sofá da sala dos médicos sem saber o que fazer, não tenho para onde ir, para casa dos meus pais, com toda a certeza eu não voltaria. Chorando sem parar, algumas enfermeiras passam e ficam me olhando com pena, meu telefone toca insistentemente e, como se estivesse chamando a desgraça final, olho a tela e é minha mãe que está ligando.

Ele toca mais uma vez, então, atendo. — Alô?

— Até que em fim você atendeu Marina! Estava quase chamando a polícia, meu Deus, menina.

— Não é para tanto, mãe! Só estava descansando, não passei muito bem a noite, como vocês estão? E a vovó e a Isabel?

— É justamente por isso que estou ligando, o dinheiro que você mandou mês passado foi pouco, precisamos de mais, você pode fazer um Pix ainda hoje?

— Como assim, mãe? Eu te mandei dois mil e quinhentos reais há quinze dias, mas não foi o bastante, sabe que tivemos que comprar os remédios da sua avó.

Mas não é possível, o que eles fizeram com todo o dinheiro que mandei. Garanto que o papai está apostando de novo, porque é impossível que, com o valor que mandei, não desse para passar o mês, jamais me neguei a ajudar, isso já está passando dos limites. Quando menos espero, escuto a voz do meu pai do outro lado da linha exaltada.

— Você está se negando a ajudar sua família, Marina?

— Boa tarde para o senhor também, pai!

— Olha como você fala comigo, garota, me respeita.

Respirando fundo, conto até três mentalmente, toda vez é o mesmo, nunca está satisfeito com o que eu faço. Sem falar que ele torra o dinheiro se consegue ficar com ele. O jeito como a minha família me trata como se eu fosse um caixa eletrônico me mágoa, nunca fui boa o suficiente. Mesmo estudando que nem uma condenada, consegui a bolsa integral em um dos cursos mais caros da faculdade. Quando me tornei médica, finalmente, tudo o que eles enxergam é o quanto eu ganho por mês, e nada mais.

— Pai, não é assim, eu não estou te desrespeitando, mas vocês também têm que entender que eu não posso ficar mandando dinheiro toda hora, também tenho minhas despesas. — Pensando comigo mesma, agora muito mais que vou ter que achar outro lugar para morar.

— Sua irmã quer fazer faculdade nos Estados Unidos, preciso que você mande quanto antes o dinheiro e sem conversa, Marina, você é médica, ganha bem, é justo que ajude sua irmã também.

Sei que não adianta discutir, eu falar algo, ele acabará se alterando ainda mais e tudo ficará pior. Realmente, hoje não estou com cabeça para aguentar suas torturas psicológicas, de como sou a filha ingrata, que eles sempre fizeram de tudo por mim, que se eu realmente amasse sua família, não pensaria duas vezes em mandar o dinheiro. Ter pais narcisistas é algo que não desejo a ninguém.

É como seu desmaiasse, não tenho forças para mais nada, simplesmente desligo o telefone sem dizer uma palavra.

A noite chega e Carol me arrasta para um bar novo da cidade chamado Toca do Lobo, depois que contei a ela tudo que aconteceu. Não me deixou negar nada, falou que eu precisava curar as mágoas e deixar que o problema da negligência médica não iria dar em nada. Por saber da minha competência e confiar em mim, sabe o quanto prezo pelo meu trabalho e pacientes.

Depois de alguns drinks, fomos para a pista de dança, mas algumas músicas depois eu me sinto um pouco tonta e decido descer. Sem conseguir enxergar para que direção ia, tropeço em alguma coisa e acabo caindo no corpo forte e quente de alguém que com toda certeza era maior que eu.

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