Capítulo 5

Capítulo 5

Conrado Queiroz

Após ter ficado naquele quarto de hotel sem ao menos intender o que ouve, sentindo ardência no rosto, caminhei até o banheiro e vi alguns arranhões do lado esquerdo da bochecha. — Mas que filha da mãe essa garota. Se ela não conseguiu me deixar estéril com a joelhada lá em baixo, com toda certeza ela fez um belo estrago no meu rosto.

Sai do hotel e fui procurar uma farmácia 24 horas para comprar um remédio anti-inflamatório para evitar uma inflamação devido aos arranhões. Sem falar que precisava de um remédio para dor, não tinha nada disso em casa ainda, devido à minha recém-chegada, e eu não iria essa hora para o hospital para pegar medicação.

Custei a dormir pensando na doida de olhos verdes. Mesmo depois de toda a loucura que foi o nosso encontro, a lembrança da linda mulher desconhecida não sai da minha mente. O gosto dos seus lábios continua colado nos meus, o seu corpo tinha o encaixe perfeito no meu, isso eu não posso negar.

O bipe do despertador me desperta, são exatamente 6:00 da manhã, faço minha rotina de sempre, corro durante quarenta minutos, então volto tomar meu banho. Já deixei meu terno azul separado, hoje é o grande dia. Meu pai preparou um evento no auditório do hospital para me anunciar como novo diretor do hospital. — Tomo meu café com calma, continuo no horário, coloco a louça suja na lava-louças, então faço meu discurso repassando mentalmente os pontos mais importantes, pego a chave do meu carro no aparador e sigo para a nova fase da minha vida.

Confiro meu relógio, são exatamente 8:50 da manhã, ainda faltam 40 minutos até a apresentação. Estaciono o carro na vaga que meu pai havia disponibilizado para mim, entro no hospital e sinto a nostalgia me embebedar. Quantas lembranças desse lugar, algumas boas, outras ruins. Como a perda do meu irmão Lucas devido a uma cardiopatia congênita, meus pais fizeram tudo o que foi possível. Tio Carlos era o médico dele e desde a gestação meus pais sabiam que ele precisaria de cirurgia, mas um bebê recém-nascido é muito frágil. Hoje sei muito bem sobre isso, sendo pediatra.

Caminho para a sala do meu pai, sei exatamente qual é o caminho, mesmo que algumas reformas tenham sido feitas no hospital, dou três batidas na porta e escuto a voz do meu pai.

— Entre.

Respiro fundo e abro a porta. — Bom dia, papai?

No mesmo instante, ele sorri e vem ao meu encontro. — Bom dia, meu filho, está preparado para sua nova fase?

Ele me abraça com força, por mais que a gente discuta às vezes e a sua insistência para que eu tomasse o seu lugar no comando de tudo, eu estava morrendo de saudades desse velho.

— Chega, pai! Amassará meu terno.

— Como sempre vaidoso, puxou a sua mãe.

— Falando nisso, como ela está? Conversei um pouco com ela pelo telefone, mas devido à loucura da mudança ainda não consegui visitar vocês!

— Vai indo, mas sabe como ela fica perto do aniversário de morte do seu irmão, mesmo depois de todos esses anos.

Sei como ela fica triste nesse período, ela até tentou engravidar depois, mas não conseguiu. Meu pai deu a ideia de adotar outra criança, mas ela não quis, até chegou a dizer que não seria o mesmo, ninguém substituiria o meu irmão. Ela ficou por anos depressiva, mas hoje ela só tem picos de abatimento quando o aniversário de morte do Lucas chega.

Conversamos, formalidade sobre o hospital, informações que agora precisarei responder. Então, nos encaminhamos para o auditório. No caminho, encontramos alguns funcionários, entre eles está Luzia, a enfermeira que cuidava de mim quando eu era criança. Na época, ela era apenas uma estagiária, mas fez amizade com a minha mãe, então, ela passou a ser parte da família também.

— Bom dia, meu bebê, como você está?

— Luzia, eu não sou bebê há muito tempo!

— Para mim, você sempre será meu bebezão. — Me abraça e beija minha bochecha.

— Eu estava morrendo de saudades, Luzia. — Eu a aperto e rodopio no ar.

Me dando t***s no braço para que eu pare. — Para seu bobo, vai me derrubar!

Eu gargalho, então a solto no chão, beijo o topo da sua cabeça. — Vai à minha posse? Pisco para ela.

— Não perco isso por nada, e sua mãe?

— Papai disse que ela está daquele jeito, mas viria me ver. Hoje é um dia importante para a família, deve estar chegando.

— Vamos? Comigo, o papai deve ter ido encontrá-la.

— Claro, eu já estava indo para lá.

Seguimos abraçados, o auditório está praticamente cheio pelo seu tamanho, meu pai já se encontra posicionado no palco. Minha mãe já está na primeira fileira, Luzia vai até ela, eu comprimento alguns médicos conhecidos, respirando com calma, sei que está chegando a hora de enfrentar o que há tempos estou adiando, o comando do legado de meu pai, esse hospital é a vida dele.

Começo escutar uma discussão na porta, percebo que alguns médicos e enfermeiras se encaminham até a confusão. Meu pai também vem até o local, mas antes que ele fale algo, eu já estou tomando a frente, já que a partir de hoje serei o novo chefe.

— Posso saber o que está acontecendo aqui?

Todos abrem espaço e me olham, alguns já me conhecem, outros me olham com curiosidade, mas é aí que a vejo e a minha surpresa é também a dela, o destino tem que ser um sacana mesmo ou devo ter jogado pedrinhas na cruz. Estática e com os olhos arregalados tanto quanto eu, quem está parada me olhando como se eu fosse um fantasma, a doida do bar.

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