Conrado Queiroz Entrei na casa dos meus sabendo que esse jantar seria uma chatice pura. Martin e seu pai estariam, pelo menos, me livraria das baboseiras que minha prima Virgínia fala. Ainda não sei quem mais minha mãe convidou, não pelos meus pais, pois eu estava com saudades da mamãe, e tirando a mania de papai querer controlar minha vida, ele é uma pessoa incrível.— Boa noite a todos…As palavras perecem na minha boca no momento em que a vejo, a tenção volta ao ar. Eu deveria imaginar que meu pai e minha mãe a convidariam depois de tudo o que ele me falou ontem a respeito da relação deles com ela, mas essa garota me deixa fora de órbita, eu fiquei pensando sobre tudo e isso realmente é uma bagunça das grandes. Na mesa percebo seu desconforto, e também lido com as piadinhas da prima Virgínia, claro que ela não deixaria barato após ter perdido para mim o cargo de diretor do hospital.— Então, priminho, resolveu trabalhar um pouquinho?— Não se faça de sonsa Virgínia, você sabe mui
Marina SalazarLevantei com o rosto todo inchado após passar mais uma noite em claro, mil coisas na cabeça, me levanto antes mesmo do celular despertar. Mesmo sabendo que não posso atender paciente pelo meu afastamento, Fabrício fez questão de me manter no laboratório de pesquisa.Coloco uma calça jeans e uma camisa branca de botões dourados, faço um coque despojado, passo protetor solar, hoje não estou a fim de maquiagem, apenas um hidratante labial e máscara de cílios. Por último, calço meu all star branco, pego minha bolsa e o celular, conferindo se estou apresentável. Termino de descer as escadas e escuto vozes vindo da cozinha, estão todos conversando enquanto Santina termina de pôr a mesa do café.— Bom dia a todos!— Bom dia, Marina, o que aconteceu? Você não parece bem.— Passei a noite em claro pensando na minha situação no hospital, dona…— Querida, já disse que não precisa dessas formalidades. — Ela passa a mão no meu braço tentando me confortar e garantir que está tudo bem
Conrado QueirozComo essa mulher é tinhosa, mineira, brava, meu, como vou fazê-la entender? Ela chegou feito um furacão, bagunçando toda minha vida, bendita hora em que escutei meu pai e voltei para Minas Gerais. Além de ser uma onça-brava, me fazendo perder o controle cada vez que chego perto dela, ainda bagunça toda minha vida. Eu não posso me deixar levar com a cabeça de baixo, toma juízo, Conrado.Somos interrompidos novamente, mas dessa vez por um completo idiota, que com toda certeza não recebeu educação, e acha que vou deixá-lo gritar com uma mulher. Eu até posso ter minhas diferenças com ela, mas jamais levantaria a voz com ela ou qualquer outra mulher.— Ei, calma aí, cara! Se eu fosse, você baixava sua bola.— Não se intrometa, o assunto é entre mim e ela.Eu já tomo a frente e vejo a cara de desespero de Marina tentando me segurar, mas esse filho de mãe não vai mesmo me enfrentar. — Escuta aqui, seu… Pego na gola do seu paletó e o puxo, quase encostando nossos rostos. Minha
Marina SalazarNo momento em que Nicolas sabia que ia dar merda, ele é uma pessoa que jamais deixará para lá uma situação se isso ferir seu orgulho, a mágoa. O que acho totalmente hipócrita é que em momento algum ele pensou em mim ou em outras pessoas quando me traiu. Uma coisa que ele se importou foi com o amiguinho dele de baixo.Eu ouvi cada ofensa e não consigo revidar, cada palavra que sai da sua boca é como um soco no meu estômago, justamente por tudo que vivemos, sem conseguir controlar, as lágrimas brotam em meus olhos. Mas aí vejo Conrado, e a fúria está estampada em seu rosto. A maneira como ele parte para cima de Nicolas no momento em que ele me chama de interesseira, que já estava atrás de alguém com dinheiro, foi o estopim para a confusão tomar uma proporção enorme.Os socos, todo sangue me fizerem entrar em pânico, as lembranças de quando eu era pequena se tornaram tão vividas agora, minha mãe caída ao chão e meu pai bêbado a espancando. Novamente, eu estava aqui pedindo
Marina Salazar Eu sempre sonhei em se tornar uma médica, mas como filha de pais sem condições financeiras, me vi obrigada a se virar sozinha. Guardei cada centavo, estudava nas madrugadas, com muito esforço conseguiu uma bolsa integral no curso de medicina. Hoje, lembrando de toda a loucura que foram os anos em que estava estudando, cansaço, fome, muitas vezes não tinha dinheiro para o ônibus, minha vida só deu uma trégua quando conheci Nicolas, meu namorado há cinco anos. — Que foi, Marina? Está com uma carinha de quem está sonhando acordada. Eu desperto das minhas lembranças e olho para Mabel, que está sentada no tapete da minha sala, procurando em prego no site da cidade. Faz uma semana que ela está morando conosco, por ser despejada do apê onde morava com a mãe, pois o novo namorado dela não queria uma filha desempregada que não arca com as despesas. — Nada, não, Mabel, só estava me lembrando da época da faculdade, o quanto foi difícil, sei bem o que você está passando. Então,
Marina Salazar. Mabel está de quatro gemendo loucamente, enquanto é fodida pelo meu namorado. Realmente, eu não consigo acreditar no que estou vendo, minhas pernas estão travadas, com a mão na boca pelo susto, as lágrimas começam a escapar dos meus olhos. Ver o homem que amo com as mãos presas ao quadril daquela que se dizia minha amiga irmã de alma, em movimentos frenéticos das estocadas, totalmente envolvidos em seus prazeres, que nem notaram minha presença entre a fresta aberta da porta. Tudo que posso pensar é em matar esses dois, o nojo e a raiva me fazem sair da onde estava. E entrar com tudo no quarto dessa traíra que até segundos atrás ainda era minha amiga, e pensar que esse escroto nojento dizia que me amava olhando dentro dos meus olhos. — Posso saber o que é isso aqui? Mas, que depressa, Mabel puxa o lençol e se cobre, e Nicolas me olha apavorado e vem em minha direção sem se tocar de que está completamente sem roupa. Quanto mais perto ele chega, maior é a raiva
Marina Salazar. Estou devastada mais ainda, além de tudo o que aqueles dois me fizeram, agora meu nome está estampado no boletim de negligência médica. Isso pode acabar com a minha carreira, mas como pode? Tenho certeza de que não aconteceu nada. Não pode ser verdade, meu sonho de médica não pode terminar dessa maneira, ser acusada da morte de um paciente por erro médico é grave demais. Estou sentada há algum tempo aqui no sofá da sala dos médicos sem saber o que fazer, não tenho para onde ir, para casa dos meus pais, com toda a certeza eu não voltaria. Chorando sem parar, algumas enfermeiras passam e ficam me olhando com pena, meu telefone toca insistentemente e, como se estivesse chamando a desgraça final, olho a tela e é minha mãe que está ligando. Ele toca mais uma vez, então, atendo. — Alô? — Até que em fim você atendeu Marina! Estava quase chamando a polícia, meu Deus, menina. — Não é para tanto, mãe! Só estava descansando, não passei muito bem a noite, como vocês
Conrado Queiroz. Voltei à cidade há três dias, meu pai há mais de um ano vem questionando, quando finalmente assumirei os negócios da família, toda vez que me ligava era a mesma ladainha. Que eu só herdaria o hospital, se tivesse experiência como diretor ou nada feito, como ele sempre fala: — Meu filho, você precisa entender que você precisa estar no comando como eu, os Queiroz são homens importantes, você precisa cuidar de tudo, não se esqueça, trabalhei minha vida toda por esse hospital, não estrague tudo, Conrado vou deixar sua herança para sua prima Virgínia, não me teste, garoto. Nunca que aquela enxerida da Virgínia ficará com o que é meu, antes que tudo vá para a puxa saco, juntei tudo o que é meu, me despedi dos amigos aqui em São Paulo e deixei a terra da Garoa para trás e voltei para Minas Gerais. Mais ou menos um mês depois que fechei negócio da compra do meu apê, o tempo para que ele fosse mobiliado e decorado foi o suficiente para que eu resolvesse as pendências da c