ColinSeis meses se passaram desde aquele dia em Ponta Grossa, quando eu e Patrick finalmente chegamos a uma trégua. A vida mudou de uma forma que eu jamais poderia ter previsto, mas, pela primeira vez em muito tempo, as mudanças foram boas. À medida que deixávamos o passado para trás, eu sentia que um novo começo estava se desenrolando diante de mim.Patrick continuava a morar com meus pais no campo, e embora nossa relação nunca tenha se tornado amigável, ela finalmente alcançou algo que sempre pareceu fora do nosso alcance: a paz. Não há mais trocas de farpas, não há mais ressentimentos explícitos. É estranho pensar que, depois de tudo, o que restou entre nós foi o silêncio. Um silêncio que, no entanto, não me incomoda mais. Ele está seguindo a vida dele, da forma como pode, e eu estou seguindo a minha. Isso é suficiente.Mas o que realmente mudou minha vida foi o nascimento de Nicole. Eu jamais poderia ter imaginado o impacto que ter uma filha traria para mim. O momento em que segu
KarenO cansaço me envolvia completamente após longas horas do plantão no hospital. O cheiro dos corredores limpos, permeado pelo odor de antisséptico, tornava-se sufocante. Minha cabeça latejava, e uma sensação de mal-estar crescente começou a me dominar. Ignorar os sinais não era uma opção, então, finalmente, cedi à fraqueza e busquei ajuda no mesmo lugar onde costumava oferecê-la: o hospital.O médico, sério e ponderado, explicou a sobrecarga de estresse e a necessidade de descanso imediato. Entendi a gravidade da situação, mas minha mente insistia em focar em outra preocupação. Max, meu noivo, não atendia minhas ligações. Onde ele estaria? Por que não atendia justamente quando eu mais precisava dele?Decidi ir diretamente para o apartamento de Max, ignorando o conselho de descanso, ansiando pelo abraço acolhedor do meu noivo. Ao chegar ao apartamento e girar a chave na fechadura, a cena diante de meus olhos era confusa. Roupas espalhadas pelo chão, e um silêncio pesado pairava no
KarenEu não tinha a menor ideia de há quanto tempo eu estava largada no sofá, ainda vestindo a mesma roupa que usei para sair do hospital e ir ao apartamento de Max, algo que parecia ter ocorrido há séculos. A dor da traição doeu mais fundo do que eu poderia imaginar. O choro já havia secado, mas eu ainda não tinha conseguido assimilar completamente a cena na sala do apartamento daquele maldito traidor.Naquele momento, o som irritante da campainha começou a ecoar pelo apartamento. Inicialmente, eu ignorei, esperando que a pessoa do outro lado entendesse que eu não estava disposta a receber visitas. No entanto, a insistência só aumentou, e a campainha continuou a tocar, incansável. Olhei para o relógio na parede, esperando que o tempo tivesse passado mais rápido do que eu percebia, mas cada segundo parecia uma eternidade.Sem aviso da portaria sobre visitantes, eu finalmente me dei conta de que só podia ser uma pessoa: Camila, minha melhor amiga e vizinha de apartamento. O pensamento
OthonA noite avançava e o quanto já bebi é um mistério para mim. Estou em um estado de descontração que só as férias são capazes de proporcionar. Ainda mantenho a sobriedade o suficiente para admirar as belezas naturais diante de mim. E quando falo em belezas naturais, não estou exatamente pensando na natureza em si. Faço essa observação para meus amigos, que riem em resposta. — O problema é que você só faz olhar, Othon — Colin reclama.— E eu não entendo porquê. Está se guardando para o grande amor da sua vida? — A pergunta é feita por Noah, que faz uma careta terrivel apenas ao falar a palavra “amor”.— Talvez… — Eu dou a mesma resposta de sempre.O clima está bastante animado em mais um dia de férias em Fernando de Noronha. Colin, Noah e eu estamos aproveitando ao máximo esse paraíso de sol e mar. Somos completamente diferentes, mas desde o primeiro momento em que nos conhecemos, tornamo-nos amigos inseparáveis, sempre escolhendo o mesmo destino para nossas férias.Continuo beber
KarenAo abrir os olhos em um ambiente desconhecido, a confusão se instalou imediatamente em minha mente. Tentei me mover, mas percebi a presença de um braço estranho ao meu redor. Um arrepio percorreu meu corpo, afinal, a lembrança nítida é que não tenho mais um noivo. Então, de quem seria aquele braço?Movendo-me com cuidado, a presença evidente de alguém atrás de mim se revelou, uma respiração soprando quente no meu pescoço que só percebi naquele momento. Com precaução, consegui me virar e me deparei com o rosto do homem que me abraçava. Toda a memória dos momentos no bar retornou de uma só vez. O homem que compartilhava a cama comigo era Othon, um homem lindo e gentil que conheci quando ele me ajudou em uma situação desconfortável com um bêbado no bar.Ao suspirar, sinto a frustração tomando conta de mim ao perceber que passei a noite na cama com um completo desconhecido. O fato de que agora sei seu nome não muda a realidade de que o conheci ontem e já estou dividindo a cama com e
KarenEu olhei para Camila com uma mistura de emoções. O horror e a felicidade se misturavam dentro de mim enquanto absorvia a notícia e logo fui recompensada com um abraço forte e apertado.— Você será mamãe, Karen! — A minha amiga falou baixinho, a emoção transparecendo em suas palavras.— Sim… — Foi tudo o que consegui dizer — Eu vou ser mãe.Aquela palavra tem um som tão belo, mas naquele momento me deixou assustada. A magnitude daquela palavra, "mãe", ressoou profundamente dentro de mim. É um papel que traz consigo uma responsabilidade imensa, o dom de dar vida e cuidar de outro ser humano. O assombro da nova realidade começou a se misturar com a alegria.Eu não conseguia entender como isso pode ter acontecido. Othon e eu usamos proteção em todas as vezes que fizemos sexo naquela noite, mas quando o meu ciclo atrasou por semanas, não tive dúvida em fazer um exame de gravidez. Aparentemente, tudo estava acontecendo na minha vida naquele momento e uma gravidez só iria coroar todas
Cinco Anos DepoisOthon ArraisOlho pela janela da minha nova casa, perdido em pensamentos. Reflito sobre as reviravoltas, ou melhor, a ausência delas nos últimos seis anos da minha vida. Uma sensação de estagnação parece ter se instalado, como se o tempo tivesse decidido congelar justamente no momento em que Karen, aquele nome que ecoa em minha mente, desapareceu sem deixar rastros.Aceitar a posição de diretor no maior hospital de Curitiba foi, de certa forma, uma tentativa desesperada de introduzir alguma mudança significativa em minha existência. Sinto-me cansado, não apenas fisicamente, mas também dessa busca incessante pela mulher misteriosa que se tornou a protagonista de minhas lembranças mais vívidas.Aquela noite em Fernando de Noronha foi um divisor de águas. A sensação de não ter mais do que um nome para buscar é sufocante. Cada esquina de Curitiba parece carregar a expectativa de encontrá-la. Mas como procurar alguém quando tudo que tenho é uma lembrança intensa e um nome
KarenAo chegar em frente a minha casa após um plantão extenuante de vinte e quatro horas, a exaustão se instala em cada fibra do meu ser. O que mais desejo, na verdade, é simplesmente descansar. Mas, como é habitual quando retorno para casa, a consciência se faz presente: tenho um filho de seis anos que anseia pela minha atenção após tantas horas longe.Com uma força que beira o sobre-humano, após tomar um banho para despertar e um prato de sopa quente, consigo forças sufientes para desabar no tapete da sala, um convite silencioso para as brincadeiras de Otávio. Seus olhinhos brilham com a expectativa, e, mesmo diante da minha própria exaustão, busco, dentro de mim, a energia necessária para compartilhar aquele momento com ele.Os contornos de um quebra-cabeça se espalham diante de nós, e eu, que mal consigo manter os olhos abertos, tento focar na tarefa em mãos. O pequeno Otávio, com sua energia inesgotável, parece não entender a extensão da minha exaustão. Ele me mostra peça por pe