KarenAo chegar em frente a minha casa após um plantão extenuante de vinte e quatro horas, a exaustão se instala em cada fibra do meu ser. O que mais desejo, na verdade, é simplesmente descansar. Mas, como é habitual quando retorno para casa, a consciência se faz presente: tenho um filho de seis anos que anseia pela minha atenção após tantas horas longe.Com uma força que beira o sobre-humano, após tomar um banho para despertar e um prato de sopa quente, consigo forças sufientes para desabar no tapete da sala, um convite silencioso para as brincadeiras de Otávio. Seus olhinhos brilham com a expectativa, e, mesmo diante da minha própria exaustão, busco, dentro de mim, a energia necessária para compartilhar aquele momento com ele.Os contornos de um quebra-cabeça se espalham diante de nós, e eu, que mal consigo manter os olhos abertos, tento focar na tarefa em mãos. O pequeno Otávio, com sua energia inesgotável, parece não entender a extensão da minha exaustão. Ele me mostra peça por pe
OthonO dia de trabalho no hospital foi exaustivo, e quando finalmente cheguei em casa, a última coisa que passava pela minha mente era passear com o meu cachorro. A razão era simples: eu estava prestes a receber visitas. Meus amigos viriam conhecer a minha nova casa, e achei que o mínimo que eu poderia fazer era preparar um jantar para todos nós. Por esse motivo, eu precisei resistir aos apelos insistentes de Bart naquele início de noite.Colin e Noah, no entanto, me surpreenderam ao chegar mais cedo do que eu esperava. Diante dessa inesperada antecipação e dos ganidos incessantes de Bart, tomei uma decisão rápida: alguém teria que ceder e levar o cão para passear. Não seria eu, não naquela noite.— Noah, meu amigo, acho que você ganhou a "honra" de passear com o Bart hoje. Ele está praticamente implorando.Noah riu, aceitando o desafio, e eu pude ver Bart saltitar de alegria ao ouvir que finalmente iria dar uma volta lá fora. Enquanto os dois se afastaram, mergulho na tarefa de prep
KarenQuando cheguei em casa à noite, deparei-me com a cena hilária de Camila ainda em frente à minha casa, entretida com Otávio. Uma risada espontânea escapou de mim, incapaz de acreditar que Camila realmente veio até a minha casa com o único intuito de conhecer o novo vizinho. Nossas risadas ecoaram no tranquilo bairro enquanto adentrávamos a casa.Minha mãe, sempre solícita, assumiu a responsabilidade pelos cuidados com Otávio, permitindo que Camila e eu seguíssemos para o meu quarto. Disfarcei minha curiosidade, mas secretamente ansiava por saber como foi o encontro de Camila com o novo vizinho.Enquanto eu tomava banho, Camila se acomodou na borda da banheira, mas se manteve em silêncio, apenas me observando de maneira atenta e com um sorriso brincalhão em seu rosto.— Conta logo, Camila! Estou morrendo de curiosidade para saber como foi o encontro com o novo vizinho — implorei, tentando me concentrar em lavar o cabelo enquanto aguardava ansiosamente pela resposta.Camila riu da
OthonA rotina de um hospital do porte do Hospital Central sempre reserva surpresas indesejadas, mas hoje está particularmente agitado. Não me surpreenderia se mais um desafio se apresentasse a qualquer momento. Enquanto eu tento apaziguar as situações caóticas ao meu redor, minha secretária interrompe meus pensamentos com uma informação que, inicialmente, me desconcerta. A senhorita Buarque está aguardando a entrevista que, por algum motivo, eu concordei em realizar esta manhã. Uma rápida onda de autocrítica me atinge, questionando por que diabos concordei em entrevistar a filha dos meus vizinhos gentis em um dia tão caótico.Os Buarque, o senhor Átila e a senhora Margareth, são daquelas pessoas que irradiam simpatia. Desde que eu me mudei para a casa ao lado do casal, encontrá-los no final do dia tornou-se uma espécie de rotina em meu cotidiano. Além disso, não posso ignorar o sentimento doce que a presença do pequeno Otávio cativa em meu coração. Suas lamentações sobre o quanto a
KarenCaminho apressadamente pelos corredores movimentados, deliberadamente ignorando os repetidos chamados de Othon. A raiva fervilhava em meu interior, e culpava o destino por nos colocar frente a frente de forma tão desagradável. À distância, avistei a cabine do elevador aberta, uma oportunidade momentânea para escapar dele. Eu não queria conversar, não havia palavras a serem trocadas. Preferia passar o resto da vida sem encarar novamente o rosto daquele mentiroso.Entrei no elevador de maneira afoita, tentando desesperadamente fechar as portas antes que Othon pudesse se aproximar mais. Minha aversão a qualquer interação com ele era evidente, mas a sorte não estava do meu lado. Não era tão afortunada a ponto de escapar eternamente do destino traiçoeiro que nos uniu. Othon, de maneira arrogante, segurou as portas do elevador e entrou na cabine contra a minha vontade, provocando um bufar de raiva por minha parte.Como se todo o cenário caótico desse reencontro não fosse suficiente, a
OthonEu continuo estagnado e incrédulo.Anos tentando, e finalmente a reencontro, mas ela simplesmente não me reconhece. Karen parte, e eu fico ali, incapaz de reagir. Várias emoções conflitantes me atingem enquanto estou parado próximo à recepção do hospital, onde ocupo o cargo de diretor. Algumas pessoas passam por mim, olhando com curiosidade. Não me importo com o fato de que devem estar se perguntando o que estou fazendo parado no meio daquele corredor. Parece que meus pés estão plantados no chão, e eu não consigo processar completamente o que acaba de acontecer.Ainda com o telefone em mãos após o término abrupto da ligação com Colin, percebo o aparelho vibrar novamente. Atendo automaticamente e encontro Colin do outro lado da linha.— Está tudo bem? Percebi que algo aconteceu, mas não compreendi exatamente o quê — Colin perguntou, expressando preocupação.— Sim, está tudo sob controle agora — asseguro-lhe.— Acho que sua obsessão me contagiou — sugere Colin de forma descontraíd
KarenOuço a pergunta de Othon com uma fúria contida. Será que ele está tentando me enlouquecer? Ele não sabe que Otávio é meu filho? Mas é claro que ele sabe e está apenas fingindo o contrário. A incredulidade me domina, mas mantenho a postura e respondo com firmeza:— Sim, Otávio é meu filho. E não quero que você se aproxime dele.Não vou ficar ali, em meio a uma conversa com aquele mentiroso. Seguro a mão do meu filho e me preparo para caminhar em direção à minha casa quando meu pai se aproxima, percebendo a tensão.— O que está acontecendo aqui? — pergunta ele, notando a atmosfera carregada de emoções.Olho para o meu pai com certa irritação, especialmente quando percebo que ele traz consigo um enorme cachorro. Então, o meu pai estava passeando com um animal de outra pessoa, enquanto deixou Otávio à mercê de estranhos? Aquilo é simplesmente inacreditável.— O que está acontecendo é que eu estou me perguntando como o senhor pode deixar Otávio sozinho com um completo estranho. Tem i
OthonA revelação de que Otávio é filho de Karen me atinge como um soco. Antes de eu conseguir articular uma resposta, ela puxa Otávio consigo para longe, ignorando minha presença. Fico ali, perplexo, processando a informação de que o pequeno amigo que eu tanto apreciava era, na verdade, filho da mesma mulher que tenho procurado há anos é atordoante.Observo com surpresa Karen conduzindo Otávio para dentro de casa, sua mão firmemente segurada pela dela, enquanto meu cérebro ainda tenta processar o que acabou de presenciar. "Surpresa" é a palavra que melhor descreve minha reação diante da cena.— Quero me desculpar, Dr. Arraes — interrompe o Sr. Atila, trazendo-me de volta à realidade — Este não é o comportamento típico da minha filha, acredite. Karen é normalmente gentil, educada e respeitosa.— Não há necessidade de se desculpar, Sr. Buarque — respondo, sentindo-me desconfortável — Talvez ela esteja apenas tendo um dia difícil.— Minha filha é muito protetora, e sua reação foi result