ColinA ideia de uma viagem foi algo revigorante e decidimos ir até o hospital e conversar pessoalmente com Othon sobre uma licença temporária para Letícia. Eu estava certo que ele iria entender, independentemente do fato de sermos grandes amigos. Letícia está grávida e não pode estar suscetível às loucuras do meu irmão.Porém, quando estávamos a caminho do hospital, uma dor aguda atravessou meu peito como uma lâmina quente. A dor foi tão repentina e intensa que minhas mãos quase perderam o controle do volante. Instintivamente, encostei o carro no meio-fio, sentindo o suor frio se formar na testa. Respirei fundo, tentando acalmar o pânico que começava a crescer dentro de mim.— Colin? — Letícia perguntou, sua voz carregada de preocupação. — O que aconteceu?Eu segurei o volante com força, os nós dos meus dedos ficando brancos. A dor no peito era excruciante, como se algo estivesse pressionando meu coração com força. Mas, da mesma forma que veio, ela começou a desaparecer. Lentamente,
ColinQuando entramos no setor de emergência, vi os médicos e enfermeiros correndo para estabilizar Patrick e Valquíria. Ambos estavam gravemente feridos. O barulho das máquinas, o som dos monitores cardíacos, tudo parecia ecoar na minha mente, me empurrando para um estado de alerta constante.Othon se aproximou de um dos médicos, tentando obter informações.— Qual o estado deles? — ele perguntou, a voz firme, mas os olhos denunciando sua preocupação.O médico balançou a cabeça, apertando os lábios.— Tanto Patrick quanto Valquíria sofreram concussão severa e várias fraturas. Vamos estabilizá-los antes de fazer qualquer avaliação mais profunda.A cada palavra do médico, eu sentia uma mistura de alívio e desespero. Patrick estava vivo, mas gravemente ferido. E Valquíria... bem, ela sempre foi uma força destrutiva, mas mesmo assim, vê-la naquele estado me fez questionar tudo.— Não há nada que possamos fazer, a não ser esperar — Othon apontou, enquanto passava as mãos nos cabelos, bagun
LetíciaApós o acidente, eu continuei no apartamento de Colin. Sabia o quanto toda essa situação o havia abalado profundamente. Ele precisava de apoio, e eu estava disposta a ser esse apoio para ele, mais do que nunca. Rita tinha insistido em voltar para a nossa casa, dizendo que eu deveria ficar com Colin, que ele precisava de mim agora que estávamos nos entendendo tão bem. Eu não queria aceitar, claro. Rita sempre foi minha fortaleza, e a ideia de ela voltar para casa sozinha me incomodava. Eu sentia que deveria estar ao lado dela também. Foi então que minha mãe mencionou que tinha sido convidada para fazer um cruzeiro com suas amigas. Era um desejo antigo dela, e quando a vi falando sobre isso com um brilho nos olhos, percebi o quanto ela merecia aquela oportunidade. Incentivei-a a ir, muito feliz por vê-la finalmente pensando em si mesma e aproveitando a vida de maneira mais descontraída.— Vai, mãe! — eu disse, animada. — Você merece. Aproveita e se diverte bastante. Vou ficar
ColinEnquanto me afundava em mais um dia de trabalho, tentando evitar pensar em tudo que estava acontecendo, a campainha tocou. Soltei um suspiro, já imaginando que fosse algo que eu teria que resolver, e fui até a porta. Para minha surpresa, eram Noah e Othon, ambos com sorrisos exuberantes e uma garrafa de uísque na mão.— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntei, levantando uma sobrancelha.— Viemos salvar o seu aniversário, meu amigo! — Noah disse, levantando a garrafa como se fosse um presente de ouro. — Não vamos deixar você passar o dia sozinho, afundado no trabalho.— E trouxemos um jogo de cartas para completar o combo, — Othon acrescentou, piscando. — Não precisa agradecer, estamos sendo altruístas.Eu não consegui evitar uma risada, mas logo fiz questão de provocá-los:— São duas da tarde, e vocês já querem beber? Vocês sabem que eu tenho coisas para fazer, certo?— Claro que sabemos, — Noah respondeu com um sorriso preguiçoso. — Mas é seu aniversário, Colin. A gente sa
ColinO sorriso de Letícia foi se abrindo lentamente, enquanto lágrimas se formavam em seus olhos. A sua resposta não teve hesitação. — Sim, Colin. — Ela riu, ainda emocionada, enquanto me envolvia em um abraço apertado. — Sim, é claro que quero.Nós ficamos ali, abraçados por um momento que parecia eterno. Eu sentia a felicidade transbordar de mim, enquanto a segurava nos meus braços, sentindo a segurança de que tudo, finalmente, estava no lugar.Ela se afastou um pouco, ainda sorrindo, enquanto olhava para o anel em sua mão. Seus olhos brilhavam, e eu conseguia ver o quanto aquele gesto a emocionava.— Eu não esperava por isso hoje, — ela disse, sua voz carregada de emoção. — Quer dizer, eu preparei o jantar, mas você... você me surpreendeu, Colin.Eu ri, puxando-a para perto de novo, incapaz de ficar longe dela naquele momento.— A verdade é que eu não sabia como te agradecer por tudo, Letícia, — comecei, tentando colocar em palavras o que vinha sentindo. — Você tem sido meu porto
ColinSeis meses se passaram desde aquele dia em Ponta Grossa, quando eu e Patrick finalmente chegamos a uma trégua. A vida mudou de uma forma que eu jamais poderia ter previsto, mas, pela primeira vez em muito tempo, as mudanças foram boas. À medida que deixávamos o passado para trás, eu sentia que um novo começo estava se desenrolando diante de mim.Patrick continuava a morar com meus pais no campo, e embora nossa relação nunca tenha se tornado amigável, ela finalmente alcançou algo que sempre pareceu fora do nosso alcance: a paz. Não há mais trocas de farpas, não há mais ressentimentos explícitos. É estranho pensar que, depois de tudo, o que restou entre nós foi o silêncio. Um silêncio que, no entanto, não me incomoda mais. Ele está seguindo a vida dele, da forma como pode, e eu estou seguindo a minha. Isso é suficiente.Mas o que realmente mudou minha vida foi o nascimento de Nicole. Eu jamais poderia ter imaginado o impacto que ter uma filha traria para mim. O momento em que segu
KarenO cansaço me envolvia completamente após longas horas do plantão no hospital. O cheiro dos corredores limpos, permeado pelo odor de antisséptico, tornava-se sufocante. Minha cabeça latejava, e uma sensação de mal-estar crescente começou a me dominar. Ignorar os sinais não era uma opção, então, finalmente, cedi à fraqueza e busquei ajuda no mesmo lugar onde costumava oferecê-la: o hospital.O médico, sério e ponderado, explicou a sobrecarga de estresse e a necessidade de descanso imediato. Entendi a gravidade da situação, mas minha mente insistia em focar em outra preocupação. Max, meu noivo, não atendia minhas ligações. Onde ele estaria? Por que não atendia justamente quando eu mais precisava dele?Decidi ir diretamente para o apartamento de Max, ignorando o conselho de descanso, ansiando pelo abraço acolhedor do meu noivo. Ao chegar ao apartamento e girar a chave na fechadura, a cena diante de meus olhos era confusa. Roupas espalhadas pelo chão, e um silêncio pesado pairava no
KarenEu não tinha a menor ideia de há quanto tempo eu estava largada no sofá, ainda vestindo a mesma roupa que usei para sair do hospital e ir ao apartamento de Max, algo que parecia ter ocorrido há séculos. A dor da traição doeu mais fundo do que eu poderia imaginar. O choro já havia secado, mas eu ainda não tinha conseguido assimilar completamente a cena na sala do apartamento daquele maldito traidor.Naquele momento, o som irritante da campainha começou a ecoar pelo apartamento. Inicialmente, eu ignorei, esperando que a pessoa do outro lado entendesse que eu não estava disposta a receber visitas. No entanto, a insistência só aumentou, e a campainha continuou a tocar, incansável. Olhei para o relógio na parede, esperando que o tempo tivesse passado mais rápido do que eu percebia, mas cada segundo parecia uma eternidade.Sem aviso da portaria sobre visitantes, eu finalmente me dei conta de que só podia ser uma pessoa: Camila, minha melhor amiga e vizinha de apartamento. O pensamento