Karen
O cansaço me envolvia completamente após longas horas do plantão no hospital. O cheiro dos corredores limpos, permeado pelo odor de antisséptico, tornava-se sufocante. Minha cabeça latejava, e uma sensação de mal-estar crescente começou a me dominar. Ignorar os sinais não era uma opção, então, finalmente, cedi à fraqueza e busquei ajuda no mesmo lugar onde costumava oferecê-la: o hospital.
O médico, sério e ponderado, explicou a sobrecarga de estresse e a necessidade de descanso imediato. Entendi a gravidade da situação, mas minha mente insistia em focar em outra preocupação. Max, meu noivo, não atendia minhas ligações. Onde ele estaria? Por que não atendia justamente quando eu mais precisava dele?
Decidi ir diretamente para o apartamento de Max, ignorando o conselho de descanso, ansiando pelo abraço acolhedor do meu noivo. Ao chegar ao apartamento e girar a chave na fechadura, a cena diante de meus olhos era confusa. Roupas espalhadas pelo chão, e um silêncio pesado pairava no ar, apesar de meu coração martelar em meus ouvidos.
Não precisei ir até o quarto para entender o que estava acontecendo. No sofá, Max parecia descansar abraçado a uma loira de cabelos longos que caíam desordenadamente sobre seu peito nu. O choque congelou até mesmo a minha alma.
O casal, sem roupas e completamente adormecido, era uma imagem que eu nunca imaginei presenciar. Um grito de horror escapou de meus lábios, rompendo o silêncio. O som do grito ecoou no apartamento e o belo casal pareceu despertar. Eu não olhei nenuma vez para a mulher. Os meus olhos estavam fixos em Max. Os olhos atordoados de Max encontraram os meus, e por um instante, ele pareceu incapaz de processar a realidade do que estava acontecendo naquele exato instante.
Max, com uma destreza que me revoltava, agarrou uma bermuda da poltrona próxima e a vestiu com uma rapidez desconcertante. Uma máscara cínica cobriu seu rosto, como se ele estivesse prestes a me receber após um dia comum.
— Você chegou mais cedo, amor? — Sua pergunta soou como um insulto.
Meus olhos se estreitaram em incredulidade diante da audácia do traidor. A indignação que fervia dentro de mim finalmente explodiu, e avancei em direção a Max, determinada a fazer com que ele sentisse, mesmo que por um momento, a dor que ele me causou. Minhas mãos se ergueram, prontas para atingir seu rosto, enquanto palavras furiosas escapavam dos meus lábios.
— Seu canalha! Como ousa? — Eu o xingava com uma torrente de impróprios, minha voz embargada pela mistura de fúria e dor.
No entanto, antes que minhas mãos pudessem encontrar o destino merecido, fui contida por ele, suas mãos firmes segurando as minhas, impedindo qualquer gesto de desespero, enquanto eu me debatia contra ele.
Enquanto eu me debatia contra Max, a mulher que estava com ele pareceu reagir, levantando-se. Eu estava tão atordoada que não tinha voltado nem mesmo um único olhar em direção à amante de Max. Quando percebi que a mulher com Max era Lilian, uma antiga amiga minha, senti meu mundo desabar ainda mais. Lilian é alguém com quem eu não mantinha contato, exatamente porque Max havia conseguido convencer-me de que Lilian não era uma boa amiga. E agora, ali estava Lilian, com Max. Ele tinha razão, afinal. Mas claro que ele sabia que ela não era uma boa amiga! Ele estava tendo um caso com ela.
— Lilian!? — O novo choque me fez parar de lutar.
Lilian, agora de pé, encarava-me com uma mistura de culpa e surpresa, mas sua expressão logo se transformou em uma máscara de indiferença, como se a amizade perdida não a afetasse mais. Max, por sua vez, soltou as minhas mãos, dando um passo para trás.
— Karen, eu posso explicar... — tentou começar Max, mas foi interrompido pelo olhar cortante e carregado de dor que lancei em sua direção.
Em meio à minha dor, dirigindo-me a Max:
— Ouça bem o que vou dizer, Max — Declarei de maneira firme e clara, o dedo em histe — Nunca mais, está me ouvindo? Nunca mais eu quero olhar na sua cara!
Sem esperar pela explicação que ele podia oferecer, dei as costas ao homem que havia traído minha confiança. Mas não seria tão fácil assim, pelo visto. Max correu atrás de mim, declarando com desespero:
— Karen, eu amo você. Ela não é importante como você é pra mim — Max tentava se justificar.
— Acabou, Max. Não tem perdão o que vocês fizeram!
— Karen, por favor, me ouça. — Max segurou meu braço, buscando uma conexão que parecia impossível naquele momento — Você estava sempre ocupada, trabalhando muito. Nunca tinha tempo para nós. Eu estava me sentindo só. Isso com Lilian foi um erro, apenas uma distração, entende? Não tem nada a ver com o que temos.
Eu queria falar, explicar o quanto aquilo doía, mas a dor sufocava minhas palavras. Contudo, antes que eu pudesse responder, Lilian, enfurecida, interrompeu a tentativa de Max de se explicar.
— Só uma distração, é isso? — ela vociferou, os olhos faiscando de indignação. — Eu não sou apenas um objeto, Max! Como você ousa me diminuir a isso?
A discussão entre os dois rapidamente ganhou volume,enquanto o meu coração doía. Eu queria gritar, mas as palavras teimavam em não sair. As acusações dolorosas de Max penetravam meu peito, e eu sabia que, em parte, ele tinha razão. Eu trabalhava demais, estava sempre ocupada, e talvez não tenha reservado tempo suficiente para nos divertirmos juntos. No entanto, eu só estava tentando construir uma base financeira sólida para o nosso futuro, para o nosso casamento.
As lágrimas que eu segurava ameaçavam transbordar. No entanto, Lilian estava furiosa por ser rotulada como apenas um objeto de desejo, e a discussão entre os dois aumentava, não deixando espaço para eu expressar aquilo que desejava.
Sem ter mais o que fazer naquele apartamento, decidi ir embora de uma vez. Meus passos vacilantes me levaram para fora do apartamento e as lágrimas começaram a escorrer por meu rosto enquanto eu me afastava. Eu me perguntava como poderia superar a dor de tamanha traição. Max estava ocupado demais discutindo com Lilian para prestar atenção á minha saída e aquilo também foi doloroso. O que restava da nossa história de amor de três anos de relacionamento, estava ruindo diante dos meus olhos, e eu me via impotente diante do fato.
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KarenEu não tinha a menor ideia de há quanto tempo eu estava largada no sofá, ainda vestindo a mesma roupa que usei para sair do hospital e ir ao apartamento de Max, algo que parecia ter ocorrido há séculos. A dor da traição doeu mais fundo do que eu poderia imaginar. O choro já havia secado, mas eu ainda não tinha conseguido assimilar completamente a cena na sala do apartamento daquele maldito traidor.Naquele momento, o som irritante da campainha começou a ecoar pelo apartamento. Inicialmente, eu ignorei, esperando que a pessoa do outro lado entendesse que eu não estava disposta a receber visitas. No entanto, a insistência só aumentou, e a campainha continuou a tocar, incansável. Olhei para o relógio na parede, esperando que o tempo tivesse passado mais rápido do que eu percebia, mas cada segundo parecia uma eternidade.Sem aviso da portaria sobre visitantes, eu finalmente me dei conta de que só podia ser uma pessoa: Camila, minha melhor amiga e vizinha de apartamento. O pensamento
OthonA noite avançava e o quanto já bebi é um mistério para mim. Estou em um estado de descontração que só as férias são capazes de proporcionar. Ainda mantenho a sobriedade o suficiente para admirar as belezas naturais diante de mim. E quando falo em belezas naturais, não estou exatamente pensando na natureza em si. Faço essa observação para meus amigos, que riem em resposta. — O problema é que você só faz olhar, Othon — Colin reclama.— E eu não entendo porquê. Está se guardando para o grande amor da sua vida? — A pergunta é feita por Noah, que faz uma careta terrivel apenas ao falar a palavra “amor”.— Talvez… — Eu dou a mesma resposta de sempre.O clima está bastante animado em mais um dia de férias em Fernando de Noronha. Colin, Noah e eu estamos aproveitando ao máximo esse paraíso de sol e mar. Somos completamente diferentes, mas desde o primeiro momento em que nos conhecemos, tornamo-nos amigos inseparáveis, sempre escolhendo o mesmo destino para nossas férias.Continuo beber
KarenAo abrir os olhos em um ambiente desconhecido, a confusão se instalou imediatamente em minha mente. Tentei me mover, mas percebi a presença de um braço estranho ao meu redor. Um arrepio percorreu meu corpo, afinal, a lembrança nítida é que não tenho mais um noivo. Então, de quem seria aquele braço?Movendo-me com cuidado, a presença evidente de alguém atrás de mim se revelou, uma respiração soprando quente no meu pescoço que só percebi naquele momento. Com precaução, consegui me virar e me deparei com o rosto do homem que me abraçava. Toda a memória dos momentos no bar retornou de uma só vez. O homem que compartilhava a cama comigo era Othon, um homem lindo e gentil que conheci quando ele me ajudou em uma situação desconfortável com um bêbado no bar.Ao suspirar, sinto a frustração tomando conta de mim ao perceber que passei a noite na cama com um completo desconhecido. O fato de que agora sei seu nome não muda a realidade de que o conheci ontem e já estou dividindo a cama com e
KarenEu olhei para Camila com uma mistura de emoções. O horror e a felicidade se misturavam dentro de mim enquanto absorvia a notícia e logo fui recompensada com um abraço forte e apertado.— Você será mamãe, Karen! — A minha amiga falou baixinho, a emoção transparecendo em suas palavras.— Sim… — Foi tudo o que consegui dizer — Eu vou ser mãe.Aquela palavra tem um som tão belo, mas naquele momento me deixou assustada. A magnitude daquela palavra, "mãe", ressoou profundamente dentro de mim. É um papel que traz consigo uma responsabilidade imensa, o dom de dar vida e cuidar de outro ser humano. O assombro da nova realidade começou a se misturar com a alegria.Eu não conseguia entender como isso pode ter acontecido. Othon e eu usamos proteção em todas as vezes que fizemos sexo naquela noite, mas quando o meu ciclo atrasou por semanas, não tive dúvida em fazer um exame de gravidez. Aparentemente, tudo estava acontecendo na minha vida naquele momento e uma gravidez só iria coroar todas
Cinco Anos DepoisOthon ArraisOlho pela janela da minha nova casa, perdido em pensamentos. Reflito sobre as reviravoltas, ou melhor, a ausência delas nos últimos seis anos da minha vida. Uma sensação de estagnação parece ter se instalado, como se o tempo tivesse decidido congelar justamente no momento em que Karen, aquele nome que ecoa em minha mente, desapareceu sem deixar rastros.Aceitar a posição de diretor no maior hospital de Curitiba foi, de certa forma, uma tentativa desesperada de introduzir alguma mudança significativa em minha existência. Sinto-me cansado, não apenas fisicamente, mas também dessa busca incessante pela mulher misteriosa que se tornou a protagonista de minhas lembranças mais vívidas.Aquela noite em Fernando de Noronha foi um divisor de águas. A sensação de não ter mais do que um nome para buscar é sufocante. Cada esquina de Curitiba parece carregar a expectativa de encontrá-la. Mas como procurar alguém quando tudo que tenho é uma lembrança intensa e um nome
KarenAo chegar em frente a minha casa após um plantão extenuante de vinte e quatro horas, a exaustão se instala em cada fibra do meu ser. O que mais desejo, na verdade, é simplesmente descansar. Mas, como é habitual quando retorno para casa, a consciência se faz presente: tenho um filho de seis anos que anseia pela minha atenção após tantas horas longe.Com uma força que beira o sobre-humano, após tomar um banho para despertar e um prato de sopa quente, consigo forças sufientes para desabar no tapete da sala, um convite silencioso para as brincadeiras de Otávio. Seus olhinhos brilham com a expectativa, e, mesmo diante da minha própria exaustão, busco, dentro de mim, a energia necessária para compartilhar aquele momento com ele.Os contornos de um quebra-cabeça se espalham diante de nós, e eu, que mal consigo manter os olhos abertos, tento focar na tarefa em mãos. O pequeno Otávio, com sua energia inesgotável, parece não entender a extensão da minha exaustão. Ele me mostra peça por pe
OthonO dia de trabalho no hospital foi exaustivo, e quando finalmente cheguei em casa, a última coisa que passava pela minha mente era passear com o meu cachorro. A razão era simples: eu estava prestes a receber visitas. Meus amigos viriam conhecer a minha nova casa, e achei que o mínimo que eu poderia fazer era preparar um jantar para todos nós. Por esse motivo, eu precisei resistir aos apelos insistentes de Bart naquele início de noite.Colin e Noah, no entanto, me surpreenderam ao chegar mais cedo do que eu esperava. Diante dessa inesperada antecipação e dos ganidos incessantes de Bart, tomei uma decisão rápida: alguém teria que ceder e levar o cão para passear. Não seria eu, não naquela noite.— Noah, meu amigo, acho que você ganhou a "honra" de passear com o Bart hoje. Ele está praticamente implorando.Noah riu, aceitando o desafio, e eu pude ver Bart saltitar de alegria ao ouvir que finalmente iria dar uma volta lá fora. Enquanto os dois se afastaram, mergulho na tarefa de prep
KarenQuando cheguei em casa à noite, deparei-me com a cena hilária de Camila ainda em frente à minha casa, entretida com Otávio. Uma risada espontânea escapou de mim, incapaz de acreditar que Camila realmente veio até a minha casa com o único intuito de conhecer o novo vizinho. Nossas risadas ecoaram no tranquilo bairro enquanto adentrávamos a casa.Minha mãe, sempre solícita, assumiu a responsabilidade pelos cuidados com Otávio, permitindo que Camila e eu seguíssemos para o meu quarto. Disfarcei minha curiosidade, mas secretamente ansiava por saber como foi o encontro de Camila com o novo vizinho.Enquanto eu tomava banho, Camila se acomodou na borda da banheira, mas se manteve em silêncio, apenas me observando de maneira atenta e com um sorriso brincalhão em seu rosto.— Conta logo, Camila! Estou morrendo de curiosidade para saber como foi o encontro com o novo vizinho — implorei, tentando me concentrar em lavar o cabelo enquanto aguardava ansiosamente pela resposta.Camila riu da