Karen
Ao abrir os olhos em um ambiente desconhecido, a confusão se instalou imediatamente em minha mente. Tentei me mover, mas percebi a presença de um braço estranho ao meu redor. Um arrepio percorreu meu corpo, afinal, a lembrança nítida é que não tenho mais um noivo. Então, de quem seria aquele braço?
Movendo-me com cuidado, a presença evidente de alguém atrás de mim se revelou, uma respiração soprando quente no meu pescoço que só percebi naquele momento. Com precaução, consegui me virar e me deparei com o rosto do homem que me abraçava. Toda a memória dos momentos no bar retornou de uma só vez. O homem que compartilhava a cama comigo era Othon, um homem lindo e gentil que conheci quando ele me ajudou em uma situação desconfortável com um bêbado no bar.
Ao suspirar, sinto a frustração tomando conta de mim ao perceber que passei a noite na cama com um completo desconhecido. O fato de que agora sei seu nome não muda a realidade de que o conheci ontem e já estou dividindo a cama com ele. Observo o quarto de hotel para onde Othon me levou, refletindo sobre a noite passada. No bar, todos estavam animados, formando um grupo divertido com minhas amigas e os amigos de Othon. Contudo, na hora de ir embora, não hesitei ao aceitar o convite dele para seguir até o hotel.
Naquela noite, tudo o que eu buscava era diversão, uma fuga da traição do meu noivo e a oportunidade de aproveitar intensamente os momentos em Fernando de Noronha. Agora, com o efeito da bebida desvanecido, questiono se tomei a decisão certa, apesar dos momentos maravilhoso que tive com Othon. O sexo foi incrível, mas a realidade que se desenha agora me faz questionar a sanidade das minhas escolhas.
Olho para a mesa de cabeceira e encontro meu celular sobre ela. Consulto as horas no aparelho e percebo que ainda é muito cedo, não são nem cinco da manhã. Fico em dúvida se devo ir embora mesmo assim ou esperar o dia clarear, quando sinto uma movimentação atrás de mim. Ao que parece, Othon despertou, considerando o volume que se formou contra o meu quadril. Ele me abraça mais forte, confirmando que estou certa em minha suposição. fico completamente sem reação diante do gesto íntimo. Nunca dormi com um estranho. Na verdade, o único homem em minha vida foi Max, eu era completamente inexperiente na arte dos relacionamentos casuais.
Othon me cumprimenta com um beijo no pescoço, e o calor de sua respiração contra minha pele provoca arrepios. Ele comenta, em tom descontraído:
— Ainda é muito cedo. Que tal aproveitarmos mais um pouco da cama?
Olho para o celular, confirmando as horas, e respondo:
— Não vou conseguir dormir mais.
Então, com um sorriso sugestivo, Othon propõe:
— Eu não estava falando em dormir, realmente. Podemos fazer algo mais interessante.
Sinto seu corpo se aproximando do meu, e sua presença se torna ainda mais marcante. Gostaria de demonstrar resistência, de ser forte diante da tentação, mas meu corpo parece ter outros planos. Acabo virando-me para ele, encontrando seus olhos cheios de desejo, quando ele me surpreende com um beijo obscenamente sensual. O toque de seus lábios contra os meus é algo irresistível, e qualquer traço de resistência que eu poderia ter desaparece diante da intensidade do momento.
Me entrego completamente ao intenso prazer, e após mais um clímax poderoso, sinto a sensação relaxante me envolver, levando-me a adormecer novamente. Ao despertar, percebo que estou sozinha no quarto, o que me deixa intrigada. O silêncio domina o ambiente, e presumo que Othon deve estar no banheiro da suíte luxuosa. Não tenho certeza de como agir, até que procuro novamente o celular e encontro um bilhete manuscrito logo abaixo do aparelho.
Ao pegar o bilhete, assinado por Othon, leio a mensagem informando que houve uma emergência e ele precisou sair, mas que logo estará de volta. O número do celular de Othon também está escrito no bilhete, deixando uma sensação agradável em mim. O gesto de deixar uma mensagem pessoal, mesmo na ausência, traz um conforto inesperado, e não posso evitar um sorriso ao pensar no cuidado de Othon.
O sorriso desaparece completamente do meu rosto quando, de maneira completamente inesperada, uma mulher exalando riqueza e luxo entra na suíte de repente, fazendo com que eu me cubra o melhor possível. A mulher também se assusta ao me ver, e nós duas trocamos olhares chocados.
— Quem é você? — Ambas falamos ao mesmo tempo.
Levanto da cama envolta no lençol, sentindo-me péssima pela invasão da minha privacidade.
— O que você está fazendo aqui? — Reformulo a pergunta.
— Eu poderia fazer a mesma pergunta! — responde a mulher, visivelmente chocada.
Recuso-me a explicar qualquer coisa para ela, afinal, ela entrou na suíte de maneira inaceítavel.
— Você deve sair agora, pois a suíte está ocupada e não deveria ter entrado aqui desta maneira — Argumento, tentando manter a calma.
A mulher insiste:
— Eu não pretendo sair até que você me dê uma explicação. Quem é você e o que está fazendo aqui?
— Não é da sua conta. Saia agora! — ordeno, sentindo-me cada vez mais desconfortável com a situação.
— Eu tenho todo o direito de estar aqui, garota. O meu noivo está hospedado nesta suíte.
Aquilo me pega completamente de surpresa, e questiono se ela está falando sobre Othon. Com uma expressão firme, ela confirma que sim, que é noiva de Othon, o homem que está hospedado naquela suíte.
Eu não consigo acreditar em tal infortúnio e tento recordar algo sobre o qual Othon e eu conversamos antes de eu aceitar vir com ele para o hotel. A lembrança de sua resposta à minha pergunta sobre ele ser ou não solteiro é bastante clara, e eu a repito para a invasora.
— Você deve estar enganada. Othon me garantiu que não tinha ninguém o esperando em São Paulo — respondo, perplexa, tentando entender a confusão que se desenrola diante de mim.
— Vocês dormiram juntos? É isso que você está dizendo?
— Sinto muito, mas sim, nós passamos a noite juntos — Eu confirmo, sentindo-me terrivelmente culpada pela situação — Mas eu jamais poderia imaginar que ele estivesse mentindo sobre ser solteiro.
Sinto-me péssima com a situação, peço desculpas para a mulher e, de maneira humilhante, apanho minhas roupas cuidadosamente colocadas sobre uma poltrona, algo que só poderia ter sido feito por Othon, e peço licença para ir até o banheiro.
Visto minhas roupas e tento dar um jeito na minha aparência antes de retornar ao quarto. Encontro a mulher sentada na poltrona, pernas cruzadas e uma expressão de puro ódio em seu rosto, o que é totalmente compreensível. Eu mesma passei por algo semelhante há poucos dias e sei muito bem o quanto dói ser traída dessa forma.
Ao me ver sair do banheiro, a mulher levanta-se de seu lugar e se aproxima de mim com uma expressão de extrema tristeza.
— Desculpa, eu não me apresentei — Ela diz com avoz trêmula — Sou Larissa, noiva de Othon.
Larissa está com o bilhete de Othon em suas mãos e me encara com lágrimas nos olhos. Sinto-me um pessoa horrível por estar provocando toda aquela dor em outra mulher, especialmente quando eu jamais faria algo assim, caso tivesse a menor desconfiança sobre a veracidade das palavras de Othon. Eu acreditei totamente nele.
— Eu sei que posso parecer uma grande idiota, mas quero te pedir um enorme favor…
Fico curiosa diante da declaração da noiva de Othon, mas digo-lhe para ir em frente.
— Eu não quero que entre em contato com o meu noivo — Ela me surpreende ao dizer.
— Eu não tenho intenção alguma de fazer isso, acredite.
Larissa não parece satisfeita e insiste:
— Eu imploro que não o faça. Eu estou grávida de Othon, nós vamos ter um filho juntos e eu o amo muito para simplesmente deixá-lo ir nesse momento tão importante de nossa história juntos.
Aquilo torna tudo ainda mais cruel para mim, sinto como se uma pedra tivesse sido colocada sobre o meu peito. Que grande canalha!
— Eu prometo para você que jamais irei entrar em contato com Othon, aquele grande mentiroso.
— Obrigada!
Larissa agradece me surpreende com um forte abraço, parecendo muito grata por isso. Ela deveria saber que aquilo é apenas o mínimo que posso fazer diante do meu próprio erro em acreditar mais uma vez em um homem.
KarenEu olhei para Camila com uma mistura de emoções. O horror e a felicidade se misturavam dentro de mim enquanto absorvia a notícia e logo fui recompensada com um abraço forte e apertado.— Você será mamãe, Karen! — A minha amiga falou baixinho, a emoção transparecendo em suas palavras.— Sim… — Foi tudo o que consegui dizer — Eu vou ser mãe.Aquela palavra tem um som tão belo, mas naquele momento me deixou assustada. A magnitude daquela palavra, "mãe", ressoou profundamente dentro de mim. É um papel que traz consigo uma responsabilidade imensa, o dom de dar vida e cuidar de outro ser humano. O assombro da nova realidade começou a se misturar com a alegria.Eu não conseguia entender como isso pode ter acontecido. Othon e eu usamos proteção em todas as vezes que fizemos sexo naquela noite, mas quando o meu ciclo atrasou por semanas, não tive dúvida em fazer um exame de gravidez. Aparentemente, tudo estava acontecendo na minha vida naquele momento e uma gravidez só iria coroar todas
Cinco Anos DepoisOthon ArraisOlho pela janela da minha nova casa, perdido em pensamentos. Reflito sobre as reviravoltas, ou melhor, a ausência delas nos últimos seis anos da minha vida. Uma sensação de estagnação parece ter se instalado, como se o tempo tivesse decidido congelar justamente no momento em que Karen, aquele nome que ecoa em minha mente, desapareceu sem deixar rastros.Aceitar a posição de diretor no maior hospital de Curitiba foi, de certa forma, uma tentativa desesperada de introduzir alguma mudança significativa em minha existência. Sinto-me cansado, não apenas fisicamente, mas também dessa busca incessante pela mulher misteriosa que se tornou a protagonista de minhas lembranças mais vívidas.Aquela noite em Fernando de Noronha foi um divisor de águas. A sensação de não ter mais do que um nome para buscar é sufocante. Cada esquina de Curitiba parece carregar a expectativa de encontrá-la. Mas como procurar alguém quando tudo que tenho é uma lembrança intensa e um nome
KarenAo chegar em frente a minha casa após um plantão extenuante de vinte e quatro horas, a exaustão se instala em cada fibra do meu ser. O que mais desejo, na verdade, é simplesmente descansar. Mas, como é habitual quando retorno para casa, a consciência se faz presente: tenho um filho de seis anos que anseia pela minha atenção após tantas horas longe.Com uma força que beira o sobre-humano, após tomar um banho para despertar e um prato de sopa quente, consigo forças sufientes para desabar no tapete da sala, um convite silencioso para as brincadeiras de Otávio. Seus olhinhos brilham com a expectativa, e, mesmo diante da minha própria exaustão, busco, dentro de mim, a energia necessária para compartilhar aquele momento com ele.Os contornos de um quebra-cabeça se espalham diante de nós, e eu, que mal consigo manter os olhos abertos, tento focar na tarefa em mãos. O pequeno Otávio, com sua energia inesgotável, parece não entender a extensão da minha exaustão. Ele me mostra peça por pe
OthonO dia de trabalho no hospital foi exaustivo, e quando finalmente cheguei em casa, a última coisa que passava pela minha mente era passear com o meu cachorro. A razão era simples: eu estava prestes a receber visitas. Meus amigos viriam conhecer a minha nova casa, e achei que o mínimo que eu poderia fazer era preparar um jantar para todos nós. Por esse motivo, eu precisei resistir aos apelos insistentes de Bart naquele início de noite.Colin e Noah, no entanto, me surpreenderam ao chegar mais cedo do que eu esperava. Diante dessa inesperada antecipação e dos ganidos incessantes de Bart, tomei uma decisão rápida: alguém teria que ceder e levar o cão para passear. Não seria eu, não naquela noite.— Noah, meu amigo, acho que você ganhou a "honra" de passear com o Bart hoje. Ele está praticamente implorando.Noah riu, aceitando o desafio, e eu pude ver Bart saltitar de alegria ao ouvir que finalmente iria dar uma volta lá fora. Enquanto os dois se afastaram, mergulho na tarefa de prep
KarenQuando cheguei em casa à noite, deparei-me com a cena hilária de Camila ainda em frente à minha casa, entretida com Otávio. Uma risada espontânea escapou de mim, incapaz de acreditar que Camila realmente veio até a minha casa com o único intuito de conhecer o novo vizinho. Nossas risadas ecoaram no tranquilo bairro enquanto adentrávamos a casa.Minha mãe, sempre solícita, assumiu a responsabilidade pelos cuidados com Otávio, permitindo que Camila e eu seguíssemos para o meu quarto. Disfarcei minha curiosidade, mas secretamente ansiava por saber como foi o encontro de Camila com o novo vizinho.Enquanto eu tomava banho, Camila se acomodou na borda da banheira, mas se manteve em silêncio, apenas me observando de maneira atenta e com um sorriso brincalhão em seu rosto.— Conta logo, Camila! Estou morrendo de curiosidade para saber como foi o encontro com o novo vizinho — implorei, tentando me concentrar em lavar o cabelo enquanto aguardava ansiosamente pela resposta.Camila riu da
OthonA rotina de um hospital do porte do Hospital Central sempre reserva surpresas indesejadas, mas hoje está particularmente agitado. Não me surpreenderia se mais um desafio se apresentasse a qualquer momento. Enquanto eu tento apaziguar as situações caóticas ao meu redor, minha secretária interrompe meus pensamentos com uma informação que, inicialmente, me desconcerta. A senhorita Buarque está aguardando a entrevista que, por algum motivo, eu concordei em realizar esta manhã. Uma rápida onda de autocrítica me atinge, questionando por que diabos concordei em entrevistar a filha dos meus vizinhos gentis em um dia tão caótico.Os Buarque, o senhor Átila e a senhora Margareth, são daquelas pessoas que irradiam simpatia. Desde que eu me mudei para a casa ao lado do casal, encontrá-los no final do dia tornou-se uma espécie de rotina em meu cotidiano. Além disso, não posso ignorar o sentimento doce que a presença do pequeno Otávio cativa em meu coração. Suas lamentações sobre o quanto a
KarenCaminho apressadamente pelos corredores movimentados, deliberadamente ignorando os repetidos chamados de Othon. A raiva fervilhava em meu interior, e culpava o destino por nos colocar frente a frente de forma tão desagradável. À distância, avistei a cabine do elevador aberta, uma oportunidade momentânea para escapar dele. Eu não queria conversar, não havia palavras a serem trocadas. Preferia passar o resto da vida sem encarar novamente o rosto daquele mentiroso.Entrei no elevador de maneira afoita, tentando desesperadamente fechar as portas antes que Othon pudesse se aproximar mais. Minha aversão a qualquer interação com ele era evidente, mas a sorte não estava do meu lado. Não era tão afortunada a ponto de escapar eternamente do destino traiçoeiro que nos uniu. Othon, de maneira arrogante, segurou as portas do elevador e entrou na cabine contra a minha vontade, provocando um bufar de raiva por minha parte.Como se todo o cenário caótico desse reencontro não fosse suficiente, a
OthonEu continuo estagnado e incrédulo.Anos tentando, e finalmente a reencontro, mas ela simplesmente não me reconhece. Karen parte, e eu fico ali, incapaz de reagir. Várias emoções conflitantes me atingem enquanto estou parado próximo à recepção do hospital, onde ocupo o cargo de diretor. Algumas pessoas passam por mim, olhando com curiosidade. Não me importo com o fato de que devem estar se perguntando o que estou fazendo parado no meio daquele corredor. Parece que meus pés estão plantados no chão, e eu não consigo processar completamente o que acaba de acontecer.Ainda com o telefone em mãos após o término abrupto da ligação com Colin, percebo o aparelho vibrar novamente. Atendo automaticamente e encontro Colin do outro lado da linha.— Está tudo bem? Percebi que algo aconteceu, mas não compreendi exatamente o quê — Colin perguntou, expressando preocupação.— Sim, está tudo sob controle agora — asseguro-lhe.— Acho que sua obsessão me contagiou — sugere Colin de forma descontraíd