Anne,Alguém bate na porta e eu mando entrar. A Helen se senta com um olhar preocupado comigo, vendo o meu estado.— Oh, Anne, me conta o que está acontecendo com você, minha amiga?— Como pode tudo mudar de repente? Antes eu trabalhava todas as noites, uma noite como enfermeira, outra como socorrista. Mesmo ficando todos os meses a beira do vermelho, eu tinha paz, tinha sossego, ninguém tentava contra a minha vida e nem contra mim.Pondero um pouco, respirando fundo e soltando o ar com tranquilidade, tentando me acalmar por dentro.— Mas aí, conheci o Eduardo e tudo virou de ponta cabeça. Ganhei ele, ganhei a Sophia, ganhei até um bebezinho, mas o perdi. Como uma vida pode mudar tanto, Helen? Me diga.— Eu não sei, amiga. — Ela puxa a cadeira e se senta do meu lado. — Mas de uma coisa eu sei: você é forte, é lutadora, nada te derruba e quando tentam, você passa a rasteira antes. Pode ser que tenha acontecido isso tudo com você, ou até mais, mas quem está aqui agora é você. Se tiver q
Eduardo,Ela solta um suspiro e se senta na cadeira. Seus olhos se encontram com os meus, e ela vai me contando o que aconteceu aqui com o menino de oito anos que morreu na mesa de cirurgia.— Nas você viu como ele estava? Auxiliou ele?— Não, ele não me deixou. Só fiquei assistindo, mas só cheguei perto quando o coração dele parou pela primeira vez.Ela continua a contar, e até mesmo quando ele veio falar com ela sobre ela não estar psicologicamente bem.— Vou conversar com ele. Vamos ver o que ele vai me contar. Te prometo contar tudo quando eu voltar. — Me levanto da mesa e me aproximo dela, dando um selinho em seus lábios.Ela me segue até o elevador, desce no andar dela, e eu vou até a sala dos médicos para ver se encontro ele lá. Ele está se arrumando, e eu me aproximo dele.— O que você queria falar comigo?— Sobre a sua esposa. Ela foi antiprofissional comigo dentro da minha sala de cirurgia. Eu não falei nada para não ficar feio para nós dois, pois poderíamos ter entrado em c
Eduardo,Dou ré e vou para os fundos, e encontro com ela lá. Acelero, tirando a gente de cena.— Eu não acredito. Pedimos para esse assunto não ir para a mídia.— As amigas da Sophia já estão sabendo. Temos que mudar ela de escola também. — Anne olha para trás e eu olho pelo retrovisor. Ela está de cabeça baixa ainda, triste com o que está acontecendo. Anne olha para mim e passa para o banco de trás, e se senta com ela, a abraçando em seu colo.— Olha, minha pequena, você não precisa ficar triste, porque você não tem culpa de nada. Você é uma criança e quem fez maldade com você que precisa ter vergonha. Não fica assim, você me deixa triste quando está triste.— Desculpa, mamãe. — Olhando alternadamente para a estrada e para o retrovisor, vejo aquele momento único das duas.— Já sei, vamos para Ilha Bella, vamos nos hospedar lá. Fica mais difícil para eles irem atrás de nós. Anne, liga para o chefe e fala o que está acontecendo. Liga para a assistente social e pergunta quem foi que vaz
Eduardo,No outro dia pela manhã, Anne pediu para eu não ir hoje para são Paulo, pediu para aproveitar o dia junto com a Sophia como uma viagem de família, porque nossa missão hoje, era fazer a Sophia sorrir novamente.Mas ver ela daquele jeito, meio desanimada, com aquele sorriso forçado, me deixava com um aperto no peito. Eu sabia que a última coisa que ela precisava era de um monte de gente falando sobre o seu pesadelo como se fosse uma novela a ser assistida por todos. Então, vou ficar e amanhã eu vou resolver isso. Mas de amanhã não passa.Depois do café da manhã no quarto , nos três fomos caminhar pela areia, e eu dei um jeito de chutar a água do mar pra espirrar na Sophia. Ela olhou meio surpresa, com aquele brilho no olhar que eu tanto conhecia.— Ah, é herói, você me molhou. — ela fala, tentando me acertar de volta.— É claro! A gente tá no mar, Sophia. Aqui, qualquer tristeza fica do lado de fora. — respondi, tentando manter o clima leve. Peguei uma folha de coqueiro caída
Eduardo,Eu não consigo tirar da cabeça o que fizeram com a Sophia. Depois de tudo que ela já tinha passado, ainda veio esse monte de gente enfiando o nariz na nossa vida e espalhando para todo lado. Ainda dirigindo de volta pra São Paulo, meu sangue ferve. Eu olho pela janela, vendo a estrada passar, e só penso em uma coisa: descobrir quem foi que jogou nossa privacidade no lixo.Assim que chego, vou direto pra onde sabia que tinha que ir: a redação daquele jornal que publicava qualquer coisa pra ganhar audiência. Chego sem aviso. Respiro fundo antes de entrar, porque eu sabia que precisava me controlar, afinal, o que eu queria mesmo era quebrar uma mesa ou duas só pra começar.— Eu quero falar com o responsável pela matéria sobre a minha filha. — disse, encarando o recepcionista. Minha voz não saiu baixa, e umas pessoas ao redor já começaram a olhar.— E quem é a sua filha senhor? — Tenho certeza que você sabe de quem estou falando, já que a única notícia de criança que teve de ont
Eduardo,Entro na casa dele com um pé atrás, pois sinto como se algo de ruim fosse acontecer. Mas deixo ele passar na minha frente, e fico observando tudo ao redor.— Sente-se, Eduardo. Quer beber alguma coisa?— Não, obrigado. — Melhor é não aceitar, vai que ele queira me envenenar. — Quero que diga porque espalhou o caso da Sophia?— O meu pai é advogado de defesa, ele estava no caso do pai dela e me contou sobre o que aconteceu. Eu sou pediatra, e acho que é meu dever alertar as outras famílias. Se apareceu um caso assim nos noticiários, as mães ficarão mais atentas aos seus filhos em casa.— Isso não é de hoje que acontece. Sabemos que tem muitos casos e muitos já foram parar na mídia. Mas eu pedi para os policiais, assistente social e tudo mais que não divulgassem o caso dela para não a expôr. Você não tinha esse direito.— Tinha e tenho, não vou me omitir diante disso.Meu sangue ferve todas as vezes que esse desgraçado abre a boca, e estou a ponto de fazer ele engolir a língua
Eduardo,O calor estava insuportável, o ar cheio de fumaça já começava a me sufocar. Eu suava, e minhas mãos escorregavam na madeira quente da janela. O fogo se espalhava rápido já entrou no quarto, e eu sabia que não dava mais pra esperar. Olhei pra baixo, a moita era minha única opção. Não parecia nada confiável, mas era isso ou virar churrasquinho aqui no quarto.Respirei fundo, o coração martelando no peito. Antes de pensar mais, me joguei. A queda durou um segundo, mas o impacto foi brutal. Senti o ombro direito sair do lugar, uma dor absurda. Gritei, mas pelo menos eu estava vivo... Quebrado, mas vivo.A dor no ombro era de enlouquecer, mas não dava tempo de pensar muito nisso. Me arrastei pra longe da casa pelo chão, sentindo cada segundo como se fosse uma eternidade. O barulho das chamas era assustador, parecia que o fogo ia engolir tudo em volta.Olhei pro braço pendendo de um jeito estranho e quase desmaiei de novo. Que merda. Tentei me levantar, a dor aumentando cada vez qu
Eduardo,Duas horas depois, as filmagens chega e o delegado coloco o pendrive em seu computador. Me levanto e fico do lado dele para ver. Um homem de capuz aparece, consegue entrar na minha casa e vai direto para o porão. Como imaginava, ele desliga a caixa da eletricidade. Mas, só tem um apagão por cinco segundos, pois a câmera liga o seu modo noturno, utilizando a bateria. O delegado avança o vídeo. O homem continua no porão, parecendo frustrado com o apagão curto. Ele puxa uma lanterna e começa a andar pela casa. Eu prendo a respiração, vendo ele subir as escadas e vasculhar o lugar com calma, como se soubesse exatamente onde procurar.— Ele deveria está te procurando, doutor. Ele abre todas as portas dos quartos para ter certeza, veja.— Ainda bem que a minha esposa e a unha filha não estavam em casa, como eu ia pular da janela com elas? — Ele da de ombro e voltamos a atenção para a tela do computador.A câmera mostra o homem abrindo gavetas, jogando coisas no chão, mas sempre vo