Eduardo,Dou ré e vou para os fundos, e encontro com ela lá. Acelero, tirando a gente de cena.— Eu não acredito. Pedimos para esse assunto não ir para a mídia.— As amigas da Sophia já estão sabendo. Temos que mudar ela de escola também. — Anne olha para trás e eu olho pelo retrovisor. Ela está de cabeça baixa ainda, triste com o que está acontecendo. Anne olha para mim e passa para o banco de trás, e se senta com ela, a abraçando em seu colo.— Olha, minha pequena, você não precisa ficar triste, porque você não tem culpa de nada. Você é uma criança e quem fez maldade com você que precisa ter vergonha. Não fica assim, você me deixa triste quando está triste.— Desculpa, mamãe. — Olhando alternadamente para a estrada e para o retrovisor, vejo aquele momento único das duas.— Já sei, vamos para Ilha Bella, vamos nos hospedar lá. Fica mais difícil para eles irem atrás de nós. Anne, liga para o chefe e fala o que está acontecendo. Liga para a assistente social e pergunta quem foi que vaz
Eduardo,No outro dia pela manhã, Anne pediu para eu não ir hoje para são Paulo, pediu para aproveitar o dia junto com a Sophia como uma viagem de família, porque nossa missão hoje, era fazer a Sophia sorrir novamente.Mas ver ela daquele jeito, meio desanimada, com aquele sorriso forçado, me deixava com um aperto no peito. Eu sabia que a última coisa que ela precisava era de um monte de gente falando sobre o seu pesadelo como se fosse uma novela a ser assistida por todos. Então, vou ficar e amanhã eu vou resolver isso. Mas de amanhã não passa.Depois do café da manhã no quarto , nos três fomos caminhar pela areia, e eu dei um jeito de chutar a água do mar pra espirrar na Sophia. Ela olhou meio surpresa, com aquele brilho no olhar que eu tanto conhecia.— Ah, é herói, você me molhou. — ela fala, tentando me acertar de volta.— É claro! A gente tá no mar, Sophia. Aqui, qualquer tristeza fica do lado de fora. — respondi, tentando manter o clima leve. Peguei uma folha de coqueiro caída
Eduardo,Eu não consigo tirar da cabeça o que fizeram com a Sophia. Depois de tudo que ela já tinha passado, ainda veio esse monte de gente enfiando o nariz na nossa vida e espalhando para todo lado. Ainda dirigindo de volta pra São Paulo, meu sangue ferve. Eu olho pela janela, vendo a estrada passar, e só penso em uma coisa: descobrir quem foi que jogou nossa privacidade no lixo.Assim que chego, vou direto pra onde sabia que tinha que ir: a redação daquele jornal que publicava qualquer coisa pra ganhar audiência. Chego sem aviso. Respiro fundo antes de entrar, porque eu sabia que precisava me controlar, afinal, o que eu queria mesmo era quebrar uma mesa ou duas só pra começar.— Eu quero falar com o responsável pela matéria sobre a minha filha. — disse, encarando o recepcionista. Minha voz não saiu baixa, e umas pessoas ao redor já começaram a olhar.— E quem é a sua filha senhor? — Tenho certeza que você sabe de quem estou falando, já que a única notícia de criança que teve de ont
Eduardo,Entro na casa dele com um pé atrás, pois sinto como se algo de ruim fosse acontecer. Mas deixo ele passar na minha frente, e fico observando tudo ao redor.— Sente-se, Eduardo. Quer beber alguma coisa?— Não, obrigado. — Melhor é não aceitar, vai que ele queira me envenenar. — Quero que diga porque espalhou o caso da Sophia?— O meu pai é advogado de defesa, ele estava no caso do pai dela e me contou sobre o que aconteceu. Eu sou pediatra, e acho que é meu dever alertar as outras famílias. Se apareceu um caso assim nos noticiários, as mães ficarão mais atentas aos seus filhos em casa.— Isso não é de hoje que acontece. Sabemos que tem muitos casos e muitos já foram parar na mídia. Mas eu pedi para os policiais, assistente social e tudo mais que não divulgassem o caso dela para não a expôr. Você não tinha esse direito.— Tinha e tenho, não vou me omitir diante disso.Meu sangue ferve todas as vezes que esse desgraçado abre a boca, e estou a ponto de fazer ele engolir a língua
Eduardo,O calor estava insuportável, o ar cheio de fumaça já começava a me sufocar. Eu suava, e minhas mãos escorregavam na madeira quente da janela. O fogo se espalhava rápido já entrou no quarto, e eu sabia que não dava mais pra esperar. Olhei pra baixo, a moita era minha única opção. Não parecia nada confiável, mas era isso ou virar churrasquinho aqui no quarto.Respirei fundo, o coração martelando no peito. Antes de pensar mais, me joguei. A queda durou um segundo, mas o impacto foi brutal. Senti o ombro direito sair do lugar, uma dor absurda. Gritei, mas pelo menos eu estava vivo... Quebrado, mas vivo.A dor no ombro era de enlouquecer, mas não dava tempo de pensar muito nisso. Me arrastei pra longe da casa pelo chão, sentindo cada segundo como se fosse uma eternidade. O barulho das chamas era assustador, parecia que o fogo ia engolir tudo em volta.Olhei pro braço pendendo de um jeito estranho e quase desmaiei de novo. Que merda. Tentei me levantar, a dor aumentando cada vez qu
Eduardo,Duas horas depois, as filmagens chega e o delegado coloco o pendrive em seu computador. Me levanto e fico do lado dele para ver. Um homem de capuz aparece, consegue entrar na minha casa e vai direto para o porão. Como imaginava, ele desliga a caixa da eletricidade. Mas, só tem um apagão por cinco segundos, pois a câmera liga o seu modo noturno, utilizando a bateria. O delegado avança o vídeo. O homem continua no porão, parecendo frustrado com o apagão curto. Ele puxa uma lanterna e começa a andar pela casa. Eu prendo a respiração, vendo ele subir as escadas e vasculhar o lugar com calma, como se soubesse exatamente onde procurar.— Ele deveria está te procurando, doutor. Ele abre todas as portas dos quartos para ter certeza, veja.— Ainda bem que a minha esposa e a unha filha não estavam em casa, como eu ia pular da janela com elas? — Ele da de ombro e voltamos a atenção para a tela do computador.A câmera mostra o homem abrindo gavetas, jogando coisas no chão, mas sempre vo
Eduardo,O policial me tira de cima dele, o cara é tão ruim que se sente limpando o canto da boca, mas sorri para mim.— Bate como mulher, doutor. Mas não se esqueça, assim que eu sair da cadeia, vou descontar tudo. Vou adorar aproveitar do corpinho da Anne enquanto você fica olhando. Você brincou com a minha irmã, nada mais junto que eu brincar com a sua esposa.O delegado levanta ele e coloca suas mãos para trás e o prende com a algema. Queria está aqui sozinho agora, ia matar ele para dar um fim as suas maldades. O delegado vai empurrando ele e eu vou seguindo os dois.Eu ando atrás deles, o som das botas do delegado ressoando no chão vazio. Cada passo meu é uma explosão de raiva contida, o sangue ferve e meu peito aperta. Queria resolver isso com as minhas próprias mãos, mas tenho que me segurar, respirar fundo, não quero ser preso no lugar dele.Ele se vira e me encara com aquele olhar frio, como se nada tivesse acontecido, como se a destruição que causou fosse um detalhe. Meu pu
Anne,Quase morri de angústia quando ele me ligou. Eu mal consegui aproveitar o passeio com a Sophia, preocupada com ele lá do outro lado. Mas graças a Deus ele voltou, e voltou bem sem nenhum ferimento. Passo os olhos pelo corpo dele para ter certeza, e nem percebo que ele me pergunta sobre a Ilhabella.— Gosta daqui?— Gosto, quem não gostar é doido. Aqui é um lugar completo, tem de tudo.— Não quero voltar para São Paulo. Somos dois médicos, e tenho certeza que vamos conseguir trabalho por aqui, e se não tiver vagas, procurando em santos, mas bando comprar uma casa aqui na ilha Bella.— Você está doido? Você é chefe em são Paulo. Tem a assistente social que tem que nos vigiar, tem a babá da Sophia...— Damos um jeito em tudo isso, o importante é que estaremos longe de todos que parecem invejosos que só os querem fazer mal. Nossa casa pegou fogo, e se for para eu comprar outra, prefiro comprar aqui. Penso nas palavras dele, até penso que ele pode está ficando louco. Mas percebo qu