OliviaVirei-me para ele, encarando-o nos olhos.— Vamos sair daqui.Pegando-me pela mão, deixamos a tenda por uma saída lateral. Caminhamos até um pouco mais adiante, parando próximo da cerca.— Há doze anos Jaden se meteu em uma merda bem grande. Ele não tem culpa do que aconteceu, mas, segundo o nosso pai, ainda assim poderia ser preso.— Que diabos aconteceu? — perguntei sentindo uma pontada de preocupação.— Uma garota que era envolvido com ele tirou a própria vida. Jaden sabia o que ela ia fazer, mas não fez nada para impedir, porque não acreditava nas suas palavras. A família dela prestou queixa contra ele e moveu um processo. Meu pai o ajudou. Não sei como e nem o que fez. Acho que deu muita grana para a família dela desistir do processo. Sei que também moveu alguns pauzinhos com o polícia de Helena para arquivarem o caso.— Isso é horrível, mas... não estou entendo onde quer chegar.— Jack não é o homem que todos pensam ser. Ele é mal. Tomou do filho que mais o amava e admira
OliviaEu estava me sentindo atordoada, enjoada e com muito medo. Lá fora, andei em direção para onde o nosso ônibus estava estacionado. Eu precisava de um tempo sozinha em algum canto. Ao me aproximar, um casal se agarrava loucamente encostados na lataria empoeirada. Ambos notaram a minha presença e soltaram-se, olhando-me assustados.Jannet estava descabelada e tinha a barra do seu vestido erguido até a cintura. O peão à sua frente estava com a boca suja de batom vermelho e tinha os botões da camisa arrebentados. O cinto e braguilha do seu jeans justo estavam abertos.— Desculpe — disse, dando meia-volta e saindo dali rapidamente.Olhei ao meu redor procurando por um lugar que fosse longe o suficiente daquela festa. Avistei um morro, a um quilometro. Subi para o alto a passos largos. Estava sendo um dia de muita merda para minha vida e meu emocional. Sentando-me na grama alta, respirei fundo e fechei os olhos, curtindo a brisa fresca e gélida que vinha contra o meu rosto. Fiquei ass
OliviaQuatro meses atrás...Sob aplausos, nos despedimos do público em uma casa de show na cidade de Austin. Ao descer do palco, um homem grande e gordo apareceu à minha frente, interrompendo o meu caminho. De cenho franzido, encarou-me nos olhos.— Eu conheço você? — perguntou ele, estreitando as pálpebras.O homem não me era estranho. Eu poderia dizer que sim, era possível que nos conhecêssemos, mas não saberia dizer de onde.— Acho que não, desculpe — disse por fim.Dei um passo para o lado, tentando afastar-me dele, mas antes que pudesse andar, meu punho foi agarrado com muita força. Olhei-o assustada, tentando livrar-me do seu aperto, mas não consegui.— Não... Eu conheço você, tenho certeza.— Me solte! — Fui impaciente.— O seu rosto... ele é tão familiar. — Chegou mais perto, zerando a distância entre nossos corpos. — Esses olhos... De onde veio? Montana?— Algum problema? — perguntou Tate, encarando-o feio.O homem de meia-idade olhou para ele e soltou-me. Dei dois passos pa
Olivia— O quê? Eu não tenho trinta mil e nem como conseguir isso — falei, desesperada. — Vivo na estrada, cantando em bares e festivais.— Isso não é problema meu! — gritou. — Sabe há quanto anos estou procurando por aquele desgraçado? — Ele estava ainda mais irado. — A culpa de eu não ter recebido a minha grana, é sua! Você o matou. Então, você me deve! — Apontou a arma para mim novamente, mirando-a no meu rosto. Eu me encolhi ainda mais. — E somando doze anos de juros e correção monetário... — Sorriu mais uma vez. Um sorriso perverso e humorado. Ele estava se divertindo com o meu medo e o desespero. Desgraçado! — Diria que a dívida está em cem mil dólares.Meus olhos se arregalaram novamente.— Mas não foi para mim que emprestou dinheiro. Não tenho como te pagar! Novamente, a sua mão agarrou a minha garganta, assustando-me para caralho e fazendo-me gritar.— Então terei que incendiar um ônibus agora mesmo! Eu só preciso dar um telefonema, e logo a manchete de amanhã será corpos ca
OliviaOs meus braços doíam, já cavava a muitas horas. Parei por um minuto e respirei fundo, sentindo o ar queimar nos pulmões e suor escorrer por cada centímetro de pele. Tinha de encontrar o corpo antes que o frio começasse a congelar a terra. Já havia perdido a contas de quantos buracos tinha feito naquele pasto.Tudo estava diferente. Eu não me lembrava exatamente onde eu havia enterrado o meu pai. A cerca era nova e talvez tivesse sido movida alguns metros quando reconstruída. Já havia cavado por todo o perímetro rente a ela. O pasto agora pertencia aos Bennett. A área havia sido parcialmente desmatada. O meu único ponto de referência estava sendo uma árvore a metros de distância, que eu sequer tinha certeza se era a mesma de anos atrás.— Deus... por favor. — Encarei o céu repleto de nuvens densas. — Por favor, me ajude!Agachei-me dentro da cova, caindo de joelhos. De olhos fechados, abaixei a cabeça, sentindo uma grande exaustão pesar sobre as costas. Não tinha mais condições
JadenO céu ainda estava escuro lá fora. O cheiro de café emanava pela cabana. De pé diante da TV, abotoava a camisa enquanto assistia ao primeiro noticiário do dia. A cafeteira apitou, anunciando que o café estava pronto. Virei-me em direção à cozinha, e despretensiosamente, meus olhos desceram até a pequena lixeira sob o aparador.A foto que Olivia havia tirado, ainda estava lá, por cima de alguns recibos amassados. Eu a apanhei e observei a imagem. Podia ter olhado para câmera, teria sido apenas alguns segundos e um registro eterno. Ela, é claro, estava linda. Olhos brilhantes, sorriso doce... Sentia a sua falta.Dobrando a foto ao meio, caminhei até o chapéu pendurado na parede ao lado da entrada. Peguei-o e virei a sua parte interna para cima. Coloquei a sua foto presa à fita costurada na borda. Um sorriso genuíno marcou os meus lábios. Um cowboy colocar a foto de uma garota por dentro do seu chapéu é uma declaração oficial de que ele está apaixonado por essa mulher.Coloquei o c
OliviaEntrei no pasto e segui até onde havia cavado na noite anterior. Assim como se cansaram de consertar os arames, também haviam se cansado de tampar as valas. Achei isso muito estranho. Talvez eu devesse ir embora. Acendi a lanterna e dei uma boa olhada a minha volta. Não havia movimento algum.Jogando o alicate e a lanterna no chão, comecei a cavar. O buraco já devia ter uns trinta centímetros de profundidade, quando escutei o som do engatilhar de uma espingarda logo atrás de mim. Um frio correu pela minha espinha, fazendo o meu corpo petrificar com tamanha tensão, susto e medo. As mãos apertaram o cabo da pá, e a respiração ofegou, trêmula.— Largue a pá! — disse uma voz em tom autoritário.Imediatamente eu a reconheci.— Merda! — Xinguei baixinho, apertando as pálpebras.Meu coração bateu ainda mais forte, e a tensão triplicou, causando um doloroso nó nos meus ombros.— Coloque as mãos para cima e vire-se! Agora! — disse ele, mais alto.Minhas mãos se abriram, e a pá caiu aos
JasonEu ainda estava absorvendo toda a história que acabara de ouvir. Isso é surreal! É o tipo de situação estranha e perigosa que se vê em filmes estralados por Dwayne Johnson, ou até mesmo em um roteiro ruim de uma antiga novela mexicana.Olhei ao meu arredor, percebendo que aquele campo era grande demais para ser cavar em uma semana. Eu preciso ajudá-la com o dinheiro. Mas como? Apesar de pertencer a uma família afortunada, eu não tenho posses nem tão pouco acesso a tanta grana. Sou um mero peão assalariado. Tudo o que tenho guardado no banco vem das competições nas arenas. Poderia vender algumas fivelas, mas nem de longe conseguiria mais do que seis mil dólares. Pedir ao meu pai não é uma opção. Falar com Jaden, também não.Peguei a espingarda no chão e voltei para casa. Quando amanheceu, segui para a lida. No estábulo, encontrei Lloyd escovando Atlas. — Bom dia — disse ao passar por ele, indo em direção ao meu cavalo.— Como foi no pasto ontem à noite?— Como eu já esperava. N