OliviaOs meus braços doíam, já cavava a muitas horas. Parei por um minuto e respirei fundo, sentindo o ar queimar nos pulmões e suor escorrer por cada centímetro de pele. Tinha de encontrar o corpo antes que o frio começasse a congelar a terra. Já havia perdido a contas de quantos buracos tinha feito naquele pasto.Tudo estava diferente. Eu não me lembrava exatamente onde eu havia enterrado o meu pai. A cerca era nova e talvez tivesse sido movida alguns metros quando reconstruída. Já havia cavado por todo o perímetro rente a ela. O pasto agora pertencia aos Bennett. A área havia sido parcialmente desmatada. O meu único ponto de referência estava sendo uma árvore a metros de distância, que eu sequer tinha certeza se era a mesma de anos atrás.— Deus... por favor. — Encarei o céu repleto de nuvens densas. — Por favor, me ajude!Agachei-me dentro da cova, caindo de joelhos. De olhos fechados, abaixei a cabeça, sentindo uma grande exaustão pesar sobre as costas. Não tinha mais condições
JadenO céu ainda estava escuro lá fora. O cheiro de café emanava pela cabana. De pé diante da TV, abotoava a camisa enquanto assistia ao primeiro noticiário do dia. A cafeteira apitou, anunciando que o café estava pronto. Virei-me em direção à cozinha, e despretensiosamente, meus olhos desceram até a pequena lixeira sob o aparador.A foto que Olivia havia tirado, ainda estava lá, por cima de alguns recibos amassados. Eu a apanhei e observei a imagem. Podia ter olhado para câmera, teria sido apenas alguns segundos e um registro eterno. Ela, é claro, estava linda. Olhos brilhantes, sorriso doce... Sentia a sua falta.Dobrando a foto ao meio, caminhei até o chapéu pendurado na parede ao lado da entrada. Peguei-o e virei a sua parte interna para cima. Coloquei a sua foto presa à fita costurada na borda. Um sorriso genuíno marcou os meus lábios. Um cowboy colocar a foto de uma garota por dentro do seu chapéu é uma declaração oficial de que ele está apaixonado por essa mulher.Coloquei o c
OliviaEntrei no pasto e segui até onde havia cavado na noite anterior. Assim como se cansaram de consertar os arames, também haviam se cansado de tampar as valas. Achei isso muito estranho. Talvez eu devesse ir embora. Acendi a lanterna e dei uma boa olhada a minha volta. Não havia movimento algum.Jogando o alicate e a lanterna no chão, comecei a cavar. O buraco já devia ter uns trinta centímetros de profundidade, quando escutei o som do engatilhar de uma espingarda logo atrás de mim. Um frio correu pela minha espinha, fazendo o meu corpo petrificar com tamanha tensão, susto e medo. As mãos apertaram o cabo da pá, e a respiração ofegou, trêmula.— Largue a pá! — disse uma voz em tom autoritário.Imediatamente eu a reconheci.— Merda! — Xinguei baixinho, apertando as pálpebras.Meu coração bateu ainda mais forte, e a tensão triplicou, causando um doloroso nó nos meus ombros.— Coloque as mãos para cima e vire-se! Agora! — disse ele, mais alto.Minhas mãos se abriram, e a pá caiu aos
JasonEu ainda estava absorvendo toda a história que acabara de ouvir. Isso é surreal! É o tipo de situação estranha e perigosa que se vê em filmes estralados por Dwayne Johnson, ou até mesmo em um roteiro ruim de uma antiga novela mexicana.Olhei ao meu arredor, percebendo que aquele campo era grande demais para ser cavar em uma semana. Eu preciso ajudá-la com o dinheiro. Mas como? Apesar de pertencer a uma família afortunada, eu não tenho posses nem tão pouco acesso a tanta grana. Sou um mero peão assalariado. Tudo o que tenho guardado no banco vem das competições nas arenas. Poderia vender algumas fivelas, mas nem de longe conseguiria mais do que seis mil dólares. Pedir ao meu pai não é uma opção. Falar com Jaden, também não.Peguei a espingarda no chão e voltei para casa. Quando amanheceu, segui para a lida. No estábulo, encontrei Lloyd escovando Atlas. — Bom dia — disse ao passar por ele, indo em direção ao meu cavalo.— Como foi no pasto ontem à noite?— Como eu já esperava. N
Jason— Eu sempre vinha para cá ver o ônibus passar. Eu achava curioso.Forcei um sorriso.— Eu sabia que vocês eram muitos filhos, mas nunca os vi. Vocês não iam à escola.— Não. Minha mãe achava melhor nos educar em casa. Quando ela morreu, Jacce assumiu o papel de ensinar a mim e ao Jaden.— Eu me lembro dela. Era muito bonita.— Era, sim.— O que aconteceu com Jacce?Parei de cavar por um segundo e respirei fundo, desconfortável com a pergunta.— Acidente de carro há três anos. — Era tudo o estava pronto para dizer, e ela entendeu.Notando o meu desconforto, ela mudou rapidamente de assunto, falando sobre a escola.— Merda! — murmurou ao mesmo tempo que ouvi um “crac”, como algo se partindo. — A minha pá quebrou.— A gente já cavou demais por hoje. São quase três da manhã. Por que você não vai embora? Eu tampo os buracos.Olivia saiu de dentro da vala e eu fiz o mesmo. Ela parou por um momento e encarou o chão. Seus ombros caíram e a respiração pareceu pesar no peito. Soltei a pá
JasonJá passava das três quando passei pela porta da sala. Depois de um banho, desci até o escritório do meu pai e dei uma boa olhada nas gavetas e caixas dentro do armário. Não esperava encontrar um crânio ali, é óbvio, mas quem sabe eu pudesse encontrar algo que me dissesse onde ele os colocou. Será que ele jogaria fora ou enterraria novamente? Eu não achei nada que pudesse me dar uma pista disso. Eu só estava gastando o meu tempo.Quando amanheceu, eu já estava vestido, pronto para ir até a cidade falar com ele. Mas Lloyd surgiu e disse que precisava da minha ajuda, era uma pequena emergência com o gado. Ao descer até o pasto, vi que o problema era maior do que eu pensava. Não podia sair naquele momento. Suspirei frustrado e olhei ao meu redor. E se eu falasse com Tip? Ele estava lá doze anos atrás. Talvez soubesse onde os ossos estão hoje. Sempre foi o peão dourado do meu pai. Por vezes, tive até ciúmes disso. O que era uma grande bobagem, é claro. Se eu pudesse, daria Jack de pr
JasonMeus punhos cerraram, e minha respiração pesou no peito. O meu corpo doeu com tamanha tensão e ira provocada por ele. Eu queria poder socá-lo agora mesmo, mas há muito tempo havia prometido não permitir que ele despertasse o pior em mim novamente.— Ela me contou o que aconteceu naquele pasto. E eu imagino que os ossos daquele maldito não estejam mais lá. Onde estão?— Em um lugar seguro.— Olivia os quer! Precisa de algo que enterrou com o corpo.— Não havia nada lá além de ossos.— Onde. Estão. Os ossos? — perguntei pausadamente, entredentes.— Eu disse para aquela vadiazinha ficar longe de vocês! — O seu tom era ordinário. Meus punhos estalaram e eu caminhei até ele a passos largos e apressados, alcançando-o em segundos.— Por que é tão desprezível? — berrei agarrando o colarinho da sua camisa.— Jason! — A voz de Jaden reverberou alto e firme atrás de mim.Jack sorria com cinismo. Ele havia conseguido exatamente o que queria. Eu irritado com ele, prestes a socá-lo, e Jaden p
JasonEu parei um pouco e limpei o suor do rosto na manga da camisa. Respirei fundo algumas vezes e segurei o cabo da pá com firmeza, fincando-o fundo na terra. A ponta do metal bateu contra algo que pareceu um pouco fofo ou macio. Eu estava perto.Continuei a cavar rapidamente, até que encontrei um saco de pano encardido pela terra. Coloquei a pá do lado de fora do buraco e peguei o saco. Tomando um pouco de coragem, abri-o. A primeira coisa que avistei foi um crânio. Engoli em seco e fechei-o novamente.Quando ergui a cabeça, avistei Jaden observando-me pela janela da sala. Rapidamente saí do buraco e comecei a tampá-lo. Coloquei os móveis de volta no lugar e apanhei o saco, indo a passos largos em direção ao meu carro. Coloquei-o no banco de trás e apanhei o celular no bolso da calça. Precisava avisar Olivia que havia encontrado os ossos.Encontrei!Vou até você, mais tarde.Jason07:02 amNão esperei por uma resposta sua. Guardei o celular, tranquei o carro e segui para a lida. Em