Jason— Eu sempre vinha para cá ver o ônibus passar. Eu achava curioso.Forcei um sorriso.— Eu sabia que vocês eram muitos filhos, mas nunca os vi. Vocês não iam à escola.— Não. Minha mãe achava melhor nos educar em casa. Quando ela morreu, Jacce assumiu o papel de ensinar a mim e ao Jaden.— Eu me lembro dela. Era muito bonita.— Era, sim.— O que aconteceu com Jacce?Parei de cavar por um segundo e respirei fundo, desconfortável com a pergunta.— Acidente de carro há três anos. — Era tudo o estava pronto para dizer, e ela entendeu.Notando o meu desconforto, ela mudou rapidamente de assunto, falando sobre a escola.— Merda! — murmurou ao mesmo tempo que ouvi um “crac”, como algo se partindo. — A minha pá quebrou.— A gente já cavou demais por hoje. São quase três da manhã. Por que você não vai embora? Eu tampo os buracos.Olivia saiu de dentro da vala e eu fiz o mesmo. Ela parou por um momento e encarou o chão. Seus ombros caíram e a respiração pareceu pesar no peito. Soltei a pá
JasonJá passava das três quando passei pela porta da sala. Depois de um banho, desci até o escritório do meu pai e dei uma boa olhada nas gavetas e caixas dentro do armário. Não esperava encontrar um crânio ali, é óbvio, mas quem sabe eu pudesse encontrar algo que me dissesse onde ele os colocou. Será que ele jogaria fora ou enterraria novamente? Eu não achei nada que pudesse me dar uma pista disso. Eu só estava gastando o meu tempo.Quando amanheceu, eu já estava vestido, pronto para ir até a cidade falar com ele. Mas Lloyd surgiu e disse que precisava da minha ajuda, era uma pequena emergência com o gado. Ao descer até o pasto, vi que o problema era maior do que eu pensava. Não podia sair naquele momento. Suspirei frustrado e olhei ao meu redor. E se eu falasse com Tip? Ele estava lá doze anos atrás. Talvez soubesse onde os ossos estão hoje. Sempre foi o peão dourado do meu pai. Por vezes, tive até ciúmes disso. O que era uma grande bobagem, é claro. Se eu pudesse, daria Jack de pr
JasonMeus punhos cerraram, e minha respiração pesou no peito. O meu corpo doeu com tamanha tensão e ira provocada por ele. Eu queria poder socá-lo agora mesmo, mas há muito tempo havia prometido não permitir que ele despertasse o pior em mim novamente.— Ela me contou o que aconteceu naquele pasto. E eu imagino que os ossos daquele maldito não estejam mais lá. Onde estão?— Em um lugar seguro.— Olivia os quer! Precisa de algo que enterrou com o corpo.— Não havia nada lá além de ossos.— Onde. Estão. Os ossos? — perguntei pausadamente, entredentes.— Eu disse para aquela vadiazinha ficar longe de vocês! — O seu tom era ordinário. Meus punhos estalaram e eu caminhei até ele a passos largos e apressados, alcançando-o em segundos.— Por que é tão desprezível? — berrei agarrando o colarinho da sua camisa.— Jason! — A voz de Jaden reverberou alto e firme atrás de mim.Jack sorria com cinismo. Ele havia conseguido exatamente o que queria. Eu irritado com ele, prestes a socá-lo, e Jaden p
JasonEu parei um pouco e limpei o suor do rosto na manga da camisa. Respirei fundo algumas vezes e segurei o cabo da pá com firmeza, fincando-o fundo na terra. A ponta do metal bateu contra algo que pareceu um pouco fofo ou macio. Eu estava perto.Continuei a cavar rapidamente, até que encontrei um saco de pano encardido pela terra. Coloquei a pá do lado de fora do buraco e peguei o saco. Tomando um pouco de coragem, abri-o. A primeira coisa que avistei foi um crânio. Engoli em seco e fechei-o novamente.Quando ergui a cabeça, avistei Jaden observando-me pela janela da sala. Rapidamente saí do buraco e comecei a tampá-lo. Coloquei os móveis de volta no lugar e apanhei o saco, indo a passos largos em direção ao meu carro. Coloquei-o no banco de trás e apanhei o celular no bolso da calça. Precisava avisar Olivia que havia encontrado os ossos.Encontrei!Vou até você, mais tarde.Jason07:02 amNão esperei por uma resposta sua. Guardei o celular, tranquei o carro e segui para a lida. Em
JadenApós o amanhecer, cavalguei de volta para casa. Ao passar pelos peões, percebi que Jason não estava junto deles.— Onde está o Jason? — perguntei para Lloyd.— Ele disse que tinha uma coisa para fazer. Pegou uma pá e subiu em direção à casa.— Ele disse o que era?— Não. O moleque anda estranho.Sem dizer nada mais, segui caminho até a sede. Desci do Atlas e amarrei-o junto à cerca. Caminhei em direção à casa e, ao me aproximar, lá estava Jason com parte das pernas dentro de um buraco sob o Ficus.— O que está fazendo? — perguntei intrigado.— Um buraco. Não está vendo? — O seu tom era hostil.— É, eu estou vendo. Mas por quê? — Fui um pouco impaciente.— Cuide da sua vida, Jaden! — falou mais alto, encarando-me feio por alguns segundos.Olhei para trás em direção à varanda e lá estava o nosso pai, de pé, bebericando uma xícara de café. Caminhei na sua direção.— Que merda ele está fazendo?— Está pegando algo para mim. Deixe-o aí. — Voltou para dentro de casa.Está pegando algo
JadenA passos largos, segui até a cabana, entrando na minha caminhonete. Só tinha um lugar para onde ele poderia estar indo: a cidade. Dirigi para lá, tentando alcançá-lo no meio do caminho, mas não vi nem rastro dos seus pneus. Ele estava dirigindo muito rápido e isso me causava certo desconforto.Incerto, sem saber para onde ir, segui para feira. Talvez ele fosse para lá se encontrar com alguém, ou, de repente, se encontrar com Olivia. Eles estavam mais próximos do que nunca. E isso também me causava desconforto. Não é para ser ele a sair com ela ou entrar em seu trailer, é para ser eu. Mas a culpa é completamente minha. Eu a rejeitei. Deixei que fosse embora, que saísse da minha vida. Entendo que não cabe a mim reclamar e eu tento fazer isso, porque fiz uma escolha que não foi ela. Mas nada disso impedia que eu sentisse ciúmes e a sua falta.A sua foto ainda está no meu chapéu. Ainda sonho com os seus olhos e o seu cheiro floral adocicado. Se eu fechar as pálpebras, posso ver clar
JadenOlhei para trás e senti-me tentado a confrontar Olivia. Mas o que fiz, claramente, já havia causado bastante mal a ela. Não precisava dos meus questionamentos agora. E eu não sei se aguentaria vê-la chorar nem por mais um segundo, sem tomá-la nos meus braços.Com parte do rosto lavado em sangue, segui para o estacionamento onde havia deixado a caminhonete.— Mas que diabos aconteceu? — Ouvi a voz de Jack reverberar atrás de mim.Parei por alguns segundos e tomei fôlego pela boca, antes de virar-me para ele, que me encarava de cenho franzido. Encarei-o em silêncio na dúvida se devia confrontá-lo como disse Jason.— Eu perguntei que diabos aconteceu — disse entredentes, irritado, aproximando-se.Não abaixei a cabeça para ele. Meus olhos se fixaram nos seus, e eu dei um passo adiante, encurtando ainda mais a distância entre nós. Meus ombros ficaram duros e doeram um pouco com a tamanha tensão que sentia.— De quem são aqueles ossos? — perguntei em baixo tom, porém, firmemente.Seu
JadenAlgum tempo depois, um homem surgiu, abrindo-as repentinamente.— Bennett? — disse ele ao me ver.— Louis...O ortopedista era um velho conhecido. Quando mais jovens, costumávamos beber juntos alguns finais de semana, mas ele se saí como um belo encrenqueiro. E eu, por outro lado, sempre tentei me manter fora de problemas. Por consequência disso, acabamos nos afastando. A última notícia sua que tive foi de que havia se mudado para Seattle.— Achei que não morasse mais por aqui.— Eu voltei há um mês. — Sentou-se à minha frente. — A minha enfermeira disse que você se meteu em uma confusão. Engraçado. Achava que você não gostasse delas.— Não foi bem uma confusão. Diria que foi um desentendimento entre irmãos.— Jame?— Jason.— Ah, eu me lembro dele. Fiquei sabendo do Jacce. Sinto muito.Permaneci em silêncio.— Bom... seu nariz está quebrado — disse olhando para mim. — Melissa, prepare uma tala.— Sim, doutor — respondeu a enfermeira.Eu não a conhecia. Nunca a vi pela cidade, e