Durante o dia seguinte, Byron viveu um crescente otimismo. Conseguira terminar sua mais nova obra de arte e havia tido um incentivo por parte dos organizadores do concurso. Lembraram os pormenores e desejarem-lhe sorte. E mesmo que nos dias anteriores, ou meses, ele estivesse destruído, não houve o que tirasse a sua certeza: iria ganhar o concurso.
No dia que antecedeu o esperado evento, Byron manteve-se sóbrio. Foi difícil, mas não impossível. Talvez porque ele passou a maior parte do tempo pensando em discursos, fantasiando prêmios e escolhendo a roupa. Saiu de última hora e comprou peças que faziam jus ao seu conhecido estilo: terno preto com gravata borboleta de vermelho sangue e provavelmente faria uma maquiagem que contornava grande parte de seus olhos. Essa sua aparência era um dos motivos por ser tão falado e vítima de curiosos.
Durante a noite ele dormiu rapidamente, apesar da ansiedade. Muito provável que fosse a fraqueza porque ele se encontrava à três dias sem comer nada, apenas bebendo e nesse último, absolutamente não havia bebida nada além de água .
Acordou cinco horas da manhã completamente descançado. O evento seria apenas à noite e sentiu sua ansiedade ir embora e a confiança substituiu quaisquer sentimentos ruins. Ele queria garantir que hoje seria o dia em que daria a volta por cima e transformaria de vez em arte, todo aquele sentimento ruim. Afinal, qual a razão de sofrer e no final não aprender nada? Passou seu dia igualmente sóbrio, mas quando aproximava das sete da noite, bebeu dois copos generosos do melhor vinho que tinha em sua casa. Aquilo não o deixou embriagado, na verdade pareceu não surtir efeito algum. Depois dos copos de Bourbon começou a se arrumar. Usou o terno que comprara e como previra, fez sua usual maquiagem. Embrulhou o quadro em plástico bolha e saiu, mais uma vez, confiante.
Byron seguiu o endereço e chegou rapidamente e tão logo percebeu que havia vaga reservada para seu carro. Quando desceu, ficou encantado com o que viu. O edifício era simplesmente esplêndido. A construção era grande e imponente, toda pintada de branco com exceção dos detalhes barrocos de gesso em volta da abóbada. Era um grandioso edifício que suportava mais de 100 mil pessoas. Havia lustre por toda a construção, magnificas pedras que exbanjavam luz. A noite estava calma e mesmo que houvesse barulhos por toda parte, um silêncio vindo da escuridão preenchia a mente de Byron com tranquilidade. Estava frio, mas não aquele frio cortante. Era um clima perfeito para a ocasião.
A grama era cortada de maneira delicada e na parte de frente ao estacionamento estava escrito "Bem Vindos" com a folhagem verde dos arbustos.
Byron deu os primeiros passos, devagar, pois estava com a pintura em suas mãos. Ele andava observando tudo ao seu redor e ficou imaginando como seria uma obra de tudo aquilo. Andou até o hall de entrada e parou. Sentiu seus ombros serem tocados por delicadas mãos.
- Seja bem vindo Byron Mason! - com um sorriso radiante a dona do evento, Barbara Evans comprimentou-o. - fico feliz que esteja aqui, garanto que este evento mudará você.
- Obrigado... - disse ele. Foi complementar e ela o interrompeu:
- Me acompanhe, meu bem.
Seguiram então, dentro do edifício. Caminharam com olhares voltados à eles. Byron deixou o quadro onde ela pediu para que o mesmo fizesse. Tinham vários cavaletes dispostos um ao lado do outro. Depois dela sair de perto dele dizendo para ficar a vontade, ele olhou em volta. Seus olhos percorrem cada detalhe e seus pensamentos estavam acelerados. Um garçom ofereceu champanhe que ele aceitou prontamente. Respirou um pouco e passou a olhar os diversos quadros, com certeza, seus adversários. Só de pensar que apenas um sairia com o prêmio... Ele começara a achar injusto. Tão belos quadros estavam presente: havia um representando as ruas de um parque com uma clareza sensível onde duas pessoas andavam juntas, o que indicava, repletas de amor e companheirismo. O sentimento da solidão era expressa na obra e tão somente o pertencimento desse solidão na alma do pintor. Outro quadro representava a delicadeza de um dia sereno, onde flores estavam perto de um felino preto que estava em posição tranquila. O terceiro era um quadro abstrato onde cores no tom de laranja, roxo, azul, branco e dourado estavam entrelaçadas e todas pertenciam à um só: a confusão.
O que ele estivera pensando estava mostrando-se real: a maioria entendera algo relacionado à sentimentos profundos do homem. Ele também pensara assim, mas produzira uma obra peculiar.
Outras pessoas começaram a vir perto dele, cada um em frente à sua pintura. Byron notou que Bárbara Evans vinha com eles. Não demorou muito e ela começou a dizer:
- Saudações, meus caros! O evento já vai começar. Peço gentilmente que encaminhem-se por trás das cortinas. A votação será feita através do público e posteriormente dos jurados. Então o que devem fazer é aguardar até que todos os votos sejam apurados.
Dito isso, todos foram automaticamente para a parte de trás da cortina preta. Byron seguiu e parou quando chegara a uma cadeira e prateleira que levava seu nome. Ele observou o que tinha lá em cima. Sorriu quando notou a presença de um lápis de olho preto. Resolveu então, retocar sua maquiagem. Depois de feito, tentou prestar atenção na conversa:
-... você sabe como essa vida de artista é: uma hora você está no topo e outra hora ninguém mais lembra de você. Eu mesma perdi muito dinheiro com essa fase de esquecimento total. O que salvou mesmo foi esse concurso. Quando fui convidada várias revistas vieram atrás de mim para procurar informações sobre meu estilo de pintura... - disse uma mulher negra de olhos verdes. A beleza da moça era deslumbrante e a delicadeza ao conversar atraiu Byron Mason para o assunto.
- sai há pouco dessa fase... Só me restam más lembranças desse período - respondeu um homem de cabelos nos ombros.
- encontro-me agora sob perspectiva de um novo trabalho. Todos acham que por ter ficado fora das revistas por um tempo, esperam que um grande trabalho esteja a caminho. - Byron entrou na conversa animado.
- Novo trabalho? Isso deve estar sendo bom para sua fama... - respondeu a moça.
- sim, em parte. O grande problema é que não tenho nenhum trabalho pronto, o único é para esse concurso.
- está passando por um bloqueio criativo?
- sim, posso dizer que sim.
- quando isso me ocorreu - entrou na conversa uma mulher dos cabelos raspado - tive a certeza de que sairia e daria a volta por cima. E foi o que aconteceu: agora vivo o melhor momento da minha carreira até agora.
A conversa não continuou porque a organizadora do evento começou a explicar tudo para eles. Todos se dirigiram para o palco, o qual haviam cadeiras com o nome de cada um. A cortina permanecia fechada ainda. Sentaram-se e esperaram. A voz de Evans era alta e certa de si. Começou contando a história do projeto. Byron se deu conta de que iria demorar. Pôs-se a pensar sobre as coisas.
Era estranho estar ali, não parecia um lugar que ele deveria estar, apesar de estar gostando. Só não sentia que ali era seu lugar. Depois de tantas coisas ruins, seu passado sombrio que ia além de Elizabeth e a mulher assassinada. Um passado que não tinha mais cura: era monstruoso. Quando se viu pensando nisso novamente tentou afastar os pensamentos e se concentrou no efeito que o álcool estava fazendo em seu organismo. Ele havia tomado muitas taças de forma exagerada. Torceu para que ninguém tivesse notado esse sua atitude.
Olhou para os outros. Não sentia a mínima simpatia agora que estava chegando o momento decisivo. Não demorou muito para que tudo se seguisse como deveria ser. As cortinas se abriram e os participantes foram apresentados. Não disseram o autor dos quadros para não haver julgamentos ou preferências quanto a aparência. Eles não precisavam dizer nada e Byron agradeceu por isso. Não havia preparado nada.
Depois de aberto a votação, os participantes se mantiveram ali. Agora era o momento. Byron olhou para cada um que estava ali e ninguém parecia nervoso. Tentou controlar os sentimentos e emoções e permaneceu neutro. E esperou. Esperou o que apareceu uma eternidade, com os pensamentos aflitos e ansiedade em seu nível máximo. E de repente era o momento: tudo o que ele mais esperava. Começou então uma ladainha, Evans dizendo o quão bom foi ter estado com os artistas e que nenhum era maior que o outro por causa do concurso. A cabeça de Byron parecia querer explodir com tanta demora. Então, Bárbara Evans disse as seguintes palavras:
- o vencedor, que levará o prêmio de 30.000mil dólares é... Byron Mason!
Ele não pôde acreditar. A emoção tomou conta dele e engoliu sua reação. A felicidade era tanta que parecia não caber em seu coração. Era como um suave canção que permanecia com ele. Seus olhos encheram de lágrimas e ele tentou controlar mas não conseguiu. Levantou-se e foi em direção ao palco onde era aguardado com um certificado. Chegando lá sorriu e abraçou Bárbara: foi o abraço mais sincero que dera em sua vida. Olhou para o público e viu a emoção em seus olhos. Sorriu mais uma vez e preparou-se para fazer um discurso. Mas então uma coisa aconteceu. Uma coisa que marcaria para sempre a sua vida.
Caro leitor, eu havia dito que o destino de Byron estava marcado com torturante tristeza. As seguintes palavras acabou e destruiu com sua toda sua alegria:
- Byron Mason, você está preso!
ELIZABETH15/01/1985 - segunda -feira (1 ano depois) No tocante ao noticiário, eu simplesmente fiquei espantada. Nunca imaginei que um dia veria Byron sendo preso. O repórter mostrava fotos dele com algemas e uma roupa escandalosamente estúpida. Por tudo que ouvi, consegui ter uma breve noção da façanha que ele havia realizado. Assassinou uma mulher de idade, não por acasosua vizinha. Eu não a conhecia tão bem, mas o suficiente para tirar a conclusão de que ela não era uma má pessoa que deveria ser morta. Não soube como ele a matou, desliguei antes mesmo que a televisão me mostrasse o que eu não desejava ver. Respirei
Essa noite, posso dizer que foi uma das primeiras que acordei sem os choros de Sophie. Agradeci tanto, pois tinha que trabalhar e tive de acordar as seis horas da madrugada. Eu era gerente de uma loja de cosméticos, e isso significava que todas as responsabilidades caíamsobre mim. Fiquei muito tempo ausente e agora estava voltando a trabalhar. Quando acordei, mal tomei uma café da manhã decente e me arrumei com roupas confortáveis. Novamente tive que sair "voando", pois poderia chegar atrasada e não queria isso. A loja era em um shopping, nem tão perto de casa, porém era rápido de se chegar. O shopping era um dos melhores da cidade. Era simplesmente perfeito. As lojas eram todas arrumadas e até parecia que as pessoas eram mais bonitas. Haviam quatro andares, sendo que tinha duas pra&
- Claro que isso não tem nada a ver, idiota!- Se algo der errado eu te mato!As vozes iam ficando cada vez mais altas e eu não sabia onde estava, tudo ainda permanecia embaçado, entretanto eu conseguia ver algumas coisas. Um homem bem alto parou na minha frente e começou a me olhar. Eu não sabia o que fazer nem o que dizer. Ainda não conseguia ver direito, então não o reconheci.-
—Elizabeth, acorda!Uma voz parecia estar me chamando de um lugar bem distante, quando fui abrindo meus olhos consegui perceber que não era só um sonho. Era a voz de uma mulher, que tão logo reconheci ser daquela moça que havia falado comigo. Sua expressão não estava tão assustada, mas as suas mãos batiam fortemente na beira da minha cama. Tirei o lençol que estava em cima das minhas pernas e sentei na cama. Fiquei me perguntando quem me colocara confortavelmente naquela cama, com o lençol a cima de mim. Uma dor de cabeça me impedia de olhar diretamente para ela. Meu corpo inteiro doía igualmente.
BYRON 15/01/1999 - (14 anos depois)Quando Byron saiu da prisão, foi como se uma luz houvesse sido acessa. Pensar em passar o resto da vida preso num quarto com outros desconhecidos, com tempo para passeio com minutos contados era demais para ele. Sua imaginação, a arte que havia nele não havia morrido nesse tempo. Aliás, continuava vivíssima de certa forma, atrapalhando-o. Atrapalhando pois não podia pintar, então seus sentimentos se transformavam em uma angústia crescente, sem que ele pudesse fazer mais nada. Por mais que saiam dos quartos, não era a mesma coisa do que estar totalmente livre. Era uma prisão, literalmente. Vendo as mesmas coisas, as mesmas pessoas. Observando mais criminosos entrando e saindo. Ele já
Byron acordou sentindo-se renovado. Fazia muito tempo que ele não dormia em uma cama tão macia quanto a dele. Esse sentimento o lembrou de um positivismo que já fazia tempo que ele sentira. Eram oito horas da manhã e o telefone de Byron já estava tocando. Ele demorou para atender, pois ficou pensando se deveria fazer ou não. A vontade que ele tinha era de quebrar o telefone, mas não fez qualquer ato violento contra o aparelho. Apenas o atendeu.— Bom dia, Charles — Falou tentando mostrar para ele acabara de acordar. E não foi tão difícil, pois sentia dor de cabeça e sua voz denunciava isso. Estava muito irritado. Qual a necessidade de ligar essa hora? Pensou, esperava ser algo muito importante.— Desculpe-me por lhe acordar assim, mas... tem m
No próximo dia, novamente acordou com dor de cabeça tendo que ir tomar remédio de novo. Mas dessa vez não havia sido um pesadelo com a mulher e sim com alguns acontecimentos que havia tido que passar na cadeia. Não sabia até quando todo esse medo nem essa paranoia iria durar. Ele queria acreditar que isso pouco importava.Depois que levantou, foi tomar um banho rápido e bem quente, isso servia para relaxar e esquecer um pouco das coisas. Quando saiu se dirigiu imediatamente até a cozinha e pegou outro Whisky da geladeira, pegando também um copo logo em seguida. Quando abriu a garrafa lembrou que ainda não tinha comido nada e que isso faria muito mal. Então tomou café bem quente novamente, comendo bem pouco porque não estava com vontade. Olhou para o lado e aquele copo maravilhoso o esperava. Levant
Ele demorou para chegar em casa, ou pareceu demorar. Ficou o caminho todo pensando nela. Ele sentia que era estranho ter tanta consideração, porém acreditava que qualquer um depois de tudo isso sentiria interesse. Ele gostaria de saber se tudo era verdade, de conhecer o pai da garota. E de conhecê-la também, pra começar o nome pelo menos. Toda essa história parecia não ter cabimento nenhum porque ela pedira para não denunciar o pai. Porque se tudo fosse verdade ela estaria trabalhando nesse mundo da prostituição por causa do pai. Então por que não denunciá-lo? Ele temia que essa ceticismo dele fosse perigoso para ela. Byron estava muito confuso.Alguma coisa em sua mente dizia que tudo isso era uma brincadeira de criança, ou melhor, adolescente. E ele estava desperdiçando seu te