Para Byron, tudo foi muito rápido. E como muitas coisas nessa história não sabemos, deixo essa questão de lado pois sua importância não transparece grandiosidade. O que posso contar é que ele seguiu a ambulância e chegou no hospital um pouco atrasado. Byron apenas lembra-se de, de repente, estar na sala onde aconteceria o parto. Muito provável que ele tenha passado pela recepcionista e dito que era o pai da criança que estava prestes a nascer. Percebeu que estava nessa situação quando os olhos de Elizabeth encontraram os seus. A reação que Byron viu nos olhos dela foi de profunda decepção. Ou será que era surpresa? Ele jamais se encontraria em uma situação de avaliar os sentimentos dela novamente. Durante o momento onde ambos se olhavam, os médicos estavam agitados atrás, garantindo que tudo ocorresse bem.
A parteira que estava no quarto conversou de maneira carinhosa com Byron e Elizabeth, tratando como se fossem um casal, o que não era espantoso. Byron Mansfield havia dito mesmo que era o pai da criança, senão não estaria ali. E nos momentos seguintes, Elizabeth não disse nada além de chamá-lo e apertar fortemente sua mão durante os longos minutos que se passaram. O toque dela despertou um sentimento de segurança que havia tempos, Byron não sentia. E de repente, ele se permitiu viver aquele momento como se fosse dedicado à ele: como se fosse a sua mulher e o seu filho. Ele tinha consciência de que isso era bem pior do que uma falsa esperança, mas não teve forças para lutar contra esse pensamento que distorceu sua realidade durante aquele tempo.
Aquilo pareceu apagar tudo à sua volta. Passara rápido demais para ele, o parto já havia sido realizado e tão logo Elizabeth segurava a linda menina em seus braços. Sim, era uma menina! E Byron sentiu uma alegria imensa: por um momento se viu pensando nas características da menina quando crescesse e percebeu que a imagem que tinha dela era com suas características. Afastou com pavor esse pensamento de sua mente e voltou à realidade cinzenta. Seu sorriso sumiu na hora e se alguém estivesse observando, diriam que esse momento marcou o mais triste dos pecados e o mais obscuro futuro. Seu coração amargurou-se novamente e ele odiou Elizabeth e sua filha. Logo, sua consciência alertou: seu lugar não era ali. Sentiu-se agitado e sua mente deu voltas para tentar decidir como sair daquela situação. Olhou para Elizabeth e ela ainda segurava a filha: chorava e sorria ao mesmo tempo, uma explosão de sentimentos bons. Quando a mesma notou o olhar de Byron, sorriu para ele.
Pareceu o fim.
Aquele sorriso era tudo o que ele precisava para sua vida. Seu mais hediondo tormento poderia sim, ser curado. E estava naqueles lábios a razão de tudo, do céu e do inferno. A ira crescente explodiu em seu peito e nesse instante foi como se nunca estivesse ali: ele a amava. Byron a observou anestesiado durante um tempo. E novamente foi trazido bruscamente à realidade: precisava sair dali o mais rápido possível.
Byron suspirou e virou as costas prontamente. Caminhou até a porta e ignorou os olhares confusos de quem estava no quarto.
"Não vá". Uma voz suave, calma e suplicante chegou aos ouvidos de Byron. A delicadeza pareceu enfiar uma adaga em seu peito e ele recusou-se à olhar para trás. Byron sabia que Elizabeth compreendera o quanto ele ficara abalado com todo este acontecimento. E ele odiou a compreensão dela.
Saiu do quarto ouvindo Elizabeth dar explicações às médicas que ali estavam. Quase que imediatamente após sair do quarto, Byron viu um homem na sala de espera. Soube logo que era aquele que havia roubado toda a sua felicidade. Lágrimas surgiram em seus olhos e ele observou com melancolia o quanto o companheiro de Elizabeth não parecia estar aflito. Na verdade, esbanjava a maior tranquilidade que ele já vira. Pensou em largar a racionalidade e ética, mas deteve-se. Olhou profundamente em seus olhos e viu o mais obscuro ódio.
Byron saiu do prédio pensando o quanto a sua mente o enganava: o companheiro de Elizabeth não estava com ódio porque Byron não representava uma rivalidade.
Por que ele estava se torturando tanto?
Não havia resposta digna à essa pergunta.
♧♧♧
Byron chegou em casa com os pensamentos aflitos, transbordando dor. E ele deixou transbordar. Tratou de pegar uma tela, conjunto de tintas à óleo e produziu. Produziu a dor e o sofrimento. Cada traço, cada pincelada estava doente de amor, trazia uma marca inconfundível da Tragédia.
A tela que anteriormente estava branca e vazia, preencheu com as mais variadas cores. Cada lágrima formava um ritmo na pintura e de início, Byron acreditou que logo desistiria, não acreditava que nada de belo poderia sair de todo aquele sofrimento. Mas ele não desistiu. Lágrimas escorriam em seu rosto e a tinta escorria em sua tela, ambas em uma surpreendente sintonia. A arte, nada mais representou que seu sofrimento.
Byron passou horas rabiscando um esboço de sua alma e não sentiu o tempo passar. A fúria estava sendo depositada naquela pintura e por um momento aliviou, como minutos depois de um desabafo. O tempo foi passando e ele se sentiu cansado. Uma espécie de abulia tomou conta de seu corpo e ele só pensava em desabar em sua cama e nunca mais ter que encarar a vida novamente. Largou o pincel e fez questão de não olhar o quadro. Queria que todo seu sofrimento fosse exorcizado na pintura, mas tão logo percebeu que não acontecera. A dor estava ali, latente e mortal.
Mansfield caminhou até seu quarto e supriu-se com uma dose generosa de whisky. Caiu na cama como se ela fosse a solução para tudo e ficou lá. Cansado, amargurado e sem esperanças. Questionou o motivo de ter pintado: não adiantaria de nada, no máximo renderia algum dinheiro para ele manter seu vício. Ao pensar nisso, lembrou do concurso que fora convocado. Sorriu sutilmente e pensou não estar tão perdido assim. Adormeceu sob efeito do álcool e do cansaço, mas dessa vez com um ponto de esperança, um mínimo motivo (mas um motivo), para levantar amanhã.
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Acordou seis horas em ponto, com a cabeça latejando de dor. Quase imediatamente lembrou do compromisso e pesquisou em sua agenda. O concurso era para daqui dois dias. Tratou de levantar, tomou um banho quente e relaxante. Logo em seguida tomou uma aspirina e encheu um copo de Martini. Esses seus hábitos estavam fazendo com que ele perdesse peso muito rápido e de forma preocupante. Mas ele não percebia isso. Talvez notasse um pouco dos seus ossos cada vez mais proeminentes, mas nunca associara à falta de cuidado na sua alimentação. Seguiu então, sua rotina normal.
Parou na frente do quadro que começara. Havia tons de azul, roxo e vermelho vinho. Parecia uma catacumba com dimensões estéticamente perfeitas. O cenário era muito escuro e o preto era a cor principal. Mas havia um detalhe que o fez aproximar-se ainda mais para observar. Havia um suave tom de amarelo na parte superior direita, como se representasse uma luz. Seria a esperança?
Juntou os pincéis e as tintas e retomou o trabalho. Queria finalizá-lo ainda hoje. E foi assim que passou seu dia, tentando exorcizar a dor e surpreendendo-se com sua alta concentração e vontade de realizar o quadro.
No meio da tarde notou o quanto estava bêbado e percebeu que excedera demais o tanto que planejara beber. Deitou-se em sua cama exausto e riu com amargura: será essa esperança fruto da embriaguez? Adormeceu com uma dor ardente em seu peito e clamou para que não estivesse tão perdido quanto acreditava.
Durante o dia seguinte, Byron viveu um crescente otimismo. Conseguira terminar sua mais nova obra de arte e havia tido um incentivo por parte dos organizadores do concurso. Lembraram os pormenores e desejarem-lhe sorte. E mesmo que nos dias anteriores, ou meses, ele estivesse destruído, não houve o que tirasse a sua certeza: iria ganhar o concurso.No dia que antecedeu o esperado evento, Byron manteve-se sóbrio. Foi difícil, mas não impossível. Talvez porque ele passou a maior parte do tempo pensando em discursos, fantasiando prêmios e escolhendo a roupa. Saiu de última hora e comprou peças que faziam jus ao seu conhecido estilo: terno preto com gravata borboleta de vermelho sangue e provavelmente faria uma maquiagem que contornava grande parte de seus olhos. Essa sua aparência era um dos motivos por ser tão falado e vítima de curiosos.Durante a noite ele dormiu rapidamente, apesar da an
ELIZABETH15/01/1985 - segunda -feira (1 ano depois) No tocante ao noticiário, eu simplesmente fiquei espantada. Nunca imaginei que um dia veria Byron sendo preso. O repórter mostrava fotos dele com algemas e uma roupa escandalosamente estúpida. Por tudo que ouvi, consegui ter uma breve noção da façanha que ele havia realizado. Assassinou uma mulher de idade, não por acasosua vizinha. Eu não a conhecia tão bem, mas o suficiente para tirar a conclusão de que ela não era uma má pessoa que deveria ser morta. Não soube como ele a matou, desliguei antes mesmo que a televisão me mostrasse o que eu não desejava ver. Respirei
Essa noite, posso dizer que foi uma das primeiras que acordei sem os choros de Sophie. Agradeci tanto, pois tinha que trabalhar e tive de acordar as seis horas da madrugada. Eu era gerente de uma loja de cosméticos, e isso significava que todas as responsabilidades caíamsobre mim. Fiquei muito tempo ausente e agora estava voltando a trabalhar. Quando acordei, mal tomei uma café da manhã decente e me arrumei com roupas confortáveis. Novamente tive que sair "voando", pois poderia chegar atrasada e não queria isso. A loja era em um shopping, nem tão perto de casa, porém era rápido de se chegar. O shopping era um dos melhores da cidade. Era simplesmente perfeito. As lojas eram todas arrumadas e até parecia que as pessoas eram mais bonitas. Haviam quatro andares, sendo que tinha duas pra&
- Claro que isso não tem nada a ver, idiota!- Se algo der errado eu te mato!As vozes iam ficando cada vez mais altas e eu não sabia onde estava, tudo ainda permanecia embaçado, entretanto eu conseguia ver algumas coisas. Um homem bem alto parou na minha frente e começou a me olhar. Eu não sabia o que fazer nem o que dizer. Ainda não conseguia ver direito, então não o reconheci.-
—Elizabeth, acorda!Uma voz parecia estar me chamando de um lugar bem distante, quando fui abrindo meus olhos consegui perceber que não era só um sonho. Era a voz de uma mulher, que tão logo reconheci ser daquela moça que havia falado comigo. Sua expressão não estava tão assustada, mas as suas mãos batiam fortemente na beira da minha cama. Tirei o lençol que estava em cima das minhas pernas e sentei na cama. Fiquei me perguntando quem me colocara confortavelmente naquela cama, com o lençol a cima de mim. Uma dor de cabeça me impedia de olhar diretamente para ela. Meu corpo inteiro doía igualmente.
BYRON 15/01/1999 - (14 anos depois)Quando Byron saiu da prisão, foi como se uma luz houvesse sido acessa. Pensar em passar o resto da vida preso num quarto com outros desconhecidos, com tempo para passeio com minutos contados era demais para ele. Sua imaginação, a arte que havia nele não havia morrido nesse tempo. Aliás, continuava vivíssima de certa forma, atrapalhando-o. Atrapalhando pois não podia pintar, então seus sentimentos se transformavam em uma angústia crescente, sem que ele pudesse fazer mais nada. Por mais que saiam dos quartos, não era a mesma coisa do que estar totalmente livre. Era uma prisão, literalmente. Vendo as mesmas coisas, as mesmas pessoas. Observando mais criminosos entrando e saindo. Ele já
Byron acordou sentindo-se renovado. Fazia muito tempo que ele não dormia em uma cama tão macia quanto a dele. Esse sentimento o lembrou de um positivismo que já fazia tempo que ele sentira. Eram oito horas da manhã e o telefone de Byron já estava tocando. Ele demorou para atender, pois ficou pensando se deveria fazer ou não. A vontade que ele tinha era de quebrar o telefone, mas não fez qualquer ato violento contra o aparelho. Apenas o atendeu.— Bom dia, Charles — Falou tentando mostrar para ele acabara de acordar. E não foi tão difícil, pois sentia dor de cabeça e sua voz denunciava isso. Estava muito irritado. Qual a necessidade de ligar essa hora? Pensou, esperava ser algo muito importante.— Desculpe-me por lhe acordar assim, mas... tem m
No próximo dia, novamente acordou com dor de cabeça tendo que ir tomar remédio de novo. Mas dessa vez não havia sido um pesadelo com a mulher e sim com alguns acontecimentos que havia tido que passar na cadeia. Não sabia até quando todo esse medo nem essa paranoia iria durar. Ele queria acreditar que isso pouco importava.Depois que levantou, foi tomar um banho rápido e bem quente, isso servia para relaxar e esquecer um pouco das coisas. Quando saiu se dirigiu imediatamente até a cozinha e pegou outro Whisky da geladeira, pegando também um copo logo em seguida. Quando abriu a garrafa lembrou que ainda não tinha comido nada e que isso faria muito mal. Então tomou café bem quente novamente, comendo bem pouco porque não estava com vontade. Olhou para o lado e aquele copo maravilhoso o esperava. Levant