Marina,
Todos os meses venho até o túmulo da Luma visitá-la. Mesmo depois desse tempo todo, minha ficha ainda não caiu. Sempre fomos nós duas em tudo. Agora me sinto tão sozinha. Mesmo com o Dante, não tenho ninguém para conversar, para desabafar, para contar os meus segredos. Luma teve uma tromboembolismo pulmonar, um pequeno coágulo no começo, que foi aumentando depois. Processei o hospital, mas ainda está em andamento o processo. Ganhei a primeira instância, mas eles recorreram e estou esperando. A Karen, a esposa do vizinho que nos ajudou a levar a Luma para o hospital, fica com o Dante para que eu possa trabalhar na boate. Ainda sou apenas dançarina, o que está sendo um pouco apertado para mim, já que não ganho muito. Coloco a rosa sobre o túmulo dela, com lágrimas, me despeço da minha amiga. — Depois eu volto com mais fofoca... — Paro de falar para chorar. — Eu sinto tanto a sua falta, preciso muito de você. Não está sendo fácil, amiga, e se não fosse pelo Dante, eu me juntava a você agora mesmo. Me levanto e vou andando, limpando as minhas lágrimas. Preciso fazer a papinha do Dante antes de ir para a boate trabalhar. Espero que hoje eu tenha mais clientes vips, pois dançar só no palco, não está me rendendo nada. Chego em casa, e Karen vai embora. Ela sabe que todo mês eu vou visitar a Luma, e sempre fica com o Dante. Quero levar ele um dia no cemitério, mas ainda acho ele muito novinho. Fora que tenho medo que coma alguma coisa, já que está na fase que tudo que pega, coloca na boca. Dou vários beijos nele, fazendo ele rir, para alegrar o meu dia. Faço a papinha dele enquanto ele brinca com os bloquinhos na sala em cima do tapete. Coloco tudo na bolsa, e sigo para a casa da Karen. — Marina, sei que a situação está difícil, por isso posso te dar uma dica? — Concordo com a cabeça. — Vai até uma agência, tenta um emprego de faxineira. Lá não é todos os dias, a não ser que você queira, mas você pode ir no dia que a boate não der dinheiro para você. — Assim vou acabar não tendo tempo para o Dante, Karen, e eu não quero ser a mãe que visita, quero fazer parte da vida dele de verdade. — Eu sei, e você não vai ser, pois pode trabalhar uma vez na semana, ou duas, você escolhe os dias. Você limpa, pega o dinheiro, e vai embora. — Me passa o endereço da agência. Amanhã, assim que sair da boate, eu passo lá. — Entramos na casa dela, e eu coloco o Dante no chão e a bolsa em cima da cadeira. Ela anota e me entrega o papel. Bom, vou me desdobrar em três: dançarina, faxineira e mãe, mas não vou deixar meu filho passar por nenhuma necessidade. Agradeço a ela, e sigo direto para a boate. Trabalho a noite toda só no palco, e isso só me rendeu 150 dólares. Se a faxina me der mais dinheiro, pode ser que eu largue essa vida de vez. O dia amanhece, e eu vou direto para a agência. Dou o meu nome e minto que tenho experiência. Afinal, quem não sabe faxinar uma casa? — Certo, então, pode começar hoje? Já vai levar o dinheiro assim que terminar. — Posso sim, claro. Mas, quanto é uma faxina? — Duzentos dólares nas casas normais, mas o senhor Forth paga bem, então, se deixar tudo limpinho e impecável do jeito que ele gosta, te pago 300 dólares, pois trabalhamos com 50% para nós e 50% para você. Concordo com ela, e já fico feliz, pois vai ser 450 dólares que terei em um dia. Ela me entrega os produtos de limpeza e fala onde ficam os produtos na casa do senhor Forth. Pego o endereço, e sigo para a casa dele. Casa não, mansão. Acho que vou passar o dia todo limpando essa casa, por isso ele paga bem. Mas, ao entrar, vejo uma lista em cima da mesinha, onde tem escrito tudo que eu tenho que fazer. Não é muito, pois a casa já está limpa, parecendo um espelho. É só tirar pó, aspirar o chão e passar pano. Começo pelos quartos, vou para a cozinha e por último, limpo a sala. Passou da hora do almoço, mas eu vou comer só quando chegar em casa com o meu filho. Começo a tirar pó dos móveis, até que pego um porta-retrato para limpar, e fico paralisada. — Meu Deus, é ele... É o pai do Dante... — Passo pano na foto, tentando fazer uma mágica para mudar o rosto, mas não tem como, é ele mesmo. Ele foi o primeiro cliente que me ofereceu muito dinheiro para fazer programa com ele. Esse olhar, essa expressão, não vi em mais ninguém. E se ele souber que o Dante existe? Se ele quiser tirar o Dante de mim? O que vai me sobrar? Coloco o porta-retrato no lugar, volto a limpar com pressa, para que eu não dê de cara com ele. Termino a faxina, e saio quase correndo da casa dele. Nunca mais eu volto aqui, não vou correr o risco. Volto para a agência, e assim que eu chego, a gerente já estende o meu dinheiro na mão. — Ele gostou do seu trabalho, pediu para você voltar a semana que vem. Disse que viu você saindo, mas não deu tempo de te dar o dinheiro. — Eu posso escolher não ir lá mais? Fica um pouco longe e... — Você viu ele lá? — Nego com a cabeça. — Então me explica. — É que... é que eu sou melhor fazendo faxina de empresas, sabe, de casa eu sou mais lenta. — Ah, ok! Se quiser trabalhar amanhã de novo, te mando para uma empresa. Tem mais chão para limpar, mas pelo menos é só passar o pano e varrer se tiver alguma sujeira. — Acho melhor, então, amanhã eu volto aqui. Muito obrigada, esse dinheiro vai me ajudar muito. Ela pega um papel e anota o endereço, manda eu já ir direto para lá logo pela manhã. Nos despedimos, e eu sigo direto para o mercado. Preciso comprar algumas coisas do meu pequeno príncipe e me preparar para trabalhar amanhã na empresa... Espera, ela não me deu o nome do cliente, apenas o endereço...Ethan,Saio da boate e vou direto para minha casa. Não estou satisfeito, pois eu queria a dançarina, e não a amiga dela. Pensei que ela sentiria até ciúmes, mas não, ela nem ligou por eu levar outra para o quarto. O pior de tudo foi a camisinha ter estourado, mas, como ela disse que toma remédio, eu não preciso me preocupar.Pela manhã, faço a minha higiene matinal e vou direto para a empresa. Preciso valer a minha estadia aqui, para não ter que voltar para a Califórnia. Mas, acho que alguns aqui nem sabiam da minha chegada, já que estão me olhando espantados. Entro na minha sala, e tem um homem sentado nela. Ergo uma sobrancelha, e cruzo os braços.— Em que posso ajudar? — Ele me pergunta, como se não soubesse quem sou eu. Seu olhar me deixa irritado, pois parece até que eu não sou ninguém.— Pode, pode me ajudar se retirando da minha cadeira. Sou Ethan Forth, e sou o CEO da empresa. — Ele arregala os olhos e se levanta. Passo por ele, bato a mão na cadeira e me sento.— Eu não sabia
Ethan,Olho para os seus lábios, que me dá uma vontade enorme de beijar. Mas, quando eu me aproximo, ela vira o rosto e se solta da minha mão.— Desculpa, eu tenho que ir. Ainda tenho muito chão para limpar.— Espera. — Fico na frente da porta para ela não passar. — Te procurei em todas as boates. Onde você estava?— Aquela boate fechou. Tive que ir para outra. Estou agora na Southern Lights Club.— Trabalha lá e aqui? — Ela nega com a cabeça. — Não entendi. Então, porque está aqui na minha empresa?— Sou de uma agência. Eles me mandaram para cá. Bom, senhor, me deixe passar. Como eu disse, ainda tenho muito chão para limpar, e à noite ainda tenho que ir para a boate.— Quanto você ganha lá por dia?— Depende dos clientes.— Te pago 500 dólares para dançar para mim essa noite.— Passa lá na boate à noite, aí eu danço. Porém, como eu disse da primeira vez, eu não faço programa, só danço.— Se eu der mil dólares, você dança na minha casa? — Ela nega com a cabeça. Bufo e reviro os olhos,
Marina,— O senhor é muito atirado, e é o tipo de homem que eu devo correr. — Ele fica sem entender, e para me olhando com uma expressão de desentendido. — Sei que deve falar isso para todas as mulheres. Então, peço que volte a se sentar na cadeira para que eu possa trabalhar.— Eu não preciso dizer isso a mulher nenhuma, já que todas se jogam em cima de mim. Porque você é diferente?— Eu sei que o trabalho aqui não é digno, mas não quero me sujar mais do que isso. Você pode ficar pelado, pode bater punheta ou fazer o que quiser, desde que fique em seu lugar. Não sou garota de programa, mesmo trabalhando aqui. Sou uma dançarina de pole dance, e isso é tudo.Ele levanta as mãos em forma de rendição, e volta a se sentar na cadeira. Fecha a calça e coloca uma perna em cima da outra. Seguro na barra de ferro, e volto a dançar.Algumas horas depois, minhas pernas começam a doer, mas vai valer a pena o dinheiro que vou ganhar dele. Vou poder pagar o meu aluguel, pagar a Karen e comprar algu
Marina,Olho para a mão dele que está estendida, esperando para que eu toque. Penso, penso, até que resolvo aceitar. Levanto a minha mão e toco na dele.— Eu vou te respeitar, você vai decidir as regras, pode deixar.— Assim eu espero. — Ele se levanta e pega na minha mão, fazendo eu me levantar também. Segura em minha cintura, e me dá um beijo no rosto.— Vamos embora, não precisa ficar mais aqui presa.— Tem certeza? Você pagou...— Eu sei, mas você se machucou, vamos embora. Espera, me dá seu número de celular primeiro. — Ele me dá o celular dele, e eu anoto o meu número e entrego para ele. Ele segura na minha mão, e vai me levando devagar até a saída da sala. Beija a minha mão, e vai embora. Fico sem entender muito bem tudo que aconteceu aqui dentro.Fui apenas para dançar para ele a noite toda, e saí com uma proposta de ser sua namorada de mentirinha. Já ouvi falar que todo rico é doido, mas esse, passou dos limites. Subo no palco, e continuo o meu trabalho, afinal, não posso ir
Ethan,Está com ela no momento que o meu pai me ligou, foi perfeito. Se fosse combinado, não teria dado tão certo. Bom, vou juntar o útil ao agradável. Vou tirar meu pai da minha cola, e de prêmio, vou conhecer melhor a Marina e tê-la sempre ao meu lado, sempre que eu quiser.Chego em casa, tomo um banho, e me deito para dormir um pouco. Depois de conversar com ela, estou até com o corpo mais relaxado. Mal fecho os meus olhos e já sou despertado com o meu celular tocando. Atento sem abrir os olhos.— Estaremos saindo daqui de madrugada para ir na sua casa conhecer a sua namorada. — Meu pai fala sério na linha. — Mas se você estiver mentindo, se prepare, pois vou bloquear a metade do dinheiro que você tem no banco, isso se eu não tirar logo tudo.— Pai, o senhor é muito controlador. Porque não deixa eu viver a minha vida do jeito que eu quero? — Ele fica mudo na linha por um tempo, mas quebra o silêncio quando eu o chamo.— Eu já fui como você, já fiz tudo isso que você está fazendo. E
Marina,A mãe dele é um amor, tão fofinha, parece até um docinho em forma de pessoa. Mas o pai dele, parece mais um carrasco. Não me lembro dos meus pais, não sei se eram desse jeito comigo antes de me deixarem no orfanato, mas se eu tivesse um pai desse, eu faria a mesma coisa que o Ethan, sumiria no mundo.— Me responda, Marina.— O senhor está equivocado, Ethan não me pagou nada. — Me sinto mal por estar mentindo, mas eu já fiz um acordo com o Ethan. Não posso quebrar assim. Fora que eu não sei o que esse pai vai fazer com ele, caso descubra a verdade. — Ethan, eu vou embora. Depois você me liga e a gente conversa.— Não precisa ir embora... — A mãe dele fala, se levantando do sofá e ficando na minha frente. — James vai parar com essas coisas, não vai, James?Olho para ele, que levanta as mãos em forma de rendição, mas para falar a verdade, eu não estou confortável aqui. Não deveria ter aceitado esse acordo. Deveria ter negado, e ter ficado com o meu filho em casa.— Mesmo assim, a
Marina,Ao chegarmos, ele desce primeiro e abre a porta para mim, pega a bolsa e me conduz até a porta de entrada. Ele a abre, e me leva até a sala, onde os dois estão sentados. Eles olham para mim, e os olhos da mãe dele seguem direto para o Dante.— Quem é esse pequeno? — Ela se levanta e se aproxima mais de nós.— Ele é meu filho. — Ela olha para trás, para o pai do Ethan, e volta a olhar para mim.Ela estende a mão pedindo para pegar ele no colo, e mesmo apreensiva, eu deixo, já que o Dante logo sorri, se arreganhando para ela.— Nossa, ele é igualzinho ao Ethan quando era bebê. — Meu coração para de bater. Eu preciso sair daqui, ir para bem longe com o meu filho. O pai dele se levanta e se aproxima de nós dois, e olha bem para o Dante.— É seu filho, Ethan?— Não, mas considero como se fosse, já que é filho da minha namorada. — Fecho os meus olhos e sinto o suor escorrendo na lateral da minha testa. Parece que tudo está desmoronando sobre a minha cabeça. — Mas a semelhança é apen
Ethan,Ela olha de um lado para o outro antes de responder, mas eu não saio sem sua resposta. Preciso ver ela dançando, preciso dela como um sedento precisa de água.— Eu não sei, não quero transformar a minha casa em um bordel. Meu filho mora aqui, e eu não quero desrespeitá-lo.— Não vai, você diz que não faz programa, e não vai fazer. Você só vai dançar. Por favor, me deixe te ver pelo menos dançando, já que não posso te ver de outro jeito, e nem te tocar da forma que eu quero. — Seguro em seu queixo, e ela abaixa a cabeça sorrindo. — Eu pago essa dança, o valor que você pedir.— Tá, vou dançar. Me espera aqui sentado e não se mexa. — Me sento no sofá, e ela segue para o quarto. Tô doido para fumar, mas, não posso fazer isso aqui na casa dela. Um dia vou fazer ela dançar para mim na minha casa, assim vou me sentir mais à vontade.— Vou lá fora rapidinho fumar.Quando eu penso em me levantar, ela aparece com um sobretudo preto e um salto. Fico animado, mas ficaria mais se por debaix