Marina,
Corro até ela e a chamo. Ela olha para trás. Vejo o quanto preocupada ela está. — O que está acontecendo? — Aquele cara lá... Má, estourou a camisinha. — Mas você não toma o remédio? — E se não funcionar? Imagina eu, sendo mãe? Mãe prostituta? Que futuro essa criança vai ter? — Ela passa a mão nos cabelos, e fica pensativa. — Apesar que é meu sonho ser mãe. Aliás, de todas as mulheres, né? — Nem de todas. Se fosse, nós duas não teríamos sido largadas em um orfanato. — Abaixo a minha cabeça, e ela se aproxima de mim e me abraça forte. Ela nunca falou dos pais dela. Não sei se é porque ela é forte e eles realmente não fazem falta na vida dela, ou ela não fala para não me deixar mais deprimida. — Vamos fazer assim. Vou confiar no remédio. Se tiver que acontecer, vai, e nós duas seremos as melhores mães do mundo. Tudo bem? Só que vamos trabalhar bastante, para que eu não tenha que vir grávida e nem pese nas nossas contas. Concordo com ela, e ela parece aliviada. Voltamos à rotina do nosso trabalho. Porém, depois de dois meses, fizemos o teste de gravidez, e deu positivo. Compramos cinco só para ter certeza mesmo, e depois fizemos um exame de sangue e ultrassom. — Grávida. Agora, vamos ter que trabalhar dobrado. Não sei como vai ser, mas ele será muito amado. — Vai sim, Lu. Vamos dar para ele ou ela tudo que não tivemos. Os meses vão se passando, e nos duas trabalhamos muito. A boate fechou, e tivemos que correr atrás de outra. Nossa maior sorte é que a Luna é bem magrinha, e com isso a barriga dela demorou quase sete meses para aparecer uma barriga de grávida de verdade. Chegamos aos nove meses de gestação, e já temos tudo pronto para a chegada do nosso filho. Há, decidimos o nome dele e já tem até algumas coisas personalizada. Ele se chamará Dante, pois Luma queria um nome forte, para que ele não se sentisse fraco, que fosse alguém importante na vida. — Marinaaa... A bolsa estourou! — Ela me grita de madrugada, e eu me levanto com tudo da cama, seguro em sua cintura, e ela passa os braços sobre meu ombro. — Que dor da porrä, não foi assim para fazer... Ahhh... Até nos momentos doloridos ela fica de gracinha. Chamo um vizinho nosso que tem carro, e peço para ele nos levar ao hospital. A mulher dele vem junto, pois sabe com o que trabalhamos, mas ela viu o estado da Luma. Chegamos ao hospital, e Luma não para de gritar. Quando descemos do carro, vejo sangue escorrendo nas pernas dela. Isso me assusta, porém nunca vi um parto, não sei como é. Um enfermeiro chega com uma cadeira de rodas, e leva ela para dentro às pressas, e eu vou correndo bem atrás dele. Luma sofre demais, e a sensação de que tem alguma coisa errada começa a tomar conta de mim. Tento não demonstrar meu medo, mas a cada grito que ela dá, mais o meu coração aperta. Passamos o dia, a noite, e somente no outro dia de manhã, ele nasce. Ele é enorme, bem gordinho e grande. Agora entendi o porquê ela sofreu tanto. Ela fecha os olhos depois do parto, e a médica diz que ela vai descansar no pós-parto. Subo para a parte neonatal, e fico olhando o nosso bebê. Ele é grande demais, o maior entre todos os outros que estão aqui. A pediatra me deixa entrar e pegar ele no colo. Ela diz que, apesar do tamanho dele, aparenta ser um bebê muito saudável, mas ainda vai fazer alguns exames nele. As horas vão se passando, e enfim a médica me chama para ir para o quarto, pois a Luma já está lá. Só que, ao ver a minha amiga, a sensação de que tem algo errado volta. — Você está bem? — Não, acho que eu pari meus órgãos junto com o bebê, não é possível. Tá tudo doendo. — Vou chamar a médica. — Dou um beijo na testa dela e chamo a médica para ver o que ela tem. Ela examina, e percebe que ela está sangrando. Mas, diz ser normal nos primeiros meses depois do parto. Mas, isso não me deixa em paz, pois a boca da Luma está mais branca que papel. As horas vão se passando, e o Dante é trazido para o quarto junto com um bercinho de rodinhas. Luma mal consegue se sentar para pegar ele, então o amamenta deitada. Dois dias depois, ela recebe alta do hospital, mesmo não se sentindo bem. Mesmo eu pedindo para ela falar com a médica, ela se recusa a ficar mais um dia presa aqui dentro. Saímos com os documentos, e antes de irmos para casa, ela pede para irmos ao cartório, para registrar o Dante no nosso nome. Levo ele no meu colo, enquanto ela vai andando como se fosse uma velhinha, se escorando em tudo. Pegamos a senha, nos sentamos, e esperamos. (...) Voltamos para casa com o Dante registrado em nosso nome, como se nós duas fôssemos um casal de lésbicas. Luma até pegou na minha mão, fazendo cara de apaixonada só para convencer o moço que a gente realmente somos um casal. Chegamos em casa, e eu levo o Dante direto para o berço, já que ele está dormindo. E volto para a sala, para ficar com a Luma e ver se ela precisa de alguma coisa. — Marina, meu peito tá doendo... Eu... não consigo... — Ela começa a puxar o ar, e eu entro em desespero. Corro até a rua, e bato na porta do vizinho de novo, para levar a gente ao hospital novamente. Pego o Dante, e a mulher pede para segurar ele. Pego na mão da Luma e seguimos para o hospital às pressas. No caminho, sinto ela apertando a minha mão com força. — Aguenta, Lu, por Deus, aguenta só mais um pouco que já estamos chegando. — O carro para, e assim que o nosso vizinho desce para chamar o médico, a Luma fala. — Cu... cuida b...bem do Dante... — Ela revira os olhos e desaperta a minha mão. — NÃO... LUMA NÃO....Marina,Todos os meses venho até o túmulo da Luma visitá-la. Mesmo depois desse tempo todo, minha ficha ainda não caiu. Sempre fomos nós duas em tudo. Agora me sinto tão sozinha. Mesmo com o Dante, não tenho ninguém para conversar, para desabafar, para contar os meus segredos.Luma teve uma tromboembolismo pulmonar, um pequeno coágulo no começo, que foi aumentando depois. Processei o hospital, mas ainda está em andamento o processo. Ganhei a primeira instância, mas eles recorreram e estou esperando.A Karen, a esposa do vizinho que nos ajudou a levar a Luma para o hospital, fica com o Dante para que eu possa trabalhar na boate. Ainda sou apenas dançarina, o que está sendo um pouco apertado para mim, já que não ganho muito. Coloco a rosa sobre o túmulo dela, com lágrimas, me despeço da minha amiga.— Depois eu volto com mais fofoca... — Paro de falar para chorar. — Eu sinto tanto a sua falta, preciso muito de você. Não está sendo fácil, amiga, e se não fosse pelo Dante, eu me juntava a
Ethan,Saio da boate e vou direto para minha casa. Não estou satisfeito, pois eu queria a dançarina, e não a amiga dela. Pensei que ela sentiria até ciúmes, mas não, ela nem ligou por eu levar outra para o quarto. O pior de tudo foi a camisinha ter estourado, mas, como ela disse que toma remédio, eu não preciso me preocupar.Pela manhã, faço a minha higiene matinal e vou direto para a empresa. Preciso valer a minha estadia aqui, para não ter que voltar para a Califórnia. Mas, acho que alguns aqui nem sabiam da minha chegada, já que estão me olhando espantados. Entro na minha sala, e tem um homem sentado nela. Ergo uma sobrancelha, e cruzo os braços.— Em que posso ajudar? — Ele me pergunta, como se não soubesse quem sou eu. Seu olhar me deixa irritado, pois parece até que eu não sou ninguém.— Pode, pode me ajudar se retirando da minha cadeira. Sou Ethan Forth, e sou o CEO da empresa. — Ele arregala os olhos e se levanta. Passo por ele, bato a mão na cadeira e me sento.— Eu não sabia
Ethan,Olho para os seus lábios, que me dá uma vontade enorme de beijar. Mas, quando eu me aproximo, ela vira o rosto e se solta da minha mão.— Desculpa, eu tenho que ir. Ainda tenho muito chão para limpar.— Espera. — Fico na frente da porta para ela não passar. — Te procurei em todas as boates. Onde você estava?— Aquela boate fechou. Tive que ir para outra. Estou agora na Southern Lights Club.— Trabalha lá e aqui? — Ela nega com a cabeça. — Não entendi. Então, porque está aqui na minha empresa?— Sou de uma agência. Eles me mandaram para cá. Bom, senhor, me deixe passar. Como eu disse, ainda tenho muito chão para limpar, e à noite ainda tenho que ir para a boate.— Quanto você ganha lá por dia?— Depende dos clientes.— Te pago 500 dólares para dançar para mim essa noite.— Passa lá na boate à noite, aí eu danço. Porém, como eu disse da primeira vez, eu não faço programa, só danço.— Se eu der mil dólares, você dança na minha casa? — Ela nega com a cabeça. Bufo e reviro os olhos,
Marina,— O senhor é muito atirado, e é o tipo de homem que eu devo correr. — Ele fica sem entender, e para me olhando com uma expressão de desentendido. — Sei que deve falar isso para todas as mulheres. Então, peço que volte a se sentar na cadeira para que eu possa trabalhar.— Eu não preciso dizer isso a mulher nenhuma, já que todas se jogam em cima de mim. Porque você é diferente?— Eu sei que o trabalho aqui não é digno, mas não quero me sujar mais do que isso. Você pode ficar pelado, pode bater punheta ou fazer o que quiser, desde que fique em seu lugar. Não sou garota de programa, mesmo trabalhando aqui. Sou uma dançarina de pole dance, e isso é tudo.Ele levanta as mãos em forma de rendição, e volta a se sentar na cadeira. Fecha a calça e coloca uma perna em cima da outra. Seguro na barra de ferro, e volto a dançar.Algumas horas depois, minhas pernas começam a doer, mas vai valer a pena o dinheiro que vou ganhar dele. Vou poder pagar o meu aluguel, pagar a Karen e comprar algu
Marina,Olho para a mão dele que está estendida, esperando para que eu toque. Penso, penso, até que resolvo aceitar. Levanto a minha mão e toco na dele.— Eu vou te respeitar, você vai decidir as regras, pode deixar.— Assim eu espero. — Ele se levanta e pega na minha mão, fazendo eu me levantar também. Segura em minha cintura, e me dá um beijo no rosto.— Vamos embora, não precisa ficar mais aqui presa.— Tem certeza? Você pagou...— Eu sei, mas você se machucou, vamos embora. Espera, me dá seu número de celular primeiro. — Ele me dá o celular dele, e eu anoto o meu número e entrego para ele. Ele segura na minha mão, e vai me levando devagar até a saída da sala. Beija a minha mão, e vai embora. Fico sem entender muito bem tudo que aconteceu aqui dentro.Fui apenas para dançar para ele a noite toda, e saí com uma proposta de ser sua namorada de mentirinha. Já ouvi falar que todo rico é doido, mas esse, passou dos limites. Subo no palco, e continuo o meu trabalho, afinal, não posso ir
Ethan,Está com ela no momento que o meu pai me ligou, foi perfeito. Se fosse combinado, não teria dado tão certo. Bom, vou juntar o útil ao agradável. Vou tirar meu pai da minha cola, e de prêmio, vou conhecer melhor a Marina e tê-la sempre ao meu lado, sempre que eu quiser.Chego em casa, tomo um banho, e me deito para dormir um pouco. Depois de conversar com ela, estou até com o corpo mais relaxado. Mal fecho os meus olhos e já sou despertado com o meu celular tocando. Atento sem abrir os olhos.— Estaremos saindo daqui de madrugada para ir na sua casa conhecer a sua namorada. — Meu pai fala sério na linha. — Mas se você estiver mentindo, se prepare, pois vou bloquear a metade do dinheiro que você tem no banco, isso se eu não tirar logo tudo.— Pai, o senhor é muito controlador. Porque não deixa eu viver a minha vida do jeito que eu quero? — Ele fica mudo na linha por um tempo, mas quebra o silêncio quando eu o chamo.— Eu já fui como você, já fiz tudo isso que você está fazendo. E
Marina,A mãe dele é um amor, tão fofinha, parece até um docinho em forma de pessoa. Mas o pai dele, parece mais um carrasco. Não me lembro dos meus pais, não sei se eram desse jeito comigo antes de me deixarem no orfanato, mas se eu tivesse um pai desse, eu faria a mesma coisa que o Ethan, sumiria no mundo.— Me responda, Marina.— O senhor está equivocado, Ethan não me pagou nada. — Me sinto mal por estar mentindo, mas eu já fiz um acordo com o Ethan. Não posso quebrar assim. Fora que eu não sei o que esse pai vai fazer com ele, caso descubra a verdade. — Ethan, eu vou embora. Depois você me liga e a gente conversa.— Não precisa ir embora... — A mãe dele fala, se levantando do sofá e ficando na minha frente. — James vai parar com essas coisas, não vai, James?Olho para ele, que levanta as mãos em forma de rendição, mas para falar a verdade, eu não estou confortável aqui. Não deveria ter aceitado esse acordo. Deveria ter negado, e ter ficado com o meu filho em casa.— Mesmo assim, a
Marina,Ao chegarmos, ele desce primeiro e abre a porta para mim, pega a bolsa e me conduz até a porta de entrada. Ele a abre, e me leva até a sala, onde os dois estão sentados. Eles olham para mim, e os olhos da mãe dele seguem direto para o Dante.— Quem é esse pequeno? — Ela se levanta e se aproxima mais de nós.— Ele é meu filho. — Ela olha para trás, para o pai do Ethan, e volta a olhar para mim.Ela estende a mão pedindo para pegar ele no colo, e mesmo apreensiva, eu deixo, já que o Dante logo sorri, se arreganhando para ela.— Nossa, ele é igualzinho ao Ethan quando era bebê. — Meu coração para de bater. Eu preciso sair daqui, ir para bem longe com o meu filho. O pai dele se levanta e se aproxima de nós dois, e olha bem para o Dante.— É seu filho, Ethan?— Não, mas considero como se fosse, já que é filho da minha namorada. — Fecho os meus olhos e sinto o suor escorrendo na lateral da minha testa. Parece que tudo está desmoronando sobre a minha cabeça. — Mas a semelhança é apen