No dia seguinte era sábado, mas Kevin tinha o costume de acordar cedo, a fim de aproveitar bastante as horas do dia. Então se espreguiçando e olhando pela janela o lindo céu azul, ele se levantou e foi até o quarto de Fiona a fim de ver se estava tudo bem, e se ela já tinha despertado. Vendo ele que ela ainda estava em seu sono tranquilo, como o de todas as noites, ele foi até o banheiro escovar os seus dentes e posteriormente até a cozinha para preparar o seu café da manhã e os alimentos, tanto de Antônia quanto de Fiona para quando elas acordassem.
Quando os raios dourados do sol entraram pelo quarto de Fiona, eles causaram uma claridade tão intensa que foi o suficiente para despertar a criança que parecia estar em um sono profundo. Quando ela abriu os seus pequenos olhos, ela olhou para a janela e viu que tinha um beija flor batendo rapidamente as suas asas enquanto bebia um pouco de água do recipiente que Kevin sempre colocava pendurado próximo à sua janela, de modo que ela acorde tendo essas lindas visões da natureza. Próximo ao beija flor, tinha uma árvore que era muito querida por Fiona, pois ela conseguia acompanhar o crescimento desde que a árvore tinha sido plantada. A cada estação do ano que chegava, ela observava as mudanças que aconteciam com aquela árvore, como no outono quando ela ficava com as folhas amareladas, as quais se desprendiam de seus caules e galhos mais grossos. Na primavera, Fiona percebia que a árvore ficava ainda mais bonita e colorida, devido aos botões de flores que ela abria, atraindo uma abelha ou outra.
Ter esse contato com a natureza nas primeiras horas da manhã era crucial para que Fiona mantivesse a sua alegria de viver, e o seu bom humor para ver o rosto de Antônia todos os dias em sua casa lhe tratando com desdém na maioria das vezes, e fazendo com que Fiona se lamentasse que o seu pai deveria estar casado com uma mulher melhor, que gostasse mais dele e também dela.
Quando Fiona se levantou, foi caminhando para a cozinha a fim de tomar o seu café da manhã. Chegando até a entrada do cômodo, ela logo abriu um sorriso, pois viu que Antônia ainda estava dormindo e, por isso, ela poderia curtir aquele momento somente com o seu pai.
Após Kevin preparar um copo de leite misturado a duas colheres e meia de achocolatado e entregar a Fiona, ela sentiu água na boca de sentir aquele cheiro maravilhoso que a fazia se despertar e ter mais energia para curtir as próximas horas de seu dia. Ao levar o copo até a boca, Fiona deu o primeiro gole naquele achocolatado que descia em uma temperatura muito agradável pela sua garganta.
Mas logo o seu momento de alegria foi pausado, quando ela ouviu de seu pai:
– Filha, hoje eu quero que você se comporte, pois vou sair para uma reunião de trabalho. Ainda não tenho certeza, mas devo passar o dia inteiro fora de casa. E você vai ter que ficar com a Antônia.
A alegria, que em momentos antes tomava conta do semblante de Fiona, foi transformada em uma grande decepção, pois, pior do que ficar com o seu pai e a Antônia em casa era ficar somente com a Antônia. Se ela já não a tratava bem nos dias que Kevin estivesse perto, em sua ausência poderia ser muito pior.
Ao longo do dia, depois que Kevin saiu para se encontrar com o seu chefe em uma cidade que ficava a meia hora do local onde eles moravam, Antônia foi até a cozinha preparar o almoço, pois segundo Kevin, Fiona não poderia ficar sem comer. Então apenas para agradar o seu marido, Antônia pensou em preparar um prato apenas para Fiona. Entretanto, ela não queria ter muito trabalho, pois queria se sentar novamente no sofá para assistir a sua serie favorita, enquanto Fiona estivesse brincando silenciosamente em seu quarto.
Depois de preparar um prato de macarrão instantâneo sem muito molho, Antônia foi caminhando até o quarto de Fiona e sem bater na porta, tocou a maçaneta e a abriu com um pouco de brutalidade, de modo que Fiona não ousasse desobedecê-la e que ela fosse imediatamente para a cozinha a fim de almoçar.
Atendendo ao pedido de seu pai, Fiona acompanhou Antônia até a cozinha, e colocando em seu prato uma porção daquele macarrão que não estava nem um pouco apetitoso, ela se sentou na cadeira, pegou um garfo, e enrolando-o nos fios do macarrão, ela o levou até a boca e comeu.
Quando Fiona se levantou da cadeira e estava caminhando de volta para o seu quarto, viu que Antônia estava na sala conversando com alguém através de mensagens instantâneas pelo celular. E enquanto ela digitava o seu texto, ela sorria para o telefone, como se estivesse muito feliz por estar conversando com alguém que Fiona ainda não sabia quem era, pois o seu pai não costumava utilizar esse tipo de aplicativo. Na verdade, Kevin não apreciava o uso contínuo de telefones celulares como a maioria das pessoas faz, pois ele sempre disse que isso pode se transformar em um vício e gerar ansiedade nas pessoas.
Vendo que a tarde já estava caindo e que o seu pai ainda não tinha dado noticias, o coração de Fiona começou a ficar disparado, pois ela se sentiu rodeada pela preocupação e pelo medo que sempre a atormentava por ter perdido a sua mãe quando ela ainda tinha poucos anos de nascida. Por isso, Fiona ficou acompanhando o relógio, a cada sessenta minutos que os ponteiros do relógio completavam, ela ficava cada vez mais nervosa, até que o seu sofrimento acabou quando ela ouviu o telefone tocar. E quando os seus pequenos dedos envolveram o aparelho e o levaram até o seu ouvido, ela se sentiu em paz quando ouviu a voz de seu pai. Entretanto, a notícia que o fez ligar não era das melhores, pois ele disse:
– Filha, eu tenho que te falar uma coisa. Aqui onde estou está chovendo demais e as ruas ficaram alagadas. Não vou conseguir voltar para casa essa noite. Mas você pode pedir para que Antônia leia histórias para você.
Fiona não conseguia dizer uma só palavra para o seu pai, pois tanto ela quanto ele sabiam o tamanho da importância em pegar no sono sob os cuidados de alguém que a amava. Então, por mais que Kevin pedisse para que Antônia lesse para Fiona, ele já imaginava que Fiona jamais pediria isso a sua madrasta.
Alguns minutos depois, Fiona foi até a sala entregar o telefone para que Antônia falasse com Kevin, pois provavelmente ele estava querendo avisá-la que só voltaria no dia seguinte para casa. Pegando o controle remoto e pausando a programação a qual ela assistia de modo empolgado, ela pegou o telefone da mão de Fiona e atendeu Kevin, ouvindo atentamente a tudo o que ele dizia, tendo Fiona como testemunha.
Depois de desligarem o telefone, Antônia o entregou de volta para Fiona e disse a ela que quando o relógio soasse as vinte e duas horas, que ela deveria ir dormir, mesmo que ela não falasse nada sobre isso, pois ela deveria ter responsabilidade, visto que ela tinha nove anos. E complementou, dizendo:
– Não vou ler historinhas para você dormir, pois isso não é necessário. Coloque um vídeo que tenha algum tipo de som que te relaxe. Isso vai ser o bastante.
Para não terem que trocar palavras, Fiona apenas assentiu com a cabeça e voltou para o seu quarto.
Ficando atenta ao relógio e não querendo ter problemas nem discussões com a sua madrasta, ela viu que os ponteiros informavam que era hora de dormir, pois eram vinte e duas horas. Deixando os seus brinquedos espalhados pelo chão do seu quarto, Fiona foi até o banheiro e depois de sentir o hálito fresco invadindo a sua boca, voltou para a sua cama, sobre a qual ela deitou e se aconchegou debaixo dos seus edredons. Lembrando-se de que ela não ouviria o som das batidas na porta feitas pelo seu pai, ela resolveu seguir os conselhos de sua madrasta e, pegando o seu celular, pesquisou um site que tivesse vídeos com som de chuva e trovoadas. E ao clicar, o vídeo começou a proporcionar que esse som entrasse pelos ouvidos de Fiona e a relaxasse a cada minuto que passava.
Em uma velocidade impressionante Fiona adormeceu ao som daquelas gotas de chuva que caiam sobre uma casa muito simples de telha. O som dos trovões era persistente, fazendo com que o som ficasse ainda mais atraente e com o efeito relaxante.No entanto, depois de algumas horas de sono, Fiona sentiu que algo estava para acontecer. Sendo despertada de seu sono, ela abriu os olhos e viu uma silhueta ao longe que se aproximava lentamente da janela escura do seu quarto. Quanto mais essa silhueta se aproximava, mais claramente ela conseguia ver a criatura que a tinha ido visitar naquela noite. E de repente o seu rosto se encostou no vidro transparente da janela e olhando fixamente para o rosto de Fiona, disse através de transmissão de pensamento, pois a criatura não mexia com os lábios, mas conseguia passar a sua mensagem claramente para a criança:– Fiona, nós precisamos de sua ajuda. A rainha precisa de você.<
O dia amanheceu e os raios solares fizeram com que Fiona se lembrasse de novo daquela criatura que ela nunca tinha visto antes, e sobre a mensagem que ele tinha passado para ela. Pensando em contar para o seu pai quando ele chegasse em casa, ela tentou ensaiar o seu texto, mas cerca de alguns segundos depois ela mesma se certificou de que ninguém acreditaria nela, pois nem ela mesma tinha certeza do que tinha visto. Então ela decidiu que seria melhor não contar a ninguém, pelo menos por enquanto, pois talvez essa visão tenha ocorrido apenas naquela noite e não vai mais acontecer. Ou talvez, se ela contasse a alguém, dependendo do que essa pessoa acreditasse poderia confundir as suas ideias, dizendo que aquela figura poderia se o espírito de sua mãe que estava tentando se comunicar, ou algum ser das trevas fingindo ser alguém do bem, a fim de enganá-la. Enfim, tomada por esses questionamentos e hipóte
Fiona, por sua vez, teve curiosidade de ver como estava o céu naquele instante, se era possível ver as faíscas nas nuvens, as quais eram causadas pelas descargas atmosféricas. Mas quando ela se aproximou da janela para direcionar os seus olhos para o céu, ela viu que ele estava repleto de estrelas e sem nuvens. Então ela ficou em dúvida de onde poderia estar vindo aquele som de chuva e de trovões. Sentindo um pouco de medo daquela situação, Fiona voltou a se deitar na cama e mergulhar embaixo de seu cobertor.Alguns minutos depois, a mesma criatura que tinha aparecido na janela de seu quarto na noite passada, mais uma vez apareceu. Depois de chamar o seu nome, ele acrescentou mais uma mensagem:– Fiona, venha comigo! A rainha precisa de você.Ouvindo esse som, Fiona levantou um pouco a coberta para deixar os seus olhos descobertos. E quando ela viu a criatura na janela, ela se assu
No instante em que Fiona e o seu mais novo amigo Flan atravessaram o portal mágico, ela sentiu um vento soprar o seu rosto, mas não era um vento comum. Ele era tão forte que arrepiou cada fio de seus cabelos. Em concomitância com o ar fresco que refrescava o seu rosto, ela sentia uma onda de medo e de adrenalina que percorria o seu corpo ao sentir que estava sendo puxada para o interior daquele universo que ela nunca imaginou que pudesse existir. Cada segundo que passava, ela ficava mais amedrontada. E essa sensação fez com que ela fechasse os olhos, mas não conseguia falar, pois por mais que ela tentasse, a sua ansiedade era tão grande que não permitia que os seus lábios emitissem som algum.Quando a sensação que atraía o corpo de Fiona parou, ela se sentiu que o medo a estava deixando, pois no mesmo instante sentiu alivio tanto na mente quanto em seu coração. Por isso ela
Depois de Fiona passar algumas horas caminhando ao lado de Flan por aquele imenso jardim, ela finalmente perguntou:– Eu estou adorando tudo isso, mas eu tenho uma dúvida... Por que você me trouxe para este lugar?Após andar por alguns instantes de cabeça baixa e sem dar nem uma palavra, Flan finalmente quebrou o silêncio e respondeu:– Eu te trouxe, pois nós precisamos de você no Reino das Esmeraldas.– Precisam de mim? Por quê?– A rainha teve uma filha há alguns anos, mas a sua única filha foi sequestrada por uma bruxa que vive em outro reino, o qual se chama Reino das Trevas.– Então a filha da rainha está vivendo neste outro reino? É só irmos até lá e pegarmos a menina de volta! – Disse Fiona, como se o problema fosse um dos mais simples de se resolver.– Sim. Mas tem um problema...
Ao longo da conversa, a rainha disse a Fiona o motivo pelo qual ela precisava muito de sua ajuda. Entretanto, o duende Flan já havia conversado sobre isso, brevemente, com ela. Mas Fiona ficou com uma dúvida:– Eu estou preocupada com o tempo que isso tudo vai durar, pois meu pai me espera em casa.Abrindo um sorriso doce e gentil, a rainha respondeu: – Não se preocupe, criança. Enquanto você estiver aqui conosco, o tempo não estará passando na Terra. E quando você voltar para a sua casa, vai ver que os ponteiros do relógio estarão marcando o mesmo horário.– Esse resgate vai demorar muito tempo?– Só depende de você. Nós temos muitos amigos e animais, os quais podem ser parceiros nesse resgate. Pode contar comigo para o que você precisar. Inclusive, você terá grandes recompensas por estar nos ajudando.– O
Aos poucos Fiona percebeu que os cavalos alados estavam reduzindo a sua altura de vôo, de uma forma tão lenta que era quase imperceptível, a fim de continuarem passando segurança a todos.Logo depois, Fiona notou que o passeio tinha terminado quando os animais já estavam com as suas patas próximas ao chão, pousando sobre a relva verde e perto das flores, que por sua vez exalavam um perfume delicioso de lavanda, o qual era uma das fragrâncias favoritas de Fiona.A rainha desceu do cavalo alado com muita facilidade, bem como o duende Flan. Mas Fiona não teve a mesma praticidade, necessitando mais uma vez da ajuda de Flan. Quando os três estavam no chão, Fiona sentiu o orvalho da relva molhar a pele dos seus pés, através da fina sapatilha. Mas ela não deixou que isso a tirasse do foco, pois ela estava interessada em conhecer o local onde viviam os unicórnios.E mai
Quando eles voltaram do passeio, desceram de seus cavalos alados e entraram novamente na casa da rainha, Fiona foi invadida por um pensamento e, ao mesmo tempo, por uma dúvida, a qual estava corroendo o seu pequeno e puro coração. Então ela de repente perguntou:– Rainha, a vossa alteza tinha me falado sobre recompensas. Quais tipos de recompensas?– Converse com Flan e fale com ele o que você gostaria de ter, ou o que você gostaria de viver que eu te darei.– Eu nem preciso pensar muito a respeito disso. O que eu mais queria era poder conhecer a minha mãe que faleceu em um acidente de carro quando eu ainda era muito pequena. E hoje em dia, o meu pai é casado com uma mulher que não gosta de mim.Enquanto a rainha ficava calada, ela provavelmente estava pensando em algo que ninguém ousava tentar adivinhar, mas em breve ela quebrou o silêncio, dizendo: – A sua