Haru, depois daquela conversa, ganhou um grande espaço em minhas emoções, me fazendo corar sem graça sempre que estava por perto, ou desejar sua presença quando estava longe, e antes que pudesse perceber, tínhamos nos tornando muito mais que amigos, o que me surpreendia visto que nem isso eu queria no início.
Haru, depois daquela conversa, ganhou um grande espaço em minhas emoções, me fazendo corar sem graça sempre que estava por perto, ou desejar sua presença quando estava longe, e antes que pudesse perceber, tínhamos nos tornando muito mais que amigos, o que me surpreendia visto que nem isso eu queria no início.
A aproximação parecia inevitável e aos poucos, começavam a conversar de forma mais intima, como verdadeiros namorados, passei a entendê-lo, e ao passo em que a desconfiança diminuía, me permiti senti as ansiedades de um relacionamento romântico. E me surpreendi quando, em determinado momento, percebi que o amor que estava começando projetar nele era diferente do que eu sentia por Hikari, que vejo como um filhotinho.
Naquela manhã de inverno, estava em casa aproveitando a folga que estava tendo dos estudos e como não iria trabalhar naquele dia, me permiti desfrutar os poucos raios de sol que ainda passavam por entre as nuvens espeças estava muito frio, sentei-me no batente da janela, e fitei a visão que tinha da cidade. Por aquele pequeno apartamento ficar no terceiro andar do antigo prédio, posso dizer que tinha uma visão privilegiada do local, podendo visualizar a pequena cidade que se expandia, os bosques e as montanhas ao fundo, era como observar uma bela pintura feita por um autor de traço gracioso.
De repente, me peguei pensando nas intensões do meu suposto namorado, que supostamente havia se apaixonado sem aparente motivo algum. Esses pensamentos constantemente me deixavam inquieta, ainda mais por parecer algo tão anormal e inusitado em minha vida cheia de percalços, era como se inconscientemente estivesse espeçando uma traição, ou algo parecido.
Suspirei sentindo-me uma idiota por mesmo depois daquele momento literalmente mágico que tivemos, ainda ter tantas inquietações.
– Está preocupada com Haru? Hikari questionou inclinando a cabeça para o lado, parecia estar lendo meus pensamentos. Seu rosto contorcia-se em uma expressão de preocupação e as mãozinhas apertavam-se levemente.
– Está lendo meus pensamentos? Brinquei tentando quebrar um pouco aquele clima melancólico que se formava ao nosso redor, mas senti que seria melhor apenas admitir a verdade. – A situação me preocupa, estou apegada demais a ele e tenho medo que não seja o cara legal que eu peno que seja, e lembro de todos os outros que apenas aproximavam-se de mim por interesses próprios e quase sempre me prejudicavam...
– Haru não mente! O pequeno Kappa exclamou parecendo um pouco pensativo, e ergueu as mãos para que eu o pegasse, claramente com preguiça de andar.
– Do que está falando? Perguntei colocando-o sentado na janela, mas tive o cuidado de o segurar por uma das pernas temendo que caísse lá embaixo, e aproximei o rosto para ouvir melhor o que dizia.
– Sinto quando as pessoas estão mentindo, na verdade, elas são inibidas a falar com honestidade quando estou por perto! Hikari completou educadamente como sempre.
O observei por alguns minutos, calculando mentalmente que todos os momentos em que estive com Haru, o pequeno Kappa estava dentro da minha bolsa. E, acabei começando a rir, percebendo que todas as vezes em que falei sobre a minha vida pessoal abertamente ele estava por perto, pelo visto, me influenciando.
– Isso é bom, não?! Desatei a falar, sorrindo ao sentir a angustia sumir por completo.
Ele nada disse, mas seu olhar mostrava que sabia exatamente o que se passava em minha mente, quis lhe perguntar mais sobre aquela capacidade, mas me calei ao lembrar que estava quase atrasada para o evento que marquei com Haru. Retirei meu filhinho da janela e corri para o banheiro, me trocando as pressas.
Contudo, diferente do que planejei, meu conjunto infalível de jeans com camiseta, não parecia ser o mais adequado a um encontro então, retornei ao quarto sorrindo amarelo, a verdade era que não fazia a menor ideia do que vestir. Hikari me encarou por alguns minutos parecendo entender meu problema e em seguida, desceu da minha cama, seguindo em direção ao guarda-roupas.
Seu corpo minúsculo precisava dar alguns pequenos pulos para visualizar melhor minhas roupas e tive que me segurar para não rir daquela cena, optando por me aproximar e o colocar sentado sobre o meu antebraço. Hikari pareceu gostar da ideia, mas não disse nada, e apenas remexeu entre as peças, escolhendo as que mais lhe agradavam.
– Como sabe sobre moda? Perguntei arqueando uma sobrancelha quando as coloquei sobre a cama e perceber que a minha frente estava uma adaptação dos looks que estavam na moda atualmente.
– Programas de televisão! Hikari respondei retornando ao guarda-roupas para procurar um sapato que combinasse com a saia rosada, optando um uma sandália branca sem muitos detalhes. – Fico assistindo enquanto está no trabalho...
O encarei por alguns minutos, coçando a nuca sem graça pois, apesar de ter algumas peças mais femininas no guarda-roupas, não sei combiná-las com tanta certeza como as garotas naqueles artigos de moda, ou mesmo as do meu cotidiano. De repente, voltei meus olhos ao pequeno Kappa que verificava minha penteadeira procurando provavelmente por maquiagem e ri sem acreditar que em momento algum percebi que era uma menina.
Caminhei em sua direção e me sentei no banquinho que ficava diante do espelho da penteadeira, prendi os cabelos num coque alto, sorri ainda meio sem graça e por fim, pedi que me fizesse uma maquiagem não muito chamativa. Ela sorriu ficando animada com a ideia, e rapidamente reuniu algumas maquiagens que encontrou, pronta para me mostrar o que havia aprendido enquanto eu trabalhava.
Quando finalmente estava pronta, calcei os saltos e virei-me para fitar meu reflexo no espelho de corpo inteiro que fora trazido para o quarto por causa da luminosidade. E fiquei surpresa com tudo o que ela fizera, a maquiagem simples realçara os traços que mais gosto e me deixavam mais tranquila em relação a minha aparência, as roupas também combinavam com a maquiagem pois, se disponham em colorações amenas e se encaixavam bem em minhas características físicas.
– Muito obrigada! Agradeci lhe sorrindo claramente feliz pelo que fizera, e me abaixei para fita-la mais de perto. – Mas estou achando essa bolsa pequena para te levar...
– Eu sei! Ela exclamou pegando o controle da televisão, depois caminhou até a cama, escalou o lençol branco e acomodou-se entre os travesseiros. – Prefiro te ouvir contar sobre seu encontro.
Senti meu rosto corar ao ouvir a palavra encontro, e quis retrucar dizendo que apenas iriamos ao aquário, mas depois de pensar por alguns segundos – certamente influenciada por sua presença – percebi que realmente estava indo a um encontro e me calei.
Andei o mais rápido que pude, tendo dificuldade por causa das sandálias de salto alto, puxei a alça da bolsa, tentando mantê-la estável sobre meu ombro e acabei me distraindo ao passar pelo semáforo, não vendo um carro que se aproximava em alta velocidade. Minha única ação foi colocar as mãos na frente do rosto, ingenuamente achando que isso poderia me proteger e fechei os olhos esperando o impacto que nunca veio.
Abri os olhos surpresa e notei que estava caída na calçada, tremendo tanto que o tecido das roupas balançava levemente. Incrivelmente, no último segundo alguém havia me puxado rapidamente e evitado o acidente que certamente me mataria.
– Caral* isso foi intenso!
Ouvi uma voz masculina e desconhecida murmurar próximo a mim, ergui o rosto procurando por meu salvador e deparei-me com um rapaz jovem me fitando com atenção, seus cabelos eram dourados e pareciam brilhar, assim como seus olhos claros.
– Obrigada! Por uns segundos não estaria mais viva... – Sussurrei ainda sem fôlego olhando para minhas roupas sujas de poeira e o joelho ralado que sangrava um pouco.
– Que não seja por isso! Ele sorriu ajudando-me a levantar, fitando meu corpo de cima a baixo, talvez analisando os ferimentos. Depois ergueu a mãos em um cumprimento formal enquanto me sorria. – A propósito, me chamo Look!
- Prazer em conhece-lo, me chamo Juri! Exclamei apertando sua mão e tendo que segurar um gemido de dor ao perceber que também estava ralada.
– Então, para onde está indo? Look questionou de repente, olhando ao redor com curiosidade, como se não conhecesse a cidade. – Parece estar apressada...
– Ah.. bem, estava indo me encontrar com um amigo! Expliquei e olhei o horário no relógio, praguejando por estar muito mais atrasada agora.
Look era estranhamente simpático e parecia estar perdido, o que me fez repensar a vontade de deixa-lo sozinho e seguir meu caminho, então acabei ficando apenas de pé na calçada sem saber o que fazer. Aquele rapaz acabara de me conhecer, o mínimo que poderia fazer era dar-lhe alguma informação de que precisasse.
– Está precisando de algo? Questionei um tanto desconcertada, minha interação social ainda estava longe de ser boa. – Está procurando algum endereço?
Look me fitou por alguns por alguns instantes, parecendo escolher internamente o que queria me dizer, então sorriu colocando as mãos nos bolsos enquanto me fitava com intensidade, era como se estivesse ganhando tempo e me analisando ao mesmo tempo. Seu comportamento aos poucos, começou a me causar certa estranheza e afastei-me um pouco, sorrindo meio torto, e sem conseguir fingir o desconforto.
Um silencio incomodo colocou-se entre nós e em um gesto inconsciente, comecei a remexer os pés, apertando os dedos e unindo os calcanhares, mas felizmente aquele momento constrangedor foi quebrado pelo som de passos apressados que se aproximavam rapidamente, me fazendo virar para ver do que se tratava.
Haru corria em nossa direção, e quando pegou-me em seus braços pude sentir sua respiração ofegante, seus olhos preocupados esquadrilharam cada parte do meu corpo enquanto suas mãos seguravam meus braços como se assim, pudesse me impedir de ficar em perigo novamente.
– Você está bem? Ele perguntou, seus olhos focados nos meus.
Nesse momento, percebi surpresa que ele correra todo o percurso, que era longo, em pouco mais de um minuto, e provavelmente visto o acidente mesmo ao longe. Mas não pude refletir muito sobre isto pois, ele parecia ainda muito estressado com a situação de perigo e senti que precisava o tranquilizar.
– Eu estou bem, tenho apenas alguns arranhões! Expliquei mostrando-lhe os machucados em minhas mãos, tentando ser o mais calma possível. – Felizmente, Look me puxou antes de ser atingida.
– Agora entendo o porquê de o veículo ter diminuído a velocidade... – Look murmurou mais para si do que para nós, seus olhos fixos no outro rapaz. – Você recebeu o impacto?
– E você tem uma visão ótima! Haru exclamou olhando-o friamente com seus orbes dourados, enquanto soltava um baixo rosnado.
Olhei de um para o outro confusa, e tentei assimilar que tipo de situação estava se passando ao meu redor, a tensão no ar era palpável e parecia que iriam se golpear com violência a qualquer momento. Respirei fundo, sentindo que precisava fazer alguma coisa para quebrar aquele clima, mas só conseguia pensar em afastá-los me colocando entre eles.
Haru ainda rosnava levemente quando agarrei seu braço, puxando-o para longe do loiro, queria questionar sobre como ele conseguiu segurar o carro, mas naquele momento minha principal prioridade era evitar uma briga causada por egos.
– Está tentando marcar território, filhote? Look questionou passando a língua por suas presas que despontavam enormes nos cantos de seus lábios, seu tom era debochado e rosnava enquanto seus olhos que mudaram para uma cor turquesa fixavam-se em Haru.
O ambiente começou a pesar ainda mais, e a tensão podia ser sentida em meio aos hormônios de agressividade, me assustando e a única coisa que eu conseguia fazer era encarar os olhos turquesa de Look que claramente era a outra raposa demônio mencionada por Hikari.
– Parem com isso, por favor! Pedi sentindo minha voz vacilar, então optei por rosnar também como forma de lembra-los de que não estão sozinhos. – Nós estamos no centro de uma cidade, podem ser vistos!
– Quase não percebi que você também é uma raposa demônio... – Look resmungou voltando ao normal, sorrindo como se nada tivesse acontecido o que me fez questionar se era bipolar.
– Sou mestiça... – Resmunguei incomodada com a situação que acabei criando, mesmo que não fosse minha culpa realmente.
– Somos dois então... – Look exclamou empolgando-se absolutamente do nada e seus olhos brilharam enquanto desatava a falar. – Na verdade, é a primeira vez que encontro outro mestiço, tenho tantas perguntas... Você já se desenvolveu completamente?
– Você é a raposa demônio macho que Hikari mencionou! Haru observou, concordando com o meu raciocínio, seus olhos ainda fitando o loiro com frieza.
– Posso te ajudar a passar por o período de transição... – O loiro sugeriu, ignorando o comentário feito por Haru, e aproximando-se ainda mais de mim. – Pode me passar seu número?
O fitei inquieta, sem saber o que falar. Era realmente tentador continuar em contato com outra pessoa da mesma espécie que eu, que poderia me compreender então, mesmo um pouco receosa, acabei aceitando que trocássemos números de celular.
– Seu namorado parece meio enciumado... – Look comentou rindo baixo enquanto guardava o celular no bolso. – Não vou mais atrapalhá-los...
Minha mente fervilhava em perguntas assim que o loiro se afastou de nós, era a primeira vez que conhecia um mestiço assim como eu, e estava muito empolgada, mas instintivamente sentia que havia algo de errado acontecendo, como se a chegada de outra raposa demônio representasse algum tipo de perigo. Respirei fundo, esfregando as têmporas que começavam a doer e voltei minha atenção a Haru que parecia perdido em pensamentos também. – Espero que o que estou sentindo seja apenas demarcação de território! O ouvi dizer baixo, como se falasse para s
Haru levou-me na porta de casa naquela noite depois de uma romântica caminhada de mãos dadas sob a noite estrelada, beijou-me novamente em despedida e seguiu seu próprio caminho. Subi a longa escadaria, balançando o corpo levemente enquanto cantarolava uma musiquinha animada e quando entre no pequeno apartamento notei que meu filhotinho já dormia, ainda com a televisão ligada em um programa culinário, decidi que lhe contaria sobre minhas aventuras na manhã seguinte e depois de verificar se
Depois daquela conversa tensa, acabei sugerindo que saíssemos um pouco da casa, havia me engraçado com seu jardim e estava muito curiosa em descobrir quais outros seres sobrenaturais eu poderia encontrar, o puxei pela mão, e praticamente o arrastei para o pequeno pedaço de floresta que havia atrás da mansão. Havia uma grande fonte de pedras no jardim, cheia de pedrinhas e carpas coloridas que nos olhavam de forma inteligente, o que me fez pensar se estaria diante de Youkais que não conhecia até ent&atil
Qual a minha surpresa ao perceber que meses se passaram desde que me mudei para aquela nova cidade, e enquanto tantas coisas aconteciam em minha vida, as estações passavam e aos poucos, o inverno chegava a suas últimas quedas de neve. Rapidamente os exames finais aproximaram-se, monopolizando meu tempo que já era curto, e mesmo incomodada com a sensação de perigo me rondando vinda de Look, decidi que não deixaria minha vida se perder ainda mais por conta de inseguranças e neuroses. Então, me esforcei-me ao máximo para concluir meus estudos com notas acima da média, afinal era a única forma de entrar numa universidade conceituada, ainda mais quando planejava concorrer a uma bolsa integral.
Conseguir informações sobre o histórico daquele prédio foi mais difícil do que pensei que seria, tentei entrar em contato com a agencia de locação com quem fiz o contrato, mas não consegui nenhuma informação, supostamente porque não mantinham registros anteriores a compra do estúdio que havia acontecido apenas cinco anos antes e todos dos antigos moradores foram realocados por causa de uma grande reforma.Rapidamente descobri que a situação era maior do que aparentava, os filhos dos antigos donos não deixaram nenhum co
No meio da confusão, acabei sendo levada para o hospital pelos paramédicos como uma testemunha do crime, julgando que sendo apenas uma adolescente, precisaria de atendimento psicológico após ver tamanha violência, ainda mais contra alguém do mesmo gênero. Inicialmente, a ideia de conversar com uma psicológica me pareceu desnecessária e até mesmo perigosa pois, ela poderia me hipnotizar e descobrir meus segredos, me causando problemas. Mas quando me vi sentada em frente a uma mulher jovem e negra que falava suavemente, como se entendesse todos os questionamentos que me afligiam, acabei contando sobre meus pequenos surtos de violência, e aproveitei para perguntar o que poderia fazer para ter mais controle sobre mim mesma.
Nos dias seguintes após aquele incidente com o ceifeiro e a noite no hospital, percebi que outros seres sobrenaturais começaram a aparecer em um curto espaço de tempo, misturando-se aos humanos que pareciam não perceber sua presença. E isso era muito estranho, ainda mais depois que tantos templos xintoístas ficaram em desuso, mas por algum motivo, era como se os youkais adormecidos sob aquelas terras, estivessem despertando depois de um longo tempo de inatividade. A verdade era que, com o tempo, as pessoas que antes cultuavam aquelas divindades extinguiram-se, levando consigo suas crenças, e por consequência, os youkais que tanto cultivavam acabaram se enfraquecendo.
Haru, depois daquele encontro com seu irmão, passou a responder meus questionamentos somente com monossílabos, e apesar daquele comportamento me irritar muito, aceitei que ele precisaria de um tempo para assimilar o que estava acontecendo em sua vida e esperei que posteriormente, me colocasse a parte da situação. Na manhã seguinte, seria nossa cerimônia de graduação que iniciou com o concerto de música clássica composto pelos estudantes do primeiro ano, seguido dos discursos