A sensação de deslocamento esteve constantemente me perseguindo antes mesmo de me entender como uma criatura sobrenatural, não importava onde estivesse, ou com quem estivesse, aquela sensação de não pertencimento estava sempre presente e nunca aprendi a lidar com isso. Mas curiosamente, essa sensação deixou de me incomodar, ao passo em que Haru tornava-se um ente mais importante para mim, conseguindo minha confiança com uma facilidade absurda, e isso me assustava.
Em momento nenhum deixei que alguém se aproximasse tanto, mas por algum motivo, eu gostava de estar perto dele, e ao mesmo tempo, temia que me magoasse como todas as pessoas com quem convivi. Haru me causava uma dolorosa dualidade de sentimentos que me inquietava constantemente, me causando insônia e ansiedade.
Antes que me desse conta, ir ao colégio tornou-se uma motivação para vê-lo e sua presença se tornava cada vez mais desejada inclusive por meu lado mais instintivo, e minha raposa interna animava-se sempre que o via. Pelo visto, além de irracional era extremamente emotiva e tola.
Fui arrancada dos meus devaneios quando, subitamente, ele sentou-se sobre a minha carteira encarando-me perigosamente perto, seus olhos esverdeados fitando meu caderno com curiosidade. Haru, assim como eu imaginava, possuía uma aparência especifica em suas duas formas, tendo a humana com os verdes e a sobrenatural, com olhos maiores e dourados. Vê-lo completamente transmutado me fazia questionar qual seria a minha verdadeira forma já que nunca a deixei vir a tona por completo, temendo não conseguir retornar a forma humana depois. Ou pior ser tomada por meu lado animal e acabar atacando e devorando alguém.
- O que está fazendo? Ele questionou tentando chamar minha atenção enquanto balançava a calda e eriçava as orelhas pontudas. – Está escrevendo em um diário?
- Não! Respondi revirando os olhos para sua expressão de euforia, me perguntando como podia ficar tão animado com algo tão simples. - É uma agenda, anoto coisas importantes!
- Tipo o que? Haru indagou inclinando a cabeça para o lado, e franziu as sobrancelhas, olhando-o desse jeito, parece até um gatinho fofo e inocente. Apenas parecia, porque a realidade não era bem assim.
- Tipo não confiar em Kitsunes que fazem essa sua carinha de inocente! Debochei atenta a suas expressões, queria saber como ele reagiria a minha insinuação de que sei de suas intenções.
- Então... em mim, você confia? Haru questionou, me surpreendendo ao aproximar-se perigosamente do meu rosto, raspando os lábios aos meus.
Por alguns breves minutos ficamos assim, como se estivéssemos petrificados, podia sentir meu coração bater acelerado na caixa torácica enquanto a gravidade parecia nos puxar em direção um ao outro. Por mais que eu quisesse ne afastar, a tentação de continuar me tomava violentamente e só possui culpa minha raposa maluca e pelo visto, apaixonada por essa criatura.
- Alguém já te disse que você é muito pervertido? Perguntei fazendo o possível para não gaguejar, mas minha dicção traiçoeira me entregou. Era a primeira vez que ficava assim por causa de um rapaz e para o meu desespero era justamente um que, parecia querer me ver louca.
- Não se atreva! Rosnei quando ele fez menção de me beijar, agarrei seus cabelos absurdamente negros e o afastei, diferente do que pensei, eles eram macios e sedosos apesar da aparecia ressecada.
De repente, seus olhos se fecharam e pude ouvir um ronronar baixo enquanto um sorriso bobo desenhava-se em seus lábios vermelhos, e o encarei incrédula enquanto seus orbes abriram-se novamente mostrando que estavam douradas em sua forma Youkai.
- Suas mãos são tão macias! Haru comentou pegando minhas mãos, colocando-as entre as suas e as observou por alguns segundos. - São quentinhas também...
- O que? Você bebeu? Perguntei tentando meu melhor para parecer irritada, o que ultimamente já não conseguia.
Nos conhecíamos a apenas dois dias e ele estava tentando me seduzir se utilizando dos métodos mais inusitados, e o pior era sentir que, aos poucos, eu estava caindo em sua lábia.
- Está ficando difícil me segurar! Haru murmurou mais para si mesmo do que para mim, suspirou tapando a boca com uma das mãos e levantou-se, cambaleando enquanto tentava sair da sala. – Tem algo estranho acontecendo comigo ultimamente...
O chamei preocupada, tentando entender o que estava acontecendo, levantei-me e peguei a bolsa, enfiando rapidamente tudo dentro enquanto ouvia Hikari reclamar pela falta de espaço, mas não retruquei pois, sentia que precisava socorrer Haru. Não precisei procurar muito para encontra-lo, poucos metros à frente, ele estava sentado no chão, aparentemente, por falta de força nas pernas.
Em minha mente havia dezenas de perguntas que queria lhe fazer, mas optei por me calar e apenas o ajudar a colocar-se de pé, escorando-o em meu ombro, caminhamos para fora do colégio, e percebi o quanto seu corpo estava febril e suado, fitei seus olhos dourados e um nó formou-se em minha garganta, ele parecia me pedir socorro enquanto ofegava desesperado por ar.
- Eu preciso sair daqui! Haru murmurou com a voz rouca, e uma expressão séria em seu rosto contorcido em dor, as presas estavam maiores do que o normal e machucavam os cantos de seus lábios que já sangravam.
Parei de andar quando chegamos a entrada do colégio, a nossa frente havia apenas o bosque onde encontrei Hikari e entrei em desespero, não sabia se poderia o levar a um hospital, ainda mais naquele estado, mas levá-lo para um lugar completamente ermo não parecia uma boa ideia pois, ninguém nos socorreria caso ele estivesse morrendo.
Antes que eu pudesse tomar alguma decisão, suas pernas moveram-se automaticamente e começamos a andar em meio as árvores, adentrando a parte mais profunda da mata que começava a ficar cada vez mais fechada, mostrando que não estávamos exatamente dentro do bosque, e sim, em um lugar que era ligado a ele, talvez uma floresta sobrenatural. Inicialmente, achei que fosse de forma aleatória, mas logo chegamos a um lago de águas profundas que ficava sob a sombra de uma grande árvore antiga.
- O que diabos você está fazendo? Questionei pronta para voltar correndo, quando Haru desvencilhou-se de mim e começou a se despir.
Ele nada disse, apenas mergulhou no lago ficando submerso por alguns minutos, sumindo do meu campo de vista. Sem muito o que fazer, acabei sentando numa pequena construção de pedras que cercavam a beirada, abracei meus joelhos esperando que ele voltasse ao normal e apenas esperei em silencio.
Alguns minutos se passaram e comecei a ficar inquieta, me perguntando quanto tempo ele poderia ficar sob a água sem precisar emergir para respirar, chamei seu nome baixinho algumas vezes e uma forte angustia me tomou, fazendo meu coração se apertar. Pensamentos tristes me vieram à mente, me atormentando por não ter sido mais gentil com ele e a sensação de ficar perdida sozinha retornou.
Estava prestes a entrar na água, movida por meus pensamentos depressivos quando ouvi barulhos vindo da minha bolsa, puxei o zíper e libertei meu pequeno “irmãozinho” que parecia realmente animado ao ver o lago, e antes que eu pudesse explicar o que estava acontecendo, ele saltou para a água ficando a boiar.
Bolhas de oxigênio começaram a sair da água ao lado de Hikari, e poucos segundos depois vi Haru emergir finalmente, me fazendo sorrir.
– Você está bem? Perguntei retirando as meias e as sapatilhas para entrar no lago ignorando completamente o fato de que não sou uma boa nadadora.
Haru não respondeu, apenas ficou boiando ao lado de Hikari próximo a margem de olhos fechados e o rosto voltado para o sol. Parecia tão sereno e tranquilo, como se não estivesse totalmente alheio a todo meu medo e desespero.
- Ele está bem! Hikari comentou de repente enquanto farejava o ar, e usando uma das pernas de Haru para projetar um salto de volta a água. – Na verdade, seu lado instintivo que está sobrecarregado com a chegada de outro kitsune macho na cidade...
- É feio fofocar pelas costas, sabe! Haru resmungou nadando graciosamente em minha direção, pousou os braços sobre as pedras ao meu lado e repousou a cabeça sobre eles, fechando os olhos como se quisesse dormir.
- Do que ele está falando? Perguntei apontando o pequeno Kappa que ensaiava outro salto, dessa vez usando as costas musculosas de Haru.
- Seu amiguinho está certo! Haru concordou, sacudindo a água de suas madeixas negras, sentou-se ao meu lado e fixou os olhos nos meus pés descalços. – Você iria me salvar?
- Eu te mato, Haru! Eu fiquei tão preocupada...- Gritei jogando água em seu ouvido, levantei-me e tentei ir embora, mas como o azar me persegue, acabei escorregando no limo e cai na água também.
Resmunguei um palavrão frustrada, tentando inutilmente manter minha cabeça fora da água, mas o máximo que conseguia fazer era a engolir aos montes, felizmente Haru percebeu que eu estava me afogando e se aproximou para me socorrer, passando meu braço esquerdo por sobre seu próprio ombro, nos mantendo a mesma altura. Suspirei agradecendo e permiti repousar meu rosto próximo a sua clavícula, recuperando o folego enquanto agradecia baixinho.
Para a minha surpresa, meu amiguinho de pele esverdeada pareceu ver aquela cena como um convite para nadar ao nosso redor, fazendo pressão na água, seu sorriso era cálido e parecia estar realmente se sentindo em casa. Foi quando me dei conta de que não havia pensado ainda sobre isso, ele estava longe de seu ambiente natural e sentia falta.
- Ele parece alegre! Haru comentou, testando movimenta-se um pouco, mas tendo o cuidado de me manter estável sobre a água. – Você quer aprender a nadar?
A pergunta me pegou de surpresa pois, não esperava por aquilo, o fitei com intensidade por alguns minutos, cogitando a possibilidade de me afogar nesse processo e fiquei receosa, nem sequer podendo lhe dar uma resposta. Mas ele pareceu entender minha situação e ao invés de fazer alguma piadinha idiota sobre meu medo, optou por me segurar mais firme, passando uma impressão de confiança.
– Terei cuidado! Exclamou tranquilamente, depois deslisou o braço que me apoiava para minha cintura, puxando meu corpo para cima e senti que estava sobre a água. – Vou te segurar para que tente boiar por conta própria...
Esse final, explicou pondo os dois braços atrás da minha cintura, formando uma base sólida que me incentivou a relaxar os músculos e o fitar fixamente, ainda estava com medo, mas aos poucos, me senti segura de que poderia confiar nele. E disse a mim mesma que aquela seria a minha primeira aposta em um relacionamento, tentaria confiar nele ao menos um pouco e talvez no futuro pudéssemos ter uma relação de confiança mutua.
– Tente mover um pouco seus braços... – Haru sugeriu me apoiando ainda mais firme e pela posição, estava com os pés fixados no solo de barro do fundo do lago, ele era realmente alto.
– Na verdade, estou muito confortável assim... – Murmurei fechando os olhos, sentindo minhas forças sendo revigoradas pelos raios solares que irrompiam por entre as copas das árvores. – Gosto desse lugar.
– Ficamos mais ligados aos ancestrais quando entramos nessa floresta! Ele explicou, sua voz mais baixa e tranquila, parecia não querer quebrar meu momento de serenidade. – Sabe, não deveria te contar isso, mas me sinto ligado a você desde que nos conhecemos...
– O que? Perguntei abrindo os olhos subitamente, sentindo meus instintos gritando para que eu fugisse, mas me mantive olhando-o estática, estava farta de apenas fugir.
Meus batimentos cardíacos estavam acelerados e podia sentir o famoso “friozinho” na barriga. Imaginar que estava apaixonada por Haru me assustava, mas naquele momento já havia decidido que aproveitaria tudo o que a vida me proporcionasse e caso, não déssemos certo, poderíamos ainda ser amigos.
Prendi a respiração quando percebi que ele se aproximava e fechei os olhos institivamente, podendo ouvir um risinho baixo vindo dele que aceitou o gesto como uma concordância a suas intensões e colou os lábios aos meus inicialmente devagar, me fazendo sentir o rosto aquecer, e logo, as sensações começaram a fluir a medida que ele aprofundava o beijo.
Uma forte e silenciosa ligação parecia formar-se entre nós, incentivando meus instintos a fluírem mais livremente, e antes que percebesse, meus cabelos branquearam e a calda surgiu juntamente com meus caninos. Nunca acreditei em amor à primeira vista, mas incrivelmente sentia que havia me apaixonando por ele naquele momento.
Findamos o beijo assim que o ar faltou para nós dois, olhei para baixo e vi nossas caldas enroscando-se uma à outra em um gesto íntimo e carinhoso, ergui o rosto para fita-lo e senti o rosto corar lembrando que aquele era o meu primeiro beijo. O gosto de seus lábios ainda estava impregnado aos meus e ainda podia sentir o calor e macies deles.
–Você se transformou... – Haru comentou parecendo maravilhado com a minha aparência, seus olhos estavam dourados novamente e as presas despontavam no conto dos lábios.
Aquelas palavras criaram uma espécie de estalo em minha mente, e fiquei alguns instantes tentando assimilar aquela informação, notando as pequenas diferenças em meu corpo e senti uma estranha sensação de felicidade, como se finalmente estivesse me sentindo no completa. Voltei meus olhos para baixo e fitei meu reflexo no espelho d'água, visualizando pela primeira vez minha verdadeira forma, os longos fios antes bicolores, estavam completamente platinados combinando com meus olhos prateados, e minha pele também parecia um pouco mais pálida. Por um momento, esqueci completamente onde estava, com quem estava e me permiti explorar aquelas novas sensações, respirei fundo e tentei reconhecer os cheiros e sons que pareciam novos, mas que estavam apenas intensificados em relação aos sentidos humanos.
A vibração do ar passava por minhas orelhas felpudas, fazendo cócegas e remexi nelas, mas não para escondê-las como no passado e sim, deslisando os dedos, assimilando seu formato e tamanho. Assustei-me inicialmente ao ouvir meus próprios batimentos cardíacos, mas a sensação de felicidade retornou e apenas relaxei, sentindo que aquele era o meu lugar, era como estar em casa finalmente.
Nesse momento, percebi que sempre estive errada ao me referir ao ser dentro de mim, como minha raposa demônio, não era um ser isolado, fazíamos parte do mesmo ser, o meu verdadeiro eu. E ao compreender isto, toda a dor e angustia deu lugar a um sentimento caloroso de pertencimento e antes que percebesse, estava segurando as duas mãos em frente ao peito e lágrimas escorriam por meu rosto, como se me libertassem de toda a angustia que sentia.
– Parece que você se encontrou... – Haru exclamou mais para si mesmo do que para mim, aproximou-se lentamente e deslisou os dedos pelas minhas bochechas secando-as.
– Como você sabia? Perguntei ainda fungando enquanto tentava parar de chorar, e rindo baixo sem nem saber o porquê.
– Não é obvio? Ele questionou apertando as minhas mãos entre as suas, as fitou por alguns instantes e então, ergueu seus orbes dourados para mim. – Porque me sinto ligado a você!
Haru, depois daquela conversa, ganhou um grande espaço em minhas emoções, me fazendo corar sem graça sempre que estava por perto, ou desejar sua presença quando estava longe, e antes que pudesse perceber, tínhamos nos tornando muito mais que amigos, o que me surpreendia visto que nem isso eu queria no início. Haru, depois daquela conversa, ganhou um grande espaço em minhas emoções, me fazendo corar sem graça sempre que estava por perto, ou desejar sua presença quando estava longe, e antes que pudesse perceber, tínhamos nos tornando
Minha mente fervilhava em perguntas assim que o loiro se afastou de nós, era a primeira vez que conhecia um mestiço assim como eu, e estava muito empolgada, mas instintivamente sentia que havia algo de errado acontecendo, como se a chegada de outra raposa demônio representasse algum tipo de perigo. Respirei fundo, esfregando as têmporas que começavam a doer e voltei minha atenção a Haru que parecia perdido em pensamentos também. – Espero que o que estou sentindo seja apenas demarcação de território! O ouvi dizer baixo, como se falasse para s
Haru levou-me na porta de casa naquela noite depois de uma romântica caminhada de mãos dadas sob a noite estrelada, beijou-me novamente em despedida e seguiu seu próprio caminho. Subi a longa escadaria, balançando o corpo levemente enquanto cantarolava uma musiquinha animada e quando entre no pequeno apartamento notei que meu filhotinho já dormia, ainda com a televisão ligada em um programa culinário, decidi que lhe contaria sobre minhas aventuras na manhã seguinte e depois de verificar se
Depois daquela conversa tensa, acabei sugerindo que saíssemos um pouco da casa, havia me engraçado com seu jardim e estava muito curiosa em descobrir quais outros seres sobrenaturais eu poderia encontrar, o puxei pela mão, e praticamente o arrastei para o pequeno pedaço de floresta que havia atrás da mansão. Havia uma grande fonte de pedras no jardim, cheia de pedrinhas e carpas coloridas que nos olhavam de forma inteligente, o que me fez pensar se estaria diante de Youkais que não conhecia até ent&atil
Qual a minha surpresa ao perceber que meses se passaram desde que me mudei para aquela nova cidade, e enquanto tantas coisas aconteciam em minha vida, as estações passavam e aos poucos, o inverno chegava a suas últimas quedas de neve. Rapidamente os exames finais aproximaram-se, monopolizando meu tempo que já era curto, e mesmo incomodada com a sensação de perigo me rondando vinda de Look, decidi que não deixaria minha vida se perder ainda mais por conta de inseguranças e neuroses. Então, me esforcei-me ao máximo para concluir meus estudos com notas acima da média, afinal era a única forma de entrar numa universidade conceituada, ainda mais quando planejava concorrer a uma bolsa integral.
Conseguir informações sobre o histórico daquele prédio foi mais difícil do que pensei que seria, tentei entrar em contato com a agencia de locação com quem fiz o contrato, mas não consegui nenhuma informação, supostamente porque não mantinham registros anteriores a compra do estúdio que havia acontecido apenas cinco anos antes e todos dos antigos moradores foram realocados por causa de uma grande reforma.Rapidamente descobri que a situação era maior do que aparentava, os filhos dos antigos donos não deixaram nenhum co
No meio da confusão, acabei sendo levada para o hospital pelos paramédicos como uma testemunha do crime, julgando que sendo apenas uma adolescente, precisaria de atendimento psicológico após ver tamanha violência, ainda mais contra alguém do mesmo gênero. Inicialmente, a ideia de conversar com uma psicológica me pareceu desnecessária e até mesmo perigosa pois, ela poderia me hipnotizar e descobrir meus segredos, me causando problemas. Mas quando me vi sentada em frente a uma mulher jovem e negra que falava suavemente, como se entendesse todos os questionamentos que me afligiam, acabei contando sobre meus pequenos surtos de violência, e aproveitei para perguntar o que poderia fazer para ter mais controle sobre mim mesma.
Nos dias seguintes após aquele incidente com o ceifeiro e a noite no hospital, percebi que outros seres sobrenaturais começaram a aparecer em um curto espaço de tempo, misturando-se aos humanos que pareciam não perceber sua presença. E isso era muito estranho, ainda mais depois que tantos templos xintoístas ficaram em desuso, mas por algum motivo, era como se os youkais adormecidos sob aquelas terras, estivessem despertando depois de um longo tempo de inatividade. A verdade era que, com o tempo, as pessoas que antes cultuavam aquelas divindades extinguiram-se, levando consigo suas crenças, e por consequência, os youkais que tanto cultivavam acabaram se enfraquecendo.
Último capítulo