Hórus pediu ao motorista que o levasse de volta ao endereço anterior, acomodando-se no interior aquecido do automóvel. Ligou para Anúbis.
— Hórus... — ele atendeu no segundo toque. — Encontrei minha querida esposa. Ela trabalha no hospital St. Mathews, aqui em Seattle. — O que te levou a um hospital? Está tudo bem? — Sim, tudo está bem. Foi só um incidente. Enfim, vou falar com ela e preciso que você contorne a situação com nossos pais até que ela esteja em Nova York, pronta para ser apresentada. — Não se preocupe, farei com que pensem que você foi pessoalmente buscá-la junto aos médicos missionários. — Ótimo. Obrigado, Anúbis. Desligando o telefone, percebeu que já estavam novamente em frente à casa dela. Olívia possivelmente o faria esperar por muito tempo; certamente seria relutante em acompanhá-lo e tentaria desfazer o contrato assim que abrisse aquela linda boca. Mas, julgando pela reação de seu corpo, não seria capaz de permitir que ela desaparecesse tão fácil assim. Algo em seu sangue esquentou de uma forma intensa e inquietante; pensar nela despertava uma inquietação e um desejo incontrolável de tocá-la. Um sorriso estranho cruzou seus lábios perfeitamente desenhados. Olívia não parecia uma esposa feliz, e era sua obrigação mudar isso. Mal poderia esperar para acabar com todo aquele orgulho. Lidar com sua mulher não seria tão fácil como imaginava. A atrevida não apareceu em casa até as onze da noite. Por mais que ocupasse uma posição que demandasse muito trabalho, era impossível que não pudesse sair mais cedo em caráter de exceção. Aquilo era provocação, pura e simples. O vulto pequeno e parcialmente molhado pela neve andava lentamente em direção à casa, olhando para o único carro estacionado na rua, sem fazer menção alguma de se aproximar. — Ela está brincando comigo — murmurou inquieto. Pretendia esperar que ela o visse e o convidasse a entrar. Mas a atitude nada receptiva o instigava a jogá-la sobre os ombros e dar alguns t***s em suas nádegas até que ela se rendesse por completo. Contendo os desejos imperativos, decidiu aguardar até que se acalmasse; não seria uma boa ideia que a primeira conversa deles fosse regada a tanto ímpeto e impulsividade. Só saiu do carro depois de quase uma hora. A neve havia piorado muito e açoitava seu rosto enquanto ele caminhava pelo caminho de pedras gastas e lascadas até o alpendre da casa dela. A megera já devia ter tomado um banho e estava esperando para que se resolvessem. Uma mensagem em seu celular interrompeu sua mão, que estava prestes a bater na porta. O conteúdo da mensagem era um relatório resumido da vida de Olívia Morrison; seu conteúdo, no entanto, deixou-lhe um gosto amargo na boca e a sensação de inquietação crescente desferia golpes no pouco autocontrole que havia reunido. Uma sensação desconhecida e pungente apoderou-se de seu peito; não sabia o que era, mas naquele momento, penava em morte e sofrimento. A batida na porta foi firme e impaciente. Repetiu a ação várias vezes até que ela finalmente abrisse parcialmente e o olhasse com indulgência e descontentamento. Não entendeu o que ela disse; seus lábios se moviam, mas um torpor o envolvia por completo. O cheiro de rosas, sândalo e mel era inebriante. A fonte era aquela mulher. Sem nada a dizer, ele sorriu e forçou sua entrada sem qualquer delicadeza. Não havia velas, incensos ou qualquer coisa naquela casa que estivesse destilando aquele cheiro maravilhoso. Hórus inclinou-se em direção a ela; aquela essência o fez fechar os olhos e criar uma imagem de ambos se deliciando com um banho em águas termais, momentos tórridos e delirantes. A voz dela era lânguida e macia, e sussurrou algo em sua língua nativa: “anā ughliq hādhā al-waʿd” ("أنا أغلق هذا الوعد"). “Eu selo essa promessa.” — Você está bem? — a voz dela se tornou presente e clara. — O que você disse? — seus olhos se abriram. — Perguntei se estava bem. — Antes disso. — Eu não disse nada, senhor. Algo importante havia acontecido; sentia isso com todas as suas células. Um brilho partia do centro de seu peito e se mesclava em espiral a uma tênue luz dourada partindo do centro dela. Onde já tinha ouvido falar sobre isso? Não conseguia se lembrar, mas de alguma forma sabia que era uma espécie de cerimônia. “Malditas alucinações estranhas!” praguejou em sua mente. — Me desculpe. — ele beijou a mão delicada e feminina, mantendo o contato visual. Todo o seu corpo se obrigava a isso, como se ele fosse uma marionete. — Estou um pouco cansado, só isso.Olívia MorrisonA lufada de ar frio quase a derrubou pela calçada úmida pela quarta vez; andava devagar porque geralmente escorregava facilmente. A canseira de um turno de vinte e quatro horas também contribuía para a letargia de seus passos, e os pés estavam dormentes. O carro escuro e luxuoso estacionado em frente à sua casa era uma decepção. Esperava fervorosamente que ele já tivesse ido embora de Seattle, mas aparentemente teve esperanças em vão. Infelizmente, o plantão de hoje foi marcado pela presença daquele homem no hospital. Todos queriam saber o que o maravilhoso Hórus Amonhhat estava fazendo na cidade e por que ela falara com ele como se ele fosse um cafajeste. A bem da verdade, nunca imaginou que o veria novamente. Depois de assinar os papéis do contrato de casamento, ele simplesmente foi embora sem olhar para trás. Lembrava-se de se perguntar o motivo de tanta frieza; era tão excessiva que beirava a hostilidade. Mas não se deixou levar por esse caminho. Depois do choque d
Não seria hipócrita ao dizer que não se interessou pela vida dele após se casarem. Acompanhou a vida pública dele logo no início do acordo e sabia da existência da modelo loura e deslumbrante chamada Victória, sempre vista ao lado dele. Houve muitas outras em festas beneficentes, concertos, apresentações, viagens ao exterior, e assim por diante. Desistiu de ver tudo que se relacionava a ele depois de alguns meses, percebendo que ele era só um homem rico e arrogante, que não se importava em continuar posando ao lado de qualquer mulher, mesmo após anunciar o casamento misterioso deles à mídia. Esse fato a incomodou a ponto de querer acabar com aquela farsa. Mesmo que ninguém soubesse de sua existência, um dia acabariam sabendo, já que o propósito dele era enganar alguém, ou a todos. E quando isso viesse ao conhecimento de todos, ela seria exposta como a tola e pobre coitada traída que se conformava com sua posição. Sua cota de humilhação foi enorme até o momento e não precisava dobrá-la
Mesmo em seus sonhos mais delirantes, nunca imaginou ver Hórus com os cabelos úmidos pela chuva fina, parado na sua porta. Um arrepio percorreu sua pele; os olhos dele contrastavam com o clima lá fora, estavam mais escuros e aparentavam um brilho estranho, quase sobre-humano. A expressão era misteriosa e indecifrável, e sua boca se curvava levemente em um sorriso divertido e charmoso. Ele não demonstrou nenhum desconforto ao entrar em sua humilde casa e fechar a porta atrás de si como se fosse o dono do lugar.— É um lugar interessante para morar — disse ele suavemente, enquanto esquadrinhava cada canto da pequena sala com móveis gastos, sofá de segunda mão e uma TV pequena sobre um aparador.— Obrigado — Olívia cruzou os braços e apertou os olhos. Não tinha imaginado aquele brilho cintilante em sua íris. — O que quer, Sr. Amonhhat?Poderia ser lentes de contato internas; talvez o ângulo da luz pudesse gerar aquele efeito. Sim, essa deveria ser a justificativa.Olívia fez questão de e
Olívia pensava furiosamente depois daquela frase. Nova York? Como assim? E o divórcio?— Nunca foi necessária minha presença para esse acordo. Na verdade, nem a sua. — Sentiu minha ausência, então? — ele riu ironicamente, divertindo-se com o ar inflamável que exalava da pequena mulher. — Podemos resolver isso rapidamente. Arrume suas coisas e partiremos em seguida. — Costuma ser sempre tão prepotente? O que o faz crer que eu abandonaria minha vida e meus compromissos pela sua vontade? Notando a insistência do olhar intenso dele, que se insinuava pelo corpo dela como se a tocasse intimamente, ela se encolheu e olhou com uma firmeza que não sentia. Esperava que, sendo rude, ele desistisse desse contrato. — Querida, não fale assim. Minha família exigiu a presença da minha adorada esposa em um evento grandioso da empresa. Desejam apresentá-la publicamente à sociedade. Esse homem cínico! Agora ela era algum objeto? Estava em sua casa, como se ela fosse uma de suas prioridades, ex
O silêncio absoluto imperava dentro do carro luxuoso. Partiram noite adentro em direção ao aeroporto. A neve e a chuva haviam cessado; o tempo parecia colaborar para aquela loucura à qual ela estava sendo obrigada a participar. Às vezes, ele falava com alguém no celular ou digitava no mesmo. Frustrada e impotente diante da situação de ser arrastada pelos caprichos desse homem, Olivia amaldiçoava o momento em que assinou aquele pedaço de papel. Infelizmente, não tinha escolha; aquele contrato era sua coleira. Abraçou a mochila rota como se esta fosse uma tábua de salvação. Voltou-se para a janela somente para evitá-lo, alheia ao fato de que, com isso, chamou a atenção dele para uma ávida observação.Lembrou-se de que não havia avisado aos seus parceiros do centro comunitário sobre essa ausência não programada. Preocupada com o andamento das coisas no próximo evento, em dois dias, tirou o celular do bolso e enviou algumas mensagens a Jackson e Noelle. Acrescentou algumas instruções para
(Pensamentos de Paul Ferris)O bom motorista ainda não acreditava no que seus olhos viram. Se um dia lhe dissessem que seu patrão agiria daquela forma, tão impulsiva, certamente mandaria a tal pessoa procurar um médico, pois estaria louca. Trabalhava para o Sr. Amonhhat desde que ele assumiu a presidência das empresas de sua família. Ele sempre foi meticuloso, perfeccionista, não admitia que o tocassem intencionalmente e jamais se deixou levar por interesses sexuais ou amorosos. Paul perdeu a conta de quantas situações constrangedoras aconteceram entre o patrão e a senhorita Vitória por esse motivo. Apesar do que diziam os tabloides, até mesmo a relação que mantinha com essa bela senhorita estava longe de ser considerada calorosa ou romântica; seu senhor fazia questão de manter seu espaço pessoal sem exceções e se mantinha no outro extremo do veículo quando saía com a senhorita. Julgava-se capaz de dizer que o conhecia melhor que a própria mãe. Com o tempo, percebeu que seu patrão tin
Hórus estava determinado a explorar aquela estranha química e conexão entre eles. Afinal, essa era a primeira vez que uma mulher rompia todas as suas defesas e convicções. Quão miserável ele se tornou, apenas pela presença de Olívia. Tentou controlar o ímpeto de beijá-la, mas isso se tornou a tarefa mais difícil de sua vida; irremediavelmente, falhou em controlar sua vontade de provar seus lábios suculentos. E isso nem era o fato mais preocupante, ele queria mais, muito mais. Só de pensar em como seria ter Olívia em seus braços, nua e suplicante, enquanto a penetrava com força, já sentia seu corpo entrar em combustão. Seu desejo incontrolável sussurrava palavras distorcidas em seu interior. Palavras como: ela sempre me pertenceu, provar de seu gosto não era o suficiente, precisamos sentir o prazer indescritível que só ela poderia dar. O plano anterior seria que ela ficasse na cobertura do Central Park, como havia dito à sua família que residiriam lá por enquanto, depois da volta dela
Olívia A palavra exaustão era um eufemismo perto de como se sentia; mesmo assim, mal conseguiu dormir. Leu as páginas deixadas para ela sobre esse enredo sórdido, tomou um banho demorado no banheiro amplo, com decoração contemporânea; imaginava que adormeceria de imediato, mas, entre cochilos rápidos, sonhava com Hórus no alto de uma pirâmide. Seus olhos a encontravam rapidamente no momento em que ele pulava do alto da construção em profunda agonia; joias esféricas de um azul brilhante se derramavam do céu tempestuoso, e ela sentia o gosto salgado das próprias lágrimas. Seu coração transbordava de tristeza, dor e solidão. A todo momento, via em seus sonhos desconexos aqueles olhos azuis cintilantes, e em todos eles havia uma profunda agonia que lhe perfurava a alma, semelhante à tempestade de areia no deserto em que estava no último sonho. Olívia balançou os cabelos molhados; o banho matinal não provocou a mesma satisfação de sempre. Ainda havia muito cansaço. Secando os cabelos, t