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Capítulo 4 Cerimônia Espiritual

Hórus pediu ao motorista que o levasse de volta ao endereço anterior, acomodando-se no interior aquecido do automóvel. Ligou para Anúbis.

— Hórus... — ele atendeu no segundo toque.

— Encontrei minha querida esposa. Ela trabalha no hospital St. Mathews, aqui em Seattle.

— O que te levou a um hospital? Está tudo bem?

— Sim, tudo está bem. Foi só um incidente. Enfim, vou falar com ela e preciso que você contorne a situação com nossos pais até que ela esteja em Nova York, pronta para ser apresentada.

— Não se preocupe, farei com que pensem que você foi pessoalmente buscá-la junto aos médicos missionários.

— Ótimo. Obrigado, Anúbis.

Desligando o telefone, percebeu que já estavam novamente em frente à casa dela. Olívia possivelmente o faria esperar por muito tempo; certamente seria relutante em acompanhá-lo e tentaria desfazer o contrato assim que abrisse aquela linda boca. Mas, julgando pela reação de seu corpo, não seria capaz de permitir que ela desaparecesse tão fácil assim. Algo em seu sangue esquentou de uma forma intensa e inquietante; pensar nela despertava uma inquietação e um desejo incontrolável de tocá-la. Um sorriso estranho cruzou seus lábios perfeitamente desenhados. Olívia não parecia uma esposa feliz, e era sua obrigação mudar isso. Mal poderia esperar para acabar com todo aquele orgulho.

Lidar com sua mulher não seria tão fácil como imaginava. A atrevida não apareceu em casa até as onze da noite. Por mais que ocupasse uma posição que demandasse muito trabalho, era impossível que não pudesse sair mais cedo em caráter de exceção. Aquilo era provocação, pura e simples. O vulto pequeno e parcialmente molhado pela neve andava lentamente em direção à casa, olhando para o único carro estacionado na rua, sem fazer menção alguma de se aproximar.

— Ela está brincando comigo — murmurou inquieto.

Pretendia esperar que ela o visse e o convidasse a entrar. Mas a atitude nada receptiva o instigava a jogá-la sobre os ombros e dar alguns t***s em suas nádegas até que ela se rendesse por completo. Contendo os desejos imperativos, decidiu aguardar até que se acalmasse; não seria uma boa ideia que a primeira conversa deles fosse regada a tanto ímpeto e impulsividade.

Só saiu do carro depois de quase uma hora. A neve havia piorado muito e açoitava seu rosto enquanto ele caminhava pelo caminho de pedras gastas e lascadas até o alpendre da casa dela. A megera já devia ter tomado um banho e estava esperando para que se resolvessem. Uma mensagem em seu celular interrompeu sua mão, que estava prestes a bater na porta. O conteúdo da mensagem era um relatório resumido da vida de Olívia Morrison; seu conteúdo, no entanto, deixou-lhe um gosto amargo na boca e a sensação de inquietação crescente desferia golpes no pouco autocontrole que havia reunido. Uma sensação desconhecida e pungente apoderou-se de seu peito; não sabia o que era, mas naquele momento, penava em morte e sofrimento.

A batida na porta foi firme e impaciente. Repetiu a ação várias vezes até que ela finalmente abrisse parcialmente e o olhasse com indulgência e descontentamento. Não entendeu o que ela disse; seus lábios se moviam, mas um torpor o envolvia por completo. O cheiro de rosas, sândalo e mel era inebriante. A fonte era aquela mulher. Sem nada a dizer, ele sorriu e forçou sua entrada sem qualquer delicadeza. Não havia velas, incensos ou qualquer coisa naquela casa que estivesse destilando aquele cheiro maravilhoso. Hórus inclinou-se em direção a ela; aquela essência o fez fechar os olhos e criar uma imagem de ambos se deliciando com um banho em águas termais, momentos tórridos e delirantes. A voz dela era lânguida e macia, e sussurrou algo em sua língua nativa: “anā ughliq hādhā al-waʿd” ("أنا أغلق هذا الوعد"). “Eu selo essa promessa.”

— Você está bem? — a voz dela se tornou presente e clara.

— O que você disse? — seus olhos se abriram.

— Perguntei se estava bem.

— Antes disso.

— Eu não disse nada, senhor.

Algo importante havia acontecido; sentia isso com todas as suas células. Um brilho partia do centro de seu peito e se mesclava em espiral a uma tênue luz dourada partindo do centro dela. Onde já tinha ouvido falar sobre isso? Não conseguia se lembrar, mas de alguma forma sabia que era uma espécie de cerimônia. “Malditas alucinações estranhas!” praguejou em sua mente.

— Me desculpe. — ele beijou a mão delicada e feminina, mantendo o contato visual. Todo o seu corpo se obrigava a isso, como se ele fosse uma marionete. — Estou um pouco cansado, só isso.

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