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Capítulo 6 Líquido Escaldante.

Não seria hipócrita ao dizer que não se interessou pela vida dele após se casarem. Acompanhou a vida pública dele logo no início do acordo e sabia da existência da modelo loura e deslumbrante chamada Victória, sempre vista ao lado dele. Houve muitas outras em festas beneficentes, concertos, apresentações, viagens ao exterior, e assim por diante. Desistiu de ver tudo que se relacionava a ele depois de alguns meses, percebendo que ele era só um homem rico e arrogante, que não se importava em continuar posando ao lado de qualquer mulher, mesmo após anunciar o casamento misterioso deles à mídia. Esse fato a incomodou a ponto de querer acabar com aquela farsa. Mesmo que ninguém soubesse de sua existência, um dia acabariam sabendo, já que o propósito dele era enganar alguém, ou a todos. E quando isso viesse ao conhecimento de todos, ela seria exposta como a tola e pobre coitada traída que se conformava com sua posição. Sua cota de humilhação foi enorme até o momento e não precisava dobrá-la. Certa vez tomou coragem e ligou para cancelar o acordo; o advogado relembrou as cláusulas da quebra do documento, tornando seu desejo impossível.

Enfim, abandonou o hábito tóxico de saber sobre ele e se conformou com o fato de estar presa àquele pedaço de papel que era válido por cinco anos. Se jogou de cabeça no trabalho, em sua missão de vida que era cuidar de quem precisava dela. Conseguiu enfim estabilizar o seu relacionamento abalado com sua irmã Roxanne, e se dedicou a ajudar a comunidade e manter Simon. Mesmo que esse último lhe custasse todo o pouco resquício de dignidade que lhe restou, e assim seguia sua vida até hoje. Fora isso, ainda custeava os estudos de sua irmã na Universidade de Washington, então não poderia se dar a luxos.

Agora, chegando em casa, pendurou o casaco e tirou as botas molhadas. Precisava de um banho quente com urgência para relaxar e se aquecer. Se ele não a abordou na entrada, era porque não pretendia falar com ela no momento. Menos mal, poderia ter algum momento de tranquilidade antes de enfrentar aquele homem. No chuveiro, aproveitou a sensação de relaxamento e fechou os olhos encostada à parede. Uma melodia desconhecida povoava sua mente, uma letargia atingiu seus membros, e inconscientemente murmurava as palavras da música. Fagulhas inundaram sua pele molhada, a temperatura aumentava lentamente. Era tão quente e agradável. Como a sensação de algo tão escaldante dentro dela poderia ser tão certa e confortável? Suas mãos deslizavam por seu corpo de forma sensual, o líquido se expandia sob a pele molhada, chegando a criar vapor dentro do box. Olhos de céu inundavam sua mente, ela chamou seu nome baixinho, e tudo explodiu em calor e contentamento.

Um minuto depois, Olívia saiu do banho sem fazer ideia do que tinha feito, imaginando que havia cochilado na banheira, o que não seria novidade. Demorou um tempo se vestindo e arrumando sua cama com mais cobertores; a noite seria fria e o aquecedor funcionava precariamente. Escolheu uma calça quente e confortável e uma camiseta que já tinha visto dias melhores. Pretendia tomar uma xícara de chá com uma sopa enlatada e depois vestiria o suéter surrado para dormir. Ela sorriu feliz. Se ele não apareceu até agora, era porque foi embora, felizmente. O prazer de um descanso e algo quente à vista deixou seu estado mais relaxado, mesmo que Hórus Amonhhat permeasse seus pensamentos. Estava descendo as escadas, que revestiu com tapete puído, pois faltavam algumas tábuas, quando ouviu a batida firme e impaciente na porta. Lá se foi sua noite calma e tranquila.

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