Não seria hipócrita ao dizer que não se interessou pela vida dele após se casarem. Acompanhou a vida pública dele logo no início do acordo e sabia da existência da modelo loura e deslumbrante chamada Victória, sempre vista ao lado dele. Houve muitas outras em festas beneficentes, concertos, apresentações, viagens ao exterior, e assim por diante. Desistiu de ver tudo que se relacionava a ele depois de alguns meses, percebendo que ele era só um homem rico e arrogante, que não se importava em continuar posando ao lado de qualquer mulher, mesmo após anunciar o casamento misterioso deles à mídia. Esse fato a incomodou a ponto de querer acabar com aquela farsa. Mesmo que ninguém soubesse de sua existência, um dia acabariam sabendo, já que o propósito dele era enganar alguém, ou a todos. E quando isso viesse ao conhecimento de todos, ela seria exposta como a tola e pobre coitada traída que se conformava com sua posição. Sua cota de humilhação foi enorme até o momento e não precisava dobrá-la. Certa vez tomou coragem e ligou para cancelar o acordo; o advogado relembrou as cláusulas da quebra do documento, tornando seu desejo impossível.
Enfim, abandonou o hábito tóxico de saber sobre ele e se conformou com o fato de estar presa àquele pedaço de papel que era válido por cinco anos. Se jogou de cabeça no trabalho, em sua missão de vida que era cuidar de quem precisava dela. Conseguiu enfim estabilizar o seu relacionamento abalado com sua irmã Roxanne, e se dedicou a ajudar a comunidade e manter Simon. Mesmo que esse último lhe custasse todo o pouco resquício de dignidade que lhe restou, e assim seguia sua vida até hoje. Fora isso, ainda custeava os estudos de sua irmã na Universidade de Washington, então não poderia se dar a luxos. Agora, chegando em casa, pendurou o casaco e tirou as botas molhadas. Precisava de um banho quente com urgência para relaxar e se aquecer. Se ele não a abordou na entrada, era porque não pretendia falar com ela no momento. Menos mal, poderia ter algum momento de tranquilidade antes de enfrentar aquele homem. No chuveiro, aproveitou a sensação de relaxamento e fechou os olhos encostada à parede. Uma melodia desconhecida povoava sua mente, uma letargia atingiu seus membros, e inconscientemente murmurava as palavras da música. Fagulhas inundaram sua pele molhada, a temperatura aumentava lentamente. Era tão quente e agradável. Como a sensação de algo tão escaldante dentro dela poderia ser tão certa e confortável? Suas mãos deslizavam por seu corpo de forma sensual, o líquido se expandia sob a pele molhada, chegando a criar vapor dentro do box. Olhos de céu inundavam sua mente, ela chamou seu nome baixinho, e tudo explodiu em calor e contentamento. Um minuto depois, Olívia saiu do banho sem fazer ideia do que tinha feito, imaginando que havia cochilado na banheira, o que não seria novidade. Demorou um tempo se vestindo e arrumando sua cama com mais cobertores; a noite seria fria e o aquecedor funcionava precariamente. Escolheu uma calça quente e confortável e uma camiseta que já tinha visto dias melhores. Pretendia tomar uma xícara de chá com uma sopa enlatada e depois vestiria o suéter surrado para dormir. Ela sorriu feliz. Se ele não apareceu até agora, era porque foi embora, felizmente. O prazer de um descanso e algo quente à vista deixou seu estado mais relaxado, mesmo que Hórus Amonhhat permeasse seus pensamentos. Estava descendo as escadas, que revestiu com tapete puído, pois faltavam algumas tábuas, quando ouviu a batida firme e impaciente na porta. Lá se foi sua noite calma e tranquila.Mesmo em seus sonhos mais delirantes, nunca imaginou ver Hórus com os cabelos úmidos pela chuva fina, parado na sua porta. Um arrepio percorreu sua pele; os olhos dele contrastavam com o clima lá fora, estavam mais escuros e aparentavam um brilho estranho, quase sobre-humano. A expressão era misteriosa e indecifrável, e sua boca se curvava levemente em um sorriso divertido e charmoso. Ele não demonstrou nenhum desconforto ao entrar em sua humilde casa e fechar a porta atrás de si como se fosse o dono do lugar.— É um lugar interessante para morar — disse ele suavemente, enquanto esquadrinhava cada canto da pequena sala com móveis gastos, sofá de segunda mão e uma TV pequena sobre um aparador.— Obrigado — Olívia cruzou os braços e apertou os olhos. Não tinha imaginado aquele brilho cintilante em sua íris. — O que quer, Sr. Amonhhat?Poderia ser lentes de contato internas; talvez o ângulo da luz pudesse gerar aquele efeito. Sim, essa deveria ser a justificativa.Olívia fez questão de e
Olívia pensava furiosamente depois daquela frase. Nova York? Como assim? E o divórcio?— Nunca foi necessária minha presença para esse acordo. Na verdade, nem a sua. — Sentiu minha ausência, então? — ele riu ironicamente, divertindo-se com o ar inflamável que exalava da pequena mulher. — Podemos resolver isso rapidamente. Arrume suas coisas e partiremos em seguida. — Costuma ser sempre tão prepotente? O que o faz crer que eu abandonaria minha vida e meus compromissos pela sua vontade? Notando a insistência do olhar intenso dele, que se insinuava pelo corpo dela como se a tocasse intimamente, ela se encolheu e olhou com uma firmeza que não sentia. Esperava que, sendo rude, ele desistisse desse contrato. — Querida, não fale assim. Minha família exigiu a presença da minha adorada esposa em um evento grandioso da empresa. Desejam apresentá-la publicamente à sociedade. Esse homem cínico! Agora ela era algum objeto? Estava em sua casa, como se ela fosse uma de suas prioridades, ex
O silêncio absoluto imperava dentro do carro luxuoso. Partiram noite adentro em direção ao aeroporto. A neve e a chuva haviam cessado; o tempo parecia colaborar para aquela loucura à qual ela estava sendo obrigada a participar. Às vezes, ele falava com alguém no celular ou digitava no mesmo. Frustrada e impotente diante da situação de ser arrastada pelos caprichos desse homem, Olivia amaldiçoava o momento em que assinou aquele pedaço de papel. Infelizmente, não tinha escolha; aquele contrato era sua coleira. Abraçou a mochila rota como se esta fosse uma tábua de salvação. Voltou-se para a janela somente para evitá-lo, alheia ao fato de que, com isso, chamou a atenção dele para uma ávida observação.Lembrou-se de que não havia avisado aos seus parceiros do centro comunitário sobre essa ausência não programada. Preocupada com o andamento das coisas no próximo evento, em dois dias, tirou o celular do bolso e enviou algumas mensagens a Jackson e Noelle. Acrescentou algumas instruções para
(Pensamentos de Paul Ferris)O bom motorista ainda não acreditava no que seus olhos viram. Se um dia lhe dissessem que seu patrão agiria daquela forma, tão impulsiva, certamente mandaria a tal pessoa procurar um médico, pois estaria louca. Trabalhava para o Sr. Amonhhat desde que ele assumiu a presidência das empresas de sua família. Ele sempre foi meticuloso, perfeccionista, não admitia que o tocassem intencionalmente e jamais se deixou levar por interesses sexuais ou amorosos. Paul perdeu a conta de quantas situações constrangedoras aconteceram entre o patrão e a senhorita Vitória por esse motivo. Apesar do que diziam os tabloides, até mesmo a relação que mantinha com essa bela senhorita estava longe de ser considerada calorosa ou romântica; seu senhor fazia questão de manter seu espaço pessoal sem exceções e se mantinha no outro extremo do veículo quando saía com a senhorita. Julgava-se capaz de dizer que o conhecia melhor que a própria mãe. Com o tempo, percebeu que seu patrão tin
Hórus estava determinado a explorar aquela estranha química e conexão entre eles. Afinal, essa era a primeira vez que uma mulher rompia todas as suas defesas e convicções. Quão miserável ele se tornou, apenas pela presença de Olívia. Tentou controlar o ímpeto de beijá-la, mas isso se tornou a tarefa mais difícil de sua vida; irremediavelmente, falhou em controlar sua vontade de provar seus lábios suculentos. E isso nem era o fato mais preocupante, ele queria mais, muito mais. Só de pensar em como seria ter Olívia em seus braços, nua e suplicante, enquanto a penetrava com força, já sentia seu corpo entrar em combustão. Seu desejo incontrolável sussurrava palavras distorcidas em seu interior. Palavras como: ela sempre me pertenceu, provar de seu gosto não era o suficiente, precisamos sentir o prazer indescritível que só ela poderia dar. O plano anterior seria que ela ficasse na cobertura do Central Park, como havia dito à sua família que residiriam lá por enquanto, depois da volta dela
Olívia A palavra exaustão era um eufemismo perto de como se sentia; mesmo assim, mal conseguiu dormir. Leu as páginas deixadas para ela sobre esse enredo sórdido, tomou um banho demorado no banheiro amplo, com decoração contemporânea; imaginava que adormeceria de imediato, mas, entre cochilos rápidos, sonhava com Hórus no alto de uma pirâmide. Seus olhos a encontravam rapidamente no momento em que ele pulava do alto da construção em profunda agonia; joias esféricas de um azul brilhante se derramavam do céu tempestuoso, e ela sentia o gosto salgado das próprias lágrimas. Seu coração transbordava de tristeza, dor e solidão. A todo momento, via em seus sonhos desconexos aqueles olhos azuis cintilantes, e em todos eles havia uma profunda agonia que lhe perfurava a alma, semelhante à tempestade de areia no deserto em que estava no último sonho. Olívia balançou os cabelos molhados; o banho matinal não provocou a mesma satisfação de sempre. Ainda havia muito cansaço. Secando os cabelos, t
- É uma bela obra de arte. - mesmo que estivesse de costas, sentiu que ele se aproximava novamente. Seu corpo todo ficou rígido como uma pedra, um alívio enorme a dominou quando ouviram uma batida na porta de entrada. Ao se virar, viu que ele caminhou rapidamente para abrir a porta, e a frustração em sua expressão era visível, ouviu o que pareceu uma imprecação em outra língua. Hórus saiu para resolver algumas pendencias em seguida, e não foi visto desde então. Olívia passou o resto do dia ocupada com estilistas, consultoras de imagem, cabelereiros e maquiadores. A vontade de expulsar aquelas pessoas para que a deixassem em paz estava quase ganhando de seu bom senso. Em alguns momentos daquele culto de beleza e estilo, conseguiu se comunicar com a equipe do hospital por mensagem e foi informada que uma médica obstetra estava cumprindo suas funções em caráter provisório, ficou tentada a perguntar como providenciaram uma profissional dessas tão rápido. Poderia apostar que tinha o ded
O silêncio foi mantido durante todo o percurso, Olívia estava perdida em seus próprios pensamentos, ignorando a imagem de Hórus no terno preto moldando sua figura máscula e viril. Seu cérebro insistia em mostrar aquela imagem dele abotoando o punho da camisa escura, os cabelos pendendo em seu rosto de pele perfeita. A própria imagem da tenção. Somente quando pararam diante do prédio exclusivo do Golden Tower é que ele pegou sua mão esquerda colocando nela um anel de platina com um enorme diamante azul no centro. - Não podemos ser casados sem isso. O observou retirar uma segunda caixa do bolso, descobriu que se tratava das alianças de ouro com lindos padrões antigos desenhados. O objeto que deveriam ser o símbolo do compromisso, amor e união de um casal. O gosto amargo de seu paladar se tornou mais intenso ao sentir o frio do metal nobre deslizando em seu dedo anelar junto ao precioso anel de noivado. Olívia assentiu e aceitou a mão que ele lhe ofereceu assim que desceu do carro