Ouviu o motorista conversar com alguém, uma vizinha curiosa com certeza. Ela afirmava que não havia ninguém na casa, que a dona do lugar estava trabalhando. Hórus tinha ciência de que ela possuía graduação em medicina e especialização na área, mas não imaginou que exercesse a profissão, nem mesmo mandou investigar as atividades dela. Pensando nisso, o fato de viver na completa miséria exercendo medicina e recebendo as quantias vultosas mensais que lhe enviava, era ainda mais irreal. Tinha que admitir, havia negligenciado Olívia Morrison por tempo demais. Enviou uma mensagem a Anúbis para que este o informasse onde ela trabalhava, depois de alguns minutos se lembrou que ele estava em um jantar de negócios. Não havia alternativa se não esperar. Resolveu ler novamente as informações de sua ‘esposa’, quando foi interrompido por vozes esganiçadas que se aproximavam cada vez mais do carro. Duas mulheres açoitavam a porta de seu lado, com as mãos em punhos pedindo ajuda desesperadas, ele apertou o botão da trava e permitiu que elas a abrissem, reconheceu um tom de emergência verdadeiro em suas vozes. Amparavam uma jovem mulher em estágio avançado de gravidez que urrava de dor, seu corpo se contorcia iluminado pela luz interna do veículo.
- Por favor senhor, nos ajude. Minha filha precisa chegar ao hospital, ela está dando à luz. Não temos dinheiro para a ambulância, ela não consegue chegar ao ponto de ônibus. – uma das velhas que amparava a mulher suplicava entre lágrimas. Normalmente teria se afastado de qualquer mulher grávida que se aproximasse dele, traziam lembranças muito dolorosas que enterrou no mais fundo de sua mente. Entretanto se negar ajudar em uma emergência dessas seria no mínimo desumano, por isso ele praguejou para si mesmo, bloqueando as lembranças de sua mente e cedeu. Se afastou para o canto oposto no assento de couro para abrir espaço a elas, e ordenou. - Dê o endereço do hospital ao motorista. Depois de dizer essas breves palavras, encostou a cabeça no apoio do banco e tentou não se abalar pelos gemidos e gritos estridentes de dor da mulher que parecia um enorme balão a ponto de explodir. Já tinha muito com o que se preocupar e ocupar sua mente cansada, não deixaria essa situação o atingir só porque se tratava de uma grávida. Seu motorista possuía talento para formula um, em cinco minutos estavam estacionando na emergência do hospital, Hórus desceu do carro e prontamente se aproximou apoiando a mulher agonizante. Os enfermeiros chegaram com uma maca, e enquanto a velha senhora fornecia informação a um deles com uma prancheta, ele se viu arrastado pelos outros dois que deduziram que era o parceiro da gestante. - Ouçam, eu não... A tentava se explicar e se afastar da maca foi ignorada com sucesso, a contragosto, era conduzido junto a gestante pelo corredor que cheirava a assepsia. Quando estavam vários corredores a dentro, uma voz firme e feminina os interrompeu. - Ele não é o pai, muito menos acompanhante. – a voz vinha de um corredor lateral com um letreiro de UTI. Todos pararam e olharam naquela direção, por alguns segundos só se ouvia os grunhidos de dor da pobre mulher e o barulho de maquinas hospitalares que vinha de trás da porta com o letreiro. Hórus se voltou para agradecer quem finalmente o salvara daquela situação bizarra. Para sua surpresa se deparou com um rosto que lhe parecia familiar. - Tom, leve Violet para o centro cirúrgico quatro e chame a Dra. Novack, deixe a mãe dela acompanhar. Avise a recepção que já deixei tudo certo no setor financeiro e eles já estão de sobreaviso. - Certo, vamos. – o enfermeiro mais velho respondeu, certamente era o tal de Tom. - Muito obrigada Olívia, nós nunca poderemos pagar sua ajuda... – a velha chorava alternando seu olhar da filha, para a figura pequena na porta. - Não se preocupe com isso Molly, vai ficar tudo bem. – ela deu um breve sorriso sob a máscara. – vou conhecer o bebê assim que terminar por aqui. O enfermeiro assentiu e voltou a empurrar a mulher rapidamente corredor a fora. Hórus se deteve na figura pequena e feminina encostada ao batente da porta. Olívia. Não poderia ser coincidência. Seus olhos se revezavam em detalhar os traços do rosto delicado em forma de coração, o corpo pequeno encobertos pelo largo uniforme fazendo-a praticamente desaparecer dentro dele; não devia passar de um e sessenta e cinco de altura. Pele morena clara, com um viço jovial reverberante, cabelos negros como a noite, lisos, presos em um coque meio desmanchados no alto da cabeça, olhos castanhos intensamente amendoados e a boca rosada se assemelhava a uma joia delicada. Não havia dúvidas, essa mulher era a sua esposa. - Se já terminou seu momento voyeur, pode se retirar. Essa é uma área restrita. – ela disse com impaciência, mantendo o tom de voz baixo, acenou para a placa ao lado de sua cabeça. As palavras ásperas o surpreenderam, afinal esperava ao menos um pouco de cortesia de sua “esposa”. Deixou de lado a observação sutil para analisa-la abertamente, não tinha porque esconder sua vontade de irrita-la, afinal ela havia sido descortês inicialmente, era óbvio que detestava o que ele estava fazendo. Gostou muito do olhar desafiador e até mesmo hostil que estampava o rosto dela, era bem diferente da primeira e última vez que a viu. Algo se inquietou em seu âmago, nenhuma mulher o encarou dessa forma. A pequena mulher o mirou ainda mais irritada e cruzou os braços sob o peito, fazendo o tecido do pijama profissional marcar os seios perfeitamente redondos escondidos sob tanto tecido. Hórus sentiu sua boca salivar, seu corpo esquentou reagindo instantaneamente. Isso era inédito, geralmente sua libido era uma parte adormecida e não costumava dar o ar de sua graça. Sempre foi um homem controlado, mas sua sexualidade era um vasto deserto árido que a muito tempo não era despertada. Os atos sexuais eram vistos como uma maneira de extinguir sua tensão, acontecia raramente quando estava disposto a tolerar Vitória. Agora se via parado olhando diretamente para os seios dela como um pervertido incontrolável, tentando mensurar o se tamanho, textura, maciez, e os imaginando em uma lingerie provocante. - Aqui Sr. Amonhhat. – ela apontou para a própria face. – Meu rosto é aqui! A mulher era petulante e atrevida! Quem diria que aquela figura apática de olhos tristes e sem brilho se transformaria nessa bela rosa espinhenta. Estava fascinado, o fato dela saber quem ele era e não se intimidar, prosseguindo com seus comentários afiados foi como um afrodisíaco poderoso o levando a imaginar cenas quentes com ambos nus. Engoliu o no seco de sua garganta, decidiu não irrita-la ainda mais por enquanto, deu-lhe um breve sorriso charmoso e perguntou. - Sabia que estava a sua procura? – arqueou a sobrancelha direita, sem perder uma reação dela. – Sra. Amonhhat. - Estou sabendo agora. – Olívia enrijeceu ainda mais o corpo. – Mas, como pode ver, estou em horário de trabalho, se quiser falar comigo pode esperar frente à minha casa. - Posso esperar aqui, e voltamos juntos. – sugeriu ele, o toque de malicia em sua voz não foi disfarçado, na verdade ele nem percebeu que soou assim. - Prefiro ir para casa sozinha. Falamos mais tarde Sr. Amonhhat. – sem esperar pela resposta ela voltou para dentro do setor em que estivera a poucos minutos.Hórus pediu ao motorista que o levasse de volta ao endereço anterior, acomodando-se no interior aquecido do automóvel. Ligou para Anúbis.— Hórus... — ele atendeu no segundo toque.— Encontrei minha querida esposa. Ela trabalha no hospital St. Mathews, aqui em Seattle. — O que te levou a um hospital? Está tudo bem?— Sim, tudo está bem. Foi só um incidente. Enfim, vou falar com ela e preciso que você contorne a situação com nossos pais até que ela esteja em Nova York, pronta para ser apresentada.— Não se preocupe, farei com que pensem que você foi pessoalmente buscá-la junto aos médicos missionários.— Ótimo. Obrigado, Anúbis.Desligando o telefone, percebeu que já estavam novamente em frente à casa dela. Olívia possivelmente o faria esperar por muito tempo; certamente seria relutante em acompanhá-lo e tentaria desfazer o contrato assim que abrisse aquela linda boca. Mas, julgando pela reação de seu corpo, não seria capaz de permitir que ela desaparecesse tão fácil assim. Algo em se
Olívia MorrisonA lufada de ar frio quase a derrubou pela calçada úmida pela quarta vez; andava devagar porque geralmente escorregava facilmente. A canseira de um turno de vinte e quatro horas também contribuía para a letargia de seus passos, e os pés estavam dormentes. O carro escuro e luxuoso estacionado em frente à sua casa era uma decepção. Esperava fervorosamente que ele já tivesse ido embora de Seattle, mas aparentemente teve esperanças em vão. Infelizmente, o plantão de hoje foi marcado pela presença daquele homem no hospital. Todos queriam saber o que o maravilhoso Hórus Amonhhat estava fazendo na cidade e por que ela falara com ele como se ele fosse um cafajeste. A bem da verdade, nunca imaginou que o veria novamente. Depois de assinar os papéis do contrato de casamento, ele simplesmente foi embora sem olhar para trás. Lembrava-se de se perguntar o motivo de tanta frieza; era tão excessiva que beirava a hostilidade. Mas não se deixou levar por esse caminho. Depois do choque d
Não seria hipócrita ao dizer que não se interessou pela vida dele após se casarem. Acompanhou a vida pública dele logo no início do acordo e sabia da existência da modelo loura e deslumbrante chamada Victória, sempre vista ao lado dele. Houve muitas outras em festas beneficentes, concertos, apresentações, viagens ao exterior, e assim por diante. Desistiu de ver tudo que se relacionava a ele depois de alguns meses, percebendo que ele era só um homem rico e arrogante, que não se importava em continuar posando ao lado de qualquer mulher, mesmo após anunciar o casamento misterioso deles à mídia. Esse fato a incomodou a ponto de querer acabar com aquela farsa. Mesmo que ninguém soubesse de sua existência, um dia acabariam sabendo, já que o propósito dele era enganar alguém, ou a todos. E quando isso viesse ao conhecimento de todos, ela seria exposta como a tola e pobre coitada traída que se conformava com sua posição. Sua cota de humilhação foi enorme até o momento e não precisava dobrá-la
Mesmo em seus sonhos mais delirantes, nunca imaginou ver Hórus com os cabelos úmidos pela chuva fina, parado na sua porta. Um arrepio percorreu sua pele; os olhos dele contrastavam com o clima lá fora, estavam mais escuros e aparentavam um brilho estranho, quase sobre-humano. A expressão era misteriosa e indecifrável, e sua boca se curvava levemente em um sorriso divertido e charmoso. Ele não demonstrou nenhum desconforto ao entrar em sua humilde casa e fechar a porta atrás de si como se fosse o dono do lugar.— É um lugar interessante para morar — disse ele suavemente, enquanto esquadrinhava cada canto da pequena sala com móveis gastos, sofá de segunda mão e uma TV pequena sobre um aparador.— Obrigado — Olívia cruzou os braços e apertou os olhos. Não tinha imaginado aquele brilho cintilante em sua íris. — O que quer, Sr. Amonhhat?Poderia ser lentes de contato internas; talvez o ângulo da luz pudesse gerar aquele efeito. Sim, essa deveria ser a justificativa.Olívia fez questão de e
Olívia pensava furiosamente depois daquela frase. Nova York? Como assim? E o divórcio?— Nunca foi necessária minha presença para esse acordo. Na verdade, nem a sua. — Sentiu minha ausência, então? — ele riu ironicamente, divertindo-se com o ar inflamável que exalava da pequena mulher. — Podemos resolver isso rapidamente. Arrume suas coisas e partiremos em seguida. — Costuma ser sempre tão prepotente? O que o faz crer que eu abandonaria minha vida e meus compromissos pela sua vontade? Notando a insistência do olhar intenso dele, que se insinuava pelo corpo dela como se a tocasse intimamente, ela se encolheu e olhou com uma firmeza que não sentia. Esperava que, sendo rude, ele desistisse desse contrato. — Querida, não fale assim. Minha família exigiu a presença da minha adorada esposa em um evento grandioso da empresa. Desejam apresentá-la publicamente à sociedade. Esse homem cínico! Agora ela era algum objeto? Estava em sua casa, como se ela fosse uma de suas prioridades, ex
O silêncio absoluto imperava dentro do carro luxuoso. Partiram noite adentro em direção ao aeroporto. A neve e a chuva haviam cessado; o tempo parecia colaborar para aquela loucura à qual ela estava sendo obrigada a participar. Às vezes, ele falava com alguém no celular ou digitava no mesmo. Frustrada e impotente diante da situação de ser arrastada pelos caprichos desse homem, Olivia amaldiçoava o momento em que assinou aquele pedaço de papel. Infelizmente, não tinha escolha; aquele contrato era sua coleira. Abraçou a mochila rota como se esta fosse uma tábua de salvação. Voltou-se para a janela somente para evitá-lo, alheia ao fato de que, com isso, chamou a atenção dele para uma ávida observação.Lembrou-se de que não havia avisado aos seus parceiros do centro comunitário sobre essa ausência não programada. Preocupada com o andamento das coisas no próximo evento, em dois dias, tirou o celular do bolso e enviou algumas mensagens a Jackson e Noelle. Acrescentou algumas instruções para
(Pensamentos de Paul Ferris)O bom motorista ainda não acreditava no que seus olhos viram. Se um dia lhe dissessem que seu patrão agiria daquela forma, tão impulsiva, certamente mandaria a tal pessoa procurar um médico, pois estaria louca. Trabalhava para o Sr. Amonhhat desde que ele assumiu a presidência das empresas de sua família. Ele sempre foi meticuloso, perfeccionista, não admitia que o tocassem intencionalmente e jamais se deixou levar por interesses sexuais ou amorosos. Paul perdeu a conta de quantas situações constrangedoras aconteceram entre o patrão e a senhorita Vitória por esse motivo. Apesar do que diziam os tabloides, até mesmo a relação que mantinha com essa bela senhorita estava longe de ser considerada calorosa ou romântica; seu senhor fazia questão de manter seu espaço pessoal sem exceções e se mantinha no outro extremo do veículo quando saía com a senhorita. Julgava-se capaz de dizer que o conhecia melhor que a própria mãe. Com o tempo, percebeu que seu patrão tin
Hórus estava determinado a explorar aquela estranha química e conexão entre eles. Afinal, essa era a primeira vez que uma mulher rompia todas as suas defesas e convicções. Quão miserável ele se tornou, apenas pela presença de Olívia. Tentou controlar o ímpeto de beijá-la, mas isso se tornou a tarefa mais difícil de sua vida; irremediavelmente, falhou em controlar sua vontade de provar seus lábios suculentos. E isso nem era o fato mais preocupante, ele queria mais, muito mais. Só de pensar em como seria ter Olívia em seus braços, nua e suplicante, enquanto a penetrava com força, já sentia seu corpo entrar em combustão. Seu desejo incontrolável sussurrava palavras distorcidas em seu interior. Palavras como: ela sempre me pertenceu, provar de seu gosto não era o suficiente, precisamos sentir o prazer indescritível que só ela poderia dar. O plano anterior seria que ela ficasse na cobertura do Central Park, como havia dito à sua família que residiriam lá por enquanto, depois da volta dela