Alaric ainda estava incrivelmente próximo quando, lá fora, a tempestade pareceu rugir como um lembrete cruel de que a realidade ainda estava lá, esperando para quebrar aquele momento de vulnerabilidade.O trovão ressoou pela casa, quebrando o momento carregado de tensão entre Ivy e Alaric. Ambos recuaram, os olhares ainda fixos, a respiração entrecortada.Era como se o som tivesse arrancado o fôlego de ambos, trazendo-os de volta à realidade cruel.Ivy foi a primeira a desviar os olhos, cruzando os braços como se tentasse proteger a si mesma.– Eu... vou para o meu quarto. Preciso... descansar – disse, a voz trêmula, sem convicção.Antes que Alaric pudesse responder, ela girou nos calcanhares e saiu apressada, sem olhar para trás. Caminhou pelos corredores mal iluminados da casa, o som da chuva acompanhando seus passos apressados.Seu coração estava pesado, dividido entre o presente e as sombras do passado.Assim que entrou no quarto, Ivy trancou a porta e deslizou até o chão, abraçan
O celular de Ivy caiu de suas mãos trêmulas, o brilho da tela iluminando o quarto escuro.Ela leu a mensagem mais uma vez, tentando entender as camadas de ameaça e súplica escondidas nas palavras de Lucian. Por mais que quisesse ignorar o aviso, sabia que ele sempre cumpria suas promessas – para o bem ou para o mal.Com a respiração acelerada, levantou-se da cama, incapaz de permanecer imóvel.Caminhou pelo quarto, tentando clarear os pensamentos. A culpa, o medo e uma faísca de algo que ela se recusava a admitir — preocupação? — a consumiam."Você foi minha salvação uma vez..."As palavras ecoavam em sua mente, trazendo lembranças de momentos que ela preferia esquecer. Lucian não era um monstro, pelo menos não sempre. Mas ele também nunca fora livre de sombras.Ivy decide sair do quarto e caminha até a cozinha da alcateia, há silêncio e escuridão por toda parte. Exceto em um corredor que antecedia a sala de jantar, lá existia uma luz, ainda que tímida.– Ivy. – uma voz grave quebra
O mundo pareceu girar ao contrário. O som das palavras de Alaric ecoou na mente de Ivy, mas foi como se uma parede invisível tivesse se erguido, abafando todos os outros sons ao seu redor. Ela levou uma mão ao peito, como se tentasse impedir o coração de rasgar suas costelas.– Não... – sussurrou ela, as palavras mal saindo de seus lábios. – Ele prometeu...– Lucian nunca honra suas promessas, Ivy – interrompeu Alaric, a voz cheia de raiva. – Eu recebi a notícia esta manhã. – Ele o pegou como uma forma de me forçar a me entregar... – Ivy sussurra para si mesmo, os olhos baixos, cercados pelas lágrimas e ela precisa se apoiar a parede mais próxima, pois suas pernas começaram a trai-la.Ela leva a mão à boca, o coração pesado com um misto de culpa, medo e fúria.– O que ele quer em troca? – perguntou ela, embora já soubesse a resposta.– Você – respondeu Alaric, sem rodeios.O silêncio que se seguiu foi sufocante. Ivy olhou para Alaric, sua mente correndo em busca de uma solução que n
A sala pareceu apertar ao redor deles, cheia de apreensão, ressentimento e emoções não ditas. Ivy manteve o olhar fixo em Lucian, seus punhos cerrados ao lado do corpo, enquanto ele permanecia encostado casualmente na borda da mesa, como se não fosse o centro do furacão que estava prestes a explodir. — Você não vai me manipular de novo, Lucian — Ivy afirmou, a voz mais firme do que ela imaginava que poderia ser. — Quero saber onde está o meu irmão. Não acredito que você quebrou sua promessa. Lucian inclinou ligeiramente a cabeça, o sorriso sem humor crescendo em seus lábios. — Que promessa? A que nós dois fizemos, ou a que você decidiu abandonar primeiro? A acusação pegou Ivy de surpresa, mas não suficiente para fazê-la recuar. — O que isso tem a ver com Ethan? — ela questionou, estreitando os olhos. — Tudo — respondeu ele, a raiva escondida sob o tom controlado. — Você é tão hipócrita, Ivy. Está aqui me acusando de quebrar promessas, mas foi a primeira a virar as costas
— Não gosto desses seus jogos, Lucian — Ivy disparou, interrompendo o silêncio. — Quero falar com meu irmão. Agora. Se você não me disser onde ele está, vou encontrá-lo de qualquer jeito. — Não estou aqui para jogar, Ivy. Nem para impedir nada. Eu vou levá-la até ele. — Disse Lucian, o rosto inexpressivo, mas o tom de sua voz era carregado de gravidade.Ele começou a caminhar e Ivy quase não acreditava, mas o seguiu, o coração pesado enquanto o caminho a fazia lembrar de outra época.Ivy acompanhava Lucian pelos corredores escuros e opressores da masmorra. Cada passo ressoava no silêncio como um eco das memórias que ela queria esquecer. O coração de Ivy martelava em seu peito, o medo e a raiva misturados em um turbilhão impossível de controlar. Os mesmos corredores úmidos e sombrios a levaram de volta às lembranças de quando ela e Ethan estiveram presos ali, há dois anos. Era uma dor que apertava como um punho ao redor de seu peito, o ar difícil de puxar enquanto os flashes daquele
Lucian cruzou os braços, sua expressão endurecida, enquanto encarava Ivy como se estivesse à espera de algo—uma decisão que apenas ela poderia tomar.— Não entendi sua pergunta. — Ivy tentou desconversar, tentando ganhar tempo para uma resposta que ela sabia que não tinha. Que não teria.Lucian não cedeu a sua tentativa de se esquivar e com a voz ainda mais firme, proferiu:— Prometi proteger você e seu irmão. Por mais que ele seja um inimigo agora, continuo cumprindo minha palavra.— E então? — Ivy engoliu em seco, tentando não ceder àquela presença e pressão esmagadoras. — Vai esperar que eu te agradeça por isso?Lucian deu um passo à frente, sua voz baixa e penetrante:— Não quero sua gratidão, Ivy. Só quero saber... você também manterá sua promessa?— Que promessa? — Ivy disparou, confusa.Os olhos de Lucian brilharam, escurecidos por algo que ela não conseguia decifrar.— A promessa de se manter na alcateia, de honrar o acordo que ambos fizemos.Ivy sente seu coração acelerar. Sa
Ivy lutava contra as mãos que a arrastavam pela escuridão, mas os braços que a seguravam eram fortes demais.— Socorro! — ela gritava, mas o seus gritos foram sufocados pelo barulho das folhas sob seus pés e a mão que estava sobre sua boca.O mais assustador para Ivy era o som surdo da respiração ofegante dos dois machos que a levavam sem piedade. Assim que chegaram a uma área livre na floresta, Ivy foi jogada ao chão com brutalidade. A terra úmida grudou em suas mãos e roupas, e quando ela ergueu o rosto, viu duas figuras quase completamente lupinas.Seus olhos brilhavam com um misto de malícia e ferocidade, e suas garras, que não estavam totalmente retraídas, brilhavam à luz fraca do sol que atravessava as frestas das árvores.Ivy sentiu um arrepio percorrer sua espinha e começou a se afastar instintivamente, arrastando-se pelo chão, mesmo sem forças para fugir.— Quem são vocês? — sua voz tremeu ao perguntar. — O que querem comigo?Um dos machos abriu um sorriso cruel, seus dentes
Ivy tentou recuperar o fôlego enquanto seu corpo tremia. A última coisa que viu foi o grande lobo negro e branco se lançando contra um dos machos, um grito de dor atravessando a escuridão.Em seguida, um borrão, garras e sangue.O cheiro de ferro tomou conta de tudo, e ela mal conseguia distinguir onde terminava o sangue deles e começava o dela.Quando Ivy finalmente conseguiu abrir os olhos, tudo estava em silêncio.Ivy ficou estática no lugar, seus joelhos cedendo enquanto seu corpo ainda absorvia a extensão da carnificina ao redor. Ela olhou para suas próprias mãos, trêmulas e encharcadas de sangue quente.O chão ao seu redor estava coberto de folhas molhadas e pedaços indistinguíveis dos dois lobos, agora destroçados, irreconhecíveis. Um tremor percorreu sua espinha ao perceber a magnitude do que acabara de acontecer. Tudo estava destruído, os corpos dos machos desmembrados ao redor, um contraste brutal com o chão coberto por folhas verdes e douradas.O lobo, agora parado a poucos