Ele assentiu lentamente, os olhos ainda presos às palavras, como se tentasse absorver cada detalhe.
— Sim — sua voz era baixa, quase relutante.Minha respiração ficou presa na garganta.— Que idioma?Ethan não respondeu de imediato. Ele continuou encarando o grimório, os dedos passando levemente sobre a tinta escura, como se buscasse as palavras certas.Então, suspirou.Um suspiro carregado.Ele ergueu os olhos para mim, e algo na expressão dele fez minha pele formigar.— É um idioma antigo.Minhas sobrancelhas franziram.— Antigo como o quê? Latim? Grego? Alguma língua morta?Ethan me observou por um momento, e foi aí que notei a hesitação. Ele parecia pesar suas opções, ponderando se deveria ou não me dizer algo.O silêncio que se seguiu foi sufocante.Ele fechou o grimório devagar e se inclinou para frente, apoiando os antebraços sobre a mesa.— Lila — ele começou, e o modo como meu nome saiu da boca dele fez algo estranho dEu ainda estava tentando respirar direito.A palavra lobisomem ecoava na minha mente como um sino gigante, reverberando de um jeito que fazia meu peito ficar apertado.Ethan, por outro lado, parecia muito mais tranquilo.Ele me observava com um olhar divertido, os lábios curvando-se num meio sorriso que só me irritava mais.— Está sendo muita coisa para processar? — perguntou, a voz carregada de humor.Pisquei rapidamente, tentando encontrar alguma resposta coerente.— Hã… sim? — foi tudo o que consegui dizer.Ele riu baixinho.— Você está pálida.— E você esperava o quê? — soltei, passando a mão pelo rosto. — Eu acabei de descobrir que criaturas sobrenaturais são reais! Que você é uma delas! Eu devia estar… sei lá… desmaiada!— Por favor, não faça isso — ele disse, fingindo preocupação. — Eu não sou muito bom em reanimar moças em choque.Lancei um olhar irritado para ele.— Você pode parar de se divertir com isso por um segundo?—
Abaixei os olhos para o livro em minhas mãos.— Quando minha avó me entregou isso… naquele dia…Minha voz falhou por um segundo.A lembrança da nossa discussão ainda pesava sobre mim.Eu não queria me lembrar do rosto confuso de Abigail, do olhar perdido e, ao mesmo tempo, cheio de urgência, como se ela precisasse que eu entendesse algo que estava além de suas palavras.Respirei fundo.— Ela me entregou esse livro dizendo que precisava devolvê-lo a George.O nome pairou no ar entre nós.Eu olhei para Ethan.Ele piscou lentamente.— George — repetiu.Sua expressão se fechou levemente, como se um pensamento distante cruzasse sua mente.Passou a mão pelo rosto antes de recostar-se na cadeira, os olhos voltando para mim.— Ela me confundiu com meu pai.Eu assenti.— Sim.O silêncio voltou a nos envolver.Eu sentia meu peito apertado, minha mente rodando com perguntas que eu ainda não sabia como formular.Porque a ve
— Você?— Não sei o porquê de tanta surpresa — ele deu seu tão conhecido sorriso astuto enquanto falava, mas de repente ficou sério. — Então me diz, Lila você ainda quer devolver esse grimório ou quer entender mais sobre o que tem aqui?Fiquei em silêncio, apertando o livro contra o peito. Eu não tinha pensado nisso até agora. Minha avó tinha insistido que ele deveria ser devolvido, mas… a verdade era que eu estava curiosa. Sempre fui.— Eu não sei — admiti, olhando para a capa de couro desgastada. — Minha avó queria devolver, mas acho que nem ela sabe exatamente o que tem aqui.Ethan arqueou uma sobrancelha.— E você?Mordi o lábio, hesitante.— Eu quero saber o que tem dentro — confessei, minha voz saindo mais baixa do que eu esperava.Um pequeno sorriso cruzou os lábios de Ethan, e aquilo me irritou um pouco.— O quê?— Nada — ele disse, balançando a cabeça, mas o brilho satisfeito nos olhos dele denunciava que não era "nada".Franzi a
O saguão do prédio estava movimentado, como sempre. Homens e mulheres em trajes impecáveis iam e vinham apressados, carregando pastas, celulares e ares de importância. O som de saltos ecoava pelo piso de mármore brilhante, se misturando ao burburinho discreto das conversas corporativas. Era o tipo de ambiente que exalava dinheiro e influência, algo que eu ainda não tinha me acostumado totalmente.Ethan andava rápido, me puxando pelo pulso.— O que você está fazendo? — sussurrei, tentando não tropeçar enquanto desviávamos de um grupo de executivos.Ele espiou ao redor antes de me lançar um sorriso travesso.— Escapando.Fiz uma careta.— Escapando de quê?!— Dos seguranças.Meus olhos se arregalaram.— Por que diabos você tem seguranças?!Ele apenas riu, achando graça da minha indignação, e continuou me guiando pelo saguão. Foi então que percebi dois homens de terno escuro parados próximos a uma cafeteria interna, conversando tranquilamente enq
sol da tarde ainda estava a pino, projetando sombras longas pela rua enquanto uma brisa fresca soprava, aliviando o calor urbano. As vitrines das poucas lojas que restavam ali refletiam a luz dourada, dando um ar quase tranquilo à vizinhança — uma tranquilidade que eu sabia que não duraria muito com Ethan por perto. Ele parou o carro bem em frente à minha floricultura, e eu agradeci mentalmente pelo fato de ter comprado a maior parte das casas e lojas dali nos últimos anos, justamente para expandir o negócio e construir um shopping. Graças a isso, a vizinhança estava praticamente vazia, e ninguém veria uma ruiva de jeans e camiseta saindo de um carro de luxo ao lado de um bilionário arrogante. A última coisa que eu precisava era gente inventando fofocas sobre mim. Saí do carro, apertando o grimório contra o peito, enquanto Ethan dava a volta e se esticava, como se quisesse aproveitar cada segundo daquele sol ameno. — Você pode me explicar por que estam
Ethan me observou por um momento, seu olhar avaliando minha expressão como se tentasse decifrar algo.Mas eu não lhe dei tempo para isso.Ethan não respondeu imediatamente à minha provocação. Em vez disso, inclinou a cabeça levemente, como se tentasse enxergar algo além do que eu estava demonstrando. Seu olhar atento me deixou inquieta, e eu sabia que, se ele decidisse perguntar algo, talvez eu acabasse dizendo mais do que deveria.Antes que ele tivesse chance de abrir a boca, me apressei em dizer:— Eu preciso checar minha avó antes.Ele apenas assentiu, desviando o olhar para uma das prateleiras, onde algumas hortênsias azuladas estavam em plena floração. Seus dedos tocaram uma pétala com leveza, como se testasse a textura delicada da flor.Sem esperar por mais nada, subi o vão de escada que levava ao pequeno apartamento acima da loja.Assim que abri a porta, senti um alívio imediato. Tudo estava calmo. Minha vizinha, uma senhora gentil e de sorriso sem
Ele hesitou, e por um momento achei que não fosse responder. Mas então suspirou.— Um ataque. Meu pai tinha muitos inimigos, e alguém achou que ela seria um alvo fácil. E foi. — Sua mandíbula se contraiu. — Eu nunca vi meu pai tão… desesperado. E foi ali que tudo mudou. Foi ali que eu soube que, gostasse ou não, eu teria que crescer rápido.Minhas mãos se apertaram ao redor do grimório contra meu peito. Eu sabia o que era perder alguém assim.— Eu perdi minha mãe também — sussurrei.Ele virou o rosto na minha direção, observando-me atentamente.— Como?Engoli em seco.— Câncer. Eu tinha quinze anos.Um silêncio se instalou entre nós. Não era desconfortável, nem pesado. Era apenas um momento onde duas pessoas que haviam perdido suas mães muito cedo se reconheciam na dor uma da outra.Eu nunca falava sobre isso. Mesmo anos depois, a ferida nunca fechava completamente. Mas ali, na presença de Ethan, parecia menos impossível falar sobre isso.— Eu
Meus olhos se arregalaram no mesmo instante. Dessa vez, eu sabia que tinha pronunciado certo. E então a hortênsia ao lado de Ethan começou a crescer. As folhas se expandiram, ganhando um verde mais vivo, mais vibrante. Os galhos se alongaram suavemente, e as pétalas, antes tímidas, agora estavam mais cheias, volumosas, como se tivessem absorvido a energia da própria terra em questão de segundos. Soltei o ar, surpresa. — Você achou que iriam sair faíscas? — perguntei, me virando para ele com uma sobrancelha arqueada. — Isso parece uma magia de crescimento. Ethan me encarou por um momento, depois soltou uma risada sem graça, coçando a nuca. — Talvez eu tenha confundido duas palavras parecidas em lupino. Minha expressão se fechou. — Como assim? Ele deu de ombros, desviando o olhar como se estivesse envergonhado. — Faz muito tempo que não falo no meu idioma nativo, ruiva. Alguma