Lucien
Observei Luna dormindo ao meu lado, mantendo uma distância segura. Estava fazendo tudo o que podia para garantir que nossa parceria funcionasse. Layla usava um pijama listrado, que eu achava feio, e usava meias para se aquecer, algo que deveria vir naturalmente para ela. Como líder, eu poderia ter várias fêmeas se quisesse, mas não era tão ambicioso. Ter uma mulher como ela na minha cama era mais do que suficiente para os anos de castidade forçada que escolhi suportar.
“Mamãe… Papai… Irmãos…”
Minha esposa estava continuamente sonhando com sua família. Isso estava consumindo horas do seu sono noturno.
“Calme-se, Luna. Durma.” Sussurrei, vendo como minha voz parecia aliviar sua angústia.
Isso me trouxe alegria, mesmo sem entender o motivo.
“Minha Layla! MINHA!” rugiu o lobo dentro de mim novamente, exigindo que eu tomasse a esposa virgem e imaculada que dormia tranquilamente ao meu lado.
Passei a noite acordado, precisando manter o lobo sob controle para evitar qualquer ação inadequada. Fazia séculos que ele não surgia, então eu tinha que ficar vigilante. Qualquer movimento dela poderia ativar o lado mais obsceno dele, uma das suas personalidades. Eu não podia vacilar; Layla não merecia tal ofensa.
Antes do amanhecer, saí da cama, deixando-a sozinha no quarto. Precisava me alimentar, uma maneira de acalmar a fera dentro de mim. Estava distraído olhando pela janela, a densa neve continuava a cair.
“Bom dia, Lucien.” A voz sensual da manhã chegou aos meus ouvidos como uma dor aguda, fazendo-me levantar rapidamente e dar-lhe um bom dia áspero.
Layla
Sentei-me à mesa, observando-o me servir. Pela primeira vez na vida, me senti mimada.
“É verdade que quando estamos transformados em lobos, temos uma telepatia natural? Ou seja, ouvimos e compartilhamos pensamentos íntimos? Fiquei pensando nisso, acho que acabei sonhando. Não sei.”
Falei normalmente, vendo meu marido trazer dois jarros, um com suco de laranja e o outro com leite.
“Sim, mas não acho que seja algo bom. Todos na matilha ficam sabendo. Um bando de fofoqueiros.”
Achei engraçado o jeito indesejado com que ele falava. Lucien sentou-se, ainda me servindo café, bolinhos e uma tigela de cereais.
“Desculpe, não temos frutas aqui.” disse seco.
Não me importava com seu mau humor; convivi com sete machos da minha família com o mesmo temperamento, especialmente ao amanhecer.
“Está bem. Quando eu me transformar, poderei sondar seus pensamentos mais secretos.” falei, sorrindo.
“Então sugiro que evite essa transformação o máximo possível. Não quero que você sondere nada meu, entendeu?”
Lucien estava realmente rabugento, embora ainda fosse atencioso com minhas necessidades.
“Não se preocupe, minha loba não me comanda. Na verdade, nem sei se tenho uma dentro de mim.” disse naturalmente enquanto começava a comer.
“Não minta, principalmente para você mesma, Layla. E mesmo que sua fera se solte, você não conhecerá a minha. Portanto, nunca iremos vasculhar as mentes um do outro.”
Ele comeu um pedaço generoso de bolo de maçã, esfarelando uma boa parte ao levá-lo aos lábios. Eu não sabia que ele era tão habilidoso na cozinha.
“Por quê?” Estranhei essa confirmação, afinal ele era o alfa, e se transformar é algo perfeitamente natural.
“Layla, eu…” limpou a garganta antes de continuar, mas um barulho de motor capturou nossa total atenção.
“Lucien!” falei, extremamente preocupada, levantando-me junto com ele.
“Fique aqui, essa batalha não é sua, Layla.”
“Mas…”
“Por favor, fique. Aqui você estará segura.”
Ele passou por mim, colocando sua mão quente em meu ombro, que tremia de medo. O inimigo havia chegado à matilha do meu pai!?
“Vou cumprir o combinado.”
Ele saiu, batendo a porta. Eu queria correr e lutar ao lado dele, ambos em forma de lobos. Mas o medo governava meus pensamentos mais sombrios, imaginando mortes sangrentas, lutas entre suor e neve. Percebi o quanto era uma covarde; minha loba nunca surgiria para enfrentar o inimigo da nossa irmandade. Segurei a xícara de café firmemente, usando uma força incomum para alguém que nunca havia se transformado. No entanto, ali estava eu, sentindo uma energia esmagadora dentro de mim e uma voz sobrenatural rasgando minha garganta.
“Lucien!”
Bati fortemente na mesa de café, partindo-a em dois sem sentir o ato sendo realizado. Assisti enquanto os alimentos se juntavam, misturando sólido e líquido no centro. De repente, tudo voltou ao normal. Olhei intensamente para minhas mãos, espantada com tal poder. Tremendo, tentei fervorosamente afastar o medo, pois ele era uma fonte interminável de obstáculos. Desejando ardentemente sentir tudo aquilo novamente, avancei e parei em frente ao grande espelho ao lado da saída.
“Loba, quer trazer seu humano sã e salva? Ressurja, venha, vamos reivindicá-lo, protegê-lo.”
Num rompante, um grunhido animalesco tomou conta de todo o recinto.
Lucien
Ao chegar na matilha distante, compreendi melhor seu medo.
“Só possui esses guerreiros? Chame suas fêmeas; lobos costumam lutar melhor que nós.”
“Você está louco! Quer colocá-las na linha de frente?”
Olhei bem para o mais velho dos irmãos de Layla, deixando-o nervoso com minha observação contínua.
“Não iremos sacrificar nossas fêmeas.” disse meu sogro antes de se transformar em um lobo negro.
Todos da sua ninhada se transformaram em suas formas animais, exceto, claro, eu. Eles se olharam em suas formas animais, achando esquisito que o alfa, o antigo líder de toda a matilha, permanecesse em forma humana.
“Lucien!” Uma voz sinistra ecoou pelo campo aberto, suas tendas haviam sido removidas a tempo. Antes da batalha.
“Você me conhece?” franzi o cenho, procurando o ser que ainda era um mistério para meus olhos aguçados.
“Sim! E sua amada Layla também.” confessou, fazendo uma raiva montanhosa crescer dentro de mim.
Então ele apareceu, tão rápido que eu não consegui acompanhar. Nem os lobos, que se agruparam tentando agarrá-lo em união, conseguiram. Uma tática pouco eficaz contra um ser imortal desse calibre. Em mil anos de vida, nunca havia visto algo assim, e já vi seres de todos os tipos. Ao notar aquela presença maligna, percebi duas coisas.
“O que você fez consigo mesmo, monstro! O que deseja ao exterminar minha linhagem?!”
Os lobos rugiram em posição, prontos ao meu comando para matá-lo.
“São de segunda linha, então sua linhagem está segura.”
Ele mostrou as presas ao se transformar em um lobo azul de duas patas. Em segundos, voltou ao seu estado anterior.
“Mesmo que o sangue da família tenha sido diluído ao longo dos anos, ainda são meus. Todos são meus parentes.”
Quando ia dizer algo, a atenção soberba dele, e de todos naquela alcateia, se voltaram para a colina mais alta. Segui desconfiado, mas assim que meus olhos avistaram a figura bela em forma de loba branca, com três lindas caudas da mesma pelagem, olhando de volta para nós, meu coração deu um salto perturbador. “É ela, minha Layla.” confirmou o lobo dentro de mim.
Comecei a luta em vez de ficar admirando o quase impossível acontecendo diante dos olhos daqueles que a desprezaram. Todos a saudaram com olhos vermelhos, chamando-a para se juntar a eles nessa guerra, sem saber sua verdadeira identidade.
“Obrigado por tê-la trazido.”
Corri atrás dele como um predador atrás de sua presa.
LaylaNão sabia como havia chegado até o topo daquela montanha, só sabia que a loba que sempre existiu dentro de mim, acabou se revelando a todos diante da tribo do meu pai, o clã Lort Ur. E ela rugia, querendo imensamente entrar na batalha que se desenrolava na frente dela. O medo já não me dominava, então corri rapidamente, pela primeira vez usando as quatro patas, e conclui que nesta pelagem eu era a loba, e a loba era eu, nos transformamos em uma só, diferentemente quando estou na minha forma humana quando a loba fala em minha mente, portanto dominando todas as funções deste corpo, me sentia mais que feroz. Me sentia como se fosse eu mesma. Nasci para ser esta loba branca de três longas caudas, com o intuito de chegar na besta fera que assolava toda a minha família, notando que o alfa era o único que não havia se transformado. Por que? Será que era tão difícil para ele deixar que nós, os quadrúpedes pudessem se comunicar com ele? Ou o problema era exclusivamente comigo? Mas Lucien
LucienApós avistar Layla, a esposa dada para um casamento de pura conveniência, se afastava visivelmente aflita, em sua forma mais pura, genuína, lotada de sentimentos confusos contra as minhas ações, os moradores daquela tribo, me cercavam com suas faces desprovidos de qualquer respeito pelo ser original.— Por que Lucien… — Chorou a senhora, minha sogra, enquanto caminhava sendo seguido pelos seres que haviam se originado através do sangue da minha antiga família Real. Podia sentir seu rancor, suas mágoas, seus lamentos, em forma de áurea, borbulhando através de suas peles desprovidos de qualquer vestimenta, porque estas haviam sido rasgadas ao se transformarem.Cheguei perto dela o suficiente para que um dos seus filhos, um dos meus cunhados, me ameaçasse verbalmente sem pensar nas consequências.— Culpa sua! — Esbravejou o mais velho, enquanto os demais me olhavam com enorme irreverência.Olhei cada um deles nos olhos, mantendo a respiração calma, atento a qualquer sinal de confl
Continuação…Lucien— Quer me desafiar… — Fiz um triângulo de cabeça para baixo com os dedos, propositalmente na região que mais aguçou sua curiosidade. — Talvez eu revide, fazendo um contra-desafio, que tal? Se aceitar, acreditarei fielmente que tem a macheza necessária para assumir meu lugar.— Mas mestre…— Cale essa boca, mulher! — Esbravejei em alto e bom som, perdendo a paciência por tanta intromissão, fazendo-a se encolher enquanto era amparada pelos seus quatro filhos babacas. Além de um primo da família, que se mantinha fora daquele grupo, apenas me observando raivosamente por ter tirado a chance dele procriar com a minha luna. Podia farejar seu ciúme pegajoso daqui. — Foram ensinados por este ali quebrado, que devem se comportar desta maneira diante do seu alpha? Vocês pobres camponeses insolentes!!Respirei bem fundo, voltando a mirar aquele que desejava se manter na surdina.— Como será, caro cunhado? Aceita o contra-desafio? Posso revelar o maior segredo do Baha?Olhei pa
LucienDe volta ao forte, acabei encontrando Layla, nua, caída na neve antes de chegar na porta de entrada de nossa cabana. A peguei nos meus braços tentando raciocinar como a neve não havia coberto seu corpo desnudo, e como não havia congelado sem a proteção dos pelos de sua loba.A levei rapidamente para o nosso lar, colocando-a na cama que precisávamos compartilhar, enquanto sentia o lobo agitado dentro de mim. Ignorando o fato de por causa dele, meu corpo fica dando sinais de excitação, procurei uma manta quentinha, cobrindo a nudez que o meu animal interior desejava. Depois procurei usar a lareira do quarto há muito tempo sem uso, então precisei sair para a minha garagem coletar madeira seca.No meio do caminho fiquei a pensar, se Layla me contaria da sua transformação, quando todos achavam que ela era um ser tão defeituoso que poderia ser dada para um indivíduo quase pária. Desejava fortemente que não me contasse, porque não me importava se podia ter dons ou não. Lia nunca foi u
LaylaEnquanto Lucien parecia brigar consigo mesmo mantendo aquele par de olhos marrons fechados com tanta força que me dava medo de olhar, minha loba interior apreciava o espetáculo. A visão para ela era de pura luxúria, enquanto que para mim, desconfiava de como ele fazia para conter o imenso volume que se acumulava no meio das suas coxas.“Meu homem! Lucien!”O desejo transbordava em meu sexo pulsante, mesmo quando não queria desejá-lo pela mágoa que me consumia. Usaria, isso ao meu favor, observando atentamente as feições ferozes daquele rosto transfigurado pelas amarras do seu íntimo. Seria o lobo dele querendo emergir logo agora? Tarde demais para demonstração do seu poder, Lucien. Agora minha matilha está danificada, e o líder natural não lutou o suficiente para impedir a besta-fera.— Layla! Vista-se! Iremos para a Itália! — Mas…Lucien em meio a sua batalha interna, ergueu a mão na minha direção, surgindo garras pontudas, abrindo aqueles olhos completamente consumidos pela s
LaylaEu observava de longe a interação deles em suas formas de lobo. Meus cinco irmãos são fortes e destemidos. No entanto, faltava-lhes algo que apenas um alfa extremamente poderoso poderia possuir. Ao observá-los escondidos atrás dos arbustos enquanto tomavam banho na cachoeira, percebi o quanto eu desejava ter nascido como eles, para poder desfrutar desses momentos fraternais. Os machos costumam tomar banho juntos enquanto conversam sobre suas caçadas e, claro, suas conquistas envolvendo mulheres virgens de outros lugares. Preferencialmente humanas, para evitar misturar as linhagens dos lobos."O que você está fazendo?” perguntou minha mãe seriamente.Eu não sabia onde esconder meu rosto depois de ser descoberta.“Mamãe, eu... eu não estava…”Eu ia me virar por respeito à matriarca, mas ela agarrou as laterais da minha cabeça com força e sussurrou, obrigando-me a continuar olhando para eles, segurando meu rosto daquela forma.“Dê uma boa olhada nos meus cinco meninos; eles são o f
LaylaMeu pai realmente não perdeu muito tempo; assim que chegamos no Polo Norte, me incentivou a entrar na cabana do nosso Alfa, mesmo sem ele estar lá para nos receber.“Pai, não seria melhor esperarmos aqui fora?”Olhei ao redor, admirada pela neve que caía continuamente e lentamente. Só se via o branco e o céu azul; ainda era de dia, mas logo a noite cairia, densa e duradoura. O amanhecer demoraria para chegar nessa época do ano.“Está esfriando rapidamente; temo que você fique doente.”Olhei para ele, sem conseguir conter um sorriso genuíno. Ele me chamou e eu me aproximei. Sua expressão me agradava porque eu nunca a havia visto em seu rosto antes; ele sempre me mostrava uma profunda dureza, junto com uma enorme insatisfação pessoal.“Entre; eu ficarei aqui fora. Não se preocupe com mais nada, Luna.”Ele ajustou minha capa de frio, um tecido de alta qualidade, usado tradicionalmente pela antiga realeza. Pela primeira vez, seus olhos buscaram os meus de maneira súbita, vívida, com
LucienEu não deveria ter aceitado esse casamento; ter uma nova moradora nesta cabana pode despertar o lobo que esteve adormecido por séculos, escondido dentro de mim. Mas agora é tarde demais. Além disso, Luna precisa de proteção. Sua família não a quer, não a aceita como ela é. Eu a aceitei por pena e por precisar de sua ajuda no forte. Apenas por isso. “Eu digo ao meu lobo interior para não ficar muito animado com a nova companheira.”“Você pode descansar, mas mais tarde iremos ao vilarejo comprar roupas novas. Afinal, seu pai nem se deu ao trabalho de trazer suas malas. Preferiu te enganar com palavras gentis,” eu disse enquanto retornava do banheiro, após lavar as mãos.“Podemos ir agora,” ela respondeu confiantemente, vindo ao meu encontro no corredor.Eu a observei removendo a capa luxuosa, uma vestimenta caríssima de sua ascendência. Talvez o único bem que ela herdou exclusivamente por ter se casado. Casada com alguém que nunca poderia amá-la como ela merecia. Os sonhos dessa