Capítulo 2

Layla

Meu pai realmente não perdeu muito tempo; assim que chegamos no Polo Norte, me incentivou a entrar na cabana do nosso Alfa, mesmo sem ele estar lá para nos receber.

“Pai, não seria melhor esperarmos aqui fora?”

Olhei ao redor, admirada pela neve que caía continuamente e lentamente. Só se via o branco e o céu azul; ainda era de dia, mas logo a noite cairia, densa e duradoura. O amanhecer demoraria para chegar nessa época do ano.

“Está esfriando rapidamente; temo que você fique doente.”

Olhei para ele, sem conseguir conter um sorriso genuíno. Ele me chamou e eu me aproximei. Sua expressão me agradava porque eu nunca a havia visto em seu rosto antes; ele sempre me mostrava uma profunda dureza, junto com uma enorme insatisfação pessoal.

“Entre; eu ficarei aqui fora. Não se preocupe com mais nada, Luna.”

Ele ajustou minha capa de frio, um tecido de alta qualidade, usado tradicionalmente pela antiga realeza. Pela primeira vez, seus olhos buscaram os meus de maneira súbita, vívida, como se ele realmente estivesse me vendo. Meu coração transbordou de alegria, e eu simplesmente obedecei. Após me despedir dele, sabendo que ele esperaria pelo meu futuro marido para negociar melhor o casamento, subi aqueles três degraus com grande confiança.

Antes de abrir a porta de madeira rústica, dei uma última olhada no meu pai, oferecendo um sorriso meigo. Ele sorriu de volta, suspirou profundamente e me incentivou a prosseguir. Virei-me, tirando o restante da neve das minhas botas de viagem, as que usava para o frio extremo.

Seu alojamento era confortável, quente e muito masculino. Não havia um toque feminino como um vaso de flores na mesa de centro ou o cheiro de lavanda que as moças gostam de borrifar no ambiente. No entanto, ele parecia ser uma pessoa estritamente organizada, o que me agradava. Suspirei pensativamente enquanto ouvia o ruído do motor do carro sendo desligado vindo de trás da porta. Não tentei me virar; sabia que meu pai falaria em meu nome antes de eu dizer qualquer coisa.

Rapidamente os ouvi conversando.

“Muito bem, a encomenda foi entregue. Faça o que precisa ser feito; tem minha palavra?” disse meu pai de maneira seca e objetiva, fazendo-me estremecer com a mudança brusca em seu humor.

“Sim,” respondeu Lucien secamente.

“Mas…”

Impulsivamente, virei-me, furiosa e profundamente magoada com essa triste constatação. “Meu pai ia me entregar como se eu fosse uma simples mercadoria?”

Juntei o resto da minha dignidade para sair daquele lugar, mas quando me dirigi para a saída, uma parede de músculos me interceptou. Lucien era muito alto, e consideravelmente largo e espaçoso. Sua presença era intimidante, assustadora para qualquer criatura pequena.

Mas eu o encarei, afastando-me daquela massa corporal quente. Olhei-o diretamente, cruzando os braços sobre o peito quando percebi seu olhar indiscreto. Ele torceu a boca de forma arrogante antes de falar.

“Sua família te deixou aqui comigo,” constatou a realidade do meu destino.

“E você aceitou de bom grado,” retruquei, vendo sua expressão séria observando atentamente meus lábios.

“Você me aceitou primeiro; se não tivesse aceitado, não estaria na minha casa. Estaria com os seus, naquela tribo arcaica.”

A voz do alfa era grave, e carregava uma certa dominância em seu tom. Parecia algo natural para ele, sem esforço para mostrar sua autoridade nata.

“Me leve de volta.”

Mesmo tremendo por dentro, mantive a voz firme.

“Não posso. Assumimos um compromisso formalmente. Além disso, estamos casados.”

“O quê?”

Tentei passar por aquele escudo novamente, mas sua mão agarrou firmemente meu pulso, me detendo mais uma vez. Eu respirava ofegante, nervosa com a forma repentina como tudo aconteceu.

“Não se preocupe; te aceitei com outro objetivo. Não tenho intenções sexuais com você.”

Desta vez, demonstrando estar abalada com toda a situação, deixei-me levar pelo pavor. Trêmula, olhei seu rosto másculo, sentindo seu braço forte me puxando para seu abraço. Nunca estive tão próxima de um homem, e isso gerou em mim um forte sentimento de… carinho por ele.

Foi algo automático, instintivo. Incontrolável.

“Quero… voltar para minha família, Lucien.” Meus lábios tremeram junto com minha entonação verbal.

A raiva explodiu naquela face dura.

“Qual família?! Aqueles que te abandonaram aqui! Aquela m*****a família?!” Ele arqueou uma das sobrancelhas, como se me desafiasse a defendê-los.

“É…” Levantei o queixo de forma hostil.

“Mas…”

“Não!” berrei, extremamente zangada.

Tentei sair, mas ele era muito mais forte que eu, mesmo não usando nem um terço da sua força total de alfa.

“Escute, Layla, só escolhi esse casamento porque entendi o seu lado nessa história toda.”

“Meu lado? Do que está falando?”

Seu aperto foi diminuindo, então comecei a me soltar dele aos poucos.

“O lado opressor; eles nunca te amaram e nunca vão amar.”

Me afastei, retorcida pela verdade nua e crua despejada por um ser ainda desconhecido. Sempre soube da sua existência milenar, mas isso não mudava o fato de que sua presença era um mistério para mim.

“O que estou fazendo aqui, Lucien? Quero dizer, neste mundo cruel.” Ainda contida, choraminguei.

“Com certeza há uma razão.”

Ele suspirou e consertou uma mecha do meu cabelo loiro que insistia em sair do lugar.

“Nasci com defeito; você realmente quer uma loba defeituosa que nem consegue se transformar?”

Seus olhos não me abandonaram, mesmo ouvindo tal ofensa. Uma loba dada em casamento para um alfa deveria ser perfeita. Sem manchas ou falhas.

“Não me importo com nada disso; já disse, preciso da sua serventia em outra questão.”

“E qual seria?” perguntei, notando um brilho amistoso em seu olhar.

“Você descobrirá em breve, minha… Luna.”

Ele raspou as costas dos dedos no meu rosto, causando um tumulto em meu íntimo. Lucien imediatamente sentiu o cheiro do que parecia ser a minha excitação, trazendo um rubor constrangedor às minhas bochechas. Tanto que virei o rosto, completamente envergonhada.

Lucien retirou lentamente o toque, observando detalhadamente minha reação diante dessa atração repentina.

“Não se preocupe com isso também; mesmo que fique no cio, não te tocarei. Não vou trair minha amada Lia,” respondeu tristemente, afastando-se pouco a pouco de sua nova parceira.

“Entendido.”

Suspirei em desapontamento e contentamento, vendo-o entrar em outro cômodo enquanto dizia para eu ficar à vontade, que aquele era meu novo lar. No entanto, pensava comigo mesma como era difícil balancear tais emoções; afinal, nunca havia sentido um toque masculino antes, então me sentia meio descontrolada perto desse homem. Fora do meu habitual.

Pelo jeito, Lucien é um macho desejado pela minha loba interior, o que era estranho, pois nunca a senti emergir. Nem mesmo perto da superfície. Da margem. Mas ela parecia estar de certa forma conectada a esse ser. Agora restava saber se o seu lobo interior sentiria o mesmo, pelo menos no futuro. Será que Lucien algum dia poderá me amar como eu sou?

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