As últimas palavras de Jorge ainda ressoavam na mente de Clara, causando um turbilhão de emoções. "Ele não tocará um dedo em você, enquanto eu estiver por perto." Como assim? Uma enxurrada de pensamentos invadiu sua cabeça em questão de segundos. "Você não precisa me defender", pensou, surpresa. Clara nunca soubera o que era ter alguém para defendê-la. Sempre suportara tudo sozinha, lutando por suas próprias vontades. Nesse momento, Ana entrou na sala com uma expressão aflita e chamou por Clara. — Clara, me chamaram agora da portaria e Ruan está lá com uma viatura, dizendo que vai entrar e que não adianta irmos contra. Antes que Clara pudesse responder ou sequer pensar em algo, o Sr. Leonara invadiu a sala com uma expressão ainda mais aflita e disse rapidamente: — Jorge, você precisa sair agora. Fred me informou que carros do Guevara acabaram de passar pelo posto 1. — E Clara, a menina filha dela? — Jorge apontou para ela, havia preocupação evidente em seu rosto. — Como vamos
Ao ver Clara, Fred soltou um suspiro de alívio e rapidamente abriu a porta do carro. “Rápido, temos que sair daqui antes que eles percebam,” disse, olhando nervosamente ao redor. Vou levar vocês a um lugar seguro. E lá irão receber instruções de como chegar até uma casa no interior que estou arrumando para vocês. Jorge ajudou Clara a entrar no banco de trás e, logo em seguida, entrou também, batendo a porta com força. “Temos que chegar ao ponto de encontro antes deles,” havia tensão em sua voz. Olhando para trás enquanto Fred acelerava, para garantir que não estavam sendo seguidos. Fred acelerou, saindo rapidamente pelo caminho estreito que levava à estrada principal. Clara olhou pela janela, pelas pequenas frestas viu que na entrada havia vários carros, o coração batendo forte, a imagem de Carol ainda fresca em sua mente. “E Carol?” perguntou, com a voz trêmula.“Ela vai ficar bem,” respondeu Jorge, tentando soar mais confiante do que se sentia. “Eles irão conseguir sair rápido e
Tudo era muito confuso para Carol, que só queria sair dali. Não queria entender e não era fácil aceitar, a violência de seu pai contra sua mãe. Afinal, chegar aos 12 anos já era difícil. Ela tinha muitos problemas: a pele, a menstruação que a incomodava, e a falta de popularidade na escola, onde não conseguia se enturmar.Seu pai, sempre descolado, falava com todos, e suas amigas riam e se divertiam com suas piadas sem graça. Sua mãe pouco saia e cada dia estava mais triste. Ela não entendia a relação de seu pai com sua mãe. Sua mãe chorava, mas Carol não se preocupava em saber o motivo. Sua pouca idade não lhe dava experiência para compreender a violência que sua mãe sofria em casa.Suas necessidades eram tantas que ela só pensou em si, quando decidiu ligar para o pai e pediu para que ele viesse busca-lq no trabalho da tia Ana. Claro, aqui está o texto revisado para melhorar a clareza e fluidez:As necessidades de Carol eram tantas que ela pensou apenas em si ao decidir ligar para
-O telefone não atende! Vamos ligar de novo! Jorge disse olhando para Clara. Clara que estava tão aflita, não sabia como dividir suas angústias. Embora Marta fosse acolhedora, ela olhou para o lado da casa e, ao ver a varanda com Melissa encostada na parede, lembrou-se do início de tudo. Isso lhe causou uma imensa tristeza e frustração, ela se aproximou e viu que havia um banco e em pensamentos ela se sentou sem perceber. Ela se lembrava como nada havia saído como planejado, mas sua filha, tão doce e linda, era tudo para ela. Um desespero tomou conta ao relembrar a infância de Carol, seus primeiros passos e sorrisos. Decidiu que precisava voltar, pois tudo aquilo era uma loucura. Seu corpo já não respondia aos seus comandos, e Clara começou a chorar desesperadamente e alto. Quanto mais chorava, mais ouvia a voz de sua filha e repetia para si mesma: "Preciso voltar! Minha filha! Não posso seguir sem ela." Jorge, observando de longe, ficou em dúvida se deveria se aproximar. Decidiu de
Jorge desligou o telefone e, sem saber exatamente como revelar a notícia a Clara, se adiantou:— Estão bem. Guevara foi embora e não fez mal a ninguém. Carol está a salvo, mas preciso falar com você, Clara — disse, chamando-a para uma conversa particular.Clara, alarmada, mal conseguia conter a ansiedade:— O que aconteceu? Algo com minha filha? Carol está bem? — suas perguntas saíam atropeladas.— Sim, sim, ela está bem — Jorge respondeu rapidamente. — Mas primeiro, quero me desculpar. Não fazia ideia do que você estava passando. Não sei o quanto você está aflita. Preciso saber: quão perigoso seu marido pode ser para você e para Carol?Clara o encarou, confusa e temerosa:— Por que esse interesse agora? Pode ser mais claro? O que está acontecendo?Jorge respirou fundo, lutando para manter a calma:— Seu marido levou Carol com ele. Disseram para eu não te contar, mas não posso esconder isso de você. Não seria certo — sua voz era grave e sincera.Clara sentiu um calafrio percorrer seu
Na estrada, Clara observava a paisagem que se desenrolava velozmente pela janela. As árvores e colinas, borradas pela rapidez do carro, pareciam fugir de sua visão, assim como os momentos tranquilos de sua vida. Por breves instantes, ela se perdeu em um mar de pensamentos. Como havia chegado àquele ponto? O que a conduzira por um caminho tão tumultuado? A injustiça da situação a esmagava, um fardo pesado demais para seus ombros frágeis.Sentia-se afundar na maré de emoções, desejando libertar-se da dor que parecia não ter fim. As memórias dolorosas se aglomeravam em sua mente, sobrecarregando-a. Incapaz de conter a torrente interna, uma lágrima solitária escapou. Clara, tentando esconder sua vulnerabilidade, enxugou rapidamente o rosto, mas não conseguiu impedir que seus olhos continuassem a transbordar. A tristeza desenrolava-se em silêncio absoluto, marcada apenas pelo som sutil de sua respiração entrecortada.Clara lembrava-se de quando era uma boa garota, cheia de esperanças e son
Jorge acelerava o carro em direção à linha do horizonte, os olhos fixos na estrada. Ao seu lado, Clara enxugava as lágrimas que escorriam incessantemente. Ele não conseguia tirar da cabeça o carregamento deixado no galpão do Guevara, agora confiscado, e a dívida gigantesca que isso acarretava. Precisava falar com Tito para saber a situação da mercadoria. Clara, silenciosa, mantinha o olhar perdido pela janela, vendo o acostamento e as árvores passarem rapidamente. Jorge sabia que Kate estava no seu encalço e que não seria fácil se aproximar do galpão sem ser visto ou seguido. Sua principal preocupação era garantir a segurança de Clara. Mais uma vez, Jorge olhou para o lado e se perguntou por que se preocupava tanto com Clara. Talvez a achasse indefesa? Sacudiu a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, e percebeu que já estavam chegando. — Deve ser aquela cidade — disse ele com um sorriso, apontando para o aglomerado de casas próximo à linha do horizonte. — Mais alguns minut
O GPS indicava que estavam próximos. Um calafrio ainda percorria o corpo de Clara, e suas mãos suavam mais a cada minuto. Jorge, por outro lado, parecia tranquilo, ao menos exteriormente. A tarde começava a descer suavemente no horizonte. As folhas das árvores, amareladas e secas, caíam lentamente ao sabor do vento. Era uma tarde fria de inverno; o outono havia se despedido há apenas dois dias, e o pôr do sol trazia consigo um frio cortante. Clara olhou pela janela do carro, tentando controlar a ansiedade. O cenário ao redor parecia um quadro pintado em tons de cinza e laranja. Jorge, concentrado na estrada, quebrou o silêncio: — Está tudo bem? — perguntou ele, sem desviar os olhos do caminho. — Sim, só um pouco nervosa, acho — respondeu Clara, tentando forçar um sorriso. Jorge assentiu, compreensivo. A jornada deles estava prestes a inciar. Entraram em uma travessa da avenida. A placa indicava "Rua 45". Parecia ser uma rua calma, estava em silêncio e não havia ninguém na