3. A fuga

Ana e Clara estudaram juntas alguns anos na escola, e as duas se tornaram muito amigas na vida e com o decorrer dos anos tinham sentimentos de irmãs uma com a outra. Compartilhavam confidências, sonhos e medos. Ana sabia sobre as noites solitárias de Clara e o comportamento errático de Ruan com os anos. Ela oferecia apoio e conselhos, tentando ajudar Clara a encontrar um caminho para sua felicidade.

Certa tarde, enquanto Ana a visitava em sua casa, após Ruan a ter agredido-a, Ana olhou para Clara com preocupação.

— Você sabe que merece ser feliz, não é? Existe um mundo aí fora esperando por você. — disse Ana, segurando a mão da amiga que estava tão gelada como seu coração.

Clara suspirou, olhando para o horizonte. — Eu sei, mas as coisas não são tão simples. Tenho minha filha para pensar. E, apesar de tudo, há momentos em que Ruan parece querer mudar. O que eu poderia fazer longe dele.

Ana balançou a cabeça, compreensiva. — Eu entendo. Mas você não pode viver assim para sempre. Talvez seja hora de procurar ajuda, falar com alguém, olhe para seu braço está roxo novamente e porque ele faz isso? Posso te ajudar, trabalho em uma casa de rico, sei que meu patrão pode te ajudar, ele é um homem muito bondoso e correto e tem condições financeiras para oferecer ajuda. Posso falar com ele. Talvez ele te arrume até um emprego.

Clara assentiu, refletindo sobre as palavras de Ana. Ela sabia que sua amiga tinha razão, mas tomar uma decisão definitiva era assustador. Sua tia talvez não a apoiaria. Sempre que tentava falar com ela, acabava desistindo para nao lhe trazer problemas e aborrecimentos.

No entanto, com o apoio de Ana, ela sentia uma centelha de esperança começar a crescer.

Nos dias que se seguiram, Clara começou a pensar mais seriamente sobre seu futuro. Decidiu que iria conversar com Ruan sobre seus sentimentos e a necessidade de mudanças reais. Ana prometeu estar ao lado dela, oferecendo suporte incondicional.

Numa noite, após colocar a filha para dormir, Clara esperou Ruan chegar. Quando ele entrou e se preparava para seu habitual banho, ela o chamou para conversar.

— Ruan, precisamos falar. — Sua voz era firme, mas seu coração batia acelerado.

Ele a olhou com curiosidade e um toque de irritação, mas se sentou no sofá. — O que foi agora, Clara?

— Eu não posso continuar vivendo assim — começou ela, sentindo a coragem a dizer seus sentimentos. - Eu preciso de paz, e nossa filha também. Ou você muda, ou teremos que seguir caminhos separados…

Ruan a encarou por um momento, com um semblante sério e firme, processando as palavras. Ele sabia que Clara estava falando sério. A verdade é que ele também estava cansado daquela rotina desgastante. Mas não sabia como se livrar desse ciclo que sempre caía entre a bebida e agressões..

— Eu... eu vou tentar, Clara, mas não pense que vou afrouxar, que você vai sair como essas mulheres atrás de macho ou que vai me deixar. Está querendo me fazer de otario pela rua?— Sua voz era baixa, mas ainda havia perturbações em sua fala.

Aquele foi o começo de uma nova fase para Clara ela encarou Ruan frente a frente e impôs dia vontade. Com Ana ao seu lado e a promessa de Ruan, de melhorar, ela sentia que, finalmente, poderia encontrar a felicidade que tanto desejava.

Mas, como sempre, sua esperança pouco durou. Logo, Ruan voltou a beber, e tudo se repetia. As noites de Clara se tornaram novamente longas e carregadas de ansiedade. O tilintar do trinco ainda provocava arrepios, mas agora também trazia um profundo cansaço emocional. Ruan as vezes voltava com marcas de baton, de madrugada ia para bares, e sempre tinha bilhetes em seu bolso de telefones e cheiro de perfume feminino em sua roupa.

Ela não se importava se ele estava com alguém ou não, ela não queria mais estar ali sendo agredida por ele, sendo destruída como mulher, não podendo amar e ser amada, respeitada, querendo ser beijada, desejada. Andar na rua de mãos dadas, receber carinho como se não fosse uma posse apenas de alguém.

Ana percebeu a mudança em Clara após sua chegada do hospital dessa vez. Sua amiga estava mais retraída e desanimada. Estava sem celular e com olhar sem brilho, não falava em mudanças ...

Decidida a ajudar, Ana sugeriu que procurassem um grupo de apoio e insistiu que poderia falar com sua tia e com seu patrão para ajuda-la um homem influente na cidade e na política e com condições financeiras favorável para ajuda-las.

— Clara, você não precisa passar por isso sozinha. Existem pessoas que podem te ajudar a enfrentar essa situação — disse Ana, com firmeza.

Inicialmente, Clara relutou, mas a insistência e o carinho de Ana a convenceram. Juntas, foram as escondidas, em um grupo de apoio para mulheres que enfrentavam relacionamentos abusivos. Lá, Clara encontrou histórias semelhantes à sua e começou a perceber que não estava sozinha. Existia mesmo que com dificuldade um mundo fora de casa.

Durante o dia, Clara ouviu relatos de superação e resiliência, e pouco a pouco, começou a se fortalecer. Sentiu que merecia mais do que uma vida de medo e incerteza. Com o apoio das novas amigas e de Ana, Clara tomou a difícil decisão de deixar Ruan e decidiu falar com sua tia sobre o que estava passando e pensando. Sua tia ficou perplexa e disse que daria apoio , triste ao descobrir que aquele sorriso largo de Ruan escondesse tanta amargura e ruindade com sua sobrinha.

Ruan sempre foi um bom rapaz para a sociedade alegre e divertido. Todos sabiam que ele tinha um certo exagero com a bebida, mas sempre foi um bom rapaz com todos.

Com clara ele, não era o mesmo que conheciam, até ela própria não sabia quem ele era, ele gostava de te-la como uma posse. Eles não saiam muito de casa juntos, e ele não deixava ela sair. O celular ele dava desculpas e tomara, mas no último episódio ele retirou até o celular. Nenhum homem podia olhar ou falar com Clara pois ele já achava que tinha alguma coisa. As vezes uma roupa já era motivo para ele achar que ela estava querendo trai-lo.

Decidida ela planejou tudo com cuidado, pois sabia que se fugisse não poderia voltar atrás. E Ruan tentaria acha-la e dessa vez a mataria com certeza. E com a ajuda da polícia não seria difícil ele encontra.la.

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