Helena sentia algo diferente pelo amigo naquele momento. Martha não ousou atravessar a porta. Espionava aquela doce confissão sem palavras alguma. — Eu não quero acordar desse sonho tão bonito. - Ele confessou, flertando, romântico. Helena o beijou outra vez, não se acanhava mais com ele. Gregory lhes permitia aquela intimidade tímida e bonita. Ela se sentia segura ali e ao seu lado. - Namora comigo? - Helena concordou. Ele era o homem mais feliz do universo naquele momento. Dario recebia a notícia por Johnson: estavam em Austin, não restavam vínculos ali. O mexicano sentia que ela havia escoado entre seus dedos. — Anote os dados para contato do penhor, chefe. Aqui é o Roberts. - Dario ouvia a voz do homem ao telefone, surpreendia-se. A mulher daquelas imagens era sua Helena. Ela o havia superado e aquilo o magoava em algum ponto de sua alma, mas, agora, ele queria voltar para ela. No material que Dario recebeu, horas e horas de gravações escandalosas, por toda uma casa. Em algu
— Eu gostaria de entender melhor a paixão de meu filho. - Hellen seguia, espinhosa. - Talvez pudesse me dizer como se conheceram. — Oh, sim! - Helena olhou para Martha. - Martha, querida, poderia nos deixar a sós? Creio que este seja um diálogo que necessite de muita discrição. - Hellen aprovava aquela postura decente de tratar os assuntos mais internos de forma sutil. Martha assentiu em um gesto e saiu. — Exótica sua assistente. É estadunidense? - Hellen observava, discreta. A própria Helena a servia de mais refresco. — Não, Senhora Stuart. Minha assistente é haitiana. Fisioterapeuta por vocação. Recomendo, inclusive. Jamais conheci uma massagista com mãos tão hábeis. - Helena elogiava a mulher. Martha, por trás da porta, a ouvia orgulhosa de si. "Que mulher magnífica!" Pensava, feliz. - Voltando ao ponto: Gregory foi meu instrutor na academia, nos conhecemos assim. Depois, tornou-se meu médico, a vida, em campo, não é exatamente afável com seus desafiadores. — Você me parece m
No salão de festas, Gregory e Helena foram recepcionados. Katrina estava exuberante, ao lado de Hellen, conversavam e riam entre si. Uma jovem, de olhos verdes e cabelos loiros, esnobe, vinha em linha reta em direção a ele. Era bonita e tinha uma postura exigente e mimada. — Pai. - A menina disse, com certa reprovação na voz. - Não vai me apresentar a sua... - A jovem fez uma pausa dramática, encarando Helena com desprezo, medindo-a, de cima a baixo. - Amiguinha? - Gregory sentiu Helena soltar seu braço, mantendo sua dignidade. — Scarlet, está é Helena. Helena, minha primogênita, Scarlet. - Gregory disse, começava a se sentir ansioso e agitado. Helena mantinha a pose impassível e nobre. — Ah. - A moça disse, ainda desdenhando de Helena. — É um prazer conhecê-la, senhorita Stuart. - Helena disse, formal e educadamente. — Que seja. - Scarlet respondeu, de qualquer jeito. - Mamãe está aqui. Poderia mandar essa... - Ela revirou os olhos. - "Amiga" embora? Não quero que a mamãe fi
— Por acaso, o cara aniversariando ali. - Mark apontou o salão. - Me contaram que também é meu pai, inclusive, que discussão ridícula é essa perto dessa moça. Sua esposa não está lá dentro, Gregory? — Ex. A que suas patinhas estão tocando é minha namorada. - Gregory afirmou, categórico. Mark se aproximou, devagar, sentia a respiração fraca dela. - Se afasta, Mark. - Brad via a situação escalar, continha Gregory para que não atacasse Mark. Hellen via três dos filhos em torno de Helena, desfalecida, nos braços de Mark. Brad segurava Gregory, de seus filhos, o mais rebelde e impetuoso. — Parem. - Os três homens ouviam a ordem da mãe. Hellen tinha o caos sob controle. - Você. - Apontou para Greg. - Ligue para que a assistente venha buscá-la. — Mas... - Gregory tentava argumentar. — Nem mais e nem menos. - Ela cessava o argumento. - Você, solta essa mulher. - Mark se levantou, com Helena no colo e a entregou para Greg. - E você, vai para dentro. Falo com você mais tarde. - Aponto
DESERTO DE CHIHUAHUA — Una migra! Una migra! Una migra! Mira! - O coiote apontou para um ponto, no alto da colina, sobre o rochedo, sozinho, com uma arma de grosso calibre no colo. Dario Garcia estreitou os olhos, a figura estava parada no alto da rocha, inerte. Não parecia fazer mira ou algo assim, aliás, sequer parecia viva. Ele tratou de instruir os coiotes que trabalhavam para ele e seguiu, perpendicular, em direção à figura agourenta sobre o rochedo. Aproximou-se, devagar, passo após passo, esquivando-se, entre a rala vegetação rasteira do deserto, em seu paramento militar da cor da areia. "Uma migra, sozinha, mulher?" Ele identificava a silhueta da policial. Dario julgava: ou ela tinha se perdido ou estavam em solo estadunidense. Qualquer hipótese era problemática. Conforme se aproximava, o contrabandista percebia as nuances. Filetes de sangue seco partiam do nariz; a boca rachada, a pele exposta. Se estivesse viva, aquela criatura miserável, em pesado paramento militar,
Dario passou horas observando sua paciente. Trocou a bolsa de soro e umedeceu seus lábios com o algodão molhado. Ela era bonita para uma militar, admirava-se do motivo de alguém, como ela, ter virado uma. Com o fim da segunda bolsa, ele a rolou e pôs sob o corpo um tapete descartável higiênico, para cães, para o caso de ainda estar inconsciente quando todo aquele líquido resolvesse sair. Adormeceu, com a pistola em punho, pronto para matá-la, se fosse necessário. Helena sentia a dor excruciante lhe roer a alma, forçando-a a perceber-se. Algo lhe tampava os olhos, estava viva e aquilo bastava naquele instante. A cabeça doía um inferno e os olhos, mesmo fechados, ardiam. A boca e a garganta secos, algo lhe feria o braço, dolorosamente. Ela gemeu, baixinho. Dario despertou. A mulher respirava, ofegante, inquieta. Se não estivesse desperta, logo acordaria. — Me ouve? Me entende? - Ele perguntou, em espanhol, percebia o gesto de cabeça dela, confirmando. Estava desperta. - Qual seu
Algo naquele lugar escuro, no Deserto de Chihuahua cheirava bem. Helena gostava do aroma. Dario a servia de um caldo de legumes, batido e leve. Guiou as mãos dela até a borda da tigela e da colher, mas ela não tinha firmeza nas mãos, tremia muito, ainda sem forças. — Me permita ajudá-la, senhora. - Dario tomava a frente, alimentando-a, colher por colher. Ela se fartou com pouco, o estômago cheio. - Amanhã, vamos partir e levar você até a fronteira. - Ele anunciou, precisava resolver aquela militar antes que ela identificasse o caminho. - Não se preocupe, você estará em casa, com sua criança, antes do anoitecer. — Não tenho uma criança, amigo. - Ela respondeu, curtamente.— Mas tem uma cicatriz no ventre. - Ele seguiu, aplicando o gel sobre a queimadura e o colírio nos bonitos olhos daquela mulher. — Oh! Isso. - Ela piscou os olhos, já não ardiam mais e nem sentia tanta dor. O ferimento no braço era o mais incômodo. Dario limpou o ferimento, cobrindo-o com gaze. — Não precisa falar
Um dia no trabalho e o relatório da ação indicava falha na ação. Em seu escritório recebia o comandante, com o braço que repousava, fora da tipóia, sobre a mesa.— Como está, Helena? - Renard perguntou, fechando a porta atrás de si. — Ah, Peter! Cara! Tive muita sorte. - Ela suspirou. - Fomos emboscados. Ou errei feio nos cálculos do planejamento ou vazou informação. De qualquer forma, a sindicância vai encontrar o problema e me cortar ou achar o boca aberta. Fiz o que pude para livrar a equipe. No time, só eu não tenho família. Sabe como é difícil dar notícia de "Morto em Ação" para quem sobrevive. — Helena, mesmo assim, deveria ser mais cautelosa com esses imprevistos. - Peter a repreendia, suave e amistosamente.— Vou tentar na próxima, Peter. - Ela respondeu, massageando os olhos sob as pálpebras. — Complicadas essas queimaduras nos olhos. Coçam um inferno. - Ele puxava conversa. — Começou aqui. No deserto, esse cara que me resgatou, tinha um colírio que foi excelente. - Ela r