Igreja de Gesu, Palermo, Sicília.
O lugar estava silencioso, já se passavam das duas da tarde, quando alguns passos pesados, foram ouvidos indo em direção ao confessionário.
Padre Guilhermo terceiro, estava dentro do oratório com suas atividades rotineiras, quando ouviu uma voz rouquenha e assustadora, através das grades de madeira.
— Padre, eu vim me confessar! – Disse um jovem, causando arrepios no senhor de bata. Ele se ajoelhou sobre uma almofada que havia no chão, repetindo a mesmas ações dos fervorosos fiéis, que procuravam limpar suas almas dos pecados cometidos.
O mais velho, respirou fundo e sem o olhar diretamente, entregou um envelope pardo, como haviam o ordenado que fizesse.
— Eu estava a sua espera! Diga filho, o que tanto te aflige? – Disse o padre, mostrando sua preocupação, porém, sua voz saiu trêmula.
Mesmo ele sendo um homem licenciado pela igreja para dar a absorção aos fiéis, ele também temia o jovem, que estava do lado de fora da grade de madeira.
— Me desculpe padre, mas se aqui tiver provas de que ela me traiu, eu mesmo a matarei! – Disse Hugo entre dentes, mostrando a sua fúria.
Hugo se levantou, agarrando fortemente o envelope entre seus dedos, mas antes de passar pela porta, ele ouviu o padre lhe dando a absorção.
— Nel nome del padre, del figlio e dello spirito santo. Possa Dio prendersi cura di quest'anima peccatrice. – Disse o padre o seu famoso bodão, fazendo o sinal da cruz.
Ele pedia para que Deus cuidasse da alma de Hugo, já manchada pelos pecados e sangue de muitos.
Hugo caminhou em passos firmes até a saída da capela, entrando em um Maserati, tendo um motorista o guiando apressadamente para longe dali.
Ele não disse nada, até que um de seus homens e braço direito, quebrasse todo o silêncio.
— E aí? Manteremos a missão? – Perguntou Luigi, estendendo a mão, recebendo o envelope.
— Cercatelo! – Disse Hugo, irritado, ordenando que procurassem sua esposa.
Hugo sentiu seu sangue ferver, ao abrir o envelope e ver sua esposa aos beijos com um homem americano na foto.
Ele é uma pessoa de sangue fria, que não mede esforços para se vingar.
Hugo havia dado todo luxo para Fiorella; até mesmo deixou que ela continuasse com sua carreira artística, permitindo que ela não abandonasse o trabalho que tanto dizia amar.
Mas uma coisa não era segredo para toda Sicília, ele não permitia traições e todos sabiam que, quem agisse de forma leviana com ele, não teria o direito clamar por segunda chance.
Esse seria o mesmo destino para Fiorella.
O carro foi indo com velocidade pela estrada, rumo ao mosteiro da cidade. Lá, era onde Hugo e seus capangas, faziam seus encontros frequentes, decidindo onde seria o próximo passo.
Assim que Hugo chegou com Luigi e Cristovam no mosteiro, oito de seus homens estavam nas ruínas o esperando.
Hugo se virou de costas para eles e levou as mãos até os bolsos da calça social justa, olhando para a paisagem que as montanhas o revelava.
Para Hugo, aquela imagem era seu ponto de equilíbrio em meio ao caos.
— Senhor Scopelli! – Chamou Romero, um dos informantes de Hugo, vendo o homem de postura ereta e personalidade fria, se virar lentamente para o olhar. — Ele é um fotógrafo particular da Senhora. Eles mantiveram encontros frequentes a três semanas diretas, desde sua viagem ao exterior.
— Mais alguma coisa sobre ela e esse "bastardo"? – Perguntou Hugo, voltando os olhos para as montanhas.
— Parece ser apenas um caso. Ele tem passagens marcadas para a Rússia, partirá ele e a esposa, cujo nome é Cecília Mantovanni, amanhã à noite. – Disse Romero, ouvindo um suspiro longo.
— E ela? O que achou sobre ela? – Perguntou Hugo, voltando a olhar seu informante.
— Senhor, o nome dela está registrado em uma passagem de volta, no voo americano, para amanhã as quinze horas. Ela está voltando, senhor!
— Rossi! – Chamou Hugo, vendo o homem ir apressado até ele, segundos depois.
— Sim senhor! – Respondeu um de seus funcionários de confiança.
— Peçam que organize a casa de Catânia, iremos receber a senhora Scopelli, com estilo! – Disse Hugo, com rispidez travando o maxilar. Ele exibia um olhar frio e gélido, fazendo com que todos em sua volta, amedrontassem.
— Sim senhor! – Respondeu o homem, saindo apressado, sendo acompanhado por mais alguns.
...
Hugo havia chegado em casa antes mesmo de escurecer e ao entrar com o carro pelos enormes portões de ferro, logo avistou Mirella e Cássia na varanda, cada uma com uma taça de vinho bordô.
— Querido, achei que não voltaria hoje. Como estão as coisas na cidade? – Perguntou Cássia, indo até o filho, o receber no início dos degraus da pequena escada.
— Estou cansado, podemos falar sobre isso depois? – Perguntou Hugo, subindo as escadas direto, abrindo em seguida as enormes portas de madeira da entrada.
— Onde está sua mulher, irmão? – Perguntou Mirella o provocando, antes mesmo que ele entrasse na mansão.
Hugo se virou para ela, exibindo seus olhos escurecidos.
— Ela está a caminho. – Disse Hugo, a respondendo com um timbre gélido.
— Ficamos sabendo que ela anunciou o fim da carreira publicamente. Ela realmente está bem em voltar? – Perguntou Cássia, desconfiando da situação.
— Por que não as perguntam diretamente, quando chegar? Eu estou cansado. - Disse ele friamente, as dando de costas em seguida.
Com isso, elas logo entenderam que, ele não estava para conversa e então o deixaram ir.
Hugo recusou o jantar e foi direto para seu antigo quarto. Ele morava naquela enorme mansão de paredes antigas, antes de se casar. Depois, ele e Fiorella, optaram por uma casa tradicional na cidade.
Ficar na casa da mãe às vezes era mais viável para ele, somente quando estava lá a negócios.
Hugo, era um dos homens mais respeitado e temido em toda Sicília.
O primeiro, foi seu pai, Giuseppe, antigo dono da cadeira de ouro da família Scopelli. Em seguida, veio seu tio Bernard e agora, era a vez dele, o terceiro homem que restou na família.
Hugo carregava o nome da família nas costas, dando continuidade ao trabalho de seus pais. Nada e nem ninguém na Sicília, sem a permissão de Hugo. Ele costumava dar liberdade aos negócios involuntários, desde que não fugissem de suas regras.
Era extremamente proibido o tráfego de menores e a omissão de ganhos sobre os negócios. Ele mais cobrava de casas de jogos e dívidas de agiotas.
Hugo também era um deles; o rigoroso chefe da máfia.
Ele não era de um tanto ruim, muitos o procuravam quando precisavam. A questão era quando faltavam com a palavra e fugiam dele, Hugo ia diretamente cobrar.
E era nesse momento, que diziam sobre ele não ter piedade e nem coração.
Mas essa, era uma frase dos endividados; já as mulheres, pensavam diferente. Elas costumavam fazer de tudo para ter uma oportunidade na cama do Homem.
Hugo além de ser um homem milionário e frio, também era dono de uma beleza comparada aos livros de mitologia grega.
O homem era alto e forte, dono de uma perfeita silhueta e aparência máscula. Ele tinha a pele não muito clara e os olhos eram verdes, como os de folhas frescas. Os cabelos eram curtos e a barba estava sempre bem-feita, mesmo sendo grande.
Ele tinha o hábito de se exercitar com frequência e também, de ter uma bela dama o acompanhando durante as noites. Isso começou, desde que sua esposa saiu da Itália, o deixando disponível para as mulheres.
Hugo não tinha o extinto de fidelidade, mas questionava a esposa e sempre a jurou castigar, caso descobrisse de algo.
Para homens com o poder que ele tinha, somente a opinião deles contava.
Hugo estava tão tomado de fúria, que sua vingança começou naquela mesma noite, quando uma de suas garotas entrou pelo quarto quase desnudas.
— Por que demorou? – Perguntou Hugo, entre dentes, vendo a mulher sorrir de forma lasciva.
Em silêncio, ela caminhou até ele, se desfazendo da fina camisola que a cobria. Hugo travou o maxilar e como um animal descontrolado, ele a jogou na cama, dando a ela uma noite quente de prazer.
Aeroporto Internacional de Richmond.Cecília empurrava sua mala pelo saguão, acompanhada por uma e mais dois seguranças. Ela se sentiu insegura, pois havia pensado que, Fiorella iria até lá , mas não a viu.Eles entraram juntos no avião e foram todos se acomodarem em seus assentos. Assim que Cecília passou os olhos pelo lugar, se encantou com a vista.— Eu só vi um desses pela televisão! – Cochichou Cecília, para a manager de Fiorella, que estava bem ao seu lado. — Acha mesmo que isso vai dar certo?— Você já se olhou no espelho? As chances de isso dar errado, são nulas. – Respondeu, a italiana, tirando um pó compacto da bolsa, passando em Cecília. — Só preciso esconder essas sardas.Assim que Beneditte disse aquilo, a primeira atitude de Cecília foi levar as mãos no rosto, para as esconder.A italiana riu da atitude da garota e voltou a se encostar em sua poltrona.— É, acho que não será fácil. Você é o oposto dela. – Resmungou Beneditte, suspirando fundo, continuando a falar em segu
Comuna Catânia, Sicília- ItáliaA cidade é bonita, realmente um paraíso para os olhos. Eram como nas pinturas; as casas baixas e com aparência antiga.Tinham praças, igrejas antigas e até mesmo o clima que passava, era como se estivessem em um tempo antigo.Cecília estava admirada, ela tentou ao máximo esconder a reação de encanto, sendo quase pega pelo então marido.— Quem é você? – Perguntou Hugo, se virando para a olhar. Naquele momento, até mesmo Cristovam, os encarou pelo retrovisor interno.— O quê? – Perguntou a ruiva, o olhando confusa. Hugo sentiu a diferença e sorriu, fingindo ser uma piada.— Acho que estava com saudades de casa, não é mesmo? – Perguntou ele, segurando a mão de Cecília. Ele vincou as sobrancelhas e permaneceu mais um tempo daquela forma, estranhando o comportamento dela.Ele sabia que, havia algo de errado. Fiorella sempre achou essas coisas de casais, um tanto antiquado e por isso, não demonstrava afeto.Hugo se sentiu curioso e virou o rosto, levando a at
Cecília começou a ouvir passos junto a sussurros pelo quarto; quando ela abriu os olhos, não fazia ideia de que já havia amanhecido e ao ver algumas mulheres andando pelo lugar, ela se sentou imediatamente e se cobriu.— Quem são vocês? – Perguntou Cecília, se escondendo dentro da coberta, deixando apenas partes do rosto a vista.— Desculpe por termos a acordado, senhora. Foi ordem do senhor Scopelli, para virmos limpar toda bagunça. – Quando uma das funcionárias disse aquilo, Cecília levou os olhos pela parede, notando que não havia nada mais, pendurado ali.— Foram vocês? Vocês viram tudo? – Perguntou Cecília, preocupada. A mulher e as outras três, que estavam uniformizadas de forma idênticas como camareira, as olharam confusas, pensando que, talvez, Fiorella estivesse atordoada.— O que há de errado com a parede, senhora? – Perguntou Genevive, a chefe das empregadas. Ela era considerada assim, porque estava a mais tempo na casa, do que as demais.Cecília as olhou e então, suspirou
Aquela sensação que Cecília teve; era como se o peito dela se comprimisse, fazendo-a esquecer de respirar.Por que aquele homem era daquela forma? Ela se perguntou.Cecília virou o rosto lentamente para o olhar e então, os olhos enraivados e escurecidos de Hugo, estavam sobre ela.— D-desculpa, eu pensei que tivesse a chave da biblioteca. – Quando Cecília se justificou, com a voz trêmula, Hugo sorriu e tirou uma chave do bolso, estendendo a ela.— Aqui está, amor. – Disse ele, a vendo pegar, mas antes que Cecília a alcançasse, Hugo recolheu o braço. — Mas por que você iria até lá, se foi sua, a ordem de desfazer dela uma vez?Assim que Hugo disse aquilo, Cecília sentiu-se desconfortável; seria impossível conseguir uma desculpa tão rápida, ela pensou.— Eu disse? Não sei, apenas me senti entediada e decidi rever o lugar! – Respondeu ela com rispidez, tomando a chave de Hugo.Quando ela ia dando de costas para o homem, Cecília sentiu sua cintura ser segurada com força e então, ela foi g
Já haviam se passado os três dias de limite, que Hugo havia dado a Cecília; não tinha jeito, ela teria que ir ao médico para exames, assim que amanhecesse. A ruiva estava aflita, faziam dois desses dias, que ela não tinha notícias do então marido.— Senhora, precisa de mais alguma coisa? – Pergunto Genevive, a governanta.Cecília havia acabado de sair do quarto, com mais um dos livros que recebeu, em mãos.Já se passava do jantar; a maioria dos funcionários havia se recolhido e Cecília havia descido as escadas, para fazer a sua leitura no jardim.Ela olhou para Genevive e sorriu simplista, por ser pegada em flagrante.— Não! Só vou ao jardim. Não se preocupe e continue o que estava fazendo. – Disse ela, tentando ser ríspida, mas ainda assim, ela acabava se saindo fofa sem nem mesmo perceber.Cecília usava um vestido longo branco, que ela gostava de usar para dormir; ela não tinha muitas vestes adequadas e foi a mais descente que ela encontrou nas coisas de Fiorella.Ela segurava as ba
Já estava de manhã e Cecília não havia conseguido dormir. Ela havia se mexido incontáveis vezes, procurando uma boa posição para descansar.Mas como ela poderia dormir, com aqueles pensamentos?A imagem de Hugo, sem camisa não saía da cabeça da ruiva. Ela sabia que não deveria se sentir daquela forma, mas não era como se pudesse controlar.Cecília bateu as pernas na cama, agindo feito uma criança em sua crise de pirraça.— O que eu faço agora? – Perguntou ela, se lembrando de que, o mesmo homem por quem ela estava se sentindo atraída, tinha o poder para tirar a vida dela.Que ironia, não?Hesitante, Cecília ainda permaneceu deitada, esperando que o tempo passasse, mas de repente, ela foi interrompida de seus devaneios por alguém batendo na porta.— Senhora? – Perguntou Giovana, abrindo uma fresta da porta. — A senhora tem visita!— Visitas? – Perguntou Cecília, se levantando da cama com rapidez. Ela caminhou até a porta e olhou diretamente para a empregada. — Quem é?— Está lá em
A situação parecia estar a favor de Cecília.Ela havia se sentado à mesa para tomar o desjejum, sob ordem de Hugo e enquanto eles comiam tranquilos, Ítalo entrou na sala de jantar os interrompendo.— "Don"– Chamou primo, olhando espantado para a ruiva ao lado de seu amigo.— Seja direto, primo! – Rosnou Hugo o observando.O homem ajustou a postura e encarou Hugo, voltando de seus pensamentos confusos. Ele, por um instante, achou estranho ter visto Fiorella a mesa com o amigo, mas teve que ignorar.— Está tudo pronto! Partiremos em uma hora. – Disse ele, olhando para a ruiva mais uma vez e com o cenho enrugado.— Certo. Onde está Katherine? – Perguntou ele, confuso. Ele se referia a amiga de Mirella, que era estilista e faria um lindo vestido para Fiorella.Hugo não o olhou diretamente ao fazer a pergunta, ele segurou a xícara de café e levou aos lábios, esperando que o amigo pronunciasse.— Luigi já cuidou disso. Ela estará lá, esperando pela senhora Scopelli. – Disse ele, tendo os ol
Cecília se instabilizou por um instante, mas sorriu fraco o olhando.— Ótimo, assim descansamos juntos. – Disse ela, com um tom firme, olhando em seguida para Katherine. Ela fez aquilo propositalmente, fingindo estar com ciúmes e foi nesse momento, que todos estremeceram.Sabiam que a indomável Fiorella estava de volta.Hugo a guiou até o final do corredor passando pelo enorme salão de festa da sala de jantar e então, foi na frente guiando Cecília pelas escadas.A ruiva olhou admirada para cada detalhe da decoração do lugar; era uma casa grande e luxuosa; parecia como um enorme castelo.Cecília acabou se entregando mais uma vez, ao olhar tudo com admiração, principalmente quando seus olhos brilharam ao notar o enorme lustre que ia do teto, até a altura da escada, iluminando tudo.— Cuidado, vão achar que é a primeira vez que está vendo isso. – Disse Hugo, a fazendo gelar.— Já vi maiores que nem me lembrava desse. – Disse ela, com a voz desdenhosa, mas interiormente, Cecília estava um