ULLY
Corri pelo apartamento sabendo que Luca vinha atrás de mim. Eu sabia lutar, deveria saber, mas tudo estava perdido junto com as minhas memórias de vida. Ainda não conhecia realmente aquelas pessoas, por mais que me soassem confortáveis e seguras, e não me lembrava de ter vivido nada com Anton, mesmo que pudesse sentir que era real e quisesse ficar perto dele.
Me vi dentro do meu antigo quarto, as cortinas arrancadas e amontoadas no chão. O céu escuro se projetava através da parede de vidro, com as luzes da cidade lá em baixo. Uma paisagem que eu amava por algum motivo que estava perdido dentro da minha cabeça.
- Vamos acabar com isso. – Luca passou pel
ANTON Caí de joelhos sobre os cacos de vidro. A descrença tomava conta de mim. Ully não tinha feito aquilo, ela não podia me abandonar daquela forma. Como eu não havia percebido que seu plano era esse? Eu não teria colaborado, não o teria soltado. Nossa, eu teria atravessado aquela janela com ele se soubesse antes. - Anton! – Dana apareceu correndo, tropeçando nas coisas caídas – Onde está ela, onde está? Ela percebeu o vidro quebrado e, de repente, estava aos gritos diante de mim, mas eu era incapaz de ouvir qualquer coisa. Minha mente estava começando a se afasta
ULLY Éramos um grupo muito maior do que eu poderia imaginar e, todos juntos no mesmo lugar na floresta, formávamos uma pequena multidão de Hallorianos animados e cheios de esperança. Sofremos muito na Terra, por muito tempo, e agora chegava a hora de um recomeço. Um recomeço incerto, não sabíamos em que condições Hallor estava e quantas pessoas ainda morariam lá, mas ainda assim um recomeço cheio de expectativa. A sensação de ver Artur cumprir sua palavra e soltar todo mundo sempre estaria gravada na minha mente. E como fiquei imaginando quantas prisões semelhantes haveriam espalhadas por todo mundo sem que pudéssemos faz
PRIMEIRA PARTEULLY Aterrissei no parapeito do prédio, sem que meu equilíbrio vacilasse por nenhum segundo, e me agachei para olhar a rua escura e deserta lá em baixo. Meus dedos se fecharam na borda estreita automaticamente. - Você tem um corte no braço. – me disse um vulto saindo das sombras. Sorri em silêncio. Será que não se pode ter um segundo de paz? - O que quer, Anton? – perguntei sem me mover para olhá-lo. - Nada. – respondeu displicentemente enquanto se aproximava ai
ULLY - Vamos, Ully... – acordei com batidas na porta. Abri os olhos, que estavam ardendo, e vi que o sol já entrava pela janela. Ainda era bem cedo, eu não devia ter dormido muito. - Ully! – minha mãe bateu mais uma vez e abriu. - Já acordei. – respondi tentando soar o mais desperta possível. - Ótimo. – ela fechou a porta novamente. Me levantei e espreguicei. Estava terrivelmente cansada, o corpo parecia pesar uma tonelada. A madrugada anterior pare
ULLY Anton não apareceu na minha janela nos três dias seguintes e, apesar de ter gostado um pouco da liberdade, me senti com um peso no peito porque acreditava que ele estava magoado com as minhas palavras. - Você tem visto o Anton? – minha mãe perguntou enquanto eu lavava a louça do jantar. - Não. – respondi tentando soar despreocupada. - Estranho ele não aparecer... – ela comentou distraída antes de ir para seu quarto. Foi a última gota para mim. Irritada, fui até meu quarto e passei pela janela. Se
ULLY Durante alguns dias Anton não apareceu, então resolvi ficar esperando por ele, sentada no chão de terra da floresta com as costas apoias no tronco de uma árvore. Ele devia ter entendido o que minha mãe tinha pensado antes de mim. Fiquei em pé assim que ele surgiu entre as árvores, parecendo cansado, com uma calça jeans rasgada e uma camiseta desbotada, e parou assim que me viu ali. - Ully... – seus olhos se arregalaram minimamente. - Anton, eu estava ansiosa para ver você! - Mesmo? – mesmo surpreso com a minh
ULLY Tendo o cuidado de deixar minha janela bem fechada, escapuli silenciosamente pelas árvores na noite seguinte. Estranhamente agitada com o encontro com Luca, e incomodada por fazer algo que Anton julgava errado. Jantamos juntos em casa e tentei soar o mais normal possível, principalmente quando simulei o sono e disse que ia me deitar mais cedo. Ele não pareceu notar, e pude escutar sua conversa com minha mãe por mais uma hora antes que fosse embora. Se tentou falar comigo após isso não percebi, talvez a janela fechada tenha deixado a situação mais realista e ele tenha ido para a própria casa dormir. Meus passos acelerados no escuro só aumentavam minha empolga
ULLY Minha rotina tinha uma nova forma agora. Eu encontrava com Luca a cada dois dias e saia com Anton uma noite, o que simplificadamente significava: Luca, Anton, dia livre, Luca, Anton, dia livre e assim sucessivamente. Era uma rotina particularmente excitante, eu não podia negar, porque pular de prédios era tão incrível quando me afundar nos bancos sujos do cinema abandonado enquanto Luca e eu perdíamos o fôlego e a noção de tempo. A única coisa que me impedia de ser plenamente realizada era a culpa que pesava na minha cabeça todas as vezes que Anton estava presente. Sempre me pegava pensando que ele me trancaria e colocaria correntes nos meus pulsos se desconf