ULLY
- Estamos quase chegando. – Artur disse com desespero.
Estávamos correndo numa velocidade alarmante há algum tempo, o farol atrás de nós tinha se distanciado e desaparecido e, agora numa estrada entre as árvores, Adriane e Artur pareciam aliviados, mas Sarita e eu estávamos mais apreensivas.
- Só mais um pouco... só mais um pouco... – o homem murmurava para si mesmo, inclinado em direção ao vidro da frente com o suor pingando pela testa.
Adriane estava muito tensa, de olhos fechados como se fizesse uma oração, Sarita segurava o bebê próximo ao pei
ANTON O sol começava a nascer enquanto caminhávamos através das árvores. Dana e Zander estavam cheios de cortes sangrando e com expressões muitos sérias porque Luca tinha fugido mais uma vez. Eu só conseguia sentir alívio por Ully ter chegado, mesmo que ela tenha me olhado de um modo muito estranho e preferido não conversar. Claro que eu tinha imaginado que ela correria para os meus braços quando nos reencontrássemos, e não se encolhido num canto com uma criança que eu ainda não fazia ideia de onde tinha vindo. Dana e Zander chegaram logo depois, cheios de adrenalina, contando que apenas por golpes de sorte Luca tinha recuado e fugido.
ANTON - Certo. Precisamos conversar. – falei depois de uma profunda respiração. Estávamos todos sentados na sala. Eu num sofá, Artur com o neto no colo numa poltrona, Dana em outro sofá junto com Ully e Zander na poltrona mais distante de nós. - Certo. – Artur se apressou em concordar, naquele estado sempre ansioso. - Você não. – gesticulei vagamente para ele – Dana, Zander... – esperei os dois me encararem – Está na hora de contar para nós. – apontei de mim para Ully algumas vezes – Precisamos saber exatamente quem s
ANTON Ully estava sentada na varanda, sozinha, com as costas apoiadas na parede da cabana. Parecia muito longe, pensativa, com aquele leve ar de confusão que a acompanhava o tempo todo agora. - Oi. – me aproximei lentamente, as mãos dentro dos bolsos da calça. Ela ergueu o rosto na minha direção imediatamente. - Oi. – respondeu com um sorriso educado. Eu podia perceber seu esforço em não me chatear, tentando soar simpática e não muito estranha, porque sabia que tínhamos uma relação de anos me
ULLY Corri pelo apartamento sabendo que Luca vinha atrás de mim. Eu sabia lutar, deveria saber, mas tudo estava perdido junto com as minhas memórias de vida. Ainda não conhecia realmente aquelas pessoas, por mais que me soassem confortáveis e seguras, e não me lembrava de ter vivido nada com Anton, mesmo que pudesse sentir que era real e quisesse ficar perto dele. Me vi dentro do meu antigo quarto, as cortinas arrancadas e amontoadas no chão. O céu escuro se projetava através da parede de vidro, com as luzes da cidade lá em baixo. Uma paisagem que eu amava por algum motivo que estava perdido dentro da minha cabeça. - Vamos acabar com isso. – Luca passou pel
ANTON Caí de joelhos sobre os cacos de vidro. A descrença tomava conta de mim. Ully não tinha feito aquilo, ela não podia me abandonar daquela forma. Como eu não havia percebido que seu plano era esse? Eu não teria colaborado, não o teria soltado. Nossa, eu teria atravessado aquela janela com ele se soubesse antes. - Anton! – Dana apareceu correndo, tropeçando nas coisas caídas – Onde está ela, onde está? Ela percebeu o vidro quebrado e, de repente, estava aos gritos diante de mim, mas eu era incapaz de ouvir qualquer coisa. Minha mente estava começando a se afasta
ULLY Éramos um grupo muito maior do que eu poderia imaginar e, todos juntos no mesmo lugar na floresta, formávamos uma pequena multidão de Hallorianos animados e cheios de esperança. Sofremos muito na Terra, por muito tempo, e agora chegava a hora de um recomeço. Um recomeço incerto, não sabíamos em que condições Hallor estava e quantas pessoas ainda morariam lá, mas ainda assim um recomeço cheio de expectativa. A sensação de ver Artur cumprir sua palavra e soltar todo mundo sempre estaria gravada na minha mente. E como fiquei imaginando quantas prisões semelhantes haveriam espalhadas por todo mundo sem que pudéssemos faz
PRIMEIRA PARTEULLY Aterrissei no parapeito do prédio, sem que meu equilíbrio vacilasse por nenhum segundo, e me agachei para olhar a rua escura e deserta lá em baixo. Meus dedos se fecharam na borda estreita automaticamente. - Você tem um corte no braço. – me disse um vulto saindo das sombras. Sorri em silêncio. Será que não se pode ter um segundo de paz? - O que quer, Anton? – perguntei sem me mover para olhá-lo. - Nada. – respondeu displicentemente enquanto se aproximava ai
ULLY - Vamos, Ully... – acordei com batidas na porta. Abri os olhos, que estavam ardendo, e vi que o sol já entrava pela janela. Ainda era bem cedo, eu não devia ter dormido muito. - Ully! – minha mãe bateu mais uma vez e abriu. - Já acordei. – respondi tentando soar o mais desperta possível. - Ótimo. – ela fechou a porta novamente. Me levantei e espreguicei. Estava terrivelmente cansada, o corpo parecia pesar uma tonelada. A madrugada anterior pare