ANTON
Alguns dias se passaram sem que eu soubesse como sair daquela situação.
Duas vezes por dia alguém aparecia e jogava comida por entre as grades, geralmente um homem com uma expressão raivosa e arrogante. Nós três dividíamos a comida sentados na cama e conversávamos aos sussurros sobre sair dali e voltar para casa. Isso relaxava Anna, mas deixava Sarah meio depressiva, e eu cada vez mais ansioso para me ver do lado de fora, num local aberto e livre.
A possibilidade de Ully estar ali era baixa, eu tinha dado uma boa margem para ela escapar. Pelo menos era o que eu tentava me convencer todos os dias, senão acabaria enlouquecendo.
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ANTON Segui, com Sarah e Anna atrás de mim, pelo corredor onde cabeças estavam surgindo para me observar. Curiosamente o silêncio se instaurou, como se os outros pudessem saber da nossa fuga. A garota ressurgiu na minha frente, muito pálida e com olhos arregalados. - Obrigado. – falei quando passamos por ela, já sem a preocupação do teatro todo. Ela demonstrava um misto de emoções, mas me forcei a não me importar. Ela ficaria bem, era parte do mundo deles. Luzes vermelhas começaram a piscar, junto com um b
ANTON Andei por um longo tempo, sem conseguir dormir quando ficava sentado nos galhos altos das árvores. Escutava sons onde não havia, via vultos que não existiam. A imagem de Anna e Sarah, mortas tão perto da liberdade, me deixava enjoado e com raiva. A única coisa que me impulsionava para a frente era Ully. A possibilidade de vê-la mais uma vez, mesmo que fosse ao lado daquele garoto idiota, me dava a energia para seguir em frente quando sentia vontade de simplesmente sentar e esperar que alguém me encontrasse. Dias depois a chuva veio, insuportavelmente forte, e me sentei num galho alto e esperei que passasse. Depois de um sono assustadoramente longo e sem sonhos, decidi que precis
LUCA A velocidade era boa, me ajudava a afastar todos os pensamentos perturbadores e me concentrar em chegar ao fim dessa maldita floresta. Só músculos funcionando, sem precisar pensar. E eu não tropecei nenhuma vez, nem caí. Mas quando alcancei meu objetivo precisei desacelerar, agir normalmente para me misturar com as outras pessoas. Ninguém parecia verdadeiramente reparar em mim, o que não era exatamente uma novidade, mas eu estava a tanto tempo sem andar nas ruas na luz do dia que sentia uma certa preocupação. A primeira coisa que me atormentava era a última conversa com Ully. Imagens dela e daquele seu amigo idiota dormindo tranquilamente naquele mesmo colchã
LUCA Ainda parecia uma loucura que Adriane, sempre tão submissa, cheia de tremores e olhares assustados, era aquela mesma mulher que andava com o queixo erguido pela rua. Eu me conformava em a seguir seus passos, aonde quer que estivesse indo, já que não saberia o que fazer de qualquer jeito. Não estava disposto a voltar para Ully, não conseguia nem pensar nela sem frustração. Acreditei que o que tínhamos era especial, mas no fundo ela estava mais próxima daquele grandão do que de mim, que chamava de namorado. No momento eu estava mais preocupado com um abrigo para minha mãe e eu. -
LUCA Tudo ia bem, sob controle. Nós comíamos o que era possível encontrar na floresta e seguíamos andando sem muito rumo. Até que a chuva começou, tão forte que era impossível encontrar um lugar seco, e comecei a ficar preocupado. - Precisamos de um abrigo melhor. – falei, sentado num galho alto, encharcado e com frio. - Vamos seguir adiante. – Adriane batia o queixo – Para as montanhas. - O que, diabos, vamos fazer lá? – reclamei. - Cavernas. – ela saltou do galho que estava. 
ULLY Acordei, totalmente ciente do meu rosto contra o peito nu de Anton, e senti as gotas de chuva tocando meu corpo suavemente – não mais uma tempestade, mas ainda assim insistente – e imagens da noite anterior começaram a surgir rapidamente. No mesmo instante uma pontada incômoda surgiu no meu peito. - Ai. – reclamei colocando uma das mãos no local dolorido. - Já vai passar. – Anton disse enquanto passava mais fortemente o braço ao meu redor. Mas não passou.&
ULLY - Anton? – Zander repetiu com as sobrancelhas franzidas. Dana parecia aliviada de nos ver, juntando nós três num abraço incomum e desajeitado, ela respirou aliviada. Era a primeira grande demonstração de afeto que eu recebia, o que era um pouco recompensador, mas bem constrangedor. - Você não deixa de ser impulsiva por um segundo. – ela reclamou, e assim pareceu mais com minha mãe. - Anton? – Zander repetiu se aproximando de nós. - Sim. – Anton respondeu se desvencilhando do abraço.&
ULLY A expressão de Anton era irritada, muito diferente de todas que tinha mostrado desde o reencontro. Luca era um ponto sensível que ambos estávamos ignorando com a ideia de que ele não apareceria de novo, na opinião de Anton, ou tão cedo, na minha opinião. - Eu não sei bem... – olhei nervosamente para os lados. - Está com medo que ele nos veja? – ele estreitou os olhos. - Claro que não. – protestei – Estou pensando em Dana. Anton respirou fundo e apoiou as costas na árvore.&nb