Anny Celik
Acordei com os primeiros raios de sol invadindo o quarto. Quando abri os olhos, encontrei Miguel dormindo ao meu lado. Era estranho estar tão perto dele, como nunca estive em anos, mas decidi não pensar muito sobre isso. Levantei da cama sem fazer barulho, tomei um banho quente e me vesti com um vestido azul simples, que acentuava meu tom de pele. Passei uma maquiagem leve para esconder qualquer sinal de cansaço e desci para a cozinha. Marc já estava lá, sentado à mesa, com um café na mão e um sorriso caloroso no rosto. — Bom dia, Anny. Dormiu bem? — ele perguntou. — Dormi, sim. Obrigada. E você? — Melhor agora — respondeu, com um brilho nos olhos que me fez desviar o olhar. Antes que eu pudesse dizer algo, ouvi os passos de Miguel descendo as escadas. Ele apareceu na sala de estar com uma expressão séria, mas seus olhos me analisaram rapidamente antes de se sentar ao meu lado. — Onde vocês vão? — perguntou ele, a voz carregada de curiosidade e uma pitada de irritação. Levantei-me, pegando minha bolsa e sinalizando para Marc que era hora de irmos. — Não precisa se preocupar, Miguel — respondi, com um tom mais frio do que eu pretendia. Marc se levantou também, lançando um olhar de provocação para Miguel antes de me acompanhar até o carro. Dentro do carro, o silêncio era confortável, mas Marc quebrou-o com uma pergunta gentil. — Você está bem, Anny? Olhei para ele e forcei um sorriso. — Estou, Marc. Vai ficar tudo bem. Ele assentiu, mas parecia preocupado. Em pouco tempo, chegamos ao hospital. Ao entrarmos, Ferman, o pai de Marc, nos recebeu com um abraço caloroso. — Anny, a melhor nora de todas! — exclamou ele, sorrindo. Marc riu, balançando a cabeça. — Pai, você só tem uma nora. Não precisa exagerar. Ferman lançou um olhar divertido para o filho antes de continuar. — Talvez, mas ela é a melhor! Lion, o tio de Marc, entrou na brincadeira. — Parece que você também queria uma esposa como a Anny, hein, Marc? Eu fiquei instantaneamente envergonhada. A ideia de ser o centro dessas brincadeiras me incomodava mais do que eu gostaria de admitir, mas Marc apenas riu. — Talvez eles tenham razão — brincou Marc, piscando para mim. Seguimos para o consultório recém-inaugurado de Marc. Era um espaço moderno e elegante, refletindo a dedicação e o talento dele. Ele olhou para mim com uma mistura de orgulho e vulnerabilidade que me surpreendeu. — Sabe, Anny, você é a única pessoa no mundo que eu gostaria que estivesse comigo neste momento. Fiquei em silêncio, surpresa pela sinceridade de suas palavras. Ele continuou. — Depois de anos viajando, finalmente sinto que estou em casa. E estar ao seu lado faz isso ainda mais especial. Meu coração apertou. Marc sempre foi meu melhor amigo, alguém que eu podia confiar, mas ouvir essas palavras trouxe uma intensidade inesperada. — Eu também senti sua falta, Marc. Você sempre foi meu melhor amigo. Ele sorriu, mas havia algo mais em seu olhar. — Parece loucura dizer isso, mas nos últimos anos tentei encontrar alguém como você. Percebi que não tem como. Você é única, Anny. Incrivelmente linda. — Marc... — Nunca tive inveja de Miguel. Mas, se alguma vez senti algo parecido, foi por ele ter sido casado com você. A sinceridade dele me deixou sem palavras. Meu coração estava uma bagunça, dividido entre as memórias de Miguel e a presença constante de Marc. Olhei para ele, sem saber o que dizer, e então sorri, um sorriso pequeno, mas honesto. — Obrigada, Marc. Isso significa muito para mim. O dia passou, mas as palavras dele ficaram gravadas em minha mente. Eu sabia que precisava enfrentar meus sentimentos, mas naquele momento eu só pensava em uma única coisa, e era ter a empresa do meu pai de volta, nem estava me importando em estar fingindo ser esposa do maldito Miguel, eu só queria ter de volta a única lembrança quee restou do meu pai e eu aguentaria duas semanas, mesmo que cada vez que via o Miguel me causava desgosto e repulsa por sua mediocridade, mas infelizmente não escolhemos quem amar, mas eu estava transformando esse amor em raiva. O Ferman nos convidou para jantar com ele e a senhora Leyla, fomos até a mansão da família, assim que cheguei lá o Miguel já estava, abracei a Leyla e logo todos jantamos, foi então que o meu ex-sogro disse: —Neste natal um de vocês irá ter todo o poder das redes hospitalares Aksoy. —Meu sogro, o senhor é sábio, mas se me permite dar uma opinião gostaria de dizer algo. —Claro minha nora, você sempre pode dizer tudo que pensa. Miguel olhou para mim, parecendo um cachorrinho com medo, eu fingi que ele não estava lá e continuei: —O Marc é a melhor opção para o cargo, ele já é médico, ama o que faz, tem diversas especializações na área e tenho certeza de que ele é o mais apto para o cargo. —Nossa querida, mas e quanto ao seu esposo?—disse a senhora Leyla. —Ele é ótimo como advogado e acredito que essa profissão cai bem nele, não o vejo comandando uma rede de hospitais, não é mesmo querido? continua...Miguel Ylmaz Aksoy A tensão no jantar era palpável, e cada palavra de Anny parecia um golpe direto no meu ego. Eu sentia o olhar de todos sobre mim, esperando uma reação, mas tudo o que consegui fazer foi apertar os punhos sob a mesa, tentando não transparecer o que realmente sentia. "Ele já é médico, ama o que faz..." As palavras ecoavam na minha mente, como um disco quebrado. Eu sabia que não era o favorito para assumir a rede de hospitais, mas ouvir isso dela, na frente de todos, me atingiu como um soco. Tentei sorrir, mas parecia mais uma careta forçada. — Você tem razão, querida. Advogar sempre foi minha paixão — respondi, a voz controlada, embora por dentro eu estivesse fervendo. Os olhares aliviados de Leyla e Ferman foram o suficiente para eu engolir meu orgulho por mais alguns minutos. Mas, enquanto o jantar continuava, não consegui tirar os olhos de Anny. Ela estava tão tranquila, tão... indiferente. Isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.
Anny CelikSentada à mesa, sentia como se cada palavra trocada fosse uma punhalada silenciosa no meu coração. Sorri para Leyla e Ferman, como sempre fiz, mas tudo dentro de mim estava em pedaços. Não sei como ainda conseguia sustentar essa máscara de tranquilidade. Quando Miguel voltou, seu rosto estava pálido, e havia algo diferente em sua expressão. Ele parecia... derrotado. — Quero dizer algo — começou Miguel, com a voz grave, cortando a conversa descontraída que Leyla tinha com Ferman. Todos olharam para ele, curiosos e tensos. Eu sabia que algo estava prestes a mudar, e meu coração disparou. — Não posso mais mentir para vocês. Eu e Anny... — ele pausou, como se reunir coragem para continuar fosse o maior desafio de sua vida. — Estamos divorciados. O choque estampou o rosto de Leyla, enquanto Ferman arqueava as sobrancelhas, surpreso. Minha boca se abriu levemente, mas nenhuma palavra saiu. Miguel não parou, e sua voz ficou mais firme. — Eu cometi um erro ao forçar Anny a fin
Anny Celik Aceitei a oferta de Marc. Mesmo que algo em mim hesitasse, parecia ser a escolha certa. Um novo começo. Ele me conduziu até o quarto de visitas. O cômodo era luxuoso e confortável. Deitei na cama, sentindo o peso de tudo que havia acontecido nos últimos dias. O teto branco era um alívio para os olhos cansados, mas minha mente estava cheia de lembranças. Fechei os olhos, e as memórias vieram com força. Lembrei de como Miguel parecia se importar comigo nos primeiros meses do noivado. Havia momentos em que ele me olhava de um jeito que fazia meu coração acreditar que, talvez, eu pudesse ser feliz. Que, talvez, um dia ele pudesse me amar. Mas com o passar do tempo, percebi que eu era apenas uma parte do plano dele, uma peça no tabuleiro que ele controlava com precisão. Suspirei, sentindo o amargor das escolhas que fiz. Se eu tivesse negado os sentimentos que tinha por ele, tudo poderia ter sido diferente. Talvez eu tivesse mantido minha dignidade intacta. Talvez não estives
Anny Celik Já fazia duas semanas que eu estava trabalhando como advogada do hospital. O ambiente era acolhedor, e eu finalmente sentia que estava seguindo em frente. Ter um espaço só meu também fazia diferença. Meu apartamento era pequeno, mas tinha minha cara. Era meu refúgio. Leyla e Ferman continuavam sendo presenças constantes na minha vida, me oferecendo suporte de uma forma que eu não esperava, mas que agradecia profundamente. Quanto a Miguel, ele parecia ter desaparecido. Não o vi nem ouvi falar dele durante todo esse tempo, o que trouxe um misto de alívio e desconforto. Era estranho como sua ausência podia ser tão notável, mesmo quando eu achava que ela deveria ser indiferente para mim. Naquela noite, o hospital organizava uma festa para arrecadar fundos para a ala pediátrica gratuita. Eu não era fã de eventos sociais, mas Marc insistiu que eu fosse. Ele sempre fazia questão de me incluir, de me lembrar que eu era importante e que merecia estar presente. Me preparei com
Anny Celik Eu odiava estar ali. A mansão que um dia chamei de lar agora parecia um labirinto de lembranças que eu me esforcei tanto para enterrar. Assim que Miguel parou o carro e desceu para abrir minha porta, eu já sabia que aquilo não terminaria bem. — Não vou ficar aqui, Miguel. Você não pode me obrigar a isso. Saí do carro, tentando ignorar o peso do lugar e a proximidade dele. Cada passo que dava me deixava mais sufocada. — Anny, espera. Ignorei sua voz e continuei andando em direção à saída do portão. Foi quando senti sua mão segurando meu braço, me fazendo virar de frente para ele. — Não vou deixar você ir, não até eu contar o que está acontecendo. — Eu não pertenço mais à sua vida, Miguel. Não sou mais sua esposa, então tudo que for a respeito de você não é do meu interesse. Agora solte a minha mão. — Minhas palavras saíram mais afiadas do que eu esperava, mas eu queria que ele entendesse. Os olhos dele brilharam com uma intensidade que me deixou desc
Miguel Ylmaz Aksoy Desde o momento em que trouxe Anny de volta para esta casa, algo em mim sabia que a guerra estava longe de terminar. Quando me virei e vi a raiva em seus olhos, percebi que aquela mulher não era mais a mesma de antes. Ela havia endurecido, se fortalecido, e estava disposta a fazer o que fosse necessário para escapar. Mas eu não podia deixá-la ir. Não ainda. Ela se aproximou, os olhos queimando com uma fúria que fazia minha respiração acelerar. Anny sempre teve esse efeito sobre mim. Mesmo nos piores momentos, mesmo quando tudo entre nós parecia perdido, ela era o caos que me atraía e a paz que eu nunca conseguia alcançar. — Fala logo, Miguel. Diz o que você quer — ela exigiu, cruzando os braços e ficando perto o suficiente para que eu sentisse o perfume dela. — O que eu quero é mostrar para você que estou arrependido. — Respirei fundo, sentindo o peso do que estava prestes a admitir. — Eu não devia ter me divorciado de você, Anny. Por isso não quero que cor
Miguel Ylmaz Aksoy Eu não consegui dormir naquela noite. Permaneci sentado na poltrona do quarto, observando Anny enquanto ela se encolhia na cama, o rosto virado para a parede. Cada curva do seu corpo parecia gritar que ela estava distante, inalcançável. Como foi que chegamos a isso? Deixei o amor da minha vida escapar, me afoguei na obsessão por outra pessoa e agora, quando finalmente percebi que tentei fingir não amá-la, talvez fosse tarde demais. O silêncio no quarto era sufocante. Eu precisava falar com ela, dizer mais do que apenas desculpas vazias. Precisava fazê-la entender que tudo o que fiz, por mais errado que fosse, sempre teve como objetivo protegê-la de mim mesmo e dos meus segredos. — Não vai dormir? — Sua voz baixa cortou o silêncio. Olhei para ela, mas ela não se virou. — Não consigo. — Respondi, direto. Ela bufou, quase rindo. — Culpa costuma tirar o sono mesmo. — Anny... — Me levantei, caminhando até a cama. — Sei que você não acredita em
Anny Celik A luz da manhã entrou timidamente pelas cortinas entreabertas, trazendo-me de volta à realidade. Pisquei algumas vezes, tentando ajustar meus olhos à claridade. Virei o rosto, e meu coração deu um salto ao perceber Miguel deitado ao meu lado. Ele me segurava pela cintura, como se, mesmo dormindo, tivesse medo de me deixar ir. Por um momento, fiquei observando-o. A expressão dele era serena, os traços tão familiares e ainda tão dolorosos de encarar. Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas então ele abriu os olhos lentamente, encontrando os meus. — Bom dia. — Ele sorriu e, antes que eu pudesse reagir, inclinou-se e me deu um selinho. Afastei-me ligeiramente, meu corpo tenso. — Você está equivocado, Miguel. Eu não sou a Diana. Ele piscou algumas vezes, como se precisasse processar minhas palavras, mas manteve o tom calmo. — Você tem todo direito de agir assim. Eu sempre a rejeitei, acreditando que amava a Diana... — Ele fez uma pausa, e seu olhar ficou mais séri