Miguel Ylmaz Aksoy
Desci com a Anny e logo nos juntamos a Diana e Marc para o café da manhã que parecia um estranho, apesar de nós quatro nos conhecermos desde a infância, já que Diana e Anny eram nossas vizinhas por muito tempo. Marc estava sentado à mesa comigo, Diana e Anny. Havia algo nele, em como olhava para ela, que me incomodava profundamente, embora eu não conseguisse entender exatamente o porquê. — Você está linda hoje, que bom que consegui passar o natal com vocês, podemos ir juntos Anny até a casa da nossa família, tenho algo para lhe dar que está lá na mansão dos meus pais— ele disse para Anny, com um sorriso que me irritou imediatamente. Anny agradeceu, sem dar muita importância, mas aquilo me fez cerrar os dentes. Não era como se ela estivesse errada por aceitar o elogio, mas o tom casual de Marc me provocava de um jeito que eu não sabia explicar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Marc a convidou para sair. — Vamos até a casa da minha família.Tenho muito o que te contar sobre minha viagem ao Japão— disse ele, ignorando completamente minha presença e Anny saiu sem sequer dizer nada. Anny aceitou o convite e os dois saíram juntos, deixando-me sozinho com Diana. O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Então, ela quebrou a barreira. — Eu me separei do meu marido. A notícia me pegou de surpresa. Olhei para ela, esperando mais explicações. — Por quê? — perguntei. — Achei que você fosse feliz com ele. Ela soltou um riso amargo. — Feliz? Eu nunca o amei. Só me casei com ele porque... bom, porque esperava que você impedisse o casamento. Senti meu estômago revirar. — Como assim? — Miguel, eu nunca escondi o que sentia por você. Achei que era óbvio. Mas você não fez nada. Você me deixou ir embora e, meses depois, casou-se com Anny, achei que a amasse, mas após ver que se divorciaram, decidi ser sincera e dizer tudo e deixar bem claro para você que eu te quero como sempre o quis. As palavras dela me atingiram como um golpe. — Eu... eu pensei que você amasse o seu noivo. Achei que estava fazendo o que era certo. — Não. Desde que éramos crianças, eu sempre deixei claro o que sentia. Assim como Marc deixou claro que era apaixonado pela Anny. Marc. O nome dele ressoou na minha mente, trazendo uma onda de desconforto que eu não conseguia ignorar. — Não imaginei que fosse você a se casar com ela, Miguel. Você, de todas as pessoas. Fiquei em silêncio. Não sabia o que dizer. A revelação de que Marc era apaixonado por Anny, somada ao tom de decepção na voz de Diana, deixou minha mente em completo caos. Para fugir da confusão, fiz a única coisa que parecia aliviar a pressão: bebi uma taça de vinho. Em seguida disse a Diana que ela precisava ficar em um hotel, eu teria que fingir estar casado ainda para minha família até o natal, depois disso, eu poderia dar uma chance a nós. Eu a levei para o hotel luxuoso e em seguida ela me beijou, depois ela me levou até a cama, ficando apenas de lingerie, eu continuei a beijando, mas não parecia ser algo que eu desejava, levantei da cama e disse que precisava ir. Fui direto para a minha empresa e fiquei no meu escritório a tarde toda, trabalhando em alguns processos, em seguida decidi voltar para casa, quando já estava noite. Voltei para casa e subi até o quarto que há anos eu evitava. Deitei na cama sem pensar, sem refletir sobre o lugar onde estava. Algum tempo depois, senti o colchão afundar. Abri os olhos e, para minha surpresa, Anny estava ali, me encarando com uma expressão de choque. — O que está fazendo aqui? — perguntou ela, a voz carregada de incredulidade. Fingi que estava dormindo, fechando os olhos sem dizer nada. Ela hesitou por um momento, mas acabou se deitando ao meu lado. O perfume dela invadiu meus sentidos, um cheiro familiar que me levou de volta a um tempo que parecia tão distante. Fazia anos que eu não estava tão perto dela, tão consciente de sua presença. E, pela primeira vez, senti meu coração bater mais rápido. Por que agora? Depois de tanto tempo esperando por Diana, idealizando-a, por que eu estava sentindo isso por Anny? Tentei afastar o pensamento, mas ele permaneceu ali, insistente. Eu esperei tanto por Diana, mas, agora que finalmente podia tê-la, algo dentro de mim parecia me puxar para o passado com Anny, a minha agora ex-esposa. continua...Anny CelikAcordei com os primeiros raios de sol invadindo o quarto. Quando abri os olhos, encontrei Miguel dormindo ao meu lado. Era estranho estar tão perto dele, como nunca estive em anos, mas decidi não pensar muito sobre isso. Levantei da cama sem fazer barulho, tomei um banho quente e me vesti com um vestido azul simples, que acentuava meu tom de pele. Passei uma maquiagem leve para esconder qualquer sinal de cansaço e desci para a cozinha. Marc já estava lá, sentado à mesa, com um café na mão e um sorriso caloroso no rosto. — Bom dia, Anny. Dormiu bem? — ele perguntou. — Dormi, sim. Obrigada. E você? — Melhor agora — respondeu, com um brilho nos olhos que me fez desviar o olhar. Antes que eu pudesse dizer algo, ouvi os passos de Miguel descendo as escadas. Ele apareceu na sala de estar com uma expressão séria, mas seus olhos me analisaram rapidamente antes de se sentar ao meu lado. — Onde vocês vão? — perguntou ele, a voz carregada de curiosidade e uma pitada de ir
Miguel Ylmaz Aksoy A tensão no jantar era palpável, e cada palavra de Anny parecia um golpe direto no meu ego. Eu sentia o olhar de todos sobre mim, esperando uma reação, mas tudo o que consegui fazer foi apertar os punhos sob a mesa, tentando não transparecer o que realmente sentia. "Ele já é médico, ama o que faz..." As palavras ecoavam na minha mente, como um disco quebrado. Eu sabia que não era o favorito para assumir a rede de hospitais, mas ouvir isso dela, na frente de todos, me atingiu como um soco. Tentei sorrir, mas parecia mais uma careta forçada. — Você tem razão, querida. Advogar sempre foi minha paixão — respondi, a voz controlada, embora por dentro eu estivesse fervendo. Os olhares aliviados de Leyla e Ferman foram o suficiente para eu engolir meu orgulho por mais alguns minutos. Mas, enquanto o jantar continuava, não consegui tirar os olhos de Anny. Ela estava tão tranquila, tão... indiferente. Isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.
Anny CelikSentada à mesa, sentia como se cada palavra trocada fosse uma punhalada silenciosa no meu coração. Sorri para Leyla e Ferman, como sempre fiz, mas tudo dentro de mim estava em pedaços. Não sei como ainda conseguia sustentar essa máscara de tranquilidade. Quando Miguel voltou, seu rosto estava pálido, e havia algo diferente em sua expressão. Ele parecia... derrotado. — Quero dizer algo — começou Miguel, com a voz grave, cortando a conversa descontraída que Leyla tinha com Ferman. Todos olharam para ele, curiosos e tensos. Eu sabia que algo estava prestes a mudar, e meu coração disparou. — Não posso mais mentir para vocês. Eu e Anny... — ele pausou, como se reunir coragem para continuar fosse o maior desafio de sua vida. — Estamos divorciados. O choque estampou o rosto de Leyla, enquanto Ferman arqueava as sobrancelhas, surpreso. Minha boca se abriu levemente, mas nenhuma palavra saiu. Miguel não parou, e sua voz ficou mais firme. — Eu cometi um erro ao forçar Anny a fin
Anny Celik Aceitei a oferta de Marc. Mesmo que algo em mim hesitasse, parecia ser a escolha certa. Um novo começo. Ele me conduziu até o quarto de visitas. O cômodo era luxuoso e confortável. Deitei na cama, sentindo o peso de tudo que havia acontecido nos últimos dias. O teto branco era um alívio para os olhos cansados, mas minha mente estava cheia de lembranças. Fechei os olhos, e as memórias vieram com força. Lembrei de como Miguel parecia se importar comigo nos primeiros meses do noivado. Havia momentos em que ele me olhava de um jeito que fazia meu coração acreditar que, talvez, eu pudesse ser feliz. Que, talvez, um dia ele pudesse me amar. Mas com o passar do tempo, percebi que eu era apenas uma parte do plano dele, uma peça no tabuleiro que ele controlava com precisão. Suspirei, sentindo o amargor das escolhas que fiz. Se eu tivesse negado os sentimentos que tinha por ele, tudo poderia ter sido diferente. Talvez eu tivesse mantido minha dignidade intacta. Talvez não estives
Anny Celik Já fazia duas semanas que eu estava trabalhando como advogada do hospital. O ambiente era acolhedor, e eu finalmente sentia que estava seguindo em frente. Ter um espaço só meu também fazia diferença. Meu apartamento era pequeno, mas tinha minha cara. Era meu refúgio. Leyla e Ferman continuavam sendo presenças constantes na minha vida, me oferecendo suporte de uma forma que eu não esperava, mas que agradecia profundamente. Quanto a Miguel, ele parecia ter desaparecido. Não o vi nem ouvi falar dele durante todo esse tempo, o que trouxe um misto de alívio e desconforto. Era estranho como sua ausência podia ser tão notável, mesmo quando eu achava que ela deveria ser indiferente para mim. Naquela noite, o hospital organizava uma festa para arrecadar fundos para a ala pediátrica gratuita. Eu não era fã de eventos sociais, mas Marc insistiu que eu fosse. Ele sempre fazia questão de me incluir, de me lembrar que eu era importante e que merecia estar presente. Me preparei com
Anny Celik Eu odiava estar ali. A mansão que um dia chamei de lar agora parecia um labirinto de lembranças que eu me esforcei tanto para enterrar. Assim que Miguel parou o carro e desceu para abrir minha porta, eu já sabia que aquilo não terminaria bem. — Não vou ficar aqui, Miguel. Você não pode me obrigar a isso. Saí do carro, tentando ignorar o peso do lugar e a proximidade dele. Cada passo que dava me deixava mais sufocada. — Anny, espera. Ignorei sua voz e continuei andando em direção à saída do portão. Foi quando senti sua mão segurando meu braço, me fazendo virar de frente para ele. — Não vou deixar você ir, não até eu contar o que está acontecendo. — Eu não pertenço mais à sua vida, Miguel. Não sou mais sua esposa, então tudo que for a respeito de você não é do meu interesse. Agora solte a minha mão. — Minhas palavras saíram mais afiadas do que eu esperava, mas eu queria que ele entendesse. Os olhos dele brilharam com uma intensidade que me deixou desc
Miguel Ylmaz Aksoy Desde o momento em que trouxe Anny de volta para esta casa, algo em mim sabia que a guerra estava longe de terminar. Quando me virei e vi a raiva em seus olhos, percebi que aquela mulher não era mais a mesma de antes. Ela havia endurecido, se fortalecido, e estava disposta a fazer o que fosse necessário para escapar. Mas eu não podia deixá-la ir. Não ainda. Ela se aproximou, os olhos queimando com uma fúria que fazia minha respiração acelerar. Anny sempre teve esse efeito sobre mim. Mesmo nos piores momentos, mesmo quando tudo entre nós parecia perdido, ela era o caos que me atraía e a paz que eu nunca conseguia alcançar. — Fala logo, Miguel. Diz o que você quer — ela exigiu, cruzando os braços e ficando perto o suficiente para que eu sentisse o perfume dela. — O que eu quero é mostrar para você que estou arrependido. — Respirei fundo, sentindo o peso do que estava prestes a admitir. — Eu não devia ter me divorciado de você, Anny. Por isso não quero que cor
Miguel Ylmaz Aksoy Eu não consegui dormir naquela noite. Permaneci sentado na poltrona do quarto, observando Anny enquanto ela se encolhia na cama, o rosto virado para a parede. Cada curva do seu corpo parecia gritar que ela estava distante, inalcançável. Como foi que chegamos a isso? Deixei o amor da minha vida escapar, me afoguei na obsessão por outra pessoa e agora, quando finalmente percebi que tentei fingir não amá-la, talvez fosse tarde demais. O silêncio no quarto era sufocante. Eu precisava falar com ela, dizer mais do que apenas desculpas vazias. Precisava fazê-la entender que tudo o que fiz, por mais errado que fosse, sempre teve como objetivo protegê-la de mim mesmo e dos meus segredos. — Não vai dormir? — Sua voz baixa cortou o silêncio. Olhei para ela, mas ela não se virou. — Não consigo. — Respondi, direto. Ela bufou, quase rindo. — Culpa costuma tirar o sono mesmo. — Anny... — Me levantei, caminhando até a cama. — Sei que você não acredita em