Aurora Duarte Ricci Cruzei os braços, esperando que ele fosse direto ao ponto. — Precisa de mais alguma assinatura minha antes de eu ir? Ele apertou os lábios e desviou o olhar por um instante, como se estivesse organizando os próprios pensamentos. — Preciso que você espere. — Para quê? — Me responde uma coisa, Aurora. Por que, anos atrás, você investiu na minha pequena empresa? Minha respiração falhou por um momento. Eu não esperava essa pergunta. — Por que passou horas e horas fazendo planilhas, orçamentos para que eu conseguisse um investimento e, depois, colocou seu próprio dinheiro no meu negócio? Mais do que qualquer dos acionistas que tenho na empresa, você se dedicou para que meu pequeno negócio, se tornasse algo grandioso, e eu fico me perguntado, o que te motivou? Engoli em seco. Theo me olhava com intensidade, e fugir agora não era uma opção. — Porque... — suspirei, buscando as palavras certas. — Eu havia perdido meus pais quando era nova e vim
Lívia Costa —Estou atrapalhando algo?—perguntei olhando para os dois. —Não, eu já estou de saída. Olhei para a Aurora saindo em direção a porta e então disse: —Espera!—entreguei o cartão da minha confeitaria.—Apareça na minha confeitaria, será muito bem-vinda. O aroma adocicado ainda pairava no ar quando a Aurora saiu do escritório dele.Ainda sentia a presença de Aurora e Theo queimando na minha mente, como se aquelas cenas de um passado que eu lutava para apagar continuassem tão presente. —O que você e a Aurora estavam fazendo?— perguntei e fiquei pensativa. — O que disse?— A voz de Theo me tirou do transe. Ele piscou algumas vezes antes de finalmente me encarar. Parecia perdido, como se ainda pudesse sentir o perfume de Aurora no ar. Engoli em seco. —Quer uma xícara de café para acompanhar o bolo? Theo hesitou antes de assentir. Servi-lhe o café e observei enquanto ele levava o garfo à boca, degustando o bolo que eu mesma havia preparado. Seus traços se suav
Aurora Duarte Ricci O quarto de hotel estava mergulhado em um silêncio reconfortante, interrompido apenas pelo som da minha respiração controlada. Eu estava sentada na beira da cama, encarando a mala semiaberta. As lembranças do passado voltavam a me atormentar, como se tivessem esperado o momento certo para me assombrar. Então, a campainha tocou. Meu coração acelerou. Nenhuma visita era esperada. Levantei-me hesitante e abri a porta. E lá estava ela. Isabela sorriu ao ver o pequeno no sofá e, sem cerimônia, disse: — Sentiu minha falta, irmã? Fechei os olhos por um segundo. Eu sabia que ela viria. Ester nunca guardava segredo por muito tempo. — O que aconteceu? Quando chegou? — Já tem dois dias. Achou que Ester não me contaria que você veio aqui novamente? Só que, dessa vez, cuidei pessoalmente do pedido que fez a Ester. — Sua voz carregava aquele tom autoritário que sempre teve. Ela entrou e se acomodou no sofá, cruzando as pernas com a elegância de quem já sabia
Theo Lima Olhei para Aurora e a beijei, o gosto dela ainda nos meus lábios. Aurora. O nome ecoava em minha mente, mas algo estava errado. O beijo foi intenso, cheio de emoção, mas... vazio. Deveria ter sido diferente. Deveria ter sido como uma explosão dentro de mim, mas ao invés disso, parecia... estranho. Ela se afastou, os olhos me analisando em busca de algo que eu não conseguia lhe dar. — Preciso voltar para o hotel — sua voz era baixa, mas firme. Assenti, sentindo um aperto inexplicável no peito. Eu a levei, deixei-a na porta do hotel e, antes que ela entrasse, me inclinei e capturei seus lábios novamente. Talvez eu só precisasse de mais um beijo para sentir o que deveria sentir. Mas não senti. Nada além de confusão. Aurora me olhou por um momento antes de sussurrar um boa noite e desaparecer para dentro do prédio. Entrei no carro e segui para casa. Meus dedos apertavam o volante com força, minha mente rodopiando. Por que eu não senti nada? Por que, ao invés d
Theo Lima O som da água caindo no chão do box ecoava pelo banheiro enquanto eu terminava meu banho. A noite tinha sido longa, e minha mente ainda estava uma bagunça. Aurora, Lívia, o passado… Tudo parecia embaralhado dentro de mim. Mas uma coisa eu sabia: não podia continuar assim. Precisava colocar a cabeça no lugar. Depois de me vestir, desci as escadas, sentindo o cheiro familiar de café e pão quente. Quando cheguei à sala de estar, vi Lívia colocando a mesa com um cuidado quase automático, como se estivesse imersa em seus próprios pensamentos. Ela ergueu os olhos ao me ver e hesitou por um instante. — Preciso falar algo com você — sua voz saiu suave, mas firme. Aquela frase bastou para que um nó se formasse em meu peito. — O que foi? — perguntei, dando um passo mais próximo. Mas antes que ela pudesse responder, sua expressão mudou. Seus ombros caíram levemente, e ela levou uma das mãos à testa, piscando algumas vezes como se o mundo ao seu redor estivesse girando.
Theo Lima O peso da verdade ainda pulsava em minha mente enquanto dirigia de volta para casa, com Lívia ao meu lado. Meu coração batia acelerado, como se quisesse sair do peito. Tudo o que havíamos vivido até agora era uma mentira cruelmente arquitetada. Eu olhava para Lívia, que estava tão abalada quanto eu. Seu rosto estava pálido, e suas mãos tremiam levemente sobre as pernas. Eu queria dizer algo, mas que palavras poderiam confortá-la depois de tudo? Assim que chegamos à mansão, Aurora já nos esperava. Seus olhos analisaram a mim e a Lívia, e vi o momento exato em que ela compreendeu. Seu rosto endureceu, mas não havia raiva ali. Apenas um cansaço profundo e uma tristeza devastadora. Ela não precisou perguntar nada. Nós também não. O silêncio foi a resposta. Mas eu tinha que dizer. — Nós três fomos enganados — minha voz soou firme, mas o nó na garganta quase me impediu de continuar. — Isabella e Gabriel nos manipularam desde o início. Os olhos de Aurora se fec
Aurora Duarte Ricci A porta da mansão de Theo se fechou atrás de mim com um baque seco, mas a tempestade dentro de mim continuava a rugir. Meu corpo tremia de raiva, dor, e algo que eu ainda não conseguia nomear. O ar quente da noite no Brasil, cortava minha pele, mas eu mal sentia. Tudo o que ecoava em minha mente era a voz de Regiane e Theo traçando um plano para desmascarar Isabella. Minha própria irmã. Como ela pôde? Como foi capaz de manipular meu passado, arrancar de mim a verdade sobre o meu filho, sobre o homem que… Balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento. Entrei no carro, minhas mãos ainda trêmulas segurando o volante. O hotel onde eu estava hospedada não ficava longe, mas cada curva da estrada parecia me sufocar mais. Minha respiração era curta, e o nó na minha garganta crescia a cada batida do meu coração. Eu precisava de respostas. Eu precisava encarar Isabella. Quando estacionei em frente ao hotel, não demorei a sair. O hall estava quase vazio,
Aurora Duarte Ricci Eu não consegui ir direto para casa, ao chegar no aeroporto, decidi que primeiro iria pensar no que fazer então aproveitei o momento e peguei um voo para a Espanha. O cheiro de álcool e perfume caro pairava no ar quando o avião pousou suavemente em solo espanhol. Eu abri os olhos lentamente, a cabeça latejando, o estômago embrulhado. A primeira classe parecia silenciosa demais, e o contraste com a tempestade dentro de mim era quase insuportável. Eu não sabia por que tinha escolhido esse destino. Talvez porque não fosse a Itália, talvez porque eu precisasse me perder em algum lugar onde ninguém conhecia meu nome. A cada passo pelo aeroporto, sentia como se meu corpo pesasse uma tonelada. As últimas horas eram um borrão. Isabella, Dimitri, Theo e Lívia … A dor me engolia, e tudo o que eu queria era esquecer. A primeira coisa que fiz quando saí do aeroporto foi pegar um táxi. — Para onde, señorita? — o motorista perguntou. — Um cassino — minha voz saiu r