Aurora Duarte Ricci A porta da mansão de Theo se fechou atrás de mim com um baque seco, mas a tempestade dentro de mim continuava a rugir. Meu corpo tremia de raiva, dor, e algo que eu ainda não conseguia nomear. O ar quente da noite no Brasil, cortava minha pele, mas eu mal sentia. Tudo o que ecoava em minha mente era a voz de Regiane e Theo traçando um plano para desmascarar Isabella. Minha própria irmã. Como ela pôde? Como foi capaz de manipular meu passado, arrancar de mim a verdade sobre o meu filho, sobre o homem que… Balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento. Entrei no carro, minhas mãos ainda trêmulas segurando o volante. O hotel onde eu estava hospedada não ficava longe, mas cada curva da estrada parecia me sufocar mais. Minha respiração era curta, e o nó na minha garganta crescia a cada batida do meu coração. Eu precisava de respostas. Eu precisava encarar Isabella. Quando estacionei em frente ao hotel, não demorei a sair. O hall estava quase vazio,
Aurora Duarte Ricci Eu não consegui ir direto para casa, ao chegar no aeroporto, decidi que primeiro iria pensar no que fazer então aproveitei o momento e peguei um voo para a Espanha. O cheiro de álcool e perfume caro pairava no ar quando o avião pousou suavemente em solo espanhol. Eu abri os olhos lentamente, a cabeça latejando, o estômago embrulhado. A primeira classe parecia silenciosa demais, e o contraste com a tempestade dentro de mim era quase insuportável. Eu não sabia por que tinha escolhido esse destino. Talvez porque não fosse a Itália, talvez porque eu precisasse me perder em algum lugar onde ninguém conhecia meu nome. A cada passo pelo aeroporto, sentia como se meu corpo pesasse uma tonelada. As últimas horas eram um borrão. Isabella, Dimitri, Theo e Lívia … A dor me engolia, e tudo o que eu queria era esquecer. A primeira coisa que fiz quando saí do aeroporto foi pegar um táxi. — Para onde, señorita? — o motorista perguntou. — Um cassino — minha voz saiu r
Aurora Duarte Ricci Eu senti o chão sumir sob meus pés. Meu coração disparava no peito, a cabeça latejava, e as palavras dele ecoavam como um trovão nos meus ouvidos. — Eu fiz o quê?— Minha voz saiu em um sussurro rouco. Lucas, se esse era mesmo o nome dele — cruzou os braços, me observando com aquele olhar intenso e curioso, como se tentasse decifrar cada pedaço do meu caos interno. — Ligou para o Theo— ele repetiu, dando de ombros. — Disse para ele vir pra cá o mais rápido possível, que você tinha um plano. Também mencionou uma tal de Lívia. Eu levei a mão à boca, tentando conter o pânico que subia pela minha garganta. Theo e Lívia… Meu Deus. Eu estava mesmo tão fora de mim a ponto de puxá-los para essa bagunça? — Eu não lembro de nada disso… — minha voz saiu trêmula. Lucas inclinou a cabeça, como se me analisasse. — Bom, você estava bem alterada. Mas vou confessar que fiquei impressionado. Tanta raiva, tanta dor… Parecia que estava pronta pra incendiar o mund
Aurora Duarte Ricci Não demorou muito e Lívia e Theo chegaram a Espanha, eles foram até o hotel em que me hospedei e lá junto com Lucas, o Theo teve a ideia de irmos para a Itália no dia seguinte e ficar por lá, esperando o dia do casamento da Isabella, para assim, arruinar o dia mais importante para ela, assim como arruinou nossas vidas nos últimos anos. (...) O avião pousou suavemente na pista do aeroporto, mas dentro de mim, nada era suave. Meu coração pulsava tão forte que parecia querer romper meu peito. Olhei para Theo ao meu lado. Ele parecia tenso, seus olhos escuros refletindo a mesma inquietação que os meus. Lívia, sentada na poltrona ao lado, manteve-se em silêncio, apertando a alça da bolsa com força. Lucas, por outro lado, parecia relaxado demais para alguém que estava prestes a arruinar um casamento. Ele esticou as pernas longas e sorriu para mim. — Está pronta para fazer história, Aurora? Não respondi. Como poderia estar pronta? Isabella sempre conseguiu
Aurora Duarte Ricci Eu tremia. Meus olhos se voltaram para Theo. Ele estava pálido. — Então… quem esteve comigo naquela noite? Sei que antes de ir para aquele hotel, eu bebi, eu estava triste pois o Theo havia terminado comigo, parte dele, sabia que eu não era o amor dele, e eu acreditei que o Theo fosse o pai do meu filho, por ter tido com ele dias atrás antes dele terminar comigo e eu voltar para Itália para nosso aniversário.Então com quem eu estive naquela noite?Quem é o pai do meu filho? O silêncio era absoluto. Então, uma voz profunda ecoou atrás de mim. — Fui eu. Virei-me lentamente. Derick. O irmão mais velho de Dimitri se aproximou, os olhos fixos nos meus. — Fui eu quem esteve com você naquela noite. Achei que algo estivesse errado e pensei que fosse a Isabella. Mas então, você começou a dizer que estava com calor, e acabamos fazendo amor. Mas eu não sabia que estava drogada. Eu não faria nada se soubesse. Aquele momento congelou no tempo. Theo, ao
Theo Lima O silêncio dentro do escritório era avassalador. Podia ouvir minha própria respiração, pesada, descompassada, tentando acompanhar o turbilhão de emoções que se agitava dentro de mim. Lívia estava ao meu lado, tão imersa na tempestade quanto eu. Camila ainda estava ajoelhada à nossa frente, o rosto marcado pelo peso das confissões que acabara de fazer. Eu queria dizer algo. Qualquer coisa. Mas as palavras se recusavam a sair. Isabella que destruiu parte da nossa vida. A mesma que agora, sem que soubéssemos, havia sofrido silenciosamente. Havia perdido quatro filhos. Havia se punido todos os dias. E, acima de tudo, havia salvado a vida de Aurora sem esperar nada em troca. Meu coração estava um caos. Como era possível sentir raiva e, ao mesmo tempo, compaixão? Como perdoar alguém que roubou tanto de nós e, ao mesmo tempo, perdeu para si? Antes que eu pudesse processar tudo isso, a porta do escritório se abriu. O som foi suave, mas o impacto foi como um choque elétric
Isabella Duarte Ricci O silêncio do quarto era ensurdecedor. A única coisa que eu conseguia ouvir era minha própria respiração fraca e o som dos pensamentos que não me deixavam em paz. Fazia uma semana que eu estava ali, trancada. Não permitia que ninguém entrasse, nem mesmo minha mãe. Não tinha forças para enfrentá-la, nem a ninguém. Eu estava devastada. Não pelo que Dimitri fez comigo, mas pelo que eu mesma fiz. Pelas mentiras, pelos erros, por tudo que sacrifiquei… por ele. E no fim? Ele simplesmente me deixou. Uma risada sem humor escapou dos meus lábios rachados. Eu me entreguei, me anulei, destruí quem eu era… por nada. Me virei na cama, abraçando meus joelhos. Meu corpo doía, minha cabeça latejava, e eu não me lembrava da última vez que havia comido algo. Mas não importava. Nada importava mais. Foi então que ouvi o estrondo. A porta do quarto foi arrombada, e antes que eu pudesse reagir, Aurora entrou, os olhos faiscando de raiva. — É sério isso, Isabella?—
Dimitri Carter A garrafa de uísque estava quase vazia. O líquido âmbar descia queimando minha garganta, mas a dor era tão amarga quanto o sabor da bebida. Melhor sentir isso do que encarar o vazio que me consumia por dentro.Eu estava jogado no sofá da sala, encarando a escuridão do cômodo. A mansão era grande demais para mim, fria demais. Mas talvez fosse exatamente o que eu merecia, ou o que me representava, eu deveria ser parte daquele cômodo, como uma mobília, vazio e sem vida.O som dos saltos ecoando pelo corredor me tirou dos meus pensamentos. Não precisei olhar para saber quem era.— Dimitri — a voz de Natasha soou hesitante, quase como se soubesse que não era bem-vinda ali. — Precisamos conversar.Soltei uma risada baixa e irônica. Conversar? Eu não queria falar. Não queria ouvir. Só queria esquecer.— Se veio para isso, pode ir embora — murmurei, levando o copo aos lábios mais uma vez.Mas Natasha nunca foi do tipo que aceitava um não. Ela se aproximou, deslizando os dedos