Aquela calmaria era estranha para ela. E o que mais a assustava era estar se sentindo tão em paz exatamente em Serenia. E com uma pessoa que lutara tanto para esquecer. Em vão, é claro.
Mac concedeu aos dois uns breves minutos de silêncio, assim que chegaram ao lago, local escolhido para terem a tal conversa que estava atrasada há oito anos. Ela sabia que a escolha tinha sido totalmente premeditada, uma vez que aquele lugar estava repleto de lembranças para ambos. Viviane podia sentir cada memória enraizada na base daquelas árvores, cada promessa enterrada às margens daquelas águas. Quase sentia que, se tocasse aquele solo, poderia reviver cada cena com perfeição, ouvir cada sussurro e sentir cada sensação de outrora. Era um passado remoto, mas um lugar feliz para se retornar.
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A cena parecia familiar demais. Ela estava voltando para casa, depois de passar algum tempo no lago com Mac, e encontrava o pai sentado em sua poltrona favorita, assistindo televisão. E também, para não variar muito, tratava-se de um filme de faroeste, um de seus preferidos. Sua melhor companhia estava ao seu lado: uma lata de cerveja.Viviane sabia que a vida dele se resumia a momentos assim. Aquele era o mundo de Aldo Nogueira, e ao olhar para ele, ela fazia a si mesma as mesmas perguntas de sempre: Será que ele realmente pretendia terminar seus dias daquela forma? Será que já fora realmente feliz?Todas as vezes que iniciava questionamentos como aquele, as respostas que surgiam em sua mente eram as mesmas: podia jurar que ele sempre vivera daquela forma medíocre. Mas a carta que encontrara na caixinha escondida era uma prova de que houvera um tempo feliz em sua vida. Viviane apenas não sabia quando acontecera e
Pela primeira vez em muitos anos, Aldo acordara e fora trabalhar em sua oficina sem sequer olhar para o céu. Sabia que ele não lhe diria nada muito bom, e não estava nem um pouco bem humorado para notícias ruins. Ainda era bem cedo, antes das oito, e ele sempre achara aquele o melhor horário para trabalhar, enquanto o tempo ainda estava fresco, o sol começava a aparecer e uma brisa agradável batia, aliviando o calor. Naquele dia, porém, o tempo amanhecera frio. Apesar de ser um homem resistente a qualquer tipo de temperatura, sentiu-se compelido a colocar um blusão de flanela mais grosso sobre a camiseta, embora seu trabalho exigisse certo esforço físico, o que poderia deixá-lo com calor. Sendo assim, partiu para mais um dia de trabalho.&nbs
Com toda delicadeza, segurou-a pelos dois braços e a fez sentar-se no chão, ao lado da pia.Mac sabia que ela estava em pânico, e algo lhe dizia que aquela não era a primeira vez que um ataque como aquele acontecia. Havia alguma coisa a incomodá-la, que se alojara em sua mente, que a aprisionara, tornando-a refém de alguma terrível lembrança.Aos poucos, a cor de seu rosto foi retornando, mostrando que ela estava lentamente voltando à consciência. Em instantes, seus olhos encontraram com os de Mac; sua pele parecia estar mais aquecida e a respiração começava a voltar ao normal. Mas ainda assim ele não conseguia deixar a preocupação de lado. Não havia dúvidas de que algo muito grave estava acontecendo com ela.— Fala comigo, Viviane... O que aconteceu com você?— Ah, meu Deus! Eu vou perder o emprego! — Ela col
Eram pouco mais de oito da manhã, e ele se sentia um estúpido por estar batendo à porta da casa de Aldo Nogueira. Mais ainda para ter a conversa que pretendia ter, que, claro, não adiantaria de nada.Foi Lúcia quem atendeu, com aquele sorriso que poderia matar uma pessoa de tanto amor.— Bom dia, tio Mac.— Bom dia, amiguinha! Posso entrar?— Pode, mas a mamãe saiu para trabalhar.— Eu sei, mas vim falar com o seu vovô. Ele está?— Na cozinha. — E Lúcia abriu caminho para o seu novo amigo passar. Em seguida elevou a voz, para o avô ouvir da cozinha. — Vovôooooo!!! Tio Mac está aqui!Aldo demorou apenas alguns segundos para chegar à sala. Sua expressão era fácil de ler, e ele demonstrava estar surpreso com a visita.&m
As luzes da casa inteira estavam acesas, como se houvesse uma multidão ali dentro, mas ela sabia que ele estava sozinho. Quando pediu seu endereço para Edna, tinha consciência que poderia estar cometendo um erro. Era um passo para se magoar ainda mais, e a ele também. Mas de quê adiantava fugir? Era tarde demais para isso. Seu coração já estava contaminado, infectado por uma doença incurável chamada amor. Ficara oito anos longe dele, e só tivera que retornar para que todos os seus sentimentos viessem à tona. Isso significava que, por mais longe que estivesse seu destino, por mais que caminhasse, seus passos mais certos sempre seriam na direção dele. Estar batendo à porta dele não deveria fazer com que sentisse borboletas no est&o
Ele a tomou no colo, fazendo com que desse um gritinho assustado, e sentou-se em uma confortável e grande poltrona que ele mantinha no sótão, para quando trabalhava até muito tarde e se sentia exausto demais para descer até o quarto. — Mac, e seus pais? — Viviane sabia que a relação de Mac com o pai não era das melhores, afinal, a fama do mesmo na cidade só não era pior que a de Aldo. Ele traía a mulher com qualquer rabo de saia, uma vez que ela era doente, frágil e mal podia se levantar da cama. — Bem, uma certa manhã eu acordei e me deparei com meu pai em meu quarto, me esperando para ter uma conversa "de homem para homem". — Ele enfatizou a última expressão. — Então ele anunciou que est
Dois dias depois, após matriculá-la no único colégio da cidade, Viviane levava Lúcia para seu primeiro dia de aula. Ela parecia nervosa, tanto que simplesmente agarrou a perna da mãe, não querendo soltá-la, enquanto observava uma enorme quantidade de crianças passando. — Coragem, querida. Vai dar tudo certo! — Insistiu, mas não tinha muita certeza, até porque, já conseguia enxergar alguns meninos e meninas com seus pais, que Viviane conhecia muito bem, olhando para elas e cochichando. — Eu não conheço ninguém, mamãe. E se não gostarem de mim? — Se não gostarem são todos uns bobocas — falou sorrindo. &mdas
Depois da incrível noite de amor que viveram, Mac parecia um perseguidor esperando por Viviane no restaurante de Edna. Tinha chegado mais cedo, na intenção de tomar café da manhã com ela, mas estava atrasada. E quando chegou, esbaforida, vestindo o avental e prendendo o cabelo às pressas, sequer reparou que ele estava ali. Ele ficou a observá-la encantado, conforme ela reclamava de alguma coisa com Edna; algo relacionado a Lúcia. Esperou pacientemente até que passasse por ele para agarrá-la pelo braço, fazendo a cair em seu colo e beijando-a, imitando uma daquelas cenas do cinema antigo. Atordoada, Viviane só compreendeu o que estava acontecendo quando sentiu os lábios de Mac