Viviane respirou fundo, esperando a dor. Queria que, ao menos, a morte fosse rápida. Jimmy já lhe provocara muitas dores, e ela não sabia se estava preparada para mais.
Sempre ouvira que quando uma pessoa estava prestes a morrer, sua vida passava diante de seus olhos por breves quatro segundos. Sabia que quatro segundos era um período curto demais para que revisse todas as coisas que tinha aprontado, portanto, não teria tempo de se arrepender de nada. Então, apenas três coisas preencheram sua mente enquanto esperava pelo que achava ser inevitável: o sorriso de Lúcia, que nunca mais veria novamente; não teria outra oportunidade de fazer amor com Mac, e o perdão de Aldo, que jamais receberia. Passara toda sua vida remoendo o passado e esquecera-se de aproveitar o presente, de valorizar cada segundo ao lado das pessoas que amava e nem ten
Mais uma vez havia uma arma apontada para sua cabeça. Na primeira tivera sorte, mas não acreditava que o mesmo aconteceria. Um raio nunca caía duas vezes no mesmo lugar. E estava mais do que acostumada a raios e tempestades. Sentia que seu coração batia na velocidade da luz, em uma relação inversamente proporcional ao movimento dos ponteiros do relógio, que pareciam manter-se inertes, fazendo o tempo demorar mais a passar, apenas para torturá-la. Jimmy caminhava lentamente em direção a ela, balançando o corpo de um lado para o outro, dançando a música que ele mesmo cantava:"Pleased to meet youHope you guess my nameWhat is puzzling youIs the nature of my game..."[1]
Thales nem tentou resistir, não tentou fugir ou argumentar. O silêncio era sua melhor escolha diante daquelas circunstâncias. A escuridão estava dentro de seu corpo, e somente ele poderia buscar a luz. A ambulância não tardou a chegar. Aldo foi prontamente atendido e colocado em uma maca. Felizmente estava consciente, e o tiro tinha atingido seu ombro. Janine foi com ele na ambulância para que Viviane pudesse conversar com a polícia — que chegou logo depois — para explicar tudo que tinha acontecido. Os homens de Germano algemaram Thales, enquanto Mac abraçava Viviane e colocava uma jaqueta ao redor de seus ombros. Ainda estava assustada e tremendo, embora tentasse bancar a forte. Ao perceber que ela não desabava nem em uma situação como aquelas, M
O céu finalmente parecia mais calmo. Uma brisa fresca e serena assumira o controle, mandando embora o vento gelado e forte. As nuvens cinza lentamente se dissipavam, como se anunciassem que o tempo estava mudando. Não apenas o clima, é claro... Elas também anunciavam que novos tempos de boa aventurança estavam a caminho. E Viviane sentia isso. Sentia que as tempestades de sua vida estavam prestes a se tornar chuvas bem-vindas de verão, sem maiores danos, sem temores, sem consequências irreversíveis. E as boas notícias já começavam a chegar, pois, após uma cirurgia de sucesso, Aldo estava fora de perigo. Ele já estava no hospital há três dias, e sua aparência melhorava a olhos vistos. Viviane ficara com ele o tempo todo; Lúc
Havia rastros de nuvens no céu... Anoitecia lentamente, e estrelas bem pequeninas começavam a surgir, tímidas, despontando na escuridão. Havia rastros de esperança no coração de Viviane. Eram como frágeis fagulhas de um fogo já extinto, que pouco a pouco começava a deixar apenas poeira em seu lugar. Tinha plena noção de que era senhora de suas próprias escolhas. Não que essas escolhas tivessem sido sempre as mais corretas, mas tinha as cicatrizes para lembrar de cada uma delas. E por mais que merecesse todas as consequências, por mais que desistir soasse tão tentador, havia uma criatura angelical, adormecida no banco de trás do carro, que merecia ao
Até mesmo as paredes estavam impregnadas de lembranças e histórias. Era como se uma voz, vinda de um ser invisível, sussurrasse cada uma delas em seus ouvidos. Lembrava-se de cada lágrima chorada sobre aqueles travesseiros, cada vez que se olhara no espelho, como uma estranha para si mesma. E estava ali de volta, àquele mesmo quarto deprimente, sentindo-se da mesma forma. Lúcia respirava profundamente, naquele sono que somente as crianças conseguem ter: livre de preocupações, puro e leve. Era a oportunidade perfeita para que pudesse começar a limpar e organizar pelo menos o quarto onde iriam dormir. Ainda havia muita
Assim que colocou os pés para fora de casa, Viviane soube que aquela breve caminhada teria consequências. Apesar disso, criou coragem e partiu, com a certeza de que só voltaria para casa com um emprego. Não que as opções fossem muitas ou, ao menos, atraentes. As pessoas em Serenia não costumavam confiar nela, a julgar por seu passado, e algo lhe dizia que mesmo depois de oito anos aquilo não estaria muito diferente. Tentou a sapataria, uma pequena butique, uma lanchonete, o correio, a floricultura, papelaria... todos os estabelecimentos comerciais da cidade. Só restava um, que era sua última e mais remota opção. O restaurante de Edna Freitas. Sabia que ali seria aceita sem fazer nenh
Aquela calmaria era estranha para ela. E o que mais a assustava era estar se sentindo tão em paz exatamente em Serenia. E com uma pessoa que lutara tanto para esquecer. Em vão, é claro. Mac concedeu aos dois uns breves minutos de silêncio, assim que chegaram ao lago, local escolhido para terem a tal conversa que estava atrasada há oito anos. Ela sabia que a escolha tinha sido totalmente premeditada, uma vez que aquele lugar estava repleto de lembranças para ambos. Viviane podia sentir cada memória enraizada na base daquelas árvores, cada promessa enterrada às margens daquelas águas. Quase sentia que, se tocasse aquele solo, poderia reviver cada cena com perfeição, ouvir cada sussurro e sentir cada sensação de outrora. Era um passado remoto, mas um lugar feliz para se retornar.&
A cena parecia familiar demais. Ela estava voltando para casa, depois de passar algum tempo no lago com Mac, e encontrava o pai sentado em sua poltrona favorita, assistindo televisão. E também, para não variar muito, tratava-se de um filme de faroeste, um de seus preferidos. Sua melhor companhia estava ao seu lado: uma lata de cerveja.Viviane sabia que a vida dele se resumia a momentos assim. Aquele era o mundo de Aldo Nogueira, e ao olhar para ele, ela fazia a si mesma as mesmas perguntas de sempre: Será que ele realmente pretendia terminar seus dias daquela forma? Será que já fora realmente feliz?Todas as vezes que iniciava questionamentos como aquele, as respostas que surgiam em sua mente eram as mesmas: podia jurar que ele sempre vivera daquela forma medíocre. Mas a carta que encontrara na caixinha escondida era uma prova de que houvera um tempo feliz em sua vida. Viviane apenas não sabia quando acontecera e