Eram pouco mais de oito da manhã, e ele se sentia um estúpido por estar batendo à porta da casa de Aldo Nogueira. Mais ainda para ter a conversa que pretendia ter, que, claro, não adiantaria de nada.
Foi Lúcia quem atendeu, com aquele sorriso que poderia matar uma pessoa de tanto amor.
— Bom dia, tio Mac.
— Bom dia, amiguinha! Posso entrar?
— Pode, mas a mamãe saiu para trabalhar.
— Eu sei, mas vim falar com o seu vovô. Ele está?
— Na cozinha. — E Lúcia abriu caminho para o seu novo amigo passar. Em seguida elevou a voz, para o avô ouvir da cozinha. — Vovôooooo!!! Tio Mac está aqui!
Aldo demorou apenas alguns segundos para chegar à sala. Sua expressão era fácil de ler, e ele demonstrava estar surpreso com a visita.
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As luzes da casa inteira estavam acesas, como se houvesse uma multidão ali dentro, mas ela sabia que ele estava sozinho. Quando pediu seu endereço para Edna, tinha consciência que poderia estar cometendo um erro. Era um passo para se magoar ainda mais, e a ele também. Mas de quê adiantava fugir? Era tarde demais para isso. Seu coração já estava contaminado, infectado por uma doença incurável chamada amor. Ficara oito anos longe dele, e só tivera que retornar para que todos os seus sentimentos viessem à tona. Isso significava que, por mais longe que estivesse seu destino, por mais que caminhasse, seus passos mais certos sempre seriam na direção dele. Estar batendo à porta dele não deveria fazer com que sentisse borboletas no est&o
Ele a tomou no colo, fazendo com que desse um gritinho assustado, e sentou-se em uma confortável e grande poltrona que ele mantinha no sótão, para quando trabalhava até muito tarde e se sentia exausto demais para descer até o quarto. — Mac, e seus pais? — Viviane sabia que a relação de Mac com o pai não era das melhores, afinal, a fama do mesmo na cidade só não era pior que a de Aldo. Ele traía a mulher com qualquer rabo de saia, uma vez que ela era doente, frágil e mal podia se levantar da cama. — Bem, uma certa manhã eu acordei e me deparei com meu pai em meu quarto, me esperando para ter uma conversa "de homem para homem". — Ele enfatizou a última expressão. — Então ele anunciou que est
Dois dias depois, após matriculá-la no único colégio da cidade, Viviane levava Lúcia para seu primeiro dia de aula. Ela parecia nervosa, tanto que simplesmente agarrou a perna da mãe, não querendo soltá-la, enquanto observava uma enorme quantidade de crianças passando. — Coragem, querida. Vai dar tudo certo! — Insistiu, mas não tinha muita certeza, até porque, já conseguia enxergar alguns meninos e meninas com seus pais, que Viviane conhecia muito bem, olhando para elas e cochichando. — Eu não conheço ninguém, mamãe. E se não gostarem de mim? — Se não gostarem são todos uns bobocas — falou sorrindo. &mdas
Depois da incrível noite de amor que viveram, Mac parecia um perseguidor esperando por Viviane no restaurante de Edna. Tinha chegado mais cedo, na intenção de tomar café da manhã com ela, mas estava atrasada. E quando chegou, esbaforida, vestindo o avental e prendendo o cabelo às pressas, sequer reparou que ele estava ali. Ele ficou a observá-la encantado, conforme ela reclamava de alguma coisa com Edna; algo relacionado a Lúcia. Esperou pacientemente até que passasse por ele para agarrá-la pelo braço, fazendo a cair em seu colo e beijando-a, imitando uma daquelas cenas do cinema antigo. Atordoada, Viviane só compreendeu o que estava acontecendo quando sentiu os lábios de Mac
Querido Lancelote, Não se sinta culpado por nada. Eu estou fazendo uma escolha. Uma escolha para te proteger... E também a mim. Por favor, não me fale mais sobre amor. Faz com que eu me sinta ainda mais perdida, mais confusa. E não posso me sentir assim. Não é justo com nenhum de nós dois. Assim como acontece com a felicidade, sei muito pouco sobre o amor. Mas acredito que ele seja a maior verdade do universo, a única coisa que realmente vale a pena. Sei também que o amor é como uma flecha que invade nosso peito, causando o caos em todo nosso corpo. Nos faz perder o controle de mente, alma e coração. Todos os pensamentos sã
Era bem cedo quando Viviane foi embora com Lúcia. Parecia pálida, com olheiras profundas e uma expressão ainda assustada no rosto. Mas não mencionou mais nada sobre o episódio da noite anterior. Mac também preferiu ficar calado, mas sem tirar a ideia fixa da cabeça de que iria descobrir quem era o autor daqueles ferimentos. O responsável pelos pesadelos que a impediam de dormir.Assim que as duas cruzaram a porta, ele correu para seu laptop e conectou-se à Internet. Enquanto velava o sono de Viviane, uma lembrança muito vaga surgiu em sua mente. No dia em que Viviane viu a notícia que tanto a assustou na televisão, não conseguiu ouvir muito do que estava sendo dito, mas uma informação foi registrada em seu inconsciente: o nome do hospital de onde a tal pessoa desmemoriada estava saindo.Vagamente se lembrava também de uma ocasião, durante uma viagem pa
O peso do mundo inteiro estava sobre suas costas. Já estava acostumada a noites mal dormidas, mas a forma como o pesadelo penetrara em sua mente e como se mostrara fragilizada na frente de Mac fizeram com que sentisse que suas forças tinham sido tragadas pela terra, como se até falar fosse um esforço absurdo. Por esse motivo, o final de seu expediente foi um momento muito bem-vindo. Tudo que queria era chegar em casa e ver sua pequena, abraçá-la bem forte e passar o resto da noite juntinhas. Queria passar um tempo tranquilo, ver um pouco de televisão, ler mais uma carta e esquecer. Simplesmente esquecer. Mas não foi exatamente o que aconteceu... Quando chegou em casa, após tomar um banho e sentar-se com
Prezado Lancelote, Já se passou um mês desde que lhe escrevi pela última vez, pedindo que não me procurasse mais. Bem... você não acatou meu pedido, como eu já sabia que aconteceria, e eu recebi todas as suas cartas. Confesso que demorei um pouco para abri-las, tentando ser forte o suficiente para cumprir minha promessa. Sabia que se lesse suas palavras acabaria cedendo. Como foi o que aconteceu. Jurei para mim mesma que abriria apenas uma, somente para amenizar um pouco a solidão que estava sentindo. Pois eu senti sua falta, meu querido. Senti falta de poder abrir minha alma sem ser julgada, de tê-lo, mesmo que de uma forma completamente diferente da