Depois da incrível noite de amor que viveram, Mac parecia um perseguidor esperando por Viviane no restaurante de Edna. Tinha chegado mais cedo, na intenção de tomar café da manhã com ela, mas estava atrasada. E quando chegou, esbaforida, vestindo o avental e prendendo o cabelo às pressas, sequer reparou que ele estava ali.
Ele ficou a observá-la encantado, conforme ela reclamava de alguma coisa com Edna; algo relacionado a Lúcia.
Esperou pacientemente até que passasse por ele para agarrá-la pelo braço, fazendo a cair em seu colo e beijando-a, imitando uma daquelas cenas do cinema antigo.
Atordoada, Viviane só compreendeu o que estava acontecendo quando sentiu os lábios de Mac
Querido Lancelote, Não se sinta culpado por nada. Eu estou fazendo uma escolha. Uma escolha para te proteger... E também a mim. Por favor, não me fale mais sobre amor. Faz com que eu me sinta ainda mais perdida, mais confusa. E não posso me sentir assim. Não é justo com nenhum de nós dois. Assim como acontece com a felicidade, sei muito pouco sobre o amor. Mas acredito que ele seja a maior verdade do universo, a única coisa que realmente vale a pena. Sei também que o amor é como uma flecha que invade nosso peito, causando o caos em todo nosso corpo. Nos faz perder o controle de mente, alma e coração. Todos os pensamentos sã
Era bem cedo quando Viviane foi embora com Lúcia. Parecia pálida, com olheiras profundas e uma expressão ainda assustada no rosto. Mas não mencionou mais nada sobre o episódio da noite anterior. Mac também preferiu ficar calado, mas sem tirar a ideia fixa da cabeça de que iria descobrir quem era o autor daqueles ferimentos. O responsável pelos pesadelos que a impediam de dormir.Assim que as duas cruzaram a porta, ele correu para seu laptop e conectou-se à Internet. Enquanto velava o sono de Viviane, uma lembrança muito vaga surgiu em sua mente. No dia em que Viviane viu a notícia que tanto a assustou na televisão, não conseguiu ouvir muito do que estava sendo dito, mas uma informação foi registrada em seu inconsciente: o nome do hospital de onde a tal pessoa desmemoriada estava saindo.Vagamente se lembrava também de uma ocasião, durante uma viagem pa
O peso do mundo inteiro estava sobre suas costas. Já estava acostumada a noites mal dormidas, mas a forma como o pesadelo penetrara em sua mente e como se mostrara fragilizada na frente de Mac fizeram com que sentisse que suas forças tinham sido tragadas pela terra, como se até falar fosse um esforço absurdo. Por esse motivo, o final de seu expediente foi um momento muito bem-vindo. Tudo que queria era chegar em casa e ver sua pequena, abraçá-la bem forte e passar o resto da noite juntinhas. Queria passar um tempo tranquilo, ver um pouco de televisão, ler mais uma carta e esquecer. Simplesmente esquecer. Mas não foi exatamente o que aconteceu... Quando chegou em casa, após tomar um banho e sentar-se com
Prezado Lancelote, Já se passou um mês desde que lhe escrevi pela última vez, pedindo que não me procurasse mais. Bem... você não acatou meu pedido, como eu já sabia que aconteceria, e eu recebi todas as suas cartas. Confesso que demorei um pouco para abri-las, tentando ser forte o suficiente para cumprir minha promessa. Sabia que se lesse suas palavras acabaria cedendo. Como foi o que aconteceu. Jurei para mim mesma que abriria apenas uma, somente para amenizar um pouco a solidão que estava sentindo. Pois eu senti sua falta, meu querido. Senti falta de poder abrir minha alma sem ser julgada, de tê-lo, mesmo que de uma forma completamente diferente da
Ainda não era muito tarde quando Viviane chegou em casa sentindo-se exausta. Apesar disso, reservou uma horinha para brincar com Lúcia, antes que essa caísse no sono, também exausta. E então era o momento perfeito para simplesmente sentar-se em sua poltrona no quarto e ler uma das cartas que ainda a esperavam na caixinha. Aquele encontro com a desconhecida Lady Guinevere tornara-se um ritual muito sagrado e pacífico para ela. Ler suas palavras fazia com que Viviane sentisse que havia alguém que sofria como ela, que não estava sozinha em sua dor, embora não imaginasse qual era o motivo do sofrimento da mulher das cartas; o motivo que a fizera desistir de um amor que parecia tão grande. Estava abri
O céu estava em silêncio. Muitas vezes ele achara que isso era um bom sinal, mas a verdade era que preferia quando o barulho das nuvens, enquanto tentavam lhe dizer alguma coisa, era ensurdecedor e inquietante. Eram suas únicas companhias... as únicas criaturas que realmente o levavam a sério. Era uma batalha constante contra si mesmo. Todos os dias tentava acordar com o firme pensamento de que não era um completo imbecil. Mas então pensava que cada momento de sua vida era um erro. Cada escolha que fizera desde que ela surgira em sua vida fora errada. Os céus sempre lhe disseram isso, mas preferira simplesmente ignorar seus conhecimentos, fechar os olhos e os ouvidos para suas fiéis amigas, as nuvens. O resultado, claro, foi catastrófico. Estragara muitas vidas
Tudo que Viviane queria era ir trabalhar. Queria ver pessoas, queria a agitação do restaurante e simplesmente ter algo para fazer. Porém, quando Edna lhe avisou que ela não precisaria trabalhar naquele dia, que poderia ficar descansando, sentiu, em contrapartida, uma imensa vontade de ficar deitada na cama, com a cabeça afundada no travesseiro, de cortinas fechadas, ausente para todo o mundo. Até Aldo percebeu sua necessidade de ficar sozinha e levou Lúcia para a escola — o que deixou a menina muito feliz, mesmo com todos os comentários maldosos que ouvia sobre ele. Ela sabia que precisava levantar, reagir, ler mais uma das cartas, tentar descobrir qualquer coisa, mas estava sem forças, largada sobre a cama como um objeto inanimado. Sentia-se mais calma do que na noite
— Meu Deus, Mac! Eles realmente se amavam. Essa mulher deve ser a minha mãe. — Com um sorriso estampado no rosto, Viviane sentiu-se comovida. — Sim, pode ser. Mas pode também não ser. Não adianta tentar encontrar mil teorias e não chegar a lugar algum. Viviane abaixou a cabeça, um pouco decepcionada com o que tinha acabado de ouvir. Ao fazer isso, o cordão que ela sempre usava desde mais nova balançou em seu pescoço. Mac sempre a vira usando aquela singela joia, mas nunca reparara com atenção no que o pingente que ela carregava significava. Com delicadeza ele tomou o objeto na mão e o analisou. — Mac? O que foi? Eu sempre usei este cordão.